Há uma coisa crítica para qualquer comunicação. Boa comunicação: o tempo.
O tempo certo.
Claro que o modo importa. Claro que a audiência é vital. E naturalmente a mensagem é crítica. Mas sem um bom timing, tudo pode ser perfeito e falhar redondamente.
E, por que estou eu a falar do tempo certo para comunicar?
Porque a última semana demonstrou como na comunicação, tal como na política, o tempo é quase tudo.
As surpresas fazem parte da vida.
Deve ser a isso a que se refere um conceito chamado VUCA.
Traduzindo a sigla é sobre um mundo cada vez mais Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo.
Mas não foi sempre assim? Parece que sim. Mas agora ficou na moda dizer que ninguém controla nada de nada.
E isso para quem julga que manda ou contra a marcha do mundo, deve ser profundamente angustiante.
Este programa era para ser sobre comunicação, reputação e posicionamento das organizações.
Saber o que fazem as empresas e como trabalham as agências de comunicação e relações-públicas que as apoiam.
Uma conversa com Domingas Carvalhosa, da empresa de comunicação Wisdom e nova presidente da APECOM, a associação do sector. Tudo a pretexto de um estudo que faz um ranking das empresas, comunicadores e jornalistas com mais popularidade no país.
Escusado será dizer que os comunicadores ficaram continentes e vaidosos e os jornalistas irritados por serem vistos como amigos e próximos.
Portanto, o pretexto era simples: falar de comunicação.
E o mundo deu uma pirueta.
O Primeiro-Ministro demitiu-se. O Presidente anunciou a dissolução do parlamento.
E há eleições em março.
O que significa o tiro de partida de uma longa campanha eleitoral de mais de 4 meses em pleno espaço mediático.
É por isso o tempo em que a política e a comunicação se encontram. As ideias, os palcos e as ‘personas’ apresentam-se perante os olhos dos públicos eleitores.
Esta conversa foi gravada depois da demissão e antes do anúncio da dissolução.
Esta cronologia é importante porque nestas alturas tudo se acelera ainda mais e fica mais imprevisível.
ÍNDICE DE TEMAS & TEMPOS:
(00:02:51) O posicionamento estratégico do primeiro-ministro.
(00:04:51) A emoção na comunicação do primeiro-ministro
(00:06:51) O descontrolo na comunicação do primeiro-ministro
(00:09:51) A estratégia de esclarecimento de António Costa.
(00:10:51) A narrativa do vazio
(00:13:51) A comunicação do presidente da república
(00:14:51) Marcelo Rebelo de Sousa como uma pessoa das pessoas
(00:17:51) O teatro público de Marcelo Rebelo de Sousa
(00:20:51) A estratégia política do presidente Marcelo Rebelo de Sousa
(00:22:51) A estratégia de comunicação de Luís Montenegro nas eleições
(00:25:51) A mensagem do candidato
(00:26:51) As soluções para os problemas
(00:28:51) A comunicação política e a reputação
(00:33:51) A importância da reputação
(00:35:51) A gestão da reputação
(00:37:51) O trabalho da reputação nas organizações
(00:38:51) A importância do propósito nas empresas
(00:39:51) A obrigação das empresas em cumprir normas não financeiras
(00:42:51) A falta de regulamentação do lobbying em Portugal
(00:46:51) A necessidade de legislação para garantir transparência
(00:47:51) O aumento da transparência como forma de combater a corrupção
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIOJORGE CORREIA (00:00:00) – Viva. Domingas Carvalhosa, comunicadora, gera neste momento uma agência de comunicação. Podemos defini la assim A Wisdom é também presidente da APC, que onde se juntam todas as organizações e agências que trabalham esta coisa da comunicação. Quando nós falamos há uns dias, a ideia desta conversa era que ela fosse precisamente sobre isto, sobre a comunicação, sobre sobre as agências, sobre o setor. E falámos sobre isto. E eis que senão o destino nos trocou as voltas por uma questão e de que maneira? Não é que por uma questão de porque os factos estão a andar muito depressa. Esta conversa foi gravada antes do Presidente da República falar ao país e, portanto, quando a maioria das pessoas ouvirem esta conversa, saberão que o presidente dirá coisas que nós não sabemos ainda o que é que vai acontecer. Mas vamos começar pelo início, que é o primeiro ministro falou e demitiu se, Apresentou se e demitiu se. Vamos olhar para esta pessoa enquanto comunicador. António Costa O que é que viu daquela comunicação?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:01:12) – Eu acho que António Costa esteve muito bem, não só na forma de comunicar, no timing de comunicar e também na forma de comunicar.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:01:23) – Ele comunicou, antes de que saíssem cá para fora quaisquer informações sobre factos de que ele pudesse eventualmente vir a ser acusado.
JORGE CORREIA (00:01:35) – Controlou a narrativa de alguma maneira.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:01:37) – Totalmente a narrativa.
JORGE CORREIA (00:01:39) – Por que isso é importante?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:01:41) – É muito importante controlar a narrativa sempre. Em comunicação, é importante comunicar a narrativa, porque quem controla a narrativa? Quem controla a narrativa vai com passo à frente e, portanto, o facto também de ter escolhido o momento em que não existia ainda. Como ainda não existe muitos dados sobre a. Que acusações existem sobre António Costa faz com que ele se demita numa altura em que é totalmente inocente.
JORGE CORREIA (00:02:28) – E, portanto, cria em todos aqueles que estão na sua audiência que o prisma da história seja aquele que ele definiu.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:02:37) – E vítima. Enquanto não há acusação, ele é uma vítima.
JORGE CORREIA (00:02:40) – É essa a narrativa.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:02:42) – Eu acho que é. Portanto, toda aquela comunicação foi uma comunicação muito emocional. E emocionou, emocionou. E as pessoas continuam a espera que, nomeadamente os meios de comunicação social, já se vê alguns meios de comunicação social a dizer então Ministério Público, onde é que estão as acusações? Como é que um governo cai, um Primeiro-Ministro cai e não há novidades sobre os factos acusatórios de um Presidente de um Primeiro-Ministro que que foi acusado.
JORGE CORREIA (00:03:23) – Portanto, usa a narrativa, no fundo, para tirar o foco que por natureza seria sobre ele e sobre uma hipotética acusação. E devolve esse foco dizendo Olhem ali porque a causa das coisas não está deste lado, está noutro lado qualquer.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:03:41) – Exacto. Exato.
JORGE CORREIA (00:03:43) – Então é o papel da empatia. Eu olho para aquela comunicação. Há dois momentos daquela comunicação. Há um momento em que o Primeiro-Ministro em funções, agora demissionário, está a ler um comunicado. Lá está, é essa, essa frase. Como é que o lê nesse momento? Depois há um segundo momento em que ele está a responder às perguntas e se calhar o tom é um bocadinho diferente. Como é que? Como é que uma comunicadora vê esse momento de geração de empatia? Diz que ele se emocionou.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:04:12) – Emocionou se, mas também é natural. Atenção, é natural que ele tenha emocionado. Foram oito anos da vida dele. Quando ele fala na mulher e na família, é a altura que ele mais se emociona. E eu acredito que não tenham sido rosas estes oito anos, não é? E, portanto, também é natural que haja alguma emoção.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:04:33) – As pessoas não são de ferro e, portanto, acredito que alguma daquela emoção tenha sido de facto sentida. Agora não tenho também a mínima das dúvidas que. A forma que estava prescrita para aquele. Aquela comunicação ao país ia ser passada de uma forma emocional calma de quem tem a consciência tranquila que tem a verdade consigo. E tudo isso e portanto. E foi isso que passou.
JORGE CORREIA (00:05:10) – Portanto, estrategicamente, o posicionamento é um posicionamento certo para aquele tipo de comunicação.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:05:16) – Exactamente.
JORGE CORREIA (00:05:17) – É quando, quando nós olhamos para os políticos, quando os vemos a falar, o que é que dá? Deste género de comunicações advém quase da honestidade da pessoa que está ali a falar. E quanto é que há do dedo de uma comunicador ou de um comunicador que por trás dele lhe possa dar algum? Enfim, alguns conselhos ou algum apontar de algum caminho?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:05:44) – Bom? Depende. Depende dos políticos, não é? Há políticos que têm um dom natural e que precisam um pouco. Precisam um pouco de mídia training. Podem eventualmente necessitar de alguma orientação em termos de mensagens e, enfim, da forma como devem orientar discurso.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:06:03) – E tudo isso porque têm um dom natural. Há outros em que isso não é assim.
JORGE CORREIA (00:06:09) – António Costa Tem. Tem muito treino, seguramente. Tem muitos anos.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:06:12) – Disto. Tem que ter treino. Eu acho que ele não tem um dom muito natural, tanto que se embrulha muito com as palavras.
JORGE CORREIA (00:06:21) – Algumas sílabas. Isso quando se irrita, tende a acelerar o seu discurso.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:06:26) – Tem algum descontrolo, muitas vezes tem algum descontrolo. Vê se neste neste, neste discurso de demissão em que ele estava, naquele registo de calmo, etc. Houve ele. Houve um jornalista a dizer. António Costa não esclareceu. É ele que estava naquele registo calmo. De repente diz que o que é que António Costa não esclareceu? Enfim.
JORGE CORREIA (00:06:49) – Que é 1/2 da conversa, não é?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:06:50) – Descontrolou se. Viu se que houve ali um descontrolo. Quer dizer, mudou de registo muito rapidamente.
JORGE CORREIA (00:06:58) – Porque é curioso, porque não mantém aquele tempo mais temperamento, mais calmo, a dizer não. Eu quero esclarecer, mas não é atrativo, não é? Aquilo é um momento em que em que salta sim.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:07:11) – E é natural que que que ele quisesse esclarecer, porque de facto ele estava ali para esclarecer e portanto é natural. Eu estou só a explicar que naquele momento houve um descontrolo dele. Quer dizer, ele não se conseguiu controlar, Podia ter dito aquilo de outra maneira, podia ter mantido aquele tom com que entrou na conferência de imprensa e ter dito noutro toma, não, ele. Perdeu o controlo, quer dizer, e portanto, António Costa é um comunicador que muitas vezes perde o controlo. Portanto.
JORGE CORREIA (00:07:47) – Isso é bom ou é mau?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:07:50) – Nem sempre é bom, nem sempre é muito bom.
JORGE CORREIA (00:07:53) – Porque? Porque perdemos o, perdemos a narrativa, perdemos a mensagem, tornamo nos agressivos e isso é mau percecionado pela público?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:08:02) – Pode ser não porque pode ser aproveitado, pode ser aproveitado, por exemplo, por outro interlocutor, pode ser aproveitado para ganhar terreno.
JORGE CORREIA (00:08:13) – Mas isso as respostas mais naturais. Quando eu penso nos políticos de uma forma e abstrata, vejo os como o Paulo Portas usava uma expressão que era o picareta falante em relação a António Guterres.
JORGE CORREIA (00:08:24) – Não é que é aquele político que mantém sempre uma mensagem, uma métrica, quando se irritam ou quando se divertem ou quando cometem uma gafe. É o momento em que essa comunicação tresanda a verdade. No fundo, há aquilo que.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:08:39) – É o falso natural, não é o falso natural. É muito melhor.
JORGE CORREIA (00:08:44) – O falso natural, o falso natural falso, o falso natural, o falso.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:08:48) – Natural é uma troca, é controlado. Não é a pessoa estar a falar naturalmente, mas de uma forma controlada. É assim eu estou a falar consigo de uma forma natural, mas não é assim muito natural estar a pensar.
JORGE CORREIA (00:09:03) – Porque estamos a gravar um.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:09:04) – Podcast aqui os dois e parece lhe que eu estou a falar consigo, naturalmente.
JORGE CORREIA (00:09:11) – Mas eu espero que sim. É que as pessoas lá em casa também tenham. Mas esse pensamento lá está não estamos aqui, estamos a gravar logo tudo aquilo que eu diga vai ter uma determinada repercussão e quanto mais importante a pessoa for, mais isto pesa. Exato. Vamos, vamos.
JORGE CORREIA (00:09:25) – Podemos olhar para o segundo momento de de António Costa, que é primeiro um momento curioso que é António Costa só responde a três perguntas. Era este o As regras do jogo no fundo desta declaração, mas na realidade não foram três. Na verdade não foram seis, foram seis, sete, oito. No fundo, quase. Ele, genericamente, só sai da sala quando as perguntas todas já já, já, já, se já se esgotaram.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:09:53) – Porque houve uma preocupação de esclarecimento, ele queria esclarecer, ele não queria deixar dúvidas. Daí ele ter a ter aquele momento de exaltação quando alguém estava a entrar num directo a dizer que António Costa não quis esclarecer. Uma das preocupações dele naquele naquele momento em que se demite, é não deixar nada por esclarecer. É isso.
JORGE CORREIA (00:10:18) – Lá está, toca na jugular daquilo que é a estratégia.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:10:21) – Não é exactamente o que é um paradoxo, porque num caso destes, em que tudo está por esclarecer e tornamos exacto, torna se difícil, não é? No caso dele era fácil porque nada se sabia e, portanto, ele queria esclarecer tudo no caso dele, porque ele sabia que no caso dele nada se sabia.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:10:43) – Portanto. Queria esclarecer tudo.
JORGE CORREIA (00:10:45) – Então quero dizer que aqui a mensagem é uma mensagem que se baseia quase além daquela linha do Ministério Público, numa narrativa sobre a ausência, sobre o vazio.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:10:57) – Exato.
JORGE CORREIA (00:10:58) – Isso funciona?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:11:00) – Funcionou.
JORGE CORREIA (00:11:01) – Funcionou. E o que é que os analistas podem perguntar sobre o vazio? Nada. No fundo, o que é que é muito? O que é que sente? O que é que vai fazer?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:11:11) – As perguntas? As perguntas dos jornalistas não foram sobre o caso dele. Foram sobre o futuro dele, sobre.
JORGE CORREIA (00:11:18) – Se exactamente tal e qual foi, sobre.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:11:20) – O futuro dele, o.
JORGE CORREIA (00:11:20) – Futuro leia se.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:11:21) – Recandidatar se. O que é que é? O que é que ele iria fazer? Não foi sobre em que e qual era o caso dele, porque no.
JORGE CORREIA (00:11:30) – Fundo, a resposta era sempre um não sei, não sei, não sei.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:11:33) – Não. Ele adiantou se. Voltamos atrás à história da importância de controlar a narrativa. Ele, desde que iniciou a narrativa dele, que diz que não sabe de que é que está acusado.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:11:49) – Portanto, os jornalistas não lhe podiam nunca fazer qualquer questão. Não lhe podiam fazer colocar qualquer questão sobre o caso dele, porque ele diz desde o início que não sabe nada.
JORGE CORREIA (00:12:01) – E fechar a porta no fundo da narrativa é criar um um quase um curral. Onde? Onde? Daí não podermos sair.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:12:09) – Não valia a pena perguntarem. Ele já tinha dito. Começou por dizer que não sabia nada.
JORGE CORREIA (00:12:14) – E eram legítimas perguntas de pensa o que é que fez? Faz uma reflexão Pode ter cometido algum crime ou era um universo especulativo e era mais fácil defender se em termos de comunicacionais?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:12:29) – Podia se ter feito este tipo de perguntas. Podiam ser feitas o que?
JORGE CORREIA (00:12:32) – O que é que se se dez minutos antes desta comunicação António Costa lhe tivesse ligado, o que é que o que é que lhe teria dito?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:12:40) – Eu acho que ele foi bem aconselhado.
JORGE CORREIA (00:12:42) – Foi bem aconselhado?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:12:42) – Foi.
JORGE CORREIA (00:12:43) – Fez aquilo que, em termos de comunicação, devia ter feito. Devia ter feito. Bom, vamos. Podemos viajar agora até ao Palácio de Belém, onde o Presidente da República ainda não falou a hora que gravamos.
JORGE CORREIA (00:12:56) – Ele ainda não falou, mas o presidente decide comunicar, não falando. Passeando nos jardins fronteiros ao Palácio de Belém. O que é isto? Domingas O que é isto? O que é que aconteceu aqui? Já uma vez tinha ido ao multibanco levantar dinheiro? Pagar uma conta. Acho que foi desta vez.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:13:14) – Eu confesso que eu acho o Presidente da República um comunicador nato e. E eu nem sei comentar porque eu acho que ele é extraordinário porque põe qualquer desinteressado em comunicação interessado em interessar se por comunicação. Qualquer desinteressado em política, interessada em política, porque as pessoas estão sempre a querer saber o que é que se vai passar com o senhor Presidente da República.
JORGE CORREIA (00:13:51) – Estamos a ver a imagem e estamos à espera de ver quando é que há um momento em que faz sentido.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:13:55) – Se se vai ao multibanco, se vai comer uma bola de Berlim. Mas ela é uma pessoa muito inteligente e nada disto é por acaso. Tudo isto é muito pensado porque ele é um homem muito inteligente.
JORGE CORREIA (00:14:11) – Cria uma mise en scène no fundo, uma visão place primeiro e depois é uma espécie de encenação.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:14:17) – Completamente. Acho que é tudo muito bem pensado, é tudo pensado, faz tudo com ar muito natural e. E leva as pessoas atrás. E não é difícil porque ele é uma pessoa das pessoas. Ele gosta de pessoas e as pessoas gostam dele.
JORGE CORREIA (00:14:40) – Gera um.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:14:41) – Completamente, Completamente. Porque ele também gosta de pessoas, naturalmente, porque há pessoas que são assim.
JORGE CORREIA (00:14:46) – Não.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:14:47) – Não, não. Há pessoas que que é um sacrifício. Há políticos que é um bocadinho de sacrifício. É natural, quer dizer isto. Mas com as pessoas não há nada a fazer. Há pessoas que é um bocadinho sacrifício para as feiras e ir falar com as pessoas, ir dar beijinhos e tirar selfies. E para a pessoa. Marcelo Rebelo de Sousa não é uma pessoa das pessoas e ele gosta.
JORGE CORREIA (00:15:07) – Mas agora isso é uma coisa curiosa, porque, por um lado, Marcelo Rebelo de Sousa é um filho da elite política. Mesmo no Antigo regime, é um professor universitário. Portanto, o seu pedigree indicaria que ele não tivesse esse perfil.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:15:20) – Não, não tem nada a ver com isso.
JORGE CORREIA (00:15:22) – Subitamente, quando ele se apresenta aos portugueses, primeiro como líder do PSD e depois como como Presidente da República, é o contrário. É um entre nós.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:15:31) – Mas. Mas eu acho que é exactamente o contrário. Eu acho que é mais fácil as elites descer cá abaixo de que do que as pessoas que estão mais cá em baixo ou que vieram mais cá de baixo voltarem cá a baixo. Acho que é porque acho que é exactamente assim. Acho que é muito mais fácil quem cai em quem tem um lugar assegurado nas elites a descer cá abaixo, quem já cá esteve em baixo ter que voltar. Acho que sempre foi assim. É histórico. Acho que é uma questão histórica que tem a ver com elites.
JORGE CORREIA (00:16:10) – Quem subiu a pulso, no fundo.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:16:13) – Custa lhe mais voltar.
JORGE CORREIA (00:16:15) – Quase quer esquecer do sítio.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:16:17) – De onde veio. Acho que isto é uma questão histórica. Acho que historicamente é assim. Mas isto também não tem muito a ver com isto. Acho que isto tem a ver com feitios, tem a ver com feitios.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:16:29) – Há pessoas que gostam de pessoas, de estar com pessoas, de de estar sempre acompanhado de pessoas. Há outras que não gostam de estar acompanhadas com pessoas. Marcelo Rebelo.
JORGE CORREIA (00:16:42) – De Sousa é uma pessoa das pessoas que nós vemos, que.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:16:44) – Gosta de pessoas.
JORGE CORREIA (00:16:45) – Que ele está a fazer por gosto.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:16:46) – Porque gosta de pessoas, gosta de pessoas. Há outras pessoas que também gostam de pessoas. Neste caso, ele é verdadeiramente uma pessoa que gosta de pessoas, gosta de estar com pessoas.
JORGE CORREIA (00:16:56) – Isso joga a seu favor enquanto comunicador.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:16:58) – Completamente.
JORGE CORREIA (00:16:59) – Porque gera essa empatia?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:17:00) – Exactamente.
JORGE CORREIA (00:17:00) – Então isso e.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:17:01) – Aproveita se disso.
JORGE CORREIA (00:17:02) – Claro. O presidente quando lá está, passeia nos jardins não dizendo nada ou dizendo aparentemente banalidades laterais àquilo que era a pergunta ou a resposta que nós esperaríamos, não corre o risco de que eu não consiga entender nada do que é que ele me está a tentar dizer. No fundo, o espectador está a olhar e dizer tenho curiosidade, claro, quero saber para onde é que ele vai. Mas. Mas isso abre uma caixa de interpretações.
JORGE CORREIA (00:17:29) – Cada um pode fazer a sua interpretação. Os comentadores podem fazer uma imitação, jornalistas podem fazer e o cidadão também.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:17:35) – Ele não. Ele não está preocupado com isso.
JORGE CORREIA (00:17:38) – Então qual é a vantagem de fazer este este teatro público? Podemos. Posso usar a expressão.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:17:45) – Ele não está muito preocupado porque é assim. Primeiro, ele tem. Ele tem palco 24 horas por dia.
JORGE CORREIA (00:17:52) – Sempre que ele aparecer, a luz liga.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:17:53) – Exato. Exato. Os jornalistas estão o dia todo atrás dele, porque ele está sempre. Ele tem sempre qualquer coisa para fazer ou para dizer.
JORGE CORREIA (00:18:03) – Porque ele é o presidente. Então vai.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:18:05) – Compensando.
JORGE CORREIA (00:18:05) – Porque ele consegue.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:18:07) – Porque ele é aquele presidente.
JORGE CORREIA (00:18:09) – É um ícone iconográfico.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:18:11) – Aquele presidente, eu duvido. Eu duvido que os meios de comunicação social tenham tido tanto trabalho com algum presidente como tiveram com o professor Marcelo Rebelo de Sousa.
JORGE CORREIA (00:18:25) – Ele é um boneco comunicacional no fundo.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:18:29) – Ele é um presidente da República. Das pessoas e, portanto, ele está muito no terreno, como está muito no terreno.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:18:38) – Está em muitos sítios, tem muito ladyboy que lhe faz muita coisa e portanto os jornalistas têm muito trabalho.
JORGE CORREIA (00:18:44) – O que é bom para todas as partes. E para uma comunicadora. Imagine que tem que aconselhar o presidente, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Será fácil.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:18:55) – Eu acho que o professor Marcelo Rebelo de Sousa deve ser muito difícil aconselhar, porque eu acho que ele deve fazer o que ele quer e ponto.
JORGE CORREIA (00:19:02) – Queria ele a sua própria narrativa, a forma como está a ver. E vamos em paz.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:19:05) – Eu nunca trabalhei com o professor Marcelo Rebelo de Sousa. Eu duvido que se ele me convidasse para trabalhar com ele, que eu gostaria muito, com certeza seria uma honra. Mas eu acho que ele estaria. Eu acho que ele não estaria minimamente interessado em saber o que é que eu, o que é que eu lhe iria dizer. Acho que que não estaria minimamente interessado.
JORGE CORREIA (00:19:29) – Então pessoas com este, com este biótipo no fundo, que ainda por cima percebem de comunicação, porque também há esta parte que é importante, não podem correr o risco contrário do.
JORGE CORREIA (00:19:44) – Do excesso de confiança no fundo, de controlar de tal maneira que a narrativa, a maneira como fazem, a maneira como falam e depois lá está, sair o comentário lateral, a conversa com o embaixador da Palestina ou o comentário ao decote não pode ser, lá está, interpretado como um excesso de confiança. Domina de tal maneira o meio timing. A forma tem sempre, tem sempre a tensão garantida. Não pode correr esse risco. Ou isso não é importante, não é.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:20:13) – Importante, é importante. Mas também é assim, vai aprendendo. Não é algo que vai tendo, exato. E depois vai controlando, não é? Tem tanto tempo junto dos meios de comunicação social que depois vai compensando.
JORGE CORREIA (00:20:27) – É como se tivesse num jogo de futebol que pode acabar os 90 minutos, mas pode acabar aos 180, porque ele vai ter sempre uma bola para jogar e um golo para marcar. Bom, vamos esperar que o presidente Marcelo Rebelo de Sousa diga alguma coisa. Lá está aí já no seu fato mais institucional, portanto, provavelmente com um discurso muito bem estruturado de reflexão com uma parte quer imaginar para o povo e uma parte para a elite.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:20:55) – Mas atenção que isto é a parte comunicacional em termos de estratégias políticas, ele sabe exactamente o que é que está a fazer.
JORGE CORREIA (00:21:04) – E isso é anterior à comunicação. E primeiro pensamos e depois comunicamos.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:21:09) – A forma como faz as coisas. Depois tem uma maneira de fazer as coisas muito diferente, mas em termos, ele sabe exactamente o que está a fazer em termos políticos. O que é.
JORGE CORREIA (00:21:17) – Isso de saber o que é que está a fazer? É tomar a decisão primeiro. É um estratega e, portanto, a comunicação está ao serviço da estratégia. E não é apenas um ato gratuito, isolado e divertido.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:21:29) – Não, eu acho que para ele, o importante é a estratégia política e, portanto, para ele, a comunicação é uma brincadeira e, portanto, para ele, o importante é a estratégia.
JORGE CORREIA (00:21:42) – É ter olhar para o tabuleiro de xadrez, saber como é que as peças se parar, como é que as peças se podem mexer e a partir daí usar a comunicação como um factor de. Lá está a tal magistratura de influência que nós ouvimos tantas vezes que era conseguir modificar o tabuleiro.
JORGE CORREIA (00:21:57) – Bom, seja como for, o cenário mais provável, a hora que nós conversamos é o cenário de eleições antecipadas. Fala se em fevereiro, fala se em março. Seja como for, haja orçamento, não haja orçamento, prefiguram se candidatos. O do Partido Socialista nós não sabemos quem é, porque António Costa já disse que que não vai ao jogo. Portanto, significa que se vão encontrar outros outros candidatos. No caso do PSD, Luís Montenegro, no caso do PCP, também também está estabelecido o Bloco de Esquerda. Vamos olhar para estes candidatos todos. Podemos pensar aqui numa estratégia de de comunicação para, para, para, neste caso para Luís Montenegro, que será à partida, se olharmos as sondagens, aquele que que vai desafiar ser governo nos próximos anos. Que estratégia pode seguir? Luís Montenegro?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:22:50) – Eu acho que vai ser mais fácil para Luís Montenegro uma estratégia em campanha eleitoral do que uma estratégia de oposição com oposição.
JORGE CORREIA (00:22:57) – Demora muito tempo e é muito desgastante.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:22:59) – E principalmente quando.
JORGE CORREIA (00:23:01) – António Costa não é.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:23:04) – Contra uma maioria absoluta em que ele tem as mãos e os pés atados.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:23:07) – Não quer dizer qualquer, qualquer proposta, por melhor ou pior que fosse. Já sabia que seria chumbada na Assembleia. Portanto, estar em oposição numa maioria absoluta é muito difícil. Portanto, é o que se espera de um candidato do principal partido da oposição. É uma excelente campanha eleitoral e é o que se espera do PSD. Espera se também que nessa altura surjam também. Várias figuras, várias figuras junto de Luís Montenegro, de forma a que o país veja que existem boas figuras ministeriáveis para um futuro governo, para um futuro governo. Caso o PSD ganha eleições.
JORGE CORREIA (00:24:03) – Isso significa o quê? Que nós precisamos de ter um reforço da confiança naquele candidato e dizer Olha, ele está com esta pessoa em quem eu confio, em que eu acredito e que é respeitável e que eu reconheço como sendo bom.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:24:15) – Sozinho ele não vai governar sozinho e, portanto, é bom que o povo veja que com ele está um conjunto de pessoas capazes de formar um bom governo da nação. Não. E, portanto, como o principal partido da oposição, é importante que, em campanha, Luís Montenegro mostre quem tem consigo e que tem a seu lado um conjunto de notáveis de boa gente, capaz de governar o país com ele e levar o país.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:24:54) – Para um caminho que nós precisamos, não é?
JORGE CORREIA (00:24:58) – É por isso que muitas vezes nós, lá está quem é que é o ministro das Finanças?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:25:02) – E nós perguntamos quem é que será o próximo ministro? Não é que diga, não é? Mas quem será o próximo? A próxima não é sempre o O.
JORGE CORREIA (00:25:13) – Apareceu a Mário Centeno no caso do DE de António Costa. Lembro me sempre do Sousa Franco, por exemplo, que também numa determinada altura, Cadilhe a um conjunto de Lembro nas Finanças, mas noutras áreas onde isso pode acontecer e na mensagem o que é que, Que tipo de mensagem é que alguém que no fundo até agora fez oposição e que agora olha para uma possibilidade real de poder ser eleito como primeiro ministro. Portanto, por um lado, o que é que pode dizer numa campanha eleitoral? O que é que pode prometer? Porque de hoje para amanhã olhe, parabéns e o senhor A ou B não interessa. Mas agora, a partir daí, acaba a promessa e passa a ter que executar aquilo que pensou.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:25:51) – Bom, a minha especialidade não é marketing político, é a comunicação institucional. De qualquer maneira, é muito Gosto de política. É um bocadinho. Eu gosto de política e gosto muito de comunicação. E gosto muito de política. De qualquer maneira, eu acho que depois do que nós temos estado a assistir, o que os portugueses pedem, no mínimo, é seriedade, estabilidade. É. Sairmos no fundo deste mal estar em que nós estamos. Não é.
JORGE CORREIA (00:26:29) – Uma mensagem de recuperação, de serenidade.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:26:32) – Recuperação económica, estabilidade. No fundo, sabermos que em termos de saúde podemos ter um Serviço Nacional de Saúde em que todos temos acesso. Sabermos que temos soluções viáveis para a questão da habitação. Há soluções viáveis que não me parece que seja este caso o caso mais habitação.
JORGE CORREIA (00:26:58) – Domingas Então o que estamos a falar é que um candidato que pretenda ganhar vantagem e ser visto aos olhos dos portugueses como um candidato bom primeiro ministro, tem que aparecer não só como mensagem credível, mas a responder aos problemas que nós temos.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:27:15) – E assim não são 20, são quatro.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:27:18) – Quatro Boas soluções. O cinco para as grandes preocupações da população, pessoas, pessoas que mostrem seriedade, credibilidade, etc. E que consigam transmitir isso às pessoas.
JORGE CORREIA (00:27:36) – Que haja, no fundo, uma espécie de capitalização através da mensagem. Para isso é um pedido de confiança, porque, no fundo, um voto, e isso é um pedido de confiança.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:27:45) – Eu acho que o que eu acho que o povo português, eu acho que o povo português está farto de políticos, está farto da política, está farto de políticos. Porque, olhe, por causa dos casos de influências e por causa de todos estes casos de corrupção e tudo isso.
JORGE CORREIA (00:28:03) – A política está com má reputação.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:28:05) – Está com muito má reputação, muito má reputação e, portanto, como está com muito má reputação, é preciso que apareça um partido que queira. No fundo, se proponha estabelecer um quase como um contrato. Que parceria com o povo em que diga que nós comprometemo nos com isto e não é com 200.000 coisas que não são viáveis. É espécie de três ou quatro coisas que são viáveis e que as pessoas compreendam e que merecem.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:28:47) – E um novo.
JORGE CORREIA (00:28:47) – Contrato, no fundo, no fundo, baseado no princípio da realidade. Exato. Uma campanha, imagino eu, costumo vê las, soa me sempre a uma. Uma grande feira das vaidades. Eu faço isto e faço aquilo. Eu ainda faço mais do que tu. E depois, lá está. Depois há o choque com a realidade, Depois há, há para fazer. E aí temos a Europa. Obviamente temos as contas públicas. Há um conjunto de condicionantes que levam a que quem tem que depois exercer o poder tenha umas balizas bastante curtas. Mas se calhar interessa me uma coisa que é se há determinados problemas e se esses problemas têm que ser resolvidos e têm de ser atacados e. Na política, a comunicação está a aparecer a frente da estratégia. Está, está, está. Será esse um dos tópicos da má fama da política?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:29:36) – Eu acho que é.
JORGE CORREIA (00:29:37) – Devia se pensar primeiro, estudar primeiro o problema e depois comunicar.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:29:41) – Mas isso é um problema e um problema, porque eu acho que as pessoas.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:29:45) – Eu acho que o eleitor também se vende mais à comunicação do que do que ao conteúdo.
JORGE CORREIA (00:29:51) – Portanto, a culpa é nossa nos eleitores. Nós. Nós queremos ser enganados com uma boa narrativa e não temos paciência para nos dizer olha, isto vai se resolver, mas se calhar vai demorar quatro anos e não quatro anos, não é não? Eu vou votar noutro que me diz que em seis meses consigo resolver este problema que ninguém conseguiu resolver em 20 anos e. É culpa dos comunicadores ou dos cidadãos?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:30:15) – Eu acho que é culpa do sistema.
JORGE CORREIA (00:30:17) – Da maneira como está montado.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:30:18) – Da maneira como, como foi desenvolvendo, Como? Como a questão se foi desenvolvendo. Portanto, eu acho que a solução para isto é, aos poucos ir mudando as coisas, ou seja, trabalhar, por exemplo, como, como eu lhe estou a dizer, pensarmos em quatro grandes problemas e esse não é muito difícil. Nós sabemos que há um problema com a habitação. Sabemos que há um problema com a saúde. Sabemos que há um problema com a educação.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:30:47) – Sabemos. Sabemos que a esses, por exemplo, esses quatro problemas que temos que resolver e trabalhar nesses quatro problemas, comunicá los de uma maneira que as pessoas gostem, mas trabalhar com seriedade.
JORGE CORREIA (00:31:01) – E conseguir ouvir primeiro os cidadãos para perceber o qual é.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:31:04) – Fundamental é envolver, envolver, envolver os.
JORGE CORREIA (00:31:08) – Cidadãos, a não ser só daqui para lá. Exato. Como é que se envolvem os cidadãos?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:31:12) – Não se tem que pensar nisso. Como lhe digo, não sou do marketing político, mas gostava de saber. Mas eu acho que isso é possível.
JORGE CORREIA (00:31:18) – Mas a Domingas trabalha muito no universo empresarial, quer com os produtos, quer quer quer reputação. No fundo, as empresas fazem sempre isto quando vão lançar um produto ou quando querem saber como é que está a sua reputação em relação aos seus estudos. E perguntam o quê? O que é que? O que é que se está a procura?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:31:37) – Nós queremos saber. Nós queremos saber várias coisas, não é? De acordo com o que nós pretendemos saber relativamente às empresas ou aos produtos.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:31:45) – Nós definimos quais são as necessidades que temos que saber relativamente, ou as empresas ou os produtos e fazemos a colocamos as questões. Isso é um estudo multi stakeholder. Vamos a cada tipo de secondary e vamos saber o que é que queremos saber. E depois trabalhamos o produto ou empresa ou o que a empresa necessita, o que o produto necessita de acordo com as pessoas, pedem os partidos. Eu acho que trabalham mais na base das sondagens.
JORGE CORREIA (00:32:18) – Trabalham no resultado e não objetivamente, a tentar encontrar o qual é a expetativa que, neste caso, o concidadão pode ter. Ao contrário das empresas que procuram isso.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:32:27) – Com toda a certeza. Porque eu não faço marketing político, como eu lhe disse nas empresas.
JORGE CORREIA (00:32:31) – Podemos centrar nos nas empresas. As empresas procuram isso mais quando têm um produto para vender no mercado. Imagina o grande consumo. Ou também o fazem para perceber se os seus níveis de reputação estão a um nível que lhes permite operar no mercado?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:32:47) – Eu trabalho mais empresas, eu faço mais comunicação institucional, faço muito pouco.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:32:51) – Hoje em dia. Já fiz muito comunicação de produto. Hoje em dia faço menos a comunicação de produto, faço mais comunicação institucional. O que é comunicação institucional? A comunicação institucional é trabalhar as empresas do ponto de vista do posicionamento da própria empresa. Não é, portanto, a missão. No fundo, é o propósito. O que é que.
JORGE CORREIA (00:33:13) – Tu estás a fazer aqui.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:33:13) – No fundo? Exato. Missão, valores, posicionamento, propósito da empresa. No fundo, é o que é, o que dá a reputação a própria empresa. Não é que depois acaba por ser o. Porque hoje em dia a reputação é um ativo da própria empresa.
JORGE CORREIA (00:33:30) – Porque quão importante é a reputação ou boa reputação? Isto quer dizer, todos intuímos o que é que quer dizer uma boa reputação, mas como.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:33:37) – Importantíssima e importantíssima que a reputação hoje em dia é um ativo da empresa, quer dizer, um ativo por vários motivos. Primeiro, porque é um ativo financeiro, financeiro, financeiro.
JORGE CORREIA (00:33:51) – Não é perseguição.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:33:52) – Não, não, não, Não é financeiro.
JORGE CORREIA (00:33:54) – Vale dinheiro.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:33:55) – É intangível, mas é um ativo financeiro. E um ativo financeiro, por outro lado, atrai talento, atrai talento para as empresas. Eu gosto daquela.
JORGE CORREIA (00:34:05) – Empresa, quero trabalhar.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:34:06) – Ali. Exato. E hoje em dia é fundamental e fundamental para as empresas a atracção de talento e a retenção de talento. Por outro lado, a reputação atrai clientes.
JORGE CORREIA (00:34:22) – E eu quero comprar aquela empresa porque me parece uma empresa decente.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:34:27) – E produtos a má reputação. Por melhor que seja a estratégia comercial de uma empresa, se a reputação é má, esqueçam.
JORGE CORREIA (00:34:35) – Em princípio, compromete o concorrente e não de compra, Porque se o.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:34:38) – Preço for mais baixo, mas a tua reputação estiver em baixo. Porque não.
JORGE CORREIA (00:34:44) – Confio em ti.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:34:44) – Porque não confio em ti, Eu pago mais por outra empresa, não quero.
JORGE CORREIA (00:34:48) – Estar contigo.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:34:49) – No fundo é isso. Exato. Exato. A reputação hoje em dia é tudo.
JORGE CORREIA (00:34:52) – E os gestores sabem isso, sabem, sabem isso, sabem, sabem e sabe. E sabem de reputação.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:35:01) – Hoje em dia é de tal maneira importante que a reputação é tratada ao nível da alta da gestão, da liderança das empresas, porque é de facto muito importante. E, por outro lado, outro fator que é fundamental em termos da própria reputação é a reputação. Previne, previne eventuais crises.
JORGE CORREIA (00:35:25) – Como é que previne?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:35:27) – Porque eu, quando tenho uma boa reputação, se tenho uma crise, eu só tenho que informar, não tenho que explicar.
JORGE CORREIA (00:35:35) – Portanto, à partida, temos uma vantagem inicial, que é um capital de confiança. Exato. A confiança é uma moeda de troca importante para numa crise.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:35:44) – Exato. Imaginemos. Imaginemos que eu sou uma empresa que tenho boa reputação em vários stakeholders, nomeadamente nos meios de comunicação social. E tenho um problema numa fábrica, por exemplo, um problema numa fábrica em que acontece qualquer coisa, não vou meter fritos nem nada, essas coisas, para não tornarmos o podcast assim mais dramático.
JORGE CORREIA (00:36:13) – Há um produto que uma máquina que falhou e deixou de produzir ou estragou.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:36:17) – Um produto estragou um produto.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:36:20) – Se a minha empresa não tem uma boa reputação, quando eu tenho uma série de jornalistas à porta de a querer saber o que é que aconteceu porque aquele leite está todo estragado, não sei o que eu não sei que mais. Se eu tiver boa reputação, eles já conhecem como é que a empresa funciona, qual é a linha de montagem, etc. E só tenho de lhes explicar. Só tenho que lhes dizer que houve uma falha de cinco minutos de eletricidade, mas no mesmo minuto. Como eles sabem, nós temos o departamento X que tirou. E a crise até pode nem ir para os meios de comunicação social. Quando eu sou uma empresa que não tenho reputação e não sou considerada, eu tenho que explicar tudo e mais alguma coisa e.
JORGE CORREIA (00:37:13) – Nós não acreditamos.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:37:14) – Não é Exactamente.
JORGE CORREIA (00:37:15) – Portanto, em vez de termos os jornalistas à porta, temos na realidade rottweilers que estão ali para dizer.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:37:23) – Que ainda vão investigar mais a fundo. E eu tenho que provar isto, mais aquilo, mais aqueloutro. E entretanto, pode se desenvolver uma crise grave, que pode ter ou não razão de existência.
JORGE CORREIA (00:37:34) – E podem até Editorial lesar de alguma maneira o que estão, a história que estão a contar, tornando a mais negra ou dando foco àquilo que é menos e.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:37:44) – Exactamente.
JORGE CORREIA (00:37:45) – Menos verdade, mas não é menos verdadeiro. Mas mais.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:37:47) – Exactamente exactamente. Portanto, a reputação é fundamental. É fundamental.
JORGE CORREIA (00:37:55) – Como é que se trabalha a reputação nas organizações.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:37:58) – Através de um conjunto de estratégias, através de um conjunto de estratégias que dão através de um conjunto de estratégias em que desenvolvem ações positivas junto dos vários stakeholders que passam a conhecer e que passam a ter uma perceção positiva sobre as próprias empresas. Hoje em dia, o que as empresas procuram em termos de comunicação institucional, cada vez mais é ter um propósito. Esse propósito está sempre ligado ao posicionamento. Empresa tem que ter um posicionamento sobre.
JORGE CORREIA (00:38:39) – As matérias que a empresa está interessada.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:38:42) – Missão, valor ou não chega.
JORGE CORREIA (00:38:44) – Tem que ir. Lá está a sustentabilidade, o ambiente são.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:38:47) – Valores, posicionamento em que passa também por pela questão do histórico. Hoje em dia o que eu e este geek é SDG.
JORGE CORREIA (00:38:57) – É.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:38:58) – Que eu esteja são as novas normas de que tem a ver com governance.
JORGE CORREIA (00:39:08) – Ai vamos ver a sustentabilidade da relação que tem com o ambiente.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:39:13) – Social Environment Environment Social Government.
JORGE CORREIA (00:39:18) – Portanto, não é só as contas da empresa, não é só as vendas, não é só a qualidade dos produtos. Agora esse índice vai medir. No fundo são.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:39:25) – Índices, são índices que hoje em dia, para empresas de uma certa dimensão, têm que ser cumpridos. É a legislação que exige que empresas, a partir de uma certa dimensão, tenham que cumprir com esses índices. Ou seja, atualmente, as empresas não lhes basta existir para ter lucro. O lucro não pode ser só um objetivo. Já não chega, não chega, não chega. O lucro não pode ser só um objetivo. A empresa não pode existir só para ter lucro.
JORGE CORREIA (00:40:03) – Embora as empresas, obviamente. E é.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:40:05) – Óbvio que tem.
JORGE CORREIA (00:40:06) – Que ter valor.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:40:08) – Mas tem que ter objetivos não financeiros também.
JORGE CORREIA (00:40:11) – Também tem que.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:40:11) – Contribuir, no.
JORGE CORREIA (00:40:12) – Fundo, uma respeitabilidade em relação àquilo o seu papel no mundo não se pode, não se pode simplesmente fechar.
JORGE CORREIA (00:40:20) – Na questão do negócio, há também o que é que tu fazes por um mundo melhor amanhã de manhã? É isso?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:40:25) – Exato. E principalmente na área onde tu trabalhas.
JORGE CORREIA (00:40:29) – E tu e os líderes das organizações estão sensíveis a isso, Estão.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:40:35) – Estão cada vez mais sensíveis e não têm outra alternativa. Porque, como eu estava a dizer, no início deste ano saiu uma bateria de legislação na União Europeia, cujas leis estão a ser transpostas para os vários Estados e para os vários Estados-Membros em que as empresas são obrigadas a cumprir com um conjunto de normas e, portanto, hoje em dia, é obrigatório para um conjunto de empresas, a partir de uma certa dimensão, publicarem relatórios. Não só financeiros como não financeiros.
JORGE CORREIA (00:41:14) – Portanto, não pode ser só uma retórica. Tem mesmo que demonstrar aquilo que estão a fazer.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:41:17) – Exactamente, Exactamente.
JORGE CORREIA (00:41:19) – E lá está, num mundo em que as redes sociais estão deram um palco a conflitos gigantes, é muito fácil hoje em dia alguém dizer olha, esta empresa não está a fazer isto.
JORGE CORREIA (00:41:32) – É criar um imenso turbilhão de que pode pôr em causa exactamente essa respeitabilidade.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:41:39) – Exactamente. Exatamente.
JORGE CORREIA (00:41:41) – Não quero deixar de terminar esta nossa conversa, porque hoje, na política e não só, se fala muito de interesses, de influências e do que for na Europa, nos Estados Unidos, mas na Europa também. Em Bruxelas existem leis muito claras sobre a transparência e sobre a relação entre as áreas de negócio e as empresas e aquilo que são os poderes públicos. As decisões para Public Affairs, podemos dizer assim Portugal não tem. Lembro me que este tópico foi discutido várias vezes. Portugal não tem uma legislação que regula este, este, este, estas relações, pois não?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:42:16) – Não, vergonhosamente, não. Porque?
JORGE CORREIA (00:42:18) – Vergonhosamente, porque se não houver essa regulação, há alguma coisa que mude ou ela é necessária para que não haja?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:42:28) – Aliás, já que tivemos a falar hoje da demissão do seu primeiro ministro, eu gostava de falar a propósito disto. Eu acho que este caso desta alegada, deste alegado caso de corrupção. Eu acho que se o lobbying estivesse regulamentado eu não sei se.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:42:55) – Este caso teria tido estas dimensões.
JORGE CORREIA (00:42:56) – Porque haveria um registo oficial, haveria.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:42:59) – Um registo, haveria um registo de haveria um registo de transparência, ou seja, um registo que regulava, que obrigaria que as pessoas que têm relacionamento entre interesses privados e interesses públicos teriam que se registar para ter esse esses, esses relacionamentos e, portanto.
JORGE CORREIA (00:43:23) – Haveria. Por isso haveria uma transparência. Nós poderíamos, no fundo, verificar que isso acontecia e porque é que acontecia o antes e o depois?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:43:30) – Exactamente. Eu, neste caso, não sei se se as pessoas que neste caso, se as pessoas teriam conseguido registar se porque havia aqui.
JORGE CORREIA (00:43:40) – Como é que são as condições, as condições, por exemplo, na União Europeia, como é que são as condições para para operar nessa relação? Há registo.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:43:47) – Transparência, há registo, transparência, Há mais de uma década largamente. Há mais de uma década que Portugal anda a tentar regulamentar o lobbying em Portugal. E não tem sido. Não temos conseguido. Eu lembro me em 2016 fui convidada pela Assembleia da República para estar presente numa conferência onde fui falar disto e em que expliquei claramente deputados e uma série de convidados que lá estavam que não havendo regulamentação do lobbying, o que o que acontecia é que estávamos a dar espaço a penumbra e a informalidade, que é um campo óptimo para.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:44:36) – A informalidade e a corrupção e, portanto.
JORGE CORREIA (00:44:39) – Que não se possa escrutinar aquilo exactamente exactamente.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:44:42) – O que é facto é que passado. Estes anos todos, ainda não conseguimos regulamentar o lobbying. Regulamentar o lobbying significava que a partir dessa altura, quem quisesse. E isto temos que partir de um fundamento base que é em democracia. Existem interesses públicos e interesses privados e eles coexistem.
JORGE CORREIA (00:45:06) – E que esse diálogo é um diálogo de diálogo.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:45:08) – E um diálogo tem que existir.
JORGE CORREIA (00:45:10) – Sempre existiu e continuará.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:45:11) – Tem que existir porque o Estado, o Estado, tem que conhecer os interesses privados, porque de outra maneira é muito difícil o Estado decidir. O Estado não pode ser autista relativamente aos interesses privados e quando decide tem que conhecer e portanto é natural que se possa haver relacionamento para transmitir esses interesses privados. Agora, depois nós votamos nos nos decisores e no legislador. Para ele, tomar a melhor decisão em termos de do interesse do próprio Estado não é o.
JORGE CORREIA (00:45:53) – Melhor interesse público.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:45:54) – Exacto. Exactamente. A coisa pública tem que ser protegida por quem? Por quem nós votamos e é para isso que lá estão.
JORGE CORREIA (00:46:04) – E para isso é necessário uma legislação, isto e isto. Não se pode conseguir. Essa transparência não se pode conseguir mesmo no decurso dessas relações. Ou é mais difícil?
DOMINGAS CARVALHOSA (00:46:16) – Não como?
JORGE CORREIA (00:46:18) – Portanto, a melhor fórmula é o registo, no fundo, quase o registo do do seu interesse do.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:46:24) – Registo, porque sabemos que quem vai reunir com quem? Que interesses é que representa? As trocas de documentação são públicas? Qualquer pessoa pode aceder a um local e ver que documentos é que foram trocados. E, por outro lado, isso faz com que interesses mais obscuros se inibam. Quer dizer, eu não vou dizer que não continua a haver corrupção, mas passa a haver corrupção, a trabalhar à margem de um sistema que já existe de forma regular e.
JORGE CORREIA (00:47:04) – Portanto, é.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:47:04) – Muito diferente de existir corrupção num sistema em que não existe um sistema regulado.
JORGE CORREIA (00:47:12) – Portanto, é uma forma de aumentar a transparência e o escrutínio exato. Domingas Carvalhosa. Muito obrigado.
DOMINGAS CARVALHOSA (00:47:21) – Obrigado. Eu gostei muito deste bocadinho.