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A maneira como narramos as histórias conta.
Como contamos o que vemos. Como ignoramos o que não queremos ver.
Neste episódio vamos ao bairro. Ao bairro que insistimos em não ver.
O bairro são muitos bairros.
Mas todos, sem exceção, são chamados periféricos ou de intervenção social.
Um lugar onde tudo é difícil.
Da vida até às histórias que se contam dele.
O bairro veio ao Pergunta Simples.
E simples é tudo o que o bairro não é.
António Brito Guterres é um alquimista dos estudos urbanos.
Da formação em assistência social ao trabalho diário nos bairros onde é mais difícil viver.
Ele assume-se como um narrador das vidas que por lá se vivem. Ou sobrevivem.
No seu trabalho, ele escuta as comunidades, observa os seus gestos, compreende as suas dores e, mediante narrativas genuínas, auxilia-as a ressignificar as suas realidades. É alguém que acredita que toda a história merece ser contada — principalmente aquelas que ainda não saltaram os “muros” das periferias e que, por isso, permanecem invisíveis para grande parte da sociedade.
Como urbanista e investigador, António tem estado na linha da frente da reflexão sobre como as cidades são desenhadas, quem nelas vive e como podemos construir espaços mais justos e inclusivos. Ele trabalha nos “pontos de dor”, como ele próprio descreve, onde as contradições do nosso sistema ficam expostas: bairros marginalizados, escolas com altas taxas de retenção, espaços urbanos negligenciados e vidas empurradas para o silêncio.
Durante a conversa, exploramos como as desigualdades estruturais perpetuadas pelo urbanismo, pelas políticas públicas e pela comunicação.
Falámos muito sobre Importância das Narrativas:
Como as histórias das periferias são frequentemente limitadas a narrativas de crime ou tragédia nos ‘media’ tradicionais, ou nas redes sociais.
As mesmas redes socais que abrem caminhos para exemplos de resistência narrativa, como movimentos culturais que emergem desses bairros, desafiando preconceitos e estigmas.
Músicos que nem sabíamos existirem até terem milhões de ouvintes, poetas escondidos que fazem as letras para a cantiga de protesto, artistas plásticos que mais depressa ganham um prémio internacional do que aparecem na televisão portuguesa.
Quão surdos estamos para não querer ouvir estas vozes?
Quão alto é o muro criado pelo urbanismo do betão feio?
Do Urbanismo como ferramenta de exclusão ou emancipação:
Falámos da forma como a arquitetura pode ser usada para segregar comunidades e criar “gaiolas” em vez de trampolins sociais.
Da forma como a educação pode ajudar ou deixar que se repita o ciclo da Pobreza:
Mas não desistimos por aqui. Porque navegamos na cultura como Forma de resistência:
A ascensão de artistas periféricos, como rappers e criadores culturais, que usam a arte para reescrever as narrativas dos seus territórios.
Proponho que viajemos aos bairros. Ouvir. Simplesmente, ouvir.
Há uma história que precisa de ser recontada.
00:00:12:24 – 00:00:44:07
JORGE CORREIA
Uma dádiva. Um Bem vindos ao. Pergunta simples O vosso pecado sobre a comunicação. A maneira como narramos as histórias conta como contamos o que vemos, como ignoramos o que não queremos ver. Neste episódio vamos ao bairro, ao bairro que insistimos em não ver o bairro. São muitos bairros, mas todos, sem exceção, são chamados de periféricos ou de intervenção social, num lugar onde tudo é mais difícil da vida e das histórias que se contam dele.
00:00:44:13 – 00:01:01:00
JORGE CORREIA
Do bairro veio a pergunta simples e simples é tudo aquilo que o bairro não é?
00:01:01:02 – 00:01:30:16
JORGE CORREIA
António Guterres é um alquimista dos estudos urbanos, da formação em essência social, ao trabalho diário nos bairros onde é mais difícil viver e assume se como um narrador das vidas que por lá se vivem ou sobrevivem. No seu trabalho, ele escuta as comunidades, observa os seus gestos, compreende as suas dores e, através de narrativas narrativas genuínas, ajuda a ressignificar, a criar novos significados para as suas realidades.
00:01:30:18 – 00:01:56:04
JORGE CORREIA
É alguém que acredita que toda a história merece ser contada, principalmente aquelas histórias que ainda não saltaram os muros das periferias e que, por isso, permanecem invisíveis para grande parte da sociedade. Como urbanista e investigador, António tem estado na linha da frente da reflexão sobre como é que as cidades são desenhadas, quem nelas vive, como podemos construir espaços mais justos e inclusivos?
00:01:56:06 – 00:02:27:00
JORGE CORREIA
Ele trabalha nos chamados pontos de dor, como ele próprio o descreve, onde as contradições do nosso sistema ficam expostas. Bairros marginalizados, escolas com altas taxas de retenção com alunos chumbar logo nos primeiros anos, espaços urbanos negligenciados e vidas empurradas para o silêncio. Durante esta conversa, exploramos como as desigualdades estruturais que são perpetuadas com a ajuda do urbanismo, pelas políticas públicas e pela comunicação pela tal narrativa.
00:02:27:02 – 00:02:53:09
JORGE CORREIA
Falamos, de resto, muito sobre a importância das narrativas, não fosse este um caso sobre comunicação, como as histórias das periferias são frequentemente limitadas a narrativas de crime ou tragédia nos media tradicionais ou nas redes sociais, as mesmas redes sociais onde se abrem caminhos de esperança para exemplos de resistência narrativa, como movimentos culturais que emergem destes bairros, desafiando preconceitos e estigmas.
00:02:53:11 – 00:03:19:13
JORGE CORREIA
Músicos que nem sabíamos existirem até eles terem milhões de ouvintes, poetas escondidos que fazem letras para cantigas de protesto ou artistas plásticos que mais depressa ganham um prémio internacional lá fora do que aparecem na televisão portuguesa. Com surdos estamos nós para não querer ouvir estas vozes com auto e o muro criado pelo urbanismo do betão fácil do urbanismo como ferramenta de exclusão ou de emancipação.
00:03:19:17 – 00:03:47:24
JORGE CORREIA
Falamos da forma como a arquitetura pode ser usada para segregar comunidades e criar gaiolas ao invés de criar trampolins sociais. Da forma como a educação pode ajudar ou deixar que se repita o ciclo da pobreza. Mas não desistimos por aqui porque navegamos na cultura como forma de resistência à ascensão de artistas periféricos, primeiro periféricos, agora mundiais, como rappers e criadores culturais que usam a arte para reescrever as tais narrativas dos seus territórios.
00:03:48:01 – 00:04:21:06
JORGE CORREIA
Proponho que viajemos até aos bairros. Ouvir, simplesmente ouvir a uma história que precisa de ser recontada. António Brito Guterres é um contador dessas histórias que nos lembram o poder das narrativas, o poder transformador das narrativas. Este episódio de pergunta simples é mais do que uma simples conversa, é um convite a olhar para o mundo de uma maneira diferente, a escutar as vozes que muitas vezes são silenciadas e a reconhecer o valor de cada história humana.
00:04:21:08 – 00:04:24:07
JORGE CORREIA
Quem és tu? António Brito Guterres.
00:04:24:09 – 00:04:51:20
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Depende do ponto de partida e onde o túnel eventualmente contou na televisão ou na rádio. Isso parte de mim determinada e, contudo, outros locais sou outra parte de mim. Somos todos um caso. Não deixe fantasiar, pelo menos de fantasiar pelo que vêem, porque às vezes essa é uma parte recortada. É evidente que eu tento unir as pontas todas por resultar o mais genuíno possível, porque, imagino em nós estamos mais à vontade, estamos também e isso é importante.
00:04:51:22 – 00:05:07:14
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Mas agradeço sua essencial, sua investigação. Investigador em Estudos Urbanos, Doutorando em Estudos Urbanos e jornalista. E, na verdade, eu acho que o trabalho não é muito diferente, porque meu trabalho é contar histórias.
00:05:07:14 – 00:05:09:13
JORGE CORREIA
É uma espécie de etnografia.
00:05:09:15 – 00:05:10:18
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não é bem isso.
00:05:10:20 – 00:05:11:21
JORGE CORREIA
O que faz a procura.
00:05:11:21 – 00:05:40:13
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Até porque não gosto de muito observar e de aprender com a tradição oral dentro dos gestos, das pessoas. Mas quando digo que meu trabalho muitas vezes não é longe, não está longe de um jornalista, é porque eu estou numa posição de trabalho que lida com as inconformidades do mundo em que vivemos. Por exemplo, contrato social. Estou exposto num sítio que denuncia as desigualdades, denuncia as inconformidades, trabalha as contradições do nosso mundo.
00:05:40:14 – 00:05:42:00
JORGE CORREIA
Trabalha nos pontos de dor.
00:05:42:03 – 00:05:51:22
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Exatamente. No entanto, quando eu digo que são histórias e eu ouço as pessoas e tento tecnicamente apoiá las para lhes pedir, emancipar e ser livre de determinarem.
00:05:51:24 – 00:05:54:02
JORGE CORREIA
Como é que suas obras.
00:05:54:04 – 00:06:07:03
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Ouvindo mesmo ouvindo e depois respondendo de acordo com outra, não é o que o Antonio acha que deve ser. É ouvir percebê las no seu contexto e responder de acordo com as suas necessidades. E isso.
00:06:07:03 – 00:06:09:00
JORGE CORREIA
Implica uma técnica.
00:06:09:02 – 00:06:36:19
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Ou apenas uma vontade que implica em entregar algumas, mas algumas, sinceramente, são de caráter. Às vezes o digo o profissional pode nos dar algumas ferramentas. Mas é fácil. Também esquecemos delas na prática e de tradição, contando histórias e a partir dessa questão mais técnica de ajudar as suas a mover as suas vidas afastadas de uma certa codificação que nos é acessível e que talvez, no dizer acima, de propósito.
00:06:36:21 – 00:06:38:18
JORGE CORREIA
Não se sentem que se encaixam no mundo.
00:06:38:20 – 00:07:01:00
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Então, quando digo que parte da outra parte é contar histórias, é para criar que essas pessoas tenham. Elas têm, obviamente narrativas, mas muitas vezes essas narrativas não saltam o muro e eu não sou nem o muro. Essas estruturas de existir para os outros não deixam de existir efetivamente, mas deixam de existir porque não tem nenhuma história na história contada sobre essas pessoas.
00:07:01:02 – 00:07:02:24
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Só de uma efetiva começamos.
00:07:03:01 – 00:07:13:08
JORGE CORREIA
Mas isso significa que se alguém contar uma história dentro de um aquário e ninguém o ouve, não se veem sequer um espelho, não se sentem representados, não se sentem.
00:07:13:08 – 00:07:16:20
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Parte, não.
00:07:16:22 – 00:07:19:12
JORGE CORREIA
Como é que se resolve isso no WhatsApp?
00:07:19:14 – 00:07:42:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Exemplo Eu digo que minha posição está no lugar da contradição, não é? Na verdade, é um lugar que põe a nu a fragilidade, a fragilidade do sistema. Nós estamos sendo operamos e pondo a nu, também tenho, sinto eu que tenho a obrigação de ajudar a ocultar, a fazer pontes e acabar o mais possível, dentro da possibilidade do meu tempo de vida, dos meus limites de competências, com essas contradições.
00:07:42:09 – 00:07:58:21
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
É, mas parte disso é que o texto, ou seja, uma parte técnica das obras, por exemplo. Mas as pessoas ajudar nisso. Mas é uma parte de narrativa que para criar empatia, para criar imaginários, por de fato só sair do aquário com tudo de direito a imaginar e com direito a imaginar, já pode decidir.
00:07:58:23 – 00:08:04:23
JORGE CORREIA
Então tens que sonhar que tu podes ser outra coisa qualquer vida e que não se resume aquele problema ou aquela situação.
00:08:04:23 – 00:08:24:11
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Tu estás exatamente, por exemplo, quando e noutro dia vi um Will daqueles do Instagram que era dos azulejos. Não é o preto, quanto mais era designa tipo de função artística. E perguntava, nessa contradição de ele dizer eu sou do gueto.
00:08:24:13 – 00:08:25:19
JORGE CORREIA
E assim, com as letras.
00:08:25:21 – 00:08:45:06
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Em todos eles e subir afincadamente nas suas músicas e juntos, eu perguntava de maneira um pouco estranho Tu estás a afirmar de uma coisa que supostamente é o sítio onde puseram, não é? E ele respondia Bem, esse não é o firme do gueto. Quer ter termos noção da construção social que criaram para nós? De onde expuseram a nós?
00:08:45:08 – 00:09:00:14
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Nós vem para combater a triste consciência do qual é evidente que muitas vezes uma técnica é alisar e é para quem não sabe, nós estamos aqui em Chelas, que é um descer da RTP em Lisboa. Isso aconteceu com Chelas. Era uma coisa má.
00:09:00:16 – 00:09:01:16
JORGE CORREIA
O bairro J, a.
00:09:01:16 – 00:09:22:02
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Zona J, etc. E foi curioso quando o pessoal lá perturbou se, Mixou isso a pessoa que causou isto. Entretanto, há pouco tempo, a freguesia de Marvila quis acabar com a nomenclatura de Chelas, fazendo que fosse tudo Marvila e a Sociedade Civil de Chelas mobilizou ou não isto é, Chelas. Isso deu origem até a um movimento de uma sessão chamada Chaos.
00:09:22:02 – 00:09:39:15
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
E o sítio é que tu chegas a quer, Tipo tu vês uma pedra feita pelo Vhils. Chelas é o sítio dos Z. Uma maneira também de agora eu vou usar o sítio onde tu querias pôr em crise, apontar o dedo. Eu era viver nesse sítio que esse senhor quer assumir o sítio e quer mostrar que existe outra narrativa que não é só aquela de castanha.
00:09:39:15 – 00:09:45:02
JORGE CORREIA
É uma espécie de movimento identitário ou é uma reacção.
00:09:45:04 – 00:10:12:15
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
A uma entidade que é alguma identitário identitária, como é evidente, maturada há muitos anos. Também é relativamente classista, porque tem consciência que estar naquele sítio e estarem também num sítio mais frágil, com menos posses, com discurso classista, muito mais identitário, no sentido de que também é narrativa. Eu quero contar a narrativa de mim. Nós somos aqui como nós fomos feitos aqui, que quer ser daqui e que não é exclusivo aquilo que nos apontam também outras coisas.
00:10:12:16 – 00:10:14:15
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
E quantas outras coisas também.
00:10:14:17 – 00:10:37:12
JORGE CORREIA
Olha, quando tu estás no bairro e eu estou a usar de propósito a expressão o bairro e não os bairros, passou a dizer um em particular. O que é que tu ouves das pessoas? O que elas te dizem, de facto? Que problemas é que elas acumulam e que vêm? Vêm ter contigo em busca de um, de uma palavra ou de um socorro, ou de uma forma de olhar o mundo?
00:10:37:14 – 00:10:55:23
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Bem, normalmente aqui tu, em vários layers, há um encanto no bairro. Enquanto profissional, imagino à tua frente o de acordar um projecto para jovens ou um projecto de desenvolvimento comunitário. Imagina a visão profissional do jovem como fizeram.
00:10:56:00 – 00:10:58:16
JORGE CORREIA
Que faz as coisas, mobiliza, desorganiza.
00:10:58:16 – 00:11:10:06
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Ajuda, organizar e tem que ser uma atitude de querer fazer nada ou fazer. Outros querem fazer porque. E não acho que nenhum saber, nenhum recurso de ficar sequestrado no profissional.
00:11:10:08 – 00:11:12:08
JORGE CORREIA
Então quer dizer, tu não libera.
00:11:12:10 – 00:11:12:21
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
As pessoas.
00:11:13:02 – 00:11:14:08
JORGE CORREIA
É a inércia.
00:11:14:10 – 00:11:20:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não é assim. As pessoas querem fazer coisas, não têm acesso a pessoas, querem fazer coisas porque quem está na sua vida.
00:11:20:08 – 00:11:21:12
JORGE CORREIA
Querem fazer o quê, Por exemplo.
00:11:21:18 – 00:11:43:17
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Querem ter espaço de encontro, Querem ter espaço, expressão cultural, querem ter a sua vida habitacional resolvida, querem ter uma creche onde possa deixar os miúdos para poderem ir trabalhar, por exemplo, mais cedo. E querem, às vezes sonhos. Querem ter uma oficina no bairro? Não. Coisa de gente que não tem dinheiro para uma junta oficina e que o sítio para ter não vai.
00:11:43:19 – 00:12:06:13
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Mas ultrapassar o constrangimento de ir à praia se passar a ser rápido e eficaz, não é Tanto pessoas têm. Acho que é importante que elas tenham acesso para se organizarem e para fazerem as coisas. Isso é um modo mais profissional de ver o outro. É um lado porque o outro porque não tenho essa distinção entre o desejo de ir ao bairro.
00:12:06:15 – 00:12:15:02
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Mas tu, no bairro como tu, no bairro eu, tu no bairro das hoje, com tu numa grande cólera. Não é que não tenha sido bem por defeito de fabrico, se calhar.
00:12:15:02 – 00:12:16:16
JORGE CORREIA
É. Cada bairro é um bairro, cada um tem.
00:12:16:16 – 00:12:31:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Por defeito de fábrica. Não tenho esse limite. Eu sei. Sociologicamente. E tu disseste precaução de o plural e singular de bairro. Os seus últimos bairros você já sabem que não é Arroios. Alvalade é ajuda. Sabem que é rolar. Já elas.
00:12:31:09 – 00:12:39:10
JORGE CORREIA
Os bairros Malchut, os bairros periféricos, os bairros dos quais nada queremos saber nem daquelas pessoas. E está tudo lá ao longe.
00:12:39:13 – 00:12:40:09
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Tiveste esse cuidado?
00:12:40:12 – 00:12:42:23
JORGE CORREIA
O que é que sabemos tão pouco desta realidade?
00:12:43:00 – 00:12:44:15
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Porque as coisas estão feitas? Por que não.
00:12:44:15 – 00:12:55:03
JORGE CORREIA
Sabemos nós que não somos do bairro, Nós que temos uma vida boa? Porque é que não sabemos nada sobre quase nada sobre isso? Ou quanto sabemos, Sabemos porque alguma coisa correu mal.
00:12:55:05 – 00:13:21:10
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não porque estás para ver essa ignorância a ver, essa distância, mas nós não. Cada vez mais. Lembra te que, por exemplo, se calhar há uns tempos, há umas décadas atrás, tu não saberias onde eram esses sítios no simbolismo a ir. Saberias talvez ao fim de algum tempo, que o em tua casa vem desses sítios e saberias na escola, mas a perguntar duas coisas mais misturadas do que agora.
00:13:21:10 – 00:13:25:24
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Agora são mais segregadas e há muito ensino privado. E há uma grande clivagem, separação das pessoas.
00:13:26:02 – 00:13:35:22
JORGE CORREIA
E lá está o estigma. A pessoa que trabalha lá em casa que nos ajuda em frente porque é boa e nós conhecemos pessoalmente, sabemos o nome, sabemos o que é que faz, não os maus, os outros que lá estão.
00:13:35:24 – 00:13:39:04
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Exacto. Mas nós, como nós, eventualmente nós temos essa dissonância.
00:13:39:04 – 00:13:40:09
JORGE CORREIA
É uma segregação?
00:13:40:11 – 00:13:59:11
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Sim, sem dúvida. E nós temos essa dissonância intenso, capaz de empatizar com o estar em casa e de toda esta expressão do ponto de vista preconceituoso, porque não necessariamente faz lembrar aqueles projetos de dizer eu vou investir nesse bairro, pois garanto que vou contratar um segurança e uma secretária é do bairro. Não é de ficar tipo, mas porque não?
00:13:59:11 – 00:14:07:09
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
O técnico não é do bairro? Claro que eu sei. Também sujo com os recursos formais naquele bairro, realmente licenciados para sindical prisão.
00:14:07:11 – 00:14:10:06
JORGE CORREIA
Mas há um sabor, mas há um saber informal.
00:14:10:08 – 00:14:30:09
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Acompanhamento e isso é uma das. É um dos problemas do ponto inicial. Tem que ser eu estou um pouco, etc. Tem a ver que tu, quando segregadas e depois de um sítio tipo pessoas, porque nós pusemos no sítio e assustei muito isso mal invocadas o cabeça que pessoas acham imagina, Imagina tu e eu que somos mais velhos a precisar tudo isto.
00:14:30:09 – 00:14:42:13
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Agora o importante estou até aos 30. Imagina, Nunca viram, por exemplo, Lisboa, um Porto com o bairro do coração? Ninguém viu isso. Nós vimos, veremos no fim de cada avenida e se existia.
00:14:42:15 – 00:15:03:09
JORGE CORREIA
E quando tu e vimos os bairros de construção ilegal, as construções ilegais, coisas anárquicas, um pouco o pós 25 Abril, como é evidente, as pessoas precisavam de sítios para viver. Algumas organização. Depois, a seguir a um plano de tentativa, lá está, de erradicar o fim do bairro das barracas. Era muito mais. Falava muito, mas a geração mais nova não tem 20.
00:15:03:10 – 00:15:23:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
E seis anos. Quer dizer, se acontece nos é porque nós, no nosso tempo não havia o pessoal dos bairros e os dos bairros e também pessoas que moravam nesse bairro estão construídos e que nós pensávamos e configuramos se Jesus como alguém que eles querem estar ali. E essa não é verdade. Porque se tu falas com as pessoas, é óbvio que não é verdade.
00:15:23:07 – 00:15:36:08
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Mas tu falas que pessoas de iniciais tu percebes claramente o percurso. Essas pessoas que moram nos bairros estão construídos e depois foram morar nos bairros de realojamento. É quase tudo exclusivo. Pessoas com processos migratórios.
00:15:36:09 – 00:15:37:15
JORGE CORREIA
Fundos, engavetados.
00:15:37:15 – 00:16:04:21
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Estas pessoas são pessoas com processos migratórios, portanto, vieram antes de Portugal, vieram dos países europeus, não são de etnia cigana. Não é? Pessoas vão para ali porque imagina uma mulher que veio do campo com 18 anos, em 1950, com três filhos. Onde é que ela ia arranjar emprego e pagar se um apartamento? Não havia? Imagine uma mulher negra que veio de São Tomé em 1936, com três filhos.
00:16:04:23 – 00:16:26:09
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Foram obrigados a ir para ali e outro construir porque não havia nenhuma solução. Depois e várias perguntas de jornalista, que é a questão dessas, engravidamos? Sim, completamente. E é o facto de não sermos nós os passa aí faz com que a maioria das pessoas pensem. Nós mudamos de casa e simplesmente e.
00:16:26:11 – 00:16:30:08
JORGE CORREIA
Ainda por cima tratamo los bem e esses ingratos agora ainda estão nesta.
00:16:30:08 – 00:16:30:12
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não.
00:16:30:18 – 00:16:33:00
JORGE CORREIA
E que é uma ideia completamente absurda.
00:16:33:01 – 00:16:59:18
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Nesse todas as pessoas não viram esse processo, não sabe o que aconteceu, mas acham que isso aconteceu. É evidente que isso aconteceu agora comigo aconteceu nas pessoas. Não escolheram o recenseamento foi feito muitas vezes, dez, 15 anos antes do realojamento. Isso quer dizer quer dizer que eu fiz o recenseamento numa casa e estavam lá três pessoas. E como foi falecimentos de três pessoas, eram cinco ou seis, mas eu dei lhes uma casa para três pessoas.
00:16:59:20 – 00:17:01:24
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Já foram realojadas em sobrelotação.
00:17:02:01 – 00:17:13:06
JORGE CORREIA
E depois alguém diz Não, mas eles foram uns malandros porque eles mentiram e disseram que eram três e afinal são cinco porque chamaram outros e assim não é quase uma história que nunca mais.
00:17:13:06 – 00:17:34:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Acaba. Mas são simplesmente cinco. Passaram dez anos e as crianças estavam nessa casa. Juntaram se filho, estão em casa ainda. Evidentemente não conseguiram ter ainda um salário que os pudesse autonomizar. Então, de repente, quando já são para a casa nova, já vão sobrelotação, pois os bairros não têm espaço público, não têm espaço. Estar muitas vezes não têm ringue desportivo, não tem parque infantil, não é.
00:17:34:11 – 00:17:36:14
JORGE CORREIA
Urbanismo, conta. Nesta conversa, é outra.
00:17:36:14 – 00:17:43:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Completamente. É uma das ferramentas de de desigualdades. Não é.
00:17:43:09 – 00:17:44:01
JORGE CORREIA
Que é, mas.
00:17:44:01 – 00:18:06:03
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
É. Às vezes pode ser só simbólico, mas podia muito real. Por exemplo. Aqui me imolar lá no cemitério de São João, temos um bairro lá, a Quinta do Lavradio, que fica escondido entre o cemitério. Está dentro do cemitério. Uma ETAR ao ar livre, de céu aberto. A taxa de mosquitos é uma sondagem. Ninguém quer morar, obviamente, com esse cerco.
00:18:06:03 – 00:18:26:14
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Um beco sem saída, ainda por cima. Mas as pessoas que vão a Paiva Couceiro, que é zona da cidade com o qual elas se ligam historicamente, dizem que é uma cidade, mas elas moram bem no centro da cidade, não é patrimonialmente. Repare, elas moram ali, num beco sem saída e dá para ver com seriedade das cidades os não funcionam.
00:18:26:16 – 00:18:39:05
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Tem pessoas de 70 anos, 60, 50, no sétimo andar, oitavo andar, não saem de casa. Tanto se imagina e chega o ponto dois. Não funcionam, portanto, há todo um sistema de ficar e não sair daí. Isso é um sitio a parte.
00:18:39:07 – 00:18:42:05
JORGE CORREIA
E ninguém quer saber.
00:18:42:07 – 00:18:51:10
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não depende só de querer muito saber, mas não para melhorar a vida social, mas por capturar politicamente essas pessoas.
00:18:51:12 – 00:19:17:05
JORGE CORREIA
Olha, há bocadinho tu estavas a falar de uma coisa que que é a questão das famílias. As famílias crescem, obviamente, os filhos, os netos por aí fora e não é só nos bairros, é no geral. Mas imagino que isso possa sentir de uma forma mais forte o problema dos mais jovens que não tem emprego, que não há trabalho, que não não há, não existe, não existe oferta.
00:19:17:07 – 00:19:19:12
JORGE CORREIA
Perpetua se um ciclo de pobreza.
00:19:19:14 – 00:19:43:02
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Se em vários níveis. Por exemplo, se tu vires outro exemplo agora no convento falou se muito disso. Falou se sempre das chagas. Um bocado melhor do que não. Mas tolerarmos, por exemplo, a estrutura de produção não é por acaso. Muito porque não havia trabalhadores, fábricas, porque não havia transportes. Então você é de produção, de vir de lá, vem da ausência de computador.
00:19:43:05 – 00:19:50:12
JORGE CORREIA
É uma das razões do aumento da inflação. Já agora, que a gente hoje fala, tem a ver exatamente com essa quebra dos circuitos normais de distribuição.
00:19:50:14 – 00:20:11:12
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
E falou se duma coisa na altura que era habitual pensar a nossa economia, porque de facto, se assim não dá, então a estrutura a que se falou muito chega de discursos, não é de clássico, discurso de comida, de proximidade, etc, sendo que já esquecemos disso tudo. E quando tu vês um homem, ou para jovens já com jovens que ficam três, um homem neste território de 50 anos que dá para parede.
00:20:11:14 – 00:20:12:06
JORGE CORREIA
Sem emprego.
00:20:12:06 – 00:20:27:13
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Desemprego em que eventualmente conseguiu talvez o RS, que é aquela fortuna que nós sabemos fazer, tem a ver com isso, porque tu agregados, agregar, desagregar um modelo produtivo que é transformador ou primário mesmo e transformador de proximidade.
00:20:27:18 – 00:20:30:11
JORGE CORREIA
Retirar este economia, retirar este dinheiro que não resta possibilidade.
00:20:30:17 – 00:20:59:15
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
E retirar te de uma coisa produtiva na nossa economia. Hoje somente aqui em Portugal é muito uma base produtiva mesmo quando se fala do turismo, não é ter uma sede de sete quilómetros que não são produtivas e portanto, o homem está ali no bairro que lá para ele, que está desempregado, imagina, ele nem consegue ir para Leiria porque na hotelaria já exigem um conhecimento de software e uma literacia digital que ele não tem.
00:20:59:17 – 00:21:00:24
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Daí se contesta.
00:21:01:01 – 00:21:05:12
JORGE CORREIA
E diz não tem emprego e portanto não se consegue formar e portanto, não tem futuro.
00:21:05:12 – 00:21:32:23
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não, não tem emprego nem aspiração de fala. Pessoa, 50 anos que eventualmente tenha 20 ou 30 e tal nas obras ou na fábrica, etc. Os mais jovens têm outro problema que aqui na escola nós estamos aqui perto. Escolas Olaias tem cerca de 36% de retenção. No sexto ano de escola de alta de Lisboa, tem 52. Olha, portanto os jovens vão ficar todos assim.
00:21:33:00 – 00:21:46:09
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Agora diz que temos 12 anos obrigatórios de ensino que, em tese geral, 12.º ano e terminal não é. Mas a verdade é que as pessoas vão renovando matrículas nesse mesmo ano e podem cumprir os 12 anos, mas não vão chegar ao 12.º ano.
00:21:46:09 – 00:21:51:10
JORGE CORREIA
E quanto mais insucesso tem aquele aluno, mais uma vez é ostracizado por ter.
00:21:51:12 – 00:21:52:16
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Menos facilidades tem.
00:21:52:18 – 00:21:55:21
JORGE CORREIA
Aquele aquela. O aluno que não vale a pena investir por ele nunca vai aprender.
00:21:55:21 – 00:21:59:02
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Mas para em tese nem pode tirar a carta nisto.
00:21:59:04 – 00:22:05:07
JORGE CORREIA
Portanto está a está se a alimentar de facto um circuito em que o amanhã é pior do que o hoje.
00:22:05:09 – 00:22:26:16
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Eu acho que nós temos um processo de democratização que permitiu uma série de excessos dos mesmos. Agora, eu acho realmente que o que esta economia mais especulativa, mais no financeiro, tudo cria um conjunto de desigualdades, vai criar um afastamento outra vez, ou seja, vai ter menos pessoas a ir para faculdade, por exemplo. Vai acontecer e pensa de movimento normal.
00:22:26:16 – 00:22:37:01
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Quer dizer, imagina como é que hoje em dia tu conseguires tomar que possível, matricular um miúdo numa faculdade em Lisboa. O custo habitação, por.
00:22:37:01 – 00:22:38:16
JORGE CORREIA
Exemplo, em 500 € por quarto.
00:22:38:19 – 00:22:38:24
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Estás a.
00:22:39:00 – 00:22:42:16
JORGE CORREIA
Ver com o salário mínimo 800? É uma bizarria de um.
00:22:42:18 – 00:23:01:16
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Esse percurso, esse de horário dentro de Lisboa, é reduzir A desigualdade é tanta que tens os sítios que são mais jovens na cidade, porque nós temos aqui Marvila, Marvila é muito mais jovem, muito mais do que Leiras e local. Alvalade é de carros.
00:23:01:19 – 00:23:03:21
JORGE CORREIA
Portanto pessoas que a sociedade precisa delas.
00:23:03:24 – 00:23:38:19
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
E essas. Contam os mais novos nesses territórios e eles não ficam para trás na escola. Não é discutirmos, é ter uma situação que alargue o exemplo prático. Lisboa tem 40% licenciados. É a cidade do país com o maior número, talvez com 40%. Só que esse. Aqui em Marvila, em alguns bairros Marvila Percentagem zero 1% e alguns bairros de Lisboa com 100% dos 40% do sentido de Lisboa, mas que com esta décalage se dá 1% a quase 100%.
00:23:38:22 – 00:23:39:21
JORGE CORREIA
Estamos a cavar.
00:23:39:21 – 00:24:04:02
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Um fosso, tu vais a Telheiras e a 100% são licenciados, mas aqui Chelas se calhar é um ou 2% que se cria um fosso que vai aumentar e vai fazer com isso Aconteceu em França e foi interessante no pós guerra também. Eles realizaram isso. Não tem esse exagero. Portugal quer a dependência económica das novas gerações. Faz o fato de serem herdeiros de.
00:24:04:04 – 00:24:14:18
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
E é interessante que no pós guerra essa diferença era muito maior, ou seja, tu não precisavas de ser herdeiro para conseguirmos ter igualdade.
00:24:14:20 – 00:24:15:07
JORGE CORREIA
Tudo.
00:24:15:09 – 00:24:15:13
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Na.
00:24:15:13 – 00:24:17:09
JORGE CORREIA
Vida, apanhar o elevador social.
00:24:17:11 – 00:24:43:15
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
E agora é agora. Cada vez mais o fator herdeiro define mais essa capacidade. O que entretanto confundimos com peça social. Exatamente o pensar neste ponto de partida diferente. Mas nós vamos dar um conjunto instrumentos para que eles não tenham e, portanto, voltando à escola, quando eu olha que para o Filipa, para os alunos tem 0% de retenção do que de sexto ano, verifica se que a escola tem três tipo de recursos.
00:24:43:17 – 00:25:02:03
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Sei que os pais podem estar na escola e atentos. É lá que se passa com os professores e com os alunos. Sei que depois os pais têm a capacidade académica de explicar aos filhos as questões. Têm uma casa em condições para ter uma intimidade e espaço de trabalho e tem capacidade, Não precisa de ficar explicações. O miúdo terá escolas, Olaias de Lisboa tem.
00:25:02:03 – 00:25:26:20
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
A mãe chega às 22h00 por fazer transportes precários, fica na rua das 16h00. Até essa hora não tem ninguém em casa, não tem sítio que eu apoie academicamente e quando tiver casa tem seis pessoas. Num T2 não há espaço que é para ter um espaço de trabalho e os pais não têm capacidade de ensinar. Portanto, se para o ponto de partida nunca entra aqui nem um elemento equitativo para equilibrar este ponto de partida.
00:25:26:22 – 00:25:43:08
JORGE CORREIA
Como é que tu geras a tua própria frustração quando tu estás a trabalhar? É exatamente com pessoas como tu acabaste de tipificar. É quando o nível de respostas que tu consegues. Imagino que seja infinitamente mais pequeno do que do que a necessidade de ir com vontade de ajudar.
00:25:43:10 – 00:25:52:02
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Então eu não tenho que ser o senhor das razões para já, porque sou privilegiado, ministro e tem consciência disso. E tu também, sabendo disso.
00:25:52:04 – 00:26:18:01
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
E, portanto, como tu, eu tenho um pensamento relativamente aberto para discutir mais, mas relativamente estratégico o que é preciso fazer? Eu vou continuar a atuar? Posso atuar, pois, na parte mais pública, por afetar a política pública, mas eu vou sempre no terreno usar os cursos que existem. Então amplifica o mais possível. Não tenho obstrução, Claro, há um desânimo.
00:26:18:01 – 00:26:31:18
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
O estado em que chegamos e é um problema que as pessoas têm um pensamento. Vou dar o exemplo como é que uma pessoa, por exemplo, 2% de pessoas com tudo, Dizes me com pessoas que moram na Expo?
00:26:31:20 – 00:26:32:24
JORGE CORREIA
Eu gosto, pessoas não.
00:26:32:24 – 00:27:00:10
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Mas um exemplo para pessoas visualizar uma pessoa que mora na Expo e que tem eventualmente uma pessoa trabalha em casa chamada empregada doméstica, que foi num desses territórios e tinha um bom emprego. E como é que eu olho para a via que está à minha frente? É que é uma chatice, porque obriga me ali a ter uma faixa de rodagem e é isso que me faz, por exemplo, escolher onde eu vou votar e não no paradigma onde eu estou.
00:27:00:10 – 00:27:03:12
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Como é que a pessoa que leva em casa para sobre os seus filhos, preocupados com.
00:27:03:12 – 00:27:06:15
JORGE CORREIA
Os problemas dos ricos e não com quem com geral.
00:27:06:17 – 00:27:13:04
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
É individuais, invisuais, é uma comunicação onde me ajuda muito a isso. A pessoa fica mais irritada. É uma.
00:27:13:04 – 00:27:14:02
JORGE CORREIA
Forma egoísta de.
00:27:14:03 – 00:27:36:12
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Dizer. E assustam também pela questão comunicacional, como tu próprio sabes. Até porque a inteligência social do algoritmo privilegia os conteúdos que façam esse tipo de decisões. Portanto, eu comecei uma série de conteúdos, uma ciclovia que me chateia quem foi? E o meu expertise vai além das obras que eu já li. Então foi mais ou menos de a ciclovia não ter sido feita assim.
00:27:36:12 – 00:27:38:17
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
E fica todo o resto com aquilo é que vai definir o teu.
00:27:38:17 – 00:27:40:15
JORGE CORREIA
Voto, que é um pequeno problema menor.
00:27:40:17 – 00:27:56:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Vai ser o teu voto e não um pensamento sobre coesão da cidade como consciência sozinha voto. Qual é a consequência na segurança, por exemplo, eu faço muito durante esta semana. Como é que as questões da segurança de facto, se as pessoas se sentirem empoderadas, emancipadas, se tiverem emprego, se não tiverem de fazer ninguém fazer esse raciocínio?
00:27:56:07 – 00:28:09:09
JORGE CORREIA
Olha, eu gostava de ouvir todas as áreas da segurança que é o que que está a falhar e falhar. A palavra é minha na relação entre as forças de segurança e estas comunidades mais periféricas.
00:28:09:11 – 00:28:39:08
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Então seu lar. Falamos de urbanismo, já falámos da escola e falamos de uma série de. E de coisas, mas que são instrumentos de exploração, de subversão. Isso aconteceu o mesmo. Aquela escola é pior que quando outros miúdos. A tua casa é pior. Quando é mais pobre, aquele bairro é mais longe, tem menos autocarro e a polícia é igual em tudo e por isso vão fazer o quê?
00:28:39:10 – 00:28:59:06
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Vão pôr os mais novos, os mais inexperientes profissionalmente. Qualificação. No entanto, eu consegui ir para ali e, juntamente com isso também há, tal como na educação, na habitação, nos estudos, transporte, uma direção de serviço, que é o que o povo, os mais novos todos juntos e vamos tipo olha para os teus sonhos como um rebanho e não como pessoas importantes.
00:28:59:08 – 00:29:08:09
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Em vez de ser polícias em carros patrulha a pé, são carrinhas.
00:29:08:11 – 00:29:31:08
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Tu só vejo essas imagens quando eu vejo exposto no último dia todas as imagens da polícia lá. Tu vês quando há uma grande rusga. E a rusga pode ser no bar, em campo, na casa do ministro, ou pode ser aqui na no bairro Chelas encontras uma rusga pela opção Todos os policias todos a seguir isto vês que é um grande aparato e que só aparece nas notícias assim uma grande crise de segurança.
00:29:31:08 – 00:29:39:21
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Há um grande momento e o quotidiano do policiamento desses sítios. Eu digo tu vês a emergência que carrinhas de vidros fumados, de.
00:29:39:21 – 00:29:41:04
JORGE CORREIA
Casas blindadas.
00:29:41:04 – 00:30:06:05
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Polícias com cara tapada e o quotidiano do policiamento nesses bairros. Portanto, até há uma cena interessante que é o riso. Mas uma vez fiz uma coisa que foi agarrar no Correio da Manhã, diz. Na publicidade de um sítio pela manhã e por todas as notícias emanadas pela polícia, evidentemente gritadas pelo jornal, porque as puseram lá.
00:30:06:07 – 00:30:07:02
JORGE CORREIA
Mas a fonte vem daí.
00:30:07:08 – 00:30:13:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Mas a fonte, o endereço, a polícia disse em comunicado de imprensa à PSP, PJ e Janeiro. Mas também.
00:30:13:08 – 00:30:14:21
JORGE CORREIA
Foi criada uma narrativa e.
00:30:14:21 – 00:30:26:02
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Posto no mapa onde entra no mapa e é o ritmo e portanto, fica mais colorido ou menos colorido, consoante mais incidentes.
00:30:26:04 – 00:30:31:19
JORGE CORREIA
Onde é que está a geolocalização do determinado incidente que promoveu um determinado comentário? Há uma eternidade com relação.
00:30:31:19 – 00:30:45:15
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Portanto, está quase tudo. Imagina, Sente Lisboa e tudo. Intendente Mouraria. Mas Dinis, Historicamente, os sítios com maior taxa culinária de Lisboa são a freguesia de Encarnação, que é o Bairro Alto e Santa Justa. Tanto nesse caso corresponde tanto.
00:30:45:16 – 00:30:56:14
JORGE CORREIA
Temos uma distorção de notícias e as narrativas apontam nos para pensar que há um sítio. E, de facto, a discussão é essa que a utilização de argumento certamente não. Na prática e na.
00:30:56:14 – 00:31:02:04
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Prática, a nível de taxa a nível absoluto, por exemplo, é Olivais, mas não parece de uma narrativa. Somos olivais no fim da manhã nunca.
00:31:02:04 – 00:31:02:17
JORGE CORREIA
Se ouve falar.
00:31:02:17 – 00:31:31:00
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Mas é o sítio com mais crimes em absoluto. Amadora Tu vês Cova seis Mais Não existe mancha vermelhinha. Onde é que a taxa, a maior taxa é na mina? Que operação de comboio não tem nada a ver com essa zona? O que quer dizer com isso? Quer dizer, olhe para esse mapa que cheguei a Lisboa entre uma série de mapas e pensei Ok, se é um enviesamento narrativo, tem de haver um enviesamento na categoria de crimes.
00:31:31:02 – 00:31:38:02
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Pergunto eu que temos crimes contra pessoas, crimes contra o património, crimes contra o Estado, legislação avulsa, etc.
00:31:38:07 – 00:31:39:12
JORGE CORREIA
Mais graves? Menos graves?
00:31:39:15 – 00:32:03:06
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Sim, mas temos uma tipologia de crimes entre viver a média da tipologia. Tínhamos Portugal e era os 4%, normalmente crimes contra o património de roubos. Nesses 20 e tal crimes contra pessoas, 6% legislação avulsa e os outros 1%. Então a narrativa policial é preencher o mapa do crime por tipologia e ele é muito interessante. Que tipologia mudava? O que é que mudava socialmente?
00:32:03:09 – 00:32:07:12
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Legislação avulsa a nível nacional a 6%?
00:32:07:14 – 00:32:08:03
JORGE CORREIA
O que aqueles que.
00:32:08:03 – 00:32:20:10
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
São acusados a nível nacional? 16% na altura que eu fiz difícil a nível das narrativas da polícia, é de 20 e tal por cento que aqueles roubos é basicamente droga. Tanta polícia evidenciava, mas aquilo estamos.
00:32:20:10 – 00:32:21:21
JORGE CORREIA
A falar de que é do grande tráfico.
00:32:21:23 – 00:32:39:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
No tráfico de rua em geral, das coisas pequeninas. Porque se tu reparares e isto é interessante, olha, tiveste nisso sempre. Tu vês um grande aparato de tráfico de droga. Nunca é no bairro, é sempre no Porto, no aeroporto de zonas de chegada, nunca é no meio de um bairro.
00:32:39:09 – 00:32:54:03
JORGE CORREIA
Eu estou a pensar nisso porque uma coisa é nós estamos a falar do grande tráfico, do grande tráfico de estupefacientes, de toneladas. Como se assim quando acontece outra coisa é a ter apanhado três ou quatro miúdos que estão na rua com doses de consumo.
00:32:54:05 – 00:33:28:18
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Basicamente é isso. Sentes isso? Oh, de que pequeno tráfico? Mas além de setembro, tanta polícia ou mudar o local onde narra do local onde realmente a maior taxa de prevalência dos crimes tráfico, sendo que tráfico menor. Com tudo certo, pronto. E depois há a questão estamos a falar aqui da polícia também. Mais interessante que crimes contra o estado da média nacional e 1% a média do Canadá para 2015, 11% de quem de santo crimes contra e, por exemplo, desobediência à polícia.
00:33:28:20 – 00:33:46:14
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Então tu percebes nessas se de facto, o aparato policial nestes meios é aquele que só passa montanhas de fumados como você não tem noção disso, nem com com bancos rotativos que estás sempre com guerra. Não é.
00:33:46:14 – 00:33:47:10
JORGE CORREIA
Intimidador, é.
00:33:47:10 – 00:33:50:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Intimidador e obviamente que há mais fricção. Portanto, se os crimes contra o.
00:33:50:07 – 00:33:51:19
JORGE CORREIA
Estado para reacção, depois também.
00:33:51:22 – 00:34:00:08
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Se mais vezes não é porque repara nestes territórios e usando o Código Civil que diz em que circunstância perfeita é preciso ter noção disso.
00:34:00:10 – 00:34:01:08
JORGE CORREIA
Tu és mais suspeito.
00:34:01:13 – 00:34:13:09
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Tu mais um tanto. Imagina o está na rua algures a andar que nos de que na Alameda e a polícia chega, saem dez polícias, encosta a parede, pois tudo o que se passa tem.
00:34:13:15 – 00:34:15:04
JORGE CORREIA
Esse efeito logo à partida.
00:34:15:06 – 00:34:37:08
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Ali não há ninguém que se passe de suspeita. Não é porque o Código Civil diz que só pode ser abordado por polícias se for suspeito e ou se for suspeito em território nacional são ilegal. Então imagina isso é uma diferença brutal, porque os polícias defendem com a questão das suas serem negras e tanto poderem à partida serem imigrantes.
00:34:37:08 – 00:34:56:10
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Tás a ver? É brutal. É um ato racista? À partida, não é? Então, de facto a fricção é muito maior e precisa se muito mais tu tiveres num sítio e já não acreditam nisso. Mas talvez um sítio que é cercado e tu vais para escola e as revistado e vais trabalhar. És uma senhora de 57 anos revistado. Isto acontece tantas vezes por semana.
00:34:56:14 – 00:35:03:02
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
É uma revolta. Pode ser duas vezes por dia, o que é fácil de acontecer e de coisas. Não é fácil.
00:35:03:04 – 00:35:28:00
JORGE CORREIA
Estamos a falar agora dos media e ouvi pela primeira vez, não é? Nos acontecimentos recentes no bairro do Zambujal e essa fricção entre a população e as autoridades. Mas. Mas vi também, pela primeira vez, de uma forma muito marcada, uma revolta contra os media tradicionais, contra os jornalistas que supostamente estão lá para cobrir e para contar aquilo.
00:35:28:02 – 00:35:54:17
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Porque acho que já falámos um pouco sobre isso. Mas imagino o seguinte eu faço parte do conselho editorial do jornal A Mensagem Jornalismo e fizemos um trabalho o ano passado, há um ano e meio, que era chamado Narrativas e Costi redacções, polpa que nós localizamos a redacção da mensagem. Por isso, territórios juntávamos com pessoas locais que sabem narrar, que têm ferramentas, narrativas.
00:35:54:17 – 00:36:33:05
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Tanto o miúdo faz videozinhos que escreve, o miúdo que faz banda desenhada e eu também seria um autor e faríamos brainstorming para fazer notícias e a partir da redação, nesse local, antes de fazermos, eu fui investigar a coisa. Já sabia, mas voltaria ao dirão É Martins. Adriano Martins é a melhor freguesia do país. Já fui e é feliz em Portugal com meus números de jovens até que tomem nota das coisas a falar de periferia, bairros e jovens num ano inteiro, num ano inteiro do jornal tablete, no Correio da Manhã ou no jornal tipo referência com o público num ano inteiro.
00:36:33:07 – 00:37:03:20
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Só há duas categorias de SEO categorizar notícias. Só há duas categorias aí. Então é o velhinho que cai e tropeçou em mágoas ou crime? É a maior freguesia da área metropolitana, Lisboa e só tem essas duas categorias. Se eu for procurar nas redes sociais de geolocalização, não é? Martins As categorias nem aparecem só para as coisas de subcultura, coisas, empreendorismo, economia local, coisas boas?
00:37:03:22 – 00:37:04:02
JORGE CORREIA
Não.
00:37:04:02 – 00:37:42:08
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Portanto, interessante. Nessa categoria exclusão aqui juntamos células igual o ano inteiro, só criam piores e quase crime castigo quando no livro Crime e Acidente E este é um bom exemplo, o único momento de categoria na cultura e envolvia alguém cá deste território foi sempre quando uma grande instituição entrou neste território e apoiou, por exemplo, na montagem do Rock in Rio tocando Era aqui, portanto aparece neste mapa, mas não por ser uma coisa aqui.
00:37:42:13 – 00:37:43:22
JORGE CORREIA
Mas é como se fosse um implante.
00:37:43:24 – 00:38:03:18
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Com os implantes das tantas. Assim, para. Ou seja, as células têm uma taxa de cultura que ocorre no Rio e eu fazer Rock in Rio, eles fazem parceria com o sítio, por isso aparece essa associação, que é daqui, mas associada ao Rio ou, por exemplo, a Gulbenkian. O centro contemporâneo fez uns contentores que eram apropriados pelo sul dos bairros e fizeram aqui.
00:38:03:19 – 00:38:16:17
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Portanto, o outro ponto de cultura foi porque estou certo disso. Foi o cão da Gulbenkian, veio a Chelas e interagiu com o criativo, com o espaço. Também curti tanto esse espaço, parecia tão interessante. Não parece por si.
00:38:16:19 – 00:38:19:14
JORGE CORREIA
Mas sim, mas esse contágio não faço não, não ajuda.
00:38:19:15 – 00:38:23:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Esta ajuda Ajuda, claro, mas não é suficiente. Muito bom.
00:38:23:10 – 00:38:24:23
JORGE CORREIA
E cria uma economia também de agora.
00:38:24:23 – 00:38:25:23
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Sim, mas é muito fofo.
00:38:25:23 – 00:38:26:23
JORGE CORREIA
Festivais de música.
00:38:26:23 – 00:38:43:14
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Muito poucos, tanto tem um cara de resposta que as pessoas que moram nesses territórios. Nunca têm. Imagina. Nunca vão ter gente normal só naquelas duas categorias. É dos indígenas e basicamente de outras categorias.
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JORGE CORREIA
E essa é a razão pela qual a.
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ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Revolta é anos e anos.
00:38:45:22 – 00:38:50:18
JORGE CORREIA
Diz totalmente, Mas um sentimento de injustiça também em relação aos média, em relação às milícias, em relação a.
00:38:50:22 – 00:38:53:19
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Também porque só parece, como disse agora, toda a gente.
00:38:53:22 – 00:38:54:23
JORGE CORREIA
Só para ter coisas negativas.
00:38:55:02 – 00:39:07:19
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
E dar 30 exemplos que já fez, existe. É muito bom. Eu faço assim. Preciso de como olhar para o lugar que se quis com tudo aqui. O que é que se fala? Porque é que se contou, o que é que se fala diferente, que se contou e que contou? É sempre que algumas categorias incidente do crime e tu ficas.
00:39:07:24 – 00:39:11:20
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Mas aqui tanta gente que faz coisas e coisas interessantes e as boas de.
00:39:11:20 – 00:39:18:22
JORGE CORREIA
Vida que elas estão não estão. E as redes sociais estão a ajudar muito, atrapalhar bastante.
00:39:18:24 – 00:39:24:10
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
É que perante um de uma pessoa eu vou dar o exemplo de música, até porque nem falamos disso.
00:39:24:12 – 00:39:26:17
JORGE CORREIA
Nem queremos falar das coisas boas do rap, do.
00:39:26:19 – 00:39:40:02
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Sobre isso e aquilo. Talvez ser sucinta não é suficiente. Por exemplo, nós já temos e tu tinhas razão por comentar comigo, que o reconhecimento tem o plutónio, quer no básico. Os gajos falam.
00:39:40:02 – 00:39:40:16
JORGE CORREIA
Do plutónio.
00:39:40:19 – 00:39:41:12
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Pelo bairro os, mas.
00:39:41:12 – 00:39:42:12
JORGE CORREIA
Para quem nem sabe quem é.
00:39:42:12 – 00:40:10:11
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
O que é um puto, então o Plutónio é um rapper mais ou menos da minha geração, tanto no princípio de 80. Eh rapper, vem do bairro Cruz, Manecas Cascade, com os bairros, que foi outro construído também com os retornados dos Imigrante. Depois de com os milhares de realojamento em estudo, o plutónio acabou de pôr e encheu o MEO Arena e já abriu outra data.
00:40:10:13 – 00:40:36:09
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Tanto já esgotou o concerto de abertura. O Plutónio tem centenas de milhões, centenas de milhões que iniciou centenas de milhões de visualizações na página do YouTube. Mais idem no Spotify. O Tony vive daquilo? Espero que sim. Não vive aquilo. Tem imensos shows e músicas com 20 milhões, 15 milhões, Portanto, o público.
00:40:36:15 – 00:40:38:14
JORGE CORREIA
De que fala o Plutónio.
00:40:38:16 – 00:41:09:00
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Vida de Bairro, basicamente é por isso que se está falando por interesse, pois o bispo não tem nada, não é mortis, tem de digital, é no Vale da Mouraria. Já não é bem rap, é uma coisa mais debatida, mas também inclui essas vivências. Esse pessoal eu vou levar a parte de redes sociais a parte, se isso não tem efeito, é só chegou um ponto que tinham dez músicas com milhões de utilizadores e não tinham de cantar.
00:41:09:02 – 00:41:10:13
JORGE CORREIA
Não haviam espaços, não havia uma porta.
00:41:10:14 – 00:41:35:02
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Eles tocavam nas teclas acima, mas a periferia de Lisboa. Mas era escandaloso, mesmo que se com pessoal de música de ok, nós sabíamos trabalhos e se mostrava uma música que eu fazia ao vivo, quero mostrar num visualizações que só tinha comparado com visualizações que tinham o single do top desde a Fnac nacional e eles batiam tudo e não tinham sítio que aquilo acontecer.
00:41:35:04 – 00:41:58:08
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
As agências através de pessoas, através das festas académicas, os jovens que estão atualizados academicamente não têm grandes procedimentos. Começaram a convidar o pessoal que nos concertos e até os colegas aqui da Antena um, o cidadão dirige locução quando diz que eles iam lá e não percebíamos do caminhar, estudos e ver este tipo que não conheço nenhum. Nós somos da música de fundo.
00:41:58:08 – 00:42:03:05
JORGE CORREIA
Tudo está como contar um mundo que na realidade se move quase em duas espécies.
00:42:03:07 – 00:42:05:10
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Mas foi, penetrou, depois, penetrou, depois a estratégia.
00:42:05:13 – 00:42:07:00
JORGE CORREIA
Nós conseguimos ouvir, quer dizer.
00:42:07:02 – 00:42:37:04
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não, pois penetrou completamente. E vão os meios e as artes e vão completamente espacialidades. Que eu quero dizer é o facto de ter uma pessoa putona muda de tela e com o bispo e outros que têm milhões de pessoas que lêem aquilo e que não são só dos bairros, que são classe média, que não quer dizer, apesar de não ter empatia, porque há uma grande diferença lado mostra como as raciais pode ter certas pessoas foi aconteceu neste caso.
00:42:37:06 – 00:42:40:13
JORGE CORREIA
Mas eles não foram adotados pela sociedade.
00:42:40:15 – 00:42:53:18
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Mas temos uma opção. Muitos deles vivem no bairro porque preferem ter um. Sentem bem o bairro espacialmente, como nós falamos aqui, muito em segregação e é uma concha, não é um espaço, resistência, solidariedade.
00:42:53:20 – 00:42:56:20
JORGE CORREIA
E a resistência faz parte também da tal narrativa.
00:42:56:22 – 00:43:21:01
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Faz se, claro, mas é uma consciência imposta, tais como a vida tomar que tu tens que restituição, criar esquemas de solidariedade das cooperativas de partilha. Isso é um fardo que tu sentes Também é em parte do perguntas porque gosta Lá, depois de me afastar, é emocionalmente olhar para a situação e também porque não sejam ouve isso então eles se dão bem com isso acompanhado Não é esse tipo de Mas pronto, então.
00:43:21:03 – 00:43:22:06
JORGE CORREIA
Tu tens questão de.
00:43:22:08 – 00:43:55:18
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Elogios todos ainda hoje, mas reparam tu dizer o fato de eu ir no metro e o meu ar era verão com certo plutônio em consigo. Sempre ficou escrito que poderia ser música num espaço, num tempo, numa narrativa, no Spotify e nos do concerto em si. Mas enquanto o elemento dos negros à minha volta 1.000% negro, estás a ver tanto a parte do consumir cultura e apropriação pela cultura e até ganhar alguma ginga sobre isso não quer dizer que tu fiques mais empático.
00:43:55:23 – 00:44:01:23
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Portanto, algumas coisas podem ficar, mas no geral não tenham com isso que fica mais empáticas, deixem de ser racistas, etc.
00:44:02:03 – 00:44:13:01
JORGE CORREIA
Tanto gostam da música que gostam daquela cultura e se calhar está nos topos ou está nos trends. Mas apesar de tudo tu vais lá não te querendo misturar e aquela colmeia é uma zona temporária.
00:44:13:01 – 00:44:36:04
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Eu estou lá na aquelas horas, faz parte deste universo ali, mas quando sai novamente para fora já não faz parte daquilo, não é? E é. Até posso achar que faz parte, mas que sou racista sim. Estranho, mas a cultura já tinha essa questão que. É de todas as indústrias, a que formou mais baixo e promove mais conexões, ligações.
00:44:36:06 – 00:44:56:15
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Mas do ponto de vista de consumo, a maneira como nós vemos a cultura hoje em dia, numa lógica consumista, etc, não significa nada que possa gerar esse tipo de apatia, esse consumo, aquilo. Como continuam pobres, as pessoas consomem aquilo, mas depois não se ficam sensibilizadas para voltarem ao B media transferência que ouviram daquilo.
00:44:56:16 – 00:45:06:00
JORGE CORREIA
Olha estes miúdos que cantam rap, o hip hop e por aí fora, são na realidade poetas. E assim é verdade O que eles te dizem?
00:45:06:00 – 00:45:07:02
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Escritores? Um pouco.
00:45:07:04 – 00:45:08:23
JORGE CORREIA
Porque o que eles te dizem? Tantas coisas.
00:45:09:00 – 00:45:10:00
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
São intelectuais.
00:45:10:02 – 00:45:13:20
JORGE CORREIA
E esse é o ponto, não é? E não os vemos como tal. Quer dizer, eu.
00:45:13:20 – 00:45:15:04
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Vejo, mas vejo. Hoje mesmo.
00:45:15:10 – 00:45:16:15
JORGE CORREIA
Eu estou a generalizar, mas.
00:45:16:21 – 00:45:44:13
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Tal sim, o que é que eles dizem? Olha, olha uma coisa, nós pensam um caminho e pode pensar em todo tipo de jornais, de mídia, etc. Nós iniciamos o estudo do gueto. Pessoas de periferia, pessoas não brancas, questões físicas ou formativas. Acho que para o atleta e o músico e o bailarino é isso. O ponto de vista individual dos seus coleguinhas de percurso é bom para.
00:45:44:13 – 00:45:48:24
JORGE CORREIA
Elas, não ao poeta, ao escritor, ao músico de música clássica.
00:45:49:03 – 00:45:52:20
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Uma vez que todos os escritores do gueto, da periferia falam.
00:45:52:23 – 00:45:53:19
JORGE CORREIA
Falam lá das suas coisas.
00:45:53:19 – 00:46:15:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Vão passar para a categoria instrumental. Além disso, há escritores e isso me diz muito. E e tu tens presente tu, esses homens da escola e do urbanismo, etc. Também conheço muitos numa faculdade em Portugal e tu vais ver muitos alunos, por exemplo negros, mas são maioria. São bolseiros que vêm directamente de Cabo Verde que nem são daqui. Mas isso é impressionante.
00:46:15:09 – 00:46:36:04
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
E tu falas com parte das pessoas que escrevem e pensaram sobre isso e conseguiram fazer esse processo. Elas não contar sempre mais. Cheguei ao sexto ano. Eram os maioria. Chegam ao nono. Eu era um João quatro. Cheguei ao secundário. Era único. Não há sempre essa. E é a música, Estás a ver mesmo? Estamos a falar. Foi de pé na porta.
00:46:36:06 – 00:46:43:01
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Todos fizeram as coisas. O número de pessoas nesses bairros é tão grande na área metropolitana.
00:46:43:05 – 00:46:45:22
JORGE CORREIA
Que criaram 1.000.001 mercado, uma audiência para o programa.
00:46:45:22 – 00:47:06:12
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Nesse próprio. Depois se ligou para outros músicos na porta de conseguiram fazer isso pelas redes sociais. Não foi? Não houve nenhum esforço de vanguarda de uma editora a dizer neles. Acharam que por eles eles eram todos até organizados, por vezes relativos e quase tudo. O manager é um deles. O fazer por fazer batidas é um deles. O canto é um deles, claro, E faz.
00:47:06:13 – 00:47:33:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Viviam deles tantos fez um um um percurso à margem sobrevivência. Outra coisa engraçada é tinham entrevista com a mulher. E quando falamos de políticas públicas e pensas tipo como é que o pessoal vê com que essas áreas não se lembram? Que escola uma política pública em geral? Então, ele dizia ser engraçado, que é A melhor cena que me aconteceu foi o Magalhães.
00:47:33:09 – 00:47:35:22
JORGE CORREIA
O Magalhães Magalhães é velhinho, o computador também.
00:47:35:23 – 00:47:42:12
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Porque proponho que seja o Magalhães na escola, com internet nas casas, o Magalhães e a Internet.
00:47:42:12 – 00:47:43:08
JORGE CORREIA
Abriu lhe uma porta.
00:47:43:13 – 00:48:03:24
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Uma porta que até essa altura, nesses territórios você não tem um computador. Antigamente tinham às vezes um centro comunitário ou outro onde algum tesouro mora e de repente ele pode levar para casa o computador. De repente. Download de programas, software de música de repente montar as suas músicas, fazer o YouTube, expandir as suas músicas. Eles fizeram as processo por eles.
00:48:04:02 – 00:48:05:01
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não foi um processo que teve.
00:48:05:01 – 00:48:06:03
JORGE CORREIA
Um efeito multiplicador.
00:48:06:03 – 00:48:06:17
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Completamente.
00:48:06:17 – 00:48:10:02
JORGE CORREIA
Alguém inventou o computador para estudar e eles submeteram de tal maneira.
00:48:10:02 – 00:48:12:00
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Que foi completamente não resolvido.
00:48:12:05 – 00:48:26:18
JORGE CORREIA
O que é extraordinário. Ali nós estamos a determinar se fosse possível, estes, estes jovens, pôr o seu sonho numa cápsula do tempo para nós abrirmos daqui a 20 anos ou daqui a 30 anos O que teria de poderio lá está.
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ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Descrito no Face de Deus que lhes perguntar agora.
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JORGE CORREIA
Podemos também fazer esse jogo com a tua cápsula do tempo. O que é que tu punhas na cápsula do tempo?
00:48:37:11 – 00:48:59:17
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não achas que é muito difícil porque tu estás num ambiente? Este sistema de política pública que serve para em. E eu te disse na televisão onde não tinha, não sei bem como cria. Queria dizer quando nós entramos em democracia, parece que arrumamos a democracia. Vem tempo dos gregos. Não tem nada a ver a democracia que nós vivemos hoje no Rio de Janeiro, onde havia servos e escravos, onde só alguns votavam.
00:48:59:19 – 00:49:47:11
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não é igual. Nós temos tanta. É a revolução Americana, a força americana, que uma democracia é certo para os afortunados. Não é não. O modelo democrático hoje em dia, que permite pensar em cada pessoa, poderem emancipar se e depois ter uma constituição, tu lês, é moderna comparado com outros e tu percebes Sim, tem uma Constituição que fala de emancipação em todos os domínios, mas pois as políticas públicas para fazer e para fazerem usufruir essa constituição dos articulados como se fosse um cerco, não é aquele esquema que não explicarei porque imagina moras numa casa com 12 pessoas e um T3, porque as pessoas te olham e porque aquilo que tu fala de ocultação do conhecimento.
00:49:47:11 – 00:50:01:09
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Porque tanto se isto casa e emancipar te? Mas depois vem a troika escrever Voltamos para casa de base e chega lá uma social e diz As crianças não podem viver assim. Vou abrir um processo.
00:50:01:11 – 00:50:01:24
JORGE CORREIA
Vou retirar as.
00:50:01:24 – 00:50:17:18
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Crianças de um processo. Agora imagina a seguir a pessoa vai. E ocupa uma casa de estar vazia. A casa agora é boa, tem um quarto, as crianças e um acordo para os pais, a casa ocupada. Esse é um preço. Vou tirar as.
00:50:17:18 – 00:50:18:22
JORGE CORREIA
Crianças. Não pode ser.
00:50:18:24 – 00:50:44:01
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
A pessoa, pois é desalojada e pede apoio para na rua, pois tirar as crianças então é um sistema que domestica e tira os seus sonhos. Então eu lembro de estar com um miúdo muito bom, mas se olhar nos olhos deles muito, muito agredido e choramos com eles na escola, tem ideia aquilo que nós éramos? Só o distrito? Eu só para ir para a escola, tipo referência dentro da escola, perante os maus miúdos e toleramos.
00:50:44:01 – 00:51:08:00
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Então eu chamo por assim que os professores que têm vontade de o fazer, porque eles não têm é mesmo esse professor, ele tentar ir falar com o pai de um deles, que como disse, era muito querido e resolutamente sério e convicto. A professora dizer aos pais para ele se forçar um bocadinho, um dia pode vir a ser caixa, supermercado e tu ouves aquilo e é uma dor, tás ver?
00:51:08:00 – 00:51:16:02
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Ou seja, preciso dizer tu podes ter sonhos. Por exemplo, diga me miúdos que estão comigo e pedem me medicina muito brincar. Eu quero mesmo ter uma piscina.
00:51:16:08 – 00:51:17:15
JORGE CORREIA
Vocês podem sonhar. Porque é que.
00:51:17:15 – 00:51:49:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Sentes Depois saltas desse espaço de conforto, de espaço, de fala e tu estás à vontade no teu Geografia, no duro, criatura. E começa a rodar o sistema, ter um pedir que em vez de libertar, estagna. Tu deveria constrange te e portanto, diz mais pedindo aquela turma a professora prende a mãe ou pode vir caixas do mercado todo. Portanto, essas cápsulas de sonho eu trabalhei para se não tivesse a função necessidade.
00:51:49:07 – 00:52:22:17
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Como nunca houve síntese, exploração, mas quando trabalhei formalmente outra vez num num bairro e no calor, era muito estranho porque era um conjunto de miúdos que são todos meus amigos. Tanto já foi em 2000, foi muito tempo junto dos homens. Hoje em dia um deles é o cantor. O Ninho das Mães é. E tu vês um grupo de miúdos completamente vitimizado porque é, depois desse tempo, a gente de 90 foram duros neste bairro com o consumo de drogas e tantos vezes um grupo de miúdos Casal Ventoso.
00:52:22:19 – 00:52:24:10
JORGE CORREIA
Estive lá muitas vezes a acompanhar aquilo.
00:52:24:12 – 00:52:54:18
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Portanto, um grupo de miúdos que cresceu em autogestão, que cresceu com os pais e, portanto, com o seu dia a dia todo virado país ou presos, ou muitos morreram de overdose de sida, etc. E eu cresci com os miúdos. A rua então era aquilo na rua e era incrível a sensação estranha e mista, espero que não paternalista, de estar com eles e pensar esses senhores aqui com a tragédia que aconteceu, são muito livres.
00:52:54:20 – 00:53:22:09
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Porque é que o projeto é um projeto de integração dos formais? Era uma coisa de programa, escolhas e eu sabia que aqueles miúdos como Domingos, dançavam e como eram divertidos, como eram criativos, Presidente que os esforço por aquilo que é suposto lhes oferecerem para se integrarem é um chato que precisa. Então, é muito estranho ter essa cena de saberes, quase utopicamente, que o espaço é um espaço melhor, incrível, mas simplesmente não bom estar cercados de quadrado.
00:53:22:10 – 00:53:33:04
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Tem que se dali e vês os problemas. Quer miúdos que moram lá do metro que nunca andaram de metro, miúdos na altura só 2000 e tal, ainda não tinham cartão de cidadão nem bi.
00:53:33:06 – 00:53:37:14
JORGE CORREIA
Deixa me interpretar te. Nós estamos a criar gaiolas ou em vez de criar trampolins.
00:53:37:14 – 00:53:41:11
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não, completamente, Não tenho dúvidas.
00:53:41:13 – 00:53:43:15
JORGE CORREIA
Isso é um.
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ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Elemento.
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JORGE CORREIA
Que tem, tem o potencial, tem uma capacidade.
00:53:48:12 – 00:54:01:16
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Isso nós não estou a dizer que seja de mudar, mas eu vou te dizer por entre a gente, mas a trabalhar no princípio 2000, os miúdos ficavam pela quarta classe, ministravam a quarta classe e ficavam por aí. E o quinto ano chumbava. Ficavam no quinto ano e sempre aquela semana.
00:54:01:18 – 00:54:03:18
JORGE CORREIA
Uma barreira, uma fronteira, tudo. E agora.
00:54:03:20 – 00:54:27:11
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Evoluiu muito. Eles só ficarem no sexto, oitavo, nono. Não é grande evolução. Em 20 anos continua a ter o mesmo grau. Aquele que era exigido há 30 anos ou 20 anos de escolaridade. Não é de hoje em dia. É apenas alguém que tem a quarta classe. É estranho, mas na altura não havia dois meses. Agora o pessoal oferece, só diz tenho estado no teu nome ou nunca dei o nome de torneira, Não usou nenhuma.
00:54:27:11 – 00:54:48:08
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Tu nunca tu queres digita de novo assim. Grande evolução. Trabalhar mais em espaços como esse, mas espaços como esse, um espaço de divulgação do que está a passar e vocês perceberem e perceberem que falamos no princípio que porque estes cursos foram os teus meritocrático, não é? Porque é que. E muitos também não olham para a nossa conversa muito distante?
00:54:48:10 – 00:55:11:15
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Porque para o mundo dentro do seu trampolim, que é sua caixa de Messenger e de Facebook, não é, não tem porque não quer. E pontos de partida são diferentes. É de facto questionamentos que existem para vir a uma equidade. Não existem? E depois só se reparar na política pública portuguesa tu agarras na pessoa que conseguiu, que foi destes lugares, conseguiu e tu promove, diz.
00:55:11:15 – 00:55:32:05
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Conseguiu. Conseguiu cursos, mas é um não, mas é um e vou pancada, um dito elevado de conseguir. Não é o teu dia, amigo meu, que seja boa, engraçada, não engraçada do ponto de vista de social, mas engraçado a nível de ironia que era eu estava sendo testado lá de baixo. Ele é um modelo. Encontram chama, escolhe o que o pessoal chama de ti Bunga.
00:55:32:07 – 00:55:56:07
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Teu modelo do Levitan tá todo, está sempre no estrangeiro, etc. Só que ele criou na Cova do Moreno e faz parte da sombra. Já tem pelo retrovisor um canal de colisão e ele falava. Tive que formatar o meu amigo que eu nem quis saber. Nós gostamos era de carros jovens que era e depois ele dizia ser engraçado não estar entre tal e depois entra naquela de números de pesquisa na internet.
00:55:56:07 – 00:56:10:15
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Se tu conseguiste ele diz Pois, mas é que está é que foi estilizado quando era pequenino e foi a professora da escola da Cova da Moura que mandou tu.
00:56:10:17 – 00:56:11:05
JORGE CORREIA
Havia alguém que.
00:56:11:05 – 00:56:20:08
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Acreditou nela como adulto e portanto, quer dizer, eu cresci em dois mundos e fui no mundo dos brancos álcalis, porque tivemos a oportunidade, não foi no mundo em família.
00:56:20:10 – 00:56:21:10
JORGE CORREIA
Senão aconteceria o mesmo que.
00:56:21:10 – 00:56:29:00
ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Os outros de fazer e de ter repórter naquilo, mas de conseguir tê lo. Mas eu queria um mundo grande.
00:56:29:02 – 00:56:47:24
JORGE CORREIA
E não desisto e quero saber de ti quando tu encontras um menino, uma menina de dois, de três anos, se o discurso também sofre destes mesmos males ou se há ali alguma coisa, já que que nos possam oferecer esperança.
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ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não, claro que possa ser esperança numa pessoa com essa idade, mas também digo eu, que chatear me e mudar o exemplo. Eu comecei a minha tese primeiro. Todos os anos 99 anos 90, eu trabalhei ali no realojamento da Pedreira dos Húngaros e parte desse nóis fomos alojados em Portugal e vi lá uma creche. Detestei as senhoras de creche de 14 anos que elas viam que as crianças de três anos e quatro anos, quando se viam que eu podia entrar no bairro, elas deixavam de conseguir fazer atividades com ela, tinham que fazer outra coisa, fazer, porque elas sentiam.
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ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Portanto, o que dizer? E a experiência? Claro que temos que para que isso aconteça é o sim de esperança. Eu vou dar o exemplo. Os mitos com que eu cresci, quando falei de cólera do grupo de miúdos verdadeiramente ou formalmente órfãos, por exemplo, esses miúdos todos, com exceção de um ou dois homens, vão buscar os filhos à escola, vão pô los no ATL, que eles pagam complicações, etc.
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ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Vamos casar, vamos para almoçar. Tantas coisas que não vão acontecer com eles. Está tudo aqui, uma reprodução de algo diferente, mas por exemplo, quer dizer de também que os putos cresceram num espaço ensino criado por eles para nós. Estávamos na rua e preparamos um espaço e quando arranjamos o espaço não foi tipo até já ali fazer o espaço já para vocês entrarem.
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ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Não? Ora vamos todos juntos para o espaço e mostramos maior espaço. É algo nosso, programado por nós. Nem todos tiveram a experiência de cuidar com os fomos criados, outros não. E continuamos, pois é normal muitas vezes experiência muito espaço formal em tu vais levar um.
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JORGE CORREIA
Laboratório.
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ANTÓNIO BRITO GUTERRES
Sim, mas quer para eles trazer. Não era tipo um espaço, uma criança bater à porta com essas regras e programações, não nos criar nós convívio, o que implica uma apropriação de espaço. Mas também acontecia de dividir se em três anos, cinco para sentar não ficava nervoso. E para perceberes como isto é mesmo uma coisa. Não é genético, evidentemente, mas tu captas o que se passa ao teu redor desde muito cedo.
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JORGE CORREIA
O ambiente molda nos. Se houver oportunidades, podemos florescer. Se a estrada acabar num beco sem saída, tudo se torna muito mais difícil. Cada bairro tem a sua identidade, a sua história e a sua narrativa. Mas se quisermos fazer uma fotografia gigante de Portugal, basta olhar para os números do Instituto Nacional de Estatística. Há 1.700.000 portugueses que estão em risco de pobreza.
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JORGE CORREIA
São pessoas que têm um rendimento de pouco mais de 600 € mensais. Como é que se conta esta história? Ou melhor, como é que se muda esta história? Até para a semana?