Como fazer rir? Gabriela Barros


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Como fazer rir? Gabriela Barros
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Gabriela Barros faz-me rir. E quem me faz rir já me ganhou. Isso é importante, especialmente quando falamos sobre Como fazer rir? Gabriela Barros.

Há episódios em que se fala com a razão, em que se explicam coisas.

Outros com o coração, em que se descrevem emoções.

E há episódios raros em que sentimos que estamos a falar com uma pessoa inteira. A Gabriela Barros é dessas pessoas. E desconstrói todo o episódio deste o primeiro minuto. Chegou para tomar conta do programa, e sem pedir licença, montou a casa, transformou esta conversa em algo dela. Limitei-me a segui-la. Depressa que não temos tempo a perder

Ocorre-se-me agora a ideia que fiz de coelho perseguindo Alice na sua aventura pelo País das Maravilhas. Fui testemunha, só isso.

Gabriela Barros é atriz. Mas não só.

Mãe, comediante, improvisadora, cantora por dentro. Virá daqui o seu sentido de ritmo?

Uma mulher que entra num programa de humor como o Taskmaster e sai de lá campeã, não por estratégia, mas por instinto.

Uma atriz que se atira para a comédia com a mesma entrega com que representa o vazio, o silêncio, a alienação contemporânea numa série como Ruído.

Este episódio é isso tudo. E mais.

Falámos de improviso. De criatividade em estado de urgência.

Daquele momento em que não há nada — e ainda assim, é preciso entregar alguma coisa. E é aí que nasce o poema do pato.

Sim, ouvimos esse poema outra vez. Mas o mais bonito não é o poema. É o que ele revela: que há uma Gabriela que trabalha sem rede, que gosta do risco, e que acredita que fazer figuras parvas com dignidade é uma forma nobre de arte.

Falámos do Taskmaster, do concurso, sim. Mas também da sua arquitetura secreta — do segredo partilhado entre concorrentes que não sabem o que os outros fizeram, da magia de se rir em direto da catástrofe alheia.

Falámos do prazer de não saber, do improviso como regra e da frustração como combustível. E falámos do Nuno Markl, claro. E da relação de palco, de corte e costura, de quem faz rir por dentro e por fora.

Mas este episódio também mergulha noutro registo.

Ruído, a série escrita por Bruno Nogueira e realizada por Luís Araújo, é um espelho torto do nosso tempo.

Uma espécie de distopia realista onde as personagens andam perdidas, anestesiadas, com medo de parar.

E a Gabriela, que também lá está, entra nesse universo com a mesma coragem com que se mete numa coreografia de perucas no Pôr do Sol.

Sim, o Pôr do Sol também veio à conversa. Uma série que parecia novela, mas era paródia. Um fenómeno cultural onde Gabriela interpretou — no mesmo dia, às vezes na mesma cena — três personagens diferentes. Matilde. Filipa. Salomé.

E uma atriz que, como ela própria diz, chegava ao fim do dia em orgia emocional, com a sensação de estar a viver um daqueles projetos que acontecem uma vez na vida. Onde tudo bate certo. Texto, elenco, realização, tempo, intuição. E felicidade.

No meio disto tudo, falámos também do que não se vê.

Da dúvida. Da vaidade. Da insegurança.

Da sensação de que às vezes é preciso alguém de fora para dizer: “isso não está a funcionar.” Falámos do ego. E do trabalho com diretores de atores — esse papel muitas vezes invisível, mas fundamental. A Gabriela não foge a nenhuma dessas conversas. E fá-lo com uma lucidez desconcertante.

Há ainda espaço para o drama. Para o cinema. Para O Som Que Desce na Terra, o filme que lhe valeu o Prémio da Fundação GDA e a nomeação para os Globos. Um papel duro, silencioso, inteiro. Que a esvaziou e a preencheu. Como só os grandes papéis fazem.

E depois há a Gabriela que canta. Que sonhava ser a Carolina Deslandes, mas não aprendeu a escrever letras.

Que teve uma banda. Que ainda sonha com a Broadway.

Que canta nos musicais e sorri como uma criança quando fala disso. E que diz, sem hesitar: “Cantar é a coisa que me faz mais feliz.”

Esta conversa tem tudo isso. Tem humor. Tem densidade. Tem falhas, dúvidas, pudor, vaidade. Tem memória curta e intuição longa. E tem uma atriz que nos deixa sempre a pensar: qual é a Gabriela que vai aparecer agora?

E essa talvez seja a melhor definição para ela: uma mulher que recusa ser um rosto fixo. Uma atriz que muda, que se desmonta, que se reinventa. Uma artista livre — que leva a sério a arte de fazer rir. E que sabe que, às vezes, é mesmo no ridículo que se diz a verdade.

Esta é, sem exagero, uma das conversas mais completas, mais soltas, mais ricas que já passaram por este programa.

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