Jornalismo

Hoje vamos falar da magia da rádio.

Naquilo que posso definir como uma conversa entre duas pessoas analógicas, que usam palavras rebuscadas e até arcaicas, e nasceram profissionalmente na telefonia.

É a rádio. Para os mais distraídos, modernos e digitais.

Telefonia sem fios. E agora nesta versão moderna do seu nome podcast.

O mundo está a apagar as palavras portuguesas bonitas e a enchermos de palavras vindas de outros lugares, menos interessantes.

Convidei o Nuno Markl para se juntar à conversa. Trazendo na mochila os cromos da caderneta, na mochila ou na algibeira e conceitos tão lunáticos como os gravadores de fita.

Afinal, o pretexto da conversa era a magia da rádio.

Aviso: Esta conversa é anárquica, lunática, acelerada e autêntica.

Nuno Markl é uma das vozes mais reconhecidas da rádio portuguesa, com uma carreira que atravessa diferentes meios de comunicação. O humorista e guionista é um dos rostos das “Manhãs da Comercial”, onde, diariamente, dá forma a conteúdos que combinam humor, nostalgia e observação do quotidiano. Criador de rubricas como a “Caderneta de Cromos”, tem sido uma referência no modo como recupera memórias culturais e as transforma em entretenimento acessível ao grande público.

Além da rádio, Markl construiu um percurso sólido na televisão e no guionismo. Escreveu para programas de humor de grande impacto, como o “Herman Enciclopédia” e o “Último a Sair”, e mais recentemente tornou-se uma das figuras centrais do “Taskmaster Portugal”, na RTP. A sua capacidade de adaptação e reinvenção tem-lhe permitido manter uma presença relevante no espaço mediático, acompanhando a evolução das plataformas de comunicação e do consumo de conteúdos.

O impacto da sua comunicação vai além do humor. Markl tem abordado temas como ansiedade e saúde mental, tornando-se uma voz influente na forma como essas questões são discutidas publicamente. A sua atividade nas redes sociais reflete essa dimensão mais pessoal, mas também ilustra os desafios da exposição pública num ambiente digital. A entrevista pretende explorar todas estas facetas da sua trajetória, abordando o seu percurso na rádio, o seu processo criativo, a relação com o público e os desafios do humor no contexto atual.

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como se a coisa. Pois pela pausa, as espinhas com a pausa precisam de ser facilmente. As novas gerações não fazem a mínima ideia do que é que isto é que não fazem, não é? Mas. Mas de facto era assim que nós gravávamos músicas da rádio, por exemplo.

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Estava a tocar e eu conhecia me play, rec, pause E depois, quando começava os meus acordes, alguma coisa que eu queria ter, pumba, descarregava logo a pausa e depois? E depois era rezar para que tipo estivesse a fazer rádio, não falasse por cima da música para não dar cabo daquilo tudo. Os bandidos, Essa malta que faz rádios. Eu podia ter aqui uma apresentação, enfim.

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Nuno Markl, radialista, argumentista, guionista, essas coisas todas. E eu prefiro dizer assim isto é uma conversa entre dois tipos analógicos, sim, que que nasceram na telefonia, é verdade, mas na telefonia é uma palavra com que o fim goza comigo. Quando eu digo palavras como telefonia é atenção a mais uma que eu também gosta, como quando eu digo algibeira, algibeira para ele.

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Mas este não é só para ele. Eu acho mesmo que pessoas, pessoas da minha idade, devem achar que é antigo. Dizer algibeira é um bolso algibeira. Temos que fazer uma legenda que é a senhora que manda para a Idade Média. Não é para esse tipo de coisa. Onde onde carregava os teus dinheiros. Mas. Mas sim, há palavras que tens que explicar, já não é as novas gerações.

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O meu filho diz que falas à maneira antiga, expressão arcaico. Sim, sim. Acha que eu falo assim? Tu és um transgressor das palavras que és da rádio. Mas na realidade estas palavras és mais do que da rádio. Estamos a perder palavras. Acho que estamos a comer palavras. Ainda hoje nós falávamos nas nas minhas da Comercial, falávamos sobre a tendência para abreviar tudo.

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Quando estamos a mandar, por exemplo, SMS, que é uma coisa normal, que toda a gente faz, mas eu abrevio muito pouco. As minhas, as minhas mensagens de texto não têm pequenas para evitar porque nem têm. Os beijos que eu dou são com as letras todas, não é? Bjs. É curto e depressa as pessoas têm. Querem encurtar tudo e querem abreviar tudo.

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E eu vou um bocado contra essa tendência ou pelo termo, que são coisas que pessoas. Agora a falar das mensagens, as mensagens a que antigamente nós chamávamos SMS sim, agora se chamam WhatsApps, não é? Sim, sim, sim, Mas na verdade é a mesma coisa. E eu, por exemplo, quando quero que alguém leia verdadeiramente uma mensagem minha, mande um SMS porque WhatsApp estamos todos ok, isso é bem visto.

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Abres a porta pela sms tal e qual atenção, Vai ao teu whatsapp e vê lá qualquer coisa. Porque o WhatsApp hoje em dia um oceano de coisas estão sempre a chegar e mensagens e tudo, tudo espera muito facilmente. Grupos e grupos e grupos e grupos. E eu fico doido com aquilo. Quer dizer, com tanta grupo de pais eu não tou nesse grupo de pais.

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Sim, sim, sim, sim e é o fim do mundo em cuecas. E é. E estamos a falar de dimensões. Mensagem que existe um podcast que é boa desculpa para criar podcasts foi na realidade falar de comunicação, que é o rei das mensagens. Uma mensagem escrita não tem tom de voz, não tem ironia, não carrega o humor e pode levar uma desgraçada interpretação do outro lado.

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Pode. E é um incêndio, o que é incrível. Eu já tive vários casos desses. Como eu não uso muitos emojis, eu parto do princípio. Quando estou a usar ironia, as pessoas percebem a ironia, mas a ironia está em crise. Está a perder se muito. As pessoas já não estão a perceber a ironia escrita e então eu vejo mais vezes na obrigação de juntar um emoji zinho ou então de juntar um no fim.

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Está na legenda Sim, entre parêntesis. Esta parte é para rir. Ou então vou escrever alguma coisa que é para não ser literal. Sim, mas entristece me que se esteja a perder a ideia de ironia, porque a ironia parte muito de nós. Para quem não sabe o que a ironia, a ironia, parte muito. Nós às vezes dizemos o oposto daquilo que estamos a pensar.

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E a ironia está nesses, nesse sarcasmo de dizermos que uma coisa é o seu oposto, quando a verdade queremos dizer que ela é o que é. E então o que me acontece várias vezes. Eu às vezes uso muito ironia. Até quando faço O Homem que mordeu o cão e às vezes a ouvinte vai cair e a passou por cima.

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É que me corrigem, Dizem Não, não estás errado. Eu sei que estava errado. Era ironia, era ironia, era uma tentativa, era uma piscadela de olho. Mas a intenção és tu. Tens um cisco no olho. Não, não, não é trabalho para dizer O que é que isso traz desta linguagem verbal e linguagem não verbal. Eça de Queiroz tem, em momentos muito irónicos na sua obra, especialmente se escrever suas.

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Tinha que meter emojis para as pessoas perceberem ou não que tu e tu tens uma relação muito de amor ódio com as redes sociais. Não é com as redes sociais, é com as pessoas de redes sociais, é com o algoritmo. Colete o endereço que eu acho que é genérica e acho que aquilo tem um lado bom e tem um lado bom no sentido até mais puro.

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Epá, sei lá, já houve casos em que me envolvi para para arranjar casa para uma pessoa ou para arranjar teto para um cães abandonados ou e de facto aquilo tem uma capacidade de mobilização das pessoas que obtém resultados. De facto chegamos lá por esse lado. É incrível quando é usada para o bem e funciona maravilhosamente, mas também é muito usada para o mal.

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Também é um sítio. As pessoas vão descarregar as suas frustrações e fúrias e despejar a sua bílis para para cima de pessoas. E nesse aspecto é péssimo. E depois o que me irrita nesses áreas algoritmos, é que de facto as redes sociais servem aquilo que elas acham que tu vais querer ver. E não, não te abrem sequer uma possibilidade para descobrires algo de novo.

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Fechando a porta. É tipo ok, este tipo é o que as pessoas querem deste tipo. É isto, isto e isto. Portanto, se este tipo de repente manda um malware do tipo é a tua, ler um livro é incrível, o algoritmo mesmo. Há livros. Mas o que é isto então? Grande lado Livros? Não, não. E então reduz imediatamente, logo a expansão de um.

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Aconteceu me isso recentemente e é ridículo. Tu consegues ver na estatística que tu és uma. Quando quando eu comentei com um amigo esta menina disse Olha, vou falar com Markle e eu dizia Pai, e ele é um ministro importante, Tu gostas de legenda? É alguém que o povo gosta e que é muito popular. Não podemos passar o problema todo a falar.

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Eu realmente não estou num terreno muito difícil de desatar porque eu sou uma Einstein que tem alguns gostos um bocado alternativos. Faz parte do seu charme. Isso deixa me numa terra de ninguém às vezes, porque me chega muita gente de trabalho num programa da manhã que é muito ouvido e, portanto, às vezes tem de tirar partido, de chegar a muita gente para lhes tentar mostrar outras coisas giras que eu acho mas, mas, mas tu estás uma maneira de conhecer.

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És uma espécie de estrela pop alternativa. Eu acho que às vezes me numa terra de ninguém. Sou muito dramático, mas última vez está a ter uma conversa no programa da Inês Meneses e estamos a chegar à seguinte conclusão que eu eu sou demasiado mainstream patelar. Há pessoas alternativas, mas demasiada alternativa. Às vezes para chegar bem 400 na fronteira.

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Isso deixa me. Epá, eu acho que isso tem a ver, de facto, com o facto de eu ser um bocado de merda e ter de gostar de coisas muito específicas da legenda, ou que o pai é uma pessoa que, sei lá, aquele que adora, que é fã de picuinhices da cultura pop e de, por exemplo, por exemplo epá, quando tu conheces os nomes de vários planetas do Star Wars e não apenas a narrativa básica, legenda que não existe aí, não existe fantasia.

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Existem sim, sim, sim, portanto. E aí? Gostar de ver coisas obscuras de filmes de ficção científica dos anos 50 e 60 que ninguém conhece, Deus escava muito para chegar e essas coisas. Como é que tu chegas lá? Como é que tudo? Até porque isto muitas destas coisas são bases das tuas histórias que tu contas na rádio, que tu conta de como é que tu chegas lá, como é que, como é que tu finta o algoritmo, onde é que?

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Onde é que tu ficavas? Eu ao longo dos anos. Pronto. Agora especificamente falando, falar homem que mordeu o cão, eu tinha umas fontes seguras. Normalmente as agências de notícias tinham sempre aquela lente que tinha uma secção que era olha que era onde estava a bizarria. Todo o mundo. E eu sabia que indo ali e conseguia encontrar essas coisas e portanto, havia uma série de paragens que eu achava que eram óptimas.

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Mas fui sempre escavando mais fundo em busca de coisas menos santas. Havia nessas agências de alienação de receitas, por exemplo, as notícias bizarras que estão lá. Às tantas, são tão faladas que deixam de ter um elemento surpresa para se falar O que é que tu precisas disso? Como é evidente, eu preciso de escavar à procura de coisas mais obscuras.

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Então descobri o mundo maravilhoso que é o Reddit. O Reddit é um bocado que a internet era no início, que são fóruns de discussão. Sim, é para tens. Tens grupos de discussão de tudo. Tu pensas no teu gosto mais o mais obscuro por sei lá. Eu sou colecionador de tralhas. Obviamente na minha cave tem imensas figuras de filmes obscuros e é, eu sei que no Reddit há de haver um grupo para a coleção mais improvável que eu tenha.

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É haver pessoas lá a debater. Ah, eu tenho aquela primeira versão que saiu da figura em que tinha o olho mal pintado e portanto, sabes que no Reddit vais encontrar o abraço de todas as comunidades possíveis e com tudo o que tem de bom e mau, porque tem uma ideia de diversidade que também ali está. Assim, simplicidade que não está propriamente na moda.

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Isso é o que acontece no Reddit em termos de como daquilo que eu gosto de contar no homem que perdeu o cão é uma coisa que não há nos aliena das coisas nem nada que pessoas a quem acontecem coisas estranhas e que imediatamente se sentem impelidas para as partilhar com aquela comunidade. E isso faz com que existam grupos maravilhosos onde eu vou buscar muita coisa, como o tifo que eu tive.

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O tifo são as iniciais de Today, mas depois se quiser fazer isso em inglês. Mas bem, tudo é fake data. Eu dei cabo disto tudo. Portanto, são pessoas que na sua melhor intenção, hoje fiz asneira da grossa ou fizeram lá graças ao título. Um bom título, uma versão portuguesa, mas mais diluída. Epá, eu adoro estar a vasculhar no tifo porque são pessoas como nós que de repente acham que foi boa ideia terem feito alguma coisa que descambou em desgraça.

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E tu? Tu és um bocadinho assim. Também eu sou isso. Há sempre que acontecer. Coisas estão sempre acontecendo, difusos na minha vida e eu não, nunca os renego. Eu acho sempre que odeio quando me estão a acontecer, mas é sempre podem ser. Bom. Material de comédia é uma espécie de ressurreição de isso, Isto é que me correu francamente e eu, mas também um exorcismo.

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É uma espécie de catarse que tu fazes, que ok, fui muito desastrada aqui e fiz isto. O que é que eu faço? Varrer para debaixo do tapete, para as pessoas pensarem que eu sou uma pessoa impecável e que não acontece este tipo de coisa ou simplesmente abraço. O embaraço, o abraço, o embaraço. Bem, o que é? O que sou?

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O que é que isso faz nas pessoas que te que te ouvem, incluindo eu? Eu sempre gostei muito de fazer humor autodepreciativo, em que eu sou o alvo principal da minha comédia. Isso tem vantagens. Para já, não ofende ninguém a não ser a mim próprio. Às vezes fico ofendido comigo próprio e depois ficas com uma espécie de autoridade para gozar com o resto.

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Tudo é questão de começar, porque é e se começares a bater com muita força em ti próprio? E há um espetáculo que eu faço quando está sempre em mudança até mas. Mas eu vou muitas vezes a teatros pelo país para fazer uma coisa chamada como ser um saco de pancada deprimente e vencer na vida. Porque eu acho que é um título que resume toda a minha existência.

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É curioso porque nós estamos no tempo em que, nas redes sociais, culto da imagem, estamos a tentar pôr ali a fotografia, em que ficamos mais bonitos, mais airosos, mais luminosos. E, pelo contrário, essas narrativas sofrem também que é esta fotografia tão desgraçada. Mas ela tem um significado ele próprio. Sim, nós estamos com os nossos amigos a beber ou a comer e ela é miserável.

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Ficou, ficou no nosso pior. Não está focada. Estamos a camisa do lado, todos desgrenhados e aquilo tresanda a verdade. E está claro que é e pode trazer boas memórias e portanto eh, É um bocado indiferente à maneira como saiu e saiu com a luz errada ou com o ângulo errado. Mas. Mas se traz boas memórias e se captura um momento importante no tempo, Acho que sim.

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Olha, eu quando ouço as tuas histórias na telefonia e já quero falar, até porque o pretexto fundamental disto da falarmos da telefonia e da magia que é estar a falar ao ouvido destas pessoas. Tu como um verdadeiro nerd e adolescente renegado tal como eu, passamos a gostar aqueles aqueles, aqueles miseráveis anos ali entre os 12 e os 16 em que somos saco de pancada sem nos espancar.

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Eu comecei mais cedo. Na verdade, eu acho que o dia em O primeiro Dia é uma memória muito remota, ou seja, a coisa agravou. Quando comecei usar óculos, o caixa de óculos estava sempre um alvo, mas antes de usar óculos eu lembro me ter chegado no primeiro dia de aulas ao Jardim Infantil Pestalozzi, onde eu fiz a minha vontade de ser da primeira até à quarta classe e de me fazer confusão o conceito de ir à escola, o que isto?

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Agora vou sair de casa porque me desagrada, me lembro, tenho esta memória remota de estar muito desconfortável. E então, o que é que eu fiz? Pensei muito, já contei em tempos, mas já não conto há algum tempo. E eu meti na minha jovem mochila da escola uma série de creminhos que eu tinha de algo que me fazia sentir confortável, que era personagens Disney.

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Tínhamos nós todos tinha cromos do Mickey e do Pateta, do Donald e em que aquilo tudo dentro da minha mochila e com esta ideia de estátua acompanhado por estas entidades, vou com ele, Vai, vai tudo correr bem. Tu com eles e se me fizeram companhia a minha vida toda é quase um amuleto, não é? E o que aconteceu?

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Pouco tempo depois de chegar ao prédio da escola, houve um miúdo mais velho que diz o que é que levas aí na mochila? E arrancou uma mochila das costas. Virou aquilo ao contrário. Espalharam se os cromos todos da Disney e ele esteve dedicadamente a rasgá los à minha frente. Ai, foi horrível! E eu pensei De facto, confirma se isto é horroroso!

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E pronto. Mas mesmo assim não consegui ter uma uma infância normal. Claro que tive aquele episódio que eu já contei várias vezes e que está até no saco de pancada em que a minha mãe esqueceu se de ter uns calções de ginástica do meu equipamento na escola e eu achei que como os calções eram brancos e como eu tinha cuecas brancas, se fossem cuecas ninguém ia notar.

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E notaram. E aí comecei a assinar também. Que exigentes! É verdade, As pessoas que dizia que eu assinei a minha sentença e depois quando comecei a usar óculos para ir aos 11 anos, quando comecei a ficar com miopia e Paris, senti que estava a tornar me uma tragédia ambulante. E tinha lá estado. Tinha depois que comprar os meus colegas, fazendo as caricaturas deles.

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E o humor é sempre uma maneira de uma tática de sobrevivência. É um bocado sim, sim, sim, eu acho que sim. Mas para quem lá está, hoje em dia discute se e bem, as questões do humano, do bulling, do feio porque mau que que que que atazana a cabeça dos teus amiguinhos. Na realidade nós lidamos com isso com bastante galhardia.

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Quero dizer, não quer dizer que é bom, mas lá está o caixa de óculos, o gordo, o narigudo, o tipo que tem os dentes grandes. O que é que quando nós olhamos para nós, para as fotografias da nossa adolescência, não são propriamente não, não foram para ajudar, não favorecem nada que aquelas fotos, as fotos da primeira pedalada que estamos todos no ensino secundário e que aqueles murais que tens é que não é propriamente o Facebook.

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Quer dizer que é tipo estes tipos todos presos daqui a dez anos porque não têm qualquer hipótese de sobrevivência. E isso é isso. Olha, fala me da telefonia, O que tem de mágico? A rádio que passa sempre foi uma coisa que eu adorei e continua a estar no meu top, apesar de gostar de fazer televisão. Mas. Mas a rádio é daquelas coisas que eu não consigo passar sem, quer como ouvinte, quer quer como pessoa que que faz rádio e que tira partido dessa coisa maravilhosa que é sobretudo contar histórias em rádio.

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É o que eu gosto, que é uma boa história e epá, é uma história que ponha imagens na cabeça da pessoa que está a ouvir e que dessa forma se torna forma mais barata de ficção. Ou seja, tudo bandas está em televisão. É isso, Estamos a criar cenários e as luzes? E a maquilhagem, as roupas e os efeitos e tudo isto, a tua criação imaginária naquele jogo das pessoas é que eu gosto da rádio e isso que era uma coisa que eu já gostava quando ouvia histórias serem contadas em rádio, nomeadamente em programas da Rádio Comercial, como o Pão com Manteiga ou as Noites longas do Enfim, Mistério do António Santos, porque sempre foram coisas

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que me meteram imagens na cabeça enquanto eu estava a ouvir e portanto foram grandes influências na minha vida. Eu pensei eu gosto muito desta ideia de não ser, visto que é uma coisa que se perdeu porque está câmaras em todo o lado que vão aqui. A desgraceira. Sabes o que eu já pensei sobre isso? E eu não sei se o facto de existirem câmaras aqui que a pergunta sempre está disponível em áudio e também em vídeo, embora eu não falo muito sobre isso, fico sempre com aquela sensação do caso, obviamente, mas fico sempre com aquela sensação até que ponto é que a câmara condiciona a nossa maneira de falar e a nossa maneira de estar

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é coisa de gente? Epá, eu neste caso, como isto é uma casa tão tradicionalmente de rádio, estás enganado, Eu não me estou a lembrar sequer. Está aqui uma câmara policial. As câmaras estão com os phones na cabeça, tu com o microfone à frente. O rádio é o que eu faço. Casa? Sim, sim, sim. E este já foi a minha casa durante cinco anos.

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Aqui a Antena três Falamos as histórias, então cria se essas imagens na cabeça das pessoas. Eu acho que é das coisas que me dá mais gozo e depois tentar servi las com algum suspanse. Ou seja, lá por ser uma rubrica de comédia, eu acho que o suspense e a comédia estão de mãos dadas. Tem que ser. Tem que ter um grãozinho de dramatismo, de sensibilidade.

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Sim, tem. Não podes dar logo, abrir logo o jogo muitas vezes o que eu encontro. Mas quando tu vês uma notícia escrita bizarra, o título Edições da Rainha do Jornalismo, aliás, que eu estive a ter o curso sem jogar e o título tem logo de resumir tudo. O título tem que ser spoiler. Não? Tradicionalmente, um título hoje em dia já não aos clickbait e não sei quê, não é?

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Hoje em dia os títulos já são tipo nem vai imaginar o que é que esta pessoa diz. Esta é do raio da merda. Não foi isso que eu aprendi em jornalismo digital? O que é que ele escreveu? Mas uma coisa valer quando eu vou, lá está o tal e eles ainda fazem aquilo. A notícia do título disto, logo tudo o a mim dá me jeito para perceber se a história tem interesse para ser contada no meu curso.

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Como é que se inverte isso? É como eu, como eu. O que eu faço é não servir, obviamente, logo a informação toda e, portanto, dissecar a história pela ordem, porque as coisas vão, vão acontecendo e, eventualmente, se há algum twist que está a deixá lo mesmo para para o final. E eu adoro essa construção, adoro esse pegar de pegar numa coisa que está servida de uma maneira muito clara e em que o livro da história é resumo.

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Logo aí a ideia toda é pensar ok, não, não vou, obviamente servir isto já de chofre às pessoas, mas vou tentar que a progressão seja interessante o suficiente. Elas ficarem agarradas é sempre é uma coisa que me dá muito gozo. É criar suspense a cada passo e é ver logo nos meus colegas o efeito que está a ter e que eu espero que seja algo importante nas pessoas.

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Não houve nos cargos por detrás, ali com o canto do olho, metade por conta do que aconteceu. O Vasco às vezes passa. Mas eu gosto de fazer render o peixe, o suspanse. Acho que é muito divertido e é uma maneira de ganhar as pessoas. Mas vai só assim da história tudo. Pegas na história viva. Agora vou contar te um bocadinho deste silêncio insensível.

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Vou muito progressivamente servindo a coisa, em vez de, como ditam as normas do jornalismo, servir logo tudo, tudo e depois então desenvolver. Porque se eu sirvo logo tudo no início e se faço a coisa como se fosse um noticiário tradicional, epá, vai deixar de ter o interesse que tem para as pessoas? Acho que no noticiário faz sentido que assim seja.

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E foi me dito no início do Homem que mordeu o cão É que eu estava antes do homem que mordeu o cão. Já faziam algumas coisas de humor na rádio, mas estava num meio termo entre ser humorista e ser jornalista, que eu trabalhei como masculino durante os anos de jornalista. Não, agora já, não, Agora já não. Mas quando comecei a fazer O Homem que morreu em 97, eu ainda trabalhava na redacção da Rádio Comercial.

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E então, se se der o caso e já é raro encontrar isso. Mas edições antigas dessa altura eu parece que ainda estou fazendo noticiário. Isso aqui é um noticiário de histórias absurdas, mas eu estou a seguir ainda os preceitos daquilo que aprendi. E há muito jornalismo, a maneira como se fala essas coisas, olha como é que é, como é que é trabalhar com a tua tribo, o Palmeirim.

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O papel é ótimo porque são pessoas que não. Já quase que me lia do Herman Pedro Ribeiro, então. Epá, já trabalhamos juntos desde 91, quando nós nos conhecemos imberbes no Correio da Manhã, rádio no Correio da Manhã e original não nisto, que agora são coisas diferentes, que era melhor do que era uma rádio bonita Era, era. Sim, sim, sim, sim, é verdade.

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É verdade. Era uma rádio com incrível música, com programas de autor maravilhosos. E foi lá que eu conheci o Pedro Ribeiro e é. E o Pedro Ribeiro estava lá para ser jornalista acima de tudo. E na verdade eu é que o desencaminhar porque percebi o sentido de humor que ele tinha. E assim começamos a fazer pequenas experiências de humor com autorização do Ribeiro no Correio da Manhã Rádio.

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E eu achei que tinha de puxar e ele, muito generosamente, começou a entrar mesmo neste mundo de loucura. E é pronto. E é. E é por isso que todos estes anos nós continuamos a trabalhar juntos e percebemos os ritmos um do outro de uma maneira em que já nem precisamos de um para o outro. A rádio é ritmo.

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Eu acho que ritmo é química também entre as pessoas. O que aconteceu entre mim e o Vasco é incrível porque epá, eu diria que só aconteceu para ir com mais duas pessoas com o Pedro Ribeiro lá estar e com Fernando Alvim também, que é quando tu sentes que tens química instantânea com uma pessoa no ar que vais conhecer.

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Eu lembro que eu conheci o Vasco em 2010 e o miúdo basicamente tinha chegado à telefonia quando veio fazer equipamento de cromos para a Rádio Comercial. Quando saí daqui da Antena três e voltei para a Comercial. E foi incrível. Foi tipo isto é um bocado como aconteceu com o Alvim também, que nós acabamos de nos conhecer, mas eis nos de microfones abertos e parece que nos conhecemos desde sempre, desde a infância.

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O que é a um acertar de frequência de onda. Consegue explicar? Este é muito. É uma coisa quase inexplicável e que é difícil de transformar em teoria. Não é química, é uma coisa que não se aprende. Ou se tem ou não se tem. E é maravilhoso quando tu sentes que de facto está a acontecer te para isto e isto vai ser incrível.

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Eu acabei de chegar agora não é? A pessoa fica assim meio retraída, são pessoas novas para o teu. Tem lá o Pedro Ribeiro, com quem eu já era amigo e com quem trabalhava já há muitos anos. Mas de repente tens que lidar com pessoas que acabaste de conhecer e há sempre aquele receio de nos atropelamos e percebemos vez de irmos um do outro.

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E o que aconteceu com o Vasco? Tal como aconteceu comigo, com o Pedro, o Alvim, cada um na sua altura, foi instantaneamente pacífico. Fazíamos aquilo a vida toda. Olha o que estas têm, este exemplo destas três pessoas. E é curioso e gostava de ouvir a tua, a tua opinião. O que é que tem de tão extraordinário? Pessoas com este biótipo?

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Porque? Porque eu olho para os três e o que vejo são comunicadores criativos, radicalmente diferentes, com um ego que não é gigante e está aqui. E há ali uma massa. Isto constrói se ou está lá dentro já para Nunca sei a coisa dessa maneira, mas eu quando tu faixas o microfone, no fundo não é consciência, é sítio. Acabou a emissão.

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São 10h00 ou 11h00. Está feito. Eu acho é que é tão esbatida a maneira como nós nos portamos no ar e como nos portamos de microfone fechado que muitas vezes eu não me lembro de certas conversas que eu tive com estas pessoas foram no ar ou se o microfone estava fechado naquela altura. E eu acho que esse é o melhor sinal de que estamos a ser honestos com os ouvintes, não é?

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Estamos a ser nós? É, mas há uma fronteira entre abrir, abrir o microfone e dizer qualquer coisa ou não. O botão sinceramente, eu acho que hoje em dia é num programa como as Manhãs da Comercial. A coisa está tão esbatida que às vezes temos o microfone fechado a dizer qualquer coisa uns aos outros. E é aí que se fala.

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Bem, vamos abrir assim, vamos lá, é para o tipo e portanto é talvez, obviamente, a diferença entre o microfone estar aberto e fechado é que nem avançar, dizemos alguns palavra em legendas, queremos dizer estados de alma para conseguir ligar. Como é que em relação com o público, a concessão pública é óptima, sobretudo desde que estas ferramentas, como usar o WhatsApp ali em tempo real e a malta poder dizer o que é que dizer, as pessoas logo a comentar instantaneamente as coisas que nós estamos a dizer.

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Isso é quase uma batota da rádio, quer dizer, da rádio, porque antigamente a rádio tu dizias qualquer coisa e não sabias bem imaginavas o que é que alguém pensava assim É um tu tens logo ali uma relação. Suponho que no início as pessoas mandavam cartas para a rádio e eu ainda recebi algumas cartas manuscritas de mim no início da minha carreira radiofónica e hoje ainda recebo.

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Estranhamente, há uma ou duas pessoas que de vez em quando mandam cartas manuscritas a comentar algo que ouviram a protestar Não, não, Não por acaso não serem simpáticas, mas darem ao trabalho de escrever, em ter um selo e enviar para a Rua Sampaio já achei incrível e eu fico sem saber como responder. Epá, porque eu não vou por carta.

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Claro que tenho a disponibilidade para com uma caneta tinteiro nos correios. Já sabia ser num cavalo, mas o que você espera nessas cartas manuscritas Que tenham um e-mail? Não põem, não bota, não põem uma morada que aquilo que tem que fazer do lado da televisão falar do Palmeirim e eu foi provavelmente dos programas que eu mais me ri na vida nos últimos anos.

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E estou a falar do task master, Obviamente. Qual é o segredo daquilo? Epá, é uma boa questão, mas eu acho que o segredo, cavando bem, vai até aos ingleses e vai até à maneira como é que os ter concebido e formatado, porque aquilo na sua essência é que não é um concurso na sua essência. Aliás, os concorrentes do original são tudo humoristas, portanto, o importante não é ganhar aquilo, é originalmente aquilo e.

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Epá, é uma Brit, Como de certa maneira não é mais que um concurso, é uma. É o humor britânico. No seu poema que vamos pegar nestes humoristas, vamos submetê los a provas que podem ser telas em branco para a inspiração deles enquanto humoristas. Portanto, aquelas pessoas, mesmo que façam aquela birra de falar agora dos ingleses o que aquilo é para eles, é como é que pessoas de humores tão diferentes em cada temporada reagirão a algo que lhes proporciona a possibilidade de fazerem uma coisa muito cómica?

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Aquilo é um desafio para que estas pessoas. É uma mistura de Jogos sem fronteiras, mas também de comédia, de improvisação, que é tipo ok, agora tem de fazer isto. Como é que vai safar de maneira que seja divertido e vai esquecer a linguagem do original e de preferência, o mais ridículo e miserável que é uma mistura e uma mistura de ridículo e de criativo.

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Eu acho que a magia do como esta está em ser um programa super inteligente e super parvo ao mesmo tempo. E eu acho que isso é muito britânico. Existe essa balança entre estas duas coisas e tu foste lá, foi fazer o programa, eu meio que eu agora contando como é que, como é que nós estamos a fazer aquilo.

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Basicamente o Vasco descobriu o programa antes de mim, quando passava na SIC Radical esta manhã e disse me um dia que se faça isto em Portugal, Acho, devíamos, somos nós. Devíamos ser capazes de fazer isto. Então ele viciou me naquilo e comecei a ver não só na SIC Radical, mas comecei a ver no canal deles de de, de Dito e até o Vasco chegou muito à direção da RTP e eles lá lhes fizeram a vontade e prometiam.

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E eu então fui. Fui arrastado para isto. A partir disto é que inicialmente não tínhamos bem percebido quem aqui fazer. Que papel? Sendo eu mais velho que o Vasco, tu poderia ser um mestre, Queria ser o mestre. No entanto, o Vasco mentalmente mais velho que eu e eu sou mais infantil e portanto, talvez o Vasco tenha mais gravitas para ser o mestre e eu tenha mais perfil para estar ali com os concorrentes nas tarefas.

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E isso ia ser também vítima dele. E o Vasco Vaz? Aquilo faz aquele ar sinistro, aquele ar de se sabe o que vai castigar alguém, que alguma coisa vai acontecer e tu estás A última coisa que vais cavar e dar zero pontos, aliás, é ver a pessoa protestar tipo epá, agora não vais não, não me digas que me vais dar é o Vasco?

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O que é que achas que eu devo falar de não tens que dar pelo menos -4 zero pontos? Eu acho que eu adoro isso. Eu acho que ele, embora ache que ele acha que quem é que escolhe os pontos verdadeiramente são vocês. Um júri é uma equipa ou eu e o Vasco? Absolutamente não. Há pontos que são pontos, são coisas criativas.

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E como ele tem que julgar, como por exemplo, a prova do início em que ele tem que trazer algo de casa, querem que respondam ao desafio que lhes é proposto. Aí estamos a apreciar a imaginação deles em cada coisa. E depois há provas que têm tensão de tempo e de distância. Ele tem regras, tem regras e aí? E as evidências, não é mas, mas sim de tudo.

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Que tudo o que implique imaginação, desenrascanço. E o Vasco é implacável está tal e julgar. Ou seja, não, não quisemos ser o Greg Davies e o Alex Thorne do original. Quisemos ser nós próprios e portanto, o Vasco nunca será tão bruto como o grego veio dizer na versão inglesa, porque não? Não está neles, mas está uma assertividade que de que ele é que ele mantém.

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Uma das coisas em paralelo que se calhar não tem nada a ver, mas na minha cabeça está em que há uma série formidável de Netflix que é que Casa de Papel e pela qual me apaixonei graças aos personagens. Sim, e o Master é um bocadinho em férias. Bem, é um concurso que funciona quase como uma sitcom, porque, epá, é uma espécie de Friends, por assim dizer.

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Tem ali cinco pessoas. Pode se identificar mais com algumas, menos com outras. Queres vê las a interagir umas com as outras? Percebes que elas estão todas muito bem umas com as outras, mas que também irão competir em algumas coisas. E eu acho que o segredo está massas está no facto de ser uma coisa que está numa fina linha entre um concurso e uma sitcom.

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E apesar de nós cá em Portugal não termos de termos o tempo, temos humoristas lá, mas na verdade a escolher pessoas públicas com graça. O Cândido Costa Isso não é um humorista, mas é um humorista. Para mim, essa é a descoberta da década. E o que é fascinante no Cândido é e está aí. E olha às vezes para ele como um fenómeno.

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Já lhe disse, estaria às vezes que como é que este tipo que não estudou comédia, que não fez comédia na vida? Como é que este tipo, antes de uma tarefa, uma das tarefas criativas tem que ser? Às vezes tem que ser surpreendido, como com coisas que eles fazem e ele vem ter comigo e dá me direções de cena que eu acho que são uma pessoa com uma grande noção da construção da arquitetura.

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E ele diz me olha, vou fazer uma coisa que eu acho que vai ser desconfortável, Vou fazer algumas pausas. Ele tem uma noção de timing incrível. É que há pessoas que trabalham em humor que não têm com a precisão que ele tem. E é fascinante que ele seja assim. É um contador de histórias também. Não é uma história.

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Está ali qualquer história a transformar aquilo, mas é aquilo. É que os anglo saxónicos é um natural. É alguém que tem a comédia dentro dele, tão afinada sem ter estudado para isso, que é que é fascinante vê lo a ter piada. Eu ri muito com ele, ri muito bem, ri muitas coisas que ele faz no programa, ri muito com as mensagens que ele manda e é uma pessoa muito feliz.

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É muito cómica, é muito amiga. Pai é mesmo bom, Tipo um há ali uma e lá está o Cândido é um bom exemplo do assinado O beijo do quase beijo. Sim, sim, sim, sim, ela está. Há um dramatismo ali. 41 é uma relação com a câmara, uma noção de como aquilo vai ficar e pá, que extraordinário mesmo. E aquilo de que?

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Como é que ele tem aquilo não é um fenômeno. Epá, foram coisas que eu tive de ver muita coisa e tive de não, não estudei comédia, obviamente, mas vi muita coisa na minha vida e portanto não está a cometer muito do que eu faço. Estudar no sentido de ter aulas, de como se escreve, como se for. Então a comédia muitas vezes nasce de nós vermos comédia, não evitarmos acompanhar aprendendo e daquilo de fazer sentido e, portanto, somos influenciados muito por aquilo que que que vemos.

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Quer ir à comédia? Já falámos do Toy, Lá está. Olha o outro caso de de uma pessoa que está que tem comédia dentro dele. É que é uma força da natureza e ele dele diz me isto. Muitas vezes ele diz Eu tenho zero medo do ridículo. A zero contem comigo para tudo. E é esse o segredo. E eu acho que não ter medo do ridículo é um dos É um dos segredos.

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E tanto o Cândido como Toy são dois casos de pessoas. Vamos em frente, vamos em frente. Por uma boa piada, vamos em frente. E por isso é que uma das provas mais engraçadas de lutas como esta foi aquela em que eles decidiram fazer uma gincana em que o Cândido tinha que transportar o Toy num caixote de lixo dentro do qual estava ele.

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Só podiam falar em francês um com o outro, sendo que o Toy ainda tem luzes de francês, mas o Cândido não zero bocadinho fazia enquanto carregava o Toy. Soava era dizer que o PR. Eu ri me tanto a ver isso. Aquilo diverte muito fazer e é com pessoas destas. E eu chorava, chorava. Olha, se há formas naturais na comédia, já falamos de dois homens.

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Ah, e obviamente necessários para ir e que enche um ecrã e é claramente competitiva. Isso cria uma situação dramática. A Inês tem tem comédia e competição dentro dela e isso é um combo absolutamente incendiário e explosivo. Pode dar asneira. Olha, falavas da questão da comédia, da maneira como escreve comédia, sendo que tu, tu escreveste grandes falas para o Herman, por exemplo.

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Foi uma oferta da altura. Portanto, dizer que tu não sabes o que não aprendeste. Escrever comédia se calhar é um manifesto exagero ou uma humildade. Aquilo tem muita, não, Mas não estudei no sentido tradicional. Ou seja, onde é que aprender com quem? Muitas vezes a ver programas do Herman também está logo a começar pelo tal canal que eu acho que é uma epifania na vida de toda a gente irrepetível de comédia e não sei se é irrepetível, mas as portas que se abriram com aquilo eu acho que o coisa mais incrível do tal canal, para além de toda a qualidade que aquilo tinha de uma ponta a outra, mas é aquela sensação de espera aí

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isto podes fazer. E as esquetes? Às vezes estão as esquetes maravilhosas e aquilo passaria hoje na televisão e aquilo, Aquilo seria possível hoje de replicar com aquela carga de politicamente incorreto? Epá, eu acho que eu estou a pensar em se tu pensar também no último a sair que estamos, eles também tem essa matriz que é tipo vamos lá dizer as coisas mais bárbaras que nos ocorrer.

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Epá, mas lá está, se as coisas bárbaras forem sustentadas eu acho que faz todo o sentido e é um bocado como o South Park vai Tu ouves aquelas personagens dizer as coisas mais horríveis porque aquelas personagens são efectivamente horríveis e na última sair aquilo o que o Bruno fez ali, ó, é o bombardeio, é o quadro. Foi criar assim uma espécie de hiper realidade em que aquelas pessoas estão a fazer delas próprias, mas não estão a fazer elas próprias estão a fazer o lado negro da humanidade e portanto, isso dá te uma carta branca para para dizer essas coisas todas, porque tu não estás a gozar com os alvos da brutalidade que é dita.

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É um space. Estás a gozar com o lado negro que toda a gente tem. E eu acho que a comédia para a comédia é isso aí que ela acha que é. Uma citação do meu bruxo aqui é que diz que é a comédia. É Epá, é que o bobo da corte que vira o espelho para o rei e mostra o quão horrível é possível ele é.

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Horríveis somos todos no fundo que cá dentro temos todos um dark side, evidentemente. Olha, quando tu escreves um texto e depois o vês a ser executado por um grande ator e dizes Epá, isto, Afinal o que eu escrevi até é melhor não. Muitas vezes acontecia, ou o contrário? Muitas sim, sim, mas muitas que eu fiz e se calhar aquilo não funciona tão bem.

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Acontece sempre. Ou tens grandes alegrias ou grandes desilusões. E para esse conto será assim. Mas não é preciso ser um texto feito por outra pessoa. Muitas vezes faço me disso. Escrevo uma edição do Homem que mordeu o cão e pensei isto vai ser E depois não, esta vai ser daquelas para ninguém esquecer. E à medida que está a sair da boca eu estou a pensar não é assim tão bom, Isto não é assim tão expressivo, melhor no papel e isso é ser hipercrítica.

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TI não és muito crítico. É pá, não. Às tantas isto é uma coisa, começas a desenvolver, começas a perceber o que é, o que é um bom texto, o que é um mau texto. E às vezes há coisas que é o sistema de controlo de qualidade. Eu acho que sim. E há milagres que acontecem que há duas chaves.

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Epá, isto está muito fraco. Isto hoje vai ser uma barraca, mas o facto de ter consciência de que o texto está fraco, se calhar na entrega dele obriga é investires mais. Vou fazer brilhar isso e de repente as pessoas acham epá, aquilo estava muito bom e eu pensei que não estava nada. Mas algo aconteceu da maneira como se diz ou como terrível vendeu.

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É grande tudo é o teu pensar no Ricardo Araújo Pereira. Há um Ricardo nos Pereira de que eu gosto muito e outro que não gosto nada. Ricardo Pereira é intelectual. Chateia me. O Ricardo é tudo a mesma coisa e tudo faz parte de dimensões do Ricardo, Aquela dimensão naif de quase puerilidade de distorcer a realidade. Mas sabes que eu acho que a mística do Ricardo está em ser tudo isso.

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E é desde que o conheci, desde que começámos a trabalhar juntos e que levou o Herman. O Ricardo sempre foi esta pessoa que trabalhava no JL e fazia entrevistas intelectuais a grandes escritores, com um conhecimento profundo daquilo que eles escreviam. E depois era o tipo que gostava deste desconcertante absoluto de criar as personagens. Coisas absurdas. E eu acho que se calhar uma coisa não passaria sem o outra.

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Às tantas é por ele ser um intelectual que consegue depois ter a inteligência para criar estas coisas tão boas no mundo do absurdo. Ou seja, epá, no fundo, esqueçam, somos um pacote inteiro em que as coisas não passam, mas é um comboio. Eu acho que é um comboio. Sim, sim, sim, sim. Olha, uma pergunta. A pergunta mais absurda é o nome do controlo?

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Portanto, eu acho sempre que os convidados um dia me respondem monocórdica mente, paixão, terror, o que não querem dizer novos temas. Eu sou essa O Livro da minha vida é um livro do Melville que é o Bartleby, o escrivão, que para quem não conhece, nunca li, mas conheço. É um livro muito, muito pequenino e sei lá, 60, 70 páginas e estou sempre a vender esse livro.

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Vou só para para para, para que as pessoas que nos fiquem, que fiquem com a pulga atrás da orelha, que é um escritório de contabilistas do início do século XIX, em Nova Iorque, em que guarda livros. Portanto, na altura em que é preciso escrever as contas, nos sentimos nos livros e que precisa de contratar um novo escrivão e contrata um que é o Bartleby, precisamente.

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E a primeira tarefa. E ele diz Olha, tens copiar aqui este livro para ali. E o Bartleby, o empregado que acabou de chegar, não diz ao patrão imediatamente que sim, mas também não diz que não. Não faz, mas diz. Diz esta magnífica expressão que é preferia não fazer, que é rico e que é óptimo. Ele preferia não fazer.

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Não é? Não é que eu seja consistentemente e prefiro ir fazendo tudo que tiver que ser, mas em princípio preferi não fazer e, portanto, é um pequeno livro que acontece. Tanta pergunta mais estúpida que aquilo que eu tenho e que é que escrevi? E como é que o peso de se ser marcam na vida?

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É bastante grande e já me deu, já me deu água para baixo. Eu podia suplantar isto porque tu, ao mesmo tempo que tens uma uma dimensão profundamente pública e transparente de escrita, de humor, de reflexão e portanto, nós podemos questionar te. Podemos criticar sim, se podemos atacar nas redes sociais, como isso acontece? Tu, ao mesmo tempo não te escusas disto e traz a tua vida, a tua vulnerabilidade, a tua ansiedade, as tuas dúvidas sobre a paternidade, sobre si, sobre as relações, sobre estas coisas que nós estamos numa espécie de terapia, mas aquilo que eu percebi a dada altura, eu sempre achei que o humor era terapia suficiente, que não era preciso recorrer a uma pessoa

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especializada, porque se conseguisses rir de ti próprio e se conseguisse processar até os textos, maiores angústias por via da comédia, estava resolvido. E uma coisa que eu descobri há uns anos e que não é só permitida até um certo ponto e depois tem mesmo que entrar ajuda especializada se for caso disso. Até porque até normalmente os as pessoas inteligentes como tu fazem uma batota e sabem onde é que está a fronteira e dizem mais sim, é aqui é mais conservadoras, gente, ri se muito.

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E a seguir, aliás, assunto sério, o número de humoristas que se suicidam é na verdade, em verdade. Epá, sim, sim, que tem muita, mas tem muito a ver com. Com a ideia de que talvez consigam processar tudo por via do que fazem e depois calhar não conseguem. É como aconteceu há uns anos, já com essa três, várias vezes.

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Mas pode ser que nas pessoas como boas ideias ouvir. Mas epá, comecei a entrar numa fase de tristeza em que que que me, que me fez questionar se para além do marco persona cómica existia mais algum. Porque o que eu comecei a inquietantemente a reflectir foi por que é que eu sou? Fora esta personagem que conta as suas peripécias na rádio, eu não sei bem o que é que não se pensou ainda alguma coisa muito substancial.

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Foi um bocado. Foi um bocado isso e tínhamo nos separado e portanto estava sozinho. Estava a questionar o que é que eu faço a minha vida e. E rapidamente comecei a ficar com a ideia de que muita gente ao meu redor, tirando assim alguns amigos mais próximos, mas muita gente ao meu redor também já não percebia bem quem achava que o Marco é que é o tal boneco, não eu e o boneco que acontecem faz meio de marketing que acontecem coisas, não é?

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E de repente eu própria comecei a questionar será que neste momento já sou só o boneco? Já ninguém sequer olha para mim como uma pessoa? O que é que O que é que eu tenho para falar para além disto? O que é que eu sou? Quais são? Epá, comecei a bater mal mesmo com aquilo. Fiquei mergulhado em tristeza e pronto.

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E foi aí que comecei a fazer terapia. Não era uma coisa passageira, era uma coisa que estava lá, era e assim. E percebi que percebi que mesmo a minha família sabia de coisas. Primeiro por rádio, antes de saber por mim, histórias que eu contava que se calhar qualquer pessoa dando prejuízo, se calhar devia contar a minha irmã ou a minha mãe, mas não eu.

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Eu às tantas olhava para a minha vida quase como olhava para as notícias de que precisava no nalguma que pesquisava no meu, que dizendo óptimo, vou guardar esta para contar na rádio que quando se torna muito recorrente com histórias pessoais, torna se estranho. Então a minha mãe dizia para eu saber de ti, tenho que ouvir a rádio. E eu comecei a questionar tudo isso e depois comecei a fazer terapia por influência do Vasco, que me disse Olhe, eu fiz terapia e foi a melhor coisa que me aconteceu e vou dar aqui o contacto daquela de divã ou de outro sofá.

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Não era sofá, dizia. Não havia divã. Mas epá, devo muito, obviamente, ao Rui, o meu psicoterapeuta. Epá, porque abriu muitas portas que estavam cá dentro e eu comecei a separar as coisas e comecei a perceber. E ok, quem é que eu sou para além do boneco? Eu estou falando do divã porque eu fiz do divã e havia uma coisa que no plano em que eu tenho medo de não ser pelo testemunho civil e já estou na ainda pior ainda era o vazio que era uma coisa que nós somos nas palavras.

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Não é que eu não tenho nada para dizer, Este gajo sim. Epá, nunca, nunca me faltou coisas para dizer. Neste havia sempre, havia sempre. Eu lembro que o Rui, numa das nossas primeiras sessões, dizia Epá, eu gosto e é muito fácil. É fácil falar consigo e é fácil abrir se e partilhar. E eu nem sequer sabia que era tão fácil assim.

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Mas então eu ia dando receções às portas. Era um dia um amigo, aí sim, 6 milhões de vezes aquilo. Sim, não, não. Mas o que eu fazia que eu adorei foi ele nunca me disse que caminho é que eu tinha que seguir, dava umas pistas e tal, mas ele encaminhava a conversa de uma maneira que eu chegava às conclusões.

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Eu próprio eu lembro ter tido tive momentos de epifania, conhecer e amar e.

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Falar Então era isto. David falava com Salvador, Martinha sobre isto. Mas eu tive momentos em que eu acho que uma das frases que eu disse mais vezes naquelas sessões foi a não ser que. É, vá, ele abria as para e eu acho que é terapia bem feita, que é quando estão portas aqui fechadas que alguém abre e tu chegas lá e aquela ideia de que tu podes fazer tudo, podes tomar caminhos diferentes.

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Só não podes dizer que compreenda outra pessoa qualquer. Sim, Epá, sim, sim. Às vezes a culpa é de outras. Algumas coisas, mas na sua essência. E faltava me abrir aqui muitas portas e criar aqui alguns desbloqueios. Não estou a dizer que agora sou um ser humano completamente ajustado. Aliás, uma coisa que eu partilhava muito com o rei era Epá Rei, eu não vejo isto mais eu não quero que me trate demasiado, porque eu sinto que se calhar espero que a gratidão que eu acho que é um medo legítimo, que pessoas que trabalham em comédia.

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Porque eu acho que a comédia nasce de desajuste da dor, de um conflito e de dor, mas sempre conflito contra qualquer coisa, nem que seja contigo própria. Não há, não há comédia, é feliz. É raro ver como é feliz. Essa é uma chatice quando tu vês uma série. Eu adoro essa série, mas quando vês uma série Como ter Lassa, O que é uma série de conforto?

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É comédia, não é comédia para te inquietar e comerem para depois igualarem. Mas ele é uma personagem cheia de conflito, apesar de ser aquele tipo super simpático, percebes? Não tem tristeza dentro dele. E a série explora essa, essa tristeza. Não há. É impossível. Eu diria que é impossível fazer comédia do bem em que está tudo superfeliz e fofinha.

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Tem que haver sempre conflito. Tem que haver acidez? Tem. Tem tempo? Tem. As coisas não podem estar bem. Pense comédia? Como é que é? Como é que tu consegues regular? Não sei se a expressão é certa, mas eu vou usá la. O teu cinismo existencial quer dizer, tu existe do outro lado e depois torna se uma coisa quase como respirar quando se trabalha em comedy, quando tem que encontrar motivos de graça, está basicamente a olhar para as coisas, a pensar a classe.

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Qual poderá ser o ângulo cómico disto? Qual o ângulo cómico desta caneca? Qual não é? Às vezes torna se uma coisa má até é quando estás em sítios em que tens que ser solene, estás num funeral. No rir há sempre coisas que parecem que são inspiradoras. Tanto assim que falas no programa Os Contemporâneos, um dos textos que eu mais gosto de escrever, porque achei que foi muito libertador, foi aquele em que a personagem do Nuno Lopes, do chato, o conceito daquela personagem era ir ter com pessoas e enxergá las sobre a sua existência.

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E um em que ele entra num velório e está a chatear um morto. Há diretas em todo. Tenta dizer lhe que a vida é não seguir isto e depois chaga as pessoas que estão lá a fazer o luto para aí. Na sua essência aquilo é muito dark. Mas ao mesmo tempo eu acho que a morte é uma coisa óptima com que se gozar, porque já que é inevitável e já que a tememos, epá, mais vale fazermos comédia com ela, porque não pode acontecer Pior e é terapêutico fazer isso.

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Olha, fechamos eu. Mas eu quero pôr aquilo que é o que que o teu filho Pedro te ensinou, que tu, perante com ele. Matemática é difícil. Se eu. Não, eu acho que eu lembro me sempre. Os nossos filhos são mais espertos que nós, certo? Eu acho que não há uma evolução, não é? Há coisas que eu adorava, aquilo que eu gostasse mais, mas ser ator me vai gostar.

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Mas eu às vezes dou lhe grandes injeções de dizeres de filme, de ir ver aquele filme e ele não está para isso. Mas epá, mas é melhor do que eu numa série de coisas e depois traz nos coisas para as coisas. Epá, sim, sim, já não sou só eu aconselhar lhe filmes e séries, já ele me aconselha a mim e depois damos por nós a ver aqui os dois e a adorar.

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E está a acontecer isso agora com aquela série japonesa do Netflix Alice in Borderlands, que foi ele que me disse É patente que estais a adorar e vemos os dois e é maravilhoso. Mas. Mas acima de tudo, eu tinha obviamente 16 quando ainda estava para nascer, mas já sabíamos que ali ia nascer e que é pá, será que eu sinto me ainda demasiado filho para ser pai de alguém?

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Ai, isso muda, não é? Não sei se foi a pessoa mais importante do mundo. É pai, passa a cena e lembro me da clareza do conselho de Álvaro Costa, nosso colega Álvaro Costa, a quem ele disse. Ele disse Então está tudo bem. Eu disse Parte se compreensiva. Você, pai, o que é que é? O Álvaro dizia Epá, vais ver é como eu.

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E aquilo simplesmente acontece. Até faz começar a perceber e quando dás por isso é uma coisa que tens que fazer, não é? Vai fazê la e pá. E eu adorei. E bom sair e é ótimo. É pai, é ótimo sim mesmo, apesar de todas as cólicas que ele teve enquanto bebé e que fizeram com que eu e Ana também não dormíssemos durante três anos.

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Epá, todas lá estar. Naquela altura havia muita gente que dizia esta parte mais tramada não ser bebé, as noites mal dormidas e do choro No futuro vocês vão se esquecer dela. Nós não nos esquecemos, mas conseguimos. Uma coisa que foram muitas noites na minha cabeça resume aquilo a uma noite só, longa e sonolenta, relativiza tudo. Até porque estás a fazer o programa da manhã na rádio há quanto tempo?

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E está desde 97 que foi quando comecei a fazer O Homem que Mordeu. O Quero Acordar, que eras depois, quando vim para a Antena três, vim para as manhãs também e quando voltei a Comercial, voltei para as manhãs outra vez. Portanto, passei por um anúncio de emprego a dizer sim. O Nuno Markl procura um emprego nas tardes de definições.

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Eu acordo todos os dias às 06h15 da manhã. É que eu gosto sempre desta história que foi. Uma vez perguntei essa lenda da rádio que o António Sala fez o despertar durante vários anos, como alguém igual ao Ricardo. Exactamente. E eu disse António, valeu o número de anos que uma pessoa pode aguentar a fazer estourarem a validade sem enlouquecer.

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E ele disse me com o ar mais natural desta vida uns cinco anos. A partir daí já são quase 30, são quase 30. Como é que não é de ser meio apanhado? Olha, já falámos da Inês. Ficamos com a pergunta fetiche dela que é o que é que um dia bom para ti, não é? Ela faz sempre essa pergunta.

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Sim, vai ser assim. Estou sempre a pensar no entrevistado que ele vai dizer um dia bom para mim ou nada. É quase isso. É quase isso. Eu não gosto de nada. Constato que o adoro visitas, adoro estar aqui. Foi uma luta conseguirmos, mas conseguimos marcar uma. Mas tem a ver com a agenda, tem a ver com as que tu tens.

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Tu tens uma agenda maluco, mas claro que tem uma agenda maluca e vai ficar mais proximamente. Vão começar gravações, novas lutas, mas aí é para o fim do mundo. Dá muito gozo, mas é tipo, vocês pode dizer radio que aparece lá? Não, não, acho que ainda não. Na hipótese de que vai para o ar agora deste mês, então quem sabe?

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Já é sabido que que é que é a Gabriela Barros e o Gil, o Mário Vemba e a Ana Garcia Martins Pipoca mais doce, o Pedro Alves e portanto já tens outra, já tens outras pessoas, já outras pessoas das quais não se pode dizer nada, mas é bom. Mas um dia, um dia bom, nestas, no meio desta loucura toda e muito.

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Epá, é uma coisa e um dia pode ser duas coisas. É aliás, um dia bom. Tem estas duas vertentes que é um dia em que eu consigo estar um bocadinho no sofá a ver um episódio ou um filme, alguma coisa e em que eu possa ir passear com a minha namorada ou com o meu filho ou minha namorada.

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E que o meu filho tem que tem que ter essas essas vertentes. Mas. Mas já houve uma altura em que eu estava meio workaholic e eu agora acho que acho que sei parar melhor. Não sou perfeito ainda não parar, mas sei para melhor. Nuno Markl, Senhores ouvintes, obrigado por terem vindo. Foi um gosto especialmente que passou a correr assim Olha, queres vir?

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Olha! De 54 minutos de conversa. Bolas, temos aqui dez E isto a sorte é como isto em podcast as pessoas dizem Ah, e agora ao fim de dez minutos já não quero ouvir. Mas é isso, é isso, vou ouvir amanhã, aquilo já está bom e isso é isso e isso foi gosto ou não gosto?

https://vimeo.com/1067084577/8f5db71076?share=copy

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