O que se faz na primeira hora de uma crise? Mariana Victorino

O que se faz na primeira hora de uma crise? Mariana Victorino
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Na segunda-feira em que Portugal ficou sem eletricidade durante várias horas, muitos portugueses fizeram a mesma pergunta: “O que se passa?”

E ficaram sem resposta. Sem redes sociais, sem tv, sem telemóvel.

Sobrou a rádio. Sempre no ar. A velhinha rádio provou que está pronta para responder à emergência. E isso é uma boa notícia.

A crise desta segunda-feira tem uma vertente técnica, sobre o que aconteceu, como se recuperou e como se previne o futuro. E outra, mais importante para o programa, de comunicação.

Como se comunica durante um evento inesperado e com potencial para provocar disrupção.

O apagão iluminou vulnerabilidades, como sempre acontece nas crises., mas também nos oferece um ponto de partida: como se deve comunicar quando acontece o inesperado? Que papel têm os líderes, as empresas e os media? E o que significa, afinal, estar preparado para uma crise?

Convidei a especialista em comunicação de crise Mariana Victorino, professora na Universidade Católica, que lembra:

A crise não começa quando algo corre mal. Começa quando ninguém sabe o que dizer.

Uma crise não é somente um problema técnico. É um momento de exceção, onde há risco para a segurança, para a reputação ou para a confiança numa organização ou país.

Pode ser um apagão, um acidente, uma falha grave de serviço ou até uma polémica pública.

E numa crise, o tempo conta. Há uma ideia chave em comunicação de crise: a golden hour – a hora de ouro — a primeira hora. É nesse intervalo que se decide muito do que virá depois: a confiança, a perceção pública, o tom da resposta.

Para Mariana Victorino, há três ingredientes essenciais para qualquer resposta inicial:

1. Reconhecer o problema — mesmo sem admitir culpa;
2. Expressar empatia — sobretudo se houver pessoas afetadas;
3. Explicar o que está a ser feito — mesmo que seja apenas “estamos a recolher informação”.

Quem deve comunicar? Depende. Mas alguém deve.

A comunicação de crise exige que haja uma estrutura definida, com papéis claros: quem decide, quem coordena, quem comunica.

Idealmente, o líder toma decisões e pode ser a cara pública em momentos-chave. Mas a figura do porta-voz — preparado, humano, credível — é central.

Esse porta-voz deve conhecer os media, os públicos, os canais. E deve conseguir manter a calma, reconhecer a realidade e inspirar confiança.

Fundamental é a preparação previa.

Preparar antes, agir durante, aprender depois.

A comunicação de crise começa muito antes da crise.

Implica treino, simulações, planos escritos e revistos, mensagens preparadas para diferentes cenários — e sobretudo uma cultura de responsabilidade e transparência.

Também é importante saber onde e como comunicar. Durante o apagão, por exemplo, muitos canais digitais falharam — mas a rádio manteve-se no ar. Era aqui que se se poderia ter investido mais.

E depois da crise? Avaliar. Aprender. Ajustar procedimentos. E comunicar também a recuperação.

A boa notícia: é possível fazer melhor

A conversa com Mariana Victorino é clara: não é preciso adivinhar o futuro.

Mas é preciso treinar o presente: preparar equipas, alinhar mensagens, construir confiança com o público — antes que a crise nos obrigue a improvisar.

E é possível fazê-lo bem.

E aproveitar a luz para prevenir a sombra.

Talvez este apagão, que durou entre o pico da do meio-dia até ao fim da hora do busco fusco , tenha vindo para nos avisar que temos de estar preparados e de comunicar melhor. Principalmente quando algo corre mal.

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