Faltam menos de 2 meses para ser eleito o novo presidente dos Estados Unidos.
E a campanha segue a todo o vapor.
Uma campanha eleitoral é por definição o momento em que candidatos e eleitores dialogam sobre o futuro de um país.
Tempo para se conhecerem aqueles que querer governar e as expectativas dos cidadãos eleitores.
TÓPICOS / CAPÍTULOS
Abertura (00:00:00)
Campanha Eleitoral nos EUA (00:01:44)
Discussão sobre a intensidade e profissionalismo das campanhas eleitorais nos Estados Unidos.
Polarização e Debates (00:02:59)
Análise da polarização política e a importância dos debates entre candidatos.
Interesse dos Portugueses (00:04:10)
Observação sobre o crescente interesse dos portugueses nas eleições americanas.
Preparação para o Debate (00:05:58)
Germano Almeida fala sobre como se prepara para assistir aos debates.
Experiência de Acompanhamento (00:06:41)
Germano compartilha a sua longa experiência de acompanhar a política americana.
Importância da Comunicação (00:08:09)
Discussão sobre a relevância da comunicação e preparação para os candidatos.
Análise do Debate (00:09:07)
Reflexão sobre o formato e a dinâmica do debate entre Trump e Kamala Harris.
Desempenho de Kamala Harris (00:10:47)
Comentário sobre a performance e estratégia de Kamala no debate.
Diferença de Altura e Estratégias (00:11:07)
Discussão sobre a diferença física entre candidatos e como isso impacta a perceção.
Preparação da Equipa (00:12:04)
Importância da equipa de comunicação na preparação para os debates.
Comparação de Audiências (00:12:31)
Análise das audiências dos debates e o desempenho dos candidatos.
Estratégia de Resposta de Kamala (00:13:24)
Kamala usa estratégias de comunicação eficazes para responder a Trump.
Frases Impactantes (00:14:20)
Discussão sobre a eficácia de frases curtas e diretas na comunicação política.
A comunicação de Trump (00:14:40)
Discussão sobre a frase “you’re fired” e a sua utilização em comícios por Trump.
Desempenho de Kamala Harris (00:15:20)
Análise do desempenho de Kamala no debate e as suas estratégias de comunicação.
Otimização da comunicação política (00:15:58)
Kamala se apresenta como uma candidata do futuro, distanciando-se da administração Biden.
Polarização e estigmatização (00:21:40)
Exploração do medo do diferente e como isso afeta a perceção dos imigrantes.
Rumores e mitos urbanos (00:19:32)
Discussão sobre como histórias inverosímeis sobre imigrantes ganham credibilidade.
Impacto da retórica de Trump (00:22:29)
Reflexão sobre o discurso de Trump e as suas consequências na sociedade americana.
Medo e insegurança (00:24:25)
Análise do medo relativamente aos imigrantes e a manipulação desse medo na política.
Retorno à fórmula de 2016 (00:27:02)
Trump tenta repetir a sua estratégia vitoriosa de 2016, mas enfrenta desafios.
Perda de controlo da narrativa (00:27:48)
Trump se mostra obcecado por multidões, revelando fragilidade na sua campanha.
Aumento de Participação (00:28:22)
Discussão sobre o aumento de pessoas e donativos nas campanhas eleitorais.
Questões Económicas (00:28:32)
A economia é um fator crucial nas eleições, especialmente após a crise inflacionária.
Desempenho Presidencial (00:29:20)
Análise do desempenho do presidente relativamente à inflação e as suas causas.
Impacto da Pandemia (00:30:05)
Como a pandemia afetou a economia e levou a uma inflação significativa.
Possível Segundo Mandato de Trump (00:30:57)
Previsões sobre um possível segundo mandato de Trump e as suas implicações.
Mudanças na Administração (00:32:03)
Discussão sobre a limpeza na administração caso Trump seja reeleito.
Política Externa e Ucrânia (00:32:53)
Trump e suas possíveis políticas relativamente à Ucrânia e à Rússia.
Desafios para Kamala Harris (00:34:27)
Os obstáculos que Kamala Harris enfrenta devido à sua identidade e primárias.
Eleitores Indecisos (00:35:55)
Análise de eleitores indecisos e as suas perceções após os debates.
Estratégia de Campanha (00:36:47)
Como a campanha de Harris está se adaptando para conquistar eleitores.
Sistema Eleitoral dos EUA (00:37:23)
Explicação do sistema eleitoral americano e a sua complexidade.
Estados Decisivos (00:38:18)
Discussão sobre os estados que podem decidir a eleição e as suas dinâmicas.
Perspetivas de Vitória (00:39:15)
Expectativas sobre a vitória de Kamala Harris nas eleições.
Experiência de Kamala Harris (00:40:35)
Análise da experiência de Kamala Harris como vice-presidente e candidata.
Escolha de Vice-Presidentes (00:41:15)
Discussão sobre a importância da escolha do vice-presidente nas campanhas.
A escolha dos símbolos (00:41:18)
Análise da escolha de candidatos com perfis opostos na campanha eleitoral americana.
A dinâmica entre candidatos (00:42:10)
Discussão sobre as diferenças entre Obama, Biden e as suas interações com os republicanos.
O início do “trumpismo” (00:42:56)
Reflexão sobre a ascensão do trumpismo e suas implicações na política americana.
A natureza de Trump (00:43:50)
Análise do caráter egocêntrico de Trump e a sua falta de empatia e ideologia.
Polarização da sociedade americana (00:45:20)
Discussão sobre a polarização crescente na comunicação e os seus efeitos nas eleições.
Liberdade de expressão e irresponsabilidade (00:46:00)
Crítica à falta de controle nas redes sociais e o seu impacto na democracia.
Fascínio e medo na América atual (00:47:25)
Germano expressa a sua perplexidade sobre o apoio a Trump e o comportamento dos eleitores.
Complexidade do sistema eleitoral (00:48:11)
Explicação sobre o funcionamento do colégio eleitoral e as suas implicações nas eleições.
A eleição nos Estados Unidos é, provavelmente, a mais intensa e profissional campanha de comunicação conhecida.
Tudo é profissional, otimizado e caro.
Os candidatos são treinados, polidos, engraxados, lustrados e aparecem centenas de vezes aos eleitores.
As convenções e comícios sucedem-se.
As mensagens na televisão, rádio, jornais e redes sociais fluem ao minuto.
As mensagens são repetidas até à exaustão.
Todas as palavras são afinadas ao milímetro. Ninguém quer eleitores zangados.
Há que manter os fieis e conquistar os indecisos.
E, ao mesmo, tempo, sublinhar as dúvidas, erros e contradições dos adversários.
E tudo isto roda a mil à hora.
Com milhões de dólares investidos.
Com os melhores consultores de comunicação.
Tudo a toque de caixa das sondagens que nascem de todos os lugares, a todo o momento.
Tudo conta: popularidade, paixão ou rejeição dos candidatos.
Nos Estados Unidos a polarização é cada vez mais acentuada. E isso nota-se nas trocas de argumentos.
E na exploração de convicções ou medos dos eleitores.
Há momentos em que vale tudo.
E há um momento sublime: o grande debate entre candidatos a presidentes.
Pode até ser mais do que um.
Neste caso parece haver espaço apenas para um, único, um debate, entre o candidato Donald Trump e a candidata Kamala Harris
TRANSCRIÇÃO AUTOMÁTICA
JORGE CORREIA 00:00:12 Ora vivam. Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre Comunicação. Estamos de volta para uma nova série de episódios sobre os dilemas da comunicação. O Pergunta Simples estará, como sempre, disponível às quartas feiras, pontualmente às 06h00. Pode ser ouvido ou visto. Gravação em áudio e vídeo no site da RTP, no RTP Play e também em todas. Sim, eu disse em todas as plataformas de podcasts do mundo, as mais conhecidas e populares, o Spotify ou app de podcasts, mas também dezenas de outras que podem encontrar em pergunta simples como ou no vosso telemóvel, vale subscrever na vossa plataforma favorita e assim ninguém perde um episódio. Já agora, já que perguntam no YouTube, fica também disponível um resumo da conversa e também a versão integral, tal como no Vimeo. Posto isto, vamos à América. Vamos Neste episódio até à América, viajamos até aos Estados Unidos com tempo para aprender sobre comunicação com uma batalha eleitoral. Neste caso, a batalha eleitoral entre Trump e Kamala. Ainda faltam menos de dois meses para que seja eleito o novo presidente dos Estados Unidos e a campanha segue a todo vapor.
JORGE CORREIA 00:01:44 Uma campanha eleitoral e, por definição, o momento em que os candidatos e os eleitores dialogam sobre o futuro de um país, pelo menos nas democracias. Tempo para se conhecerem aqueles que querem governar e as expectativas dos cidadãos eleitores. A eleição nos Estados Unidos é provavelmente a mais intensa e profissional campanha de comunicação conhecida. Tudo é profissional, otimizado e caro. Muito caro. Os candidatos são treinados, polidos, engraxados, lustrados e aparecem centenas de vezes aos eleitores. As convenções e os comícios. Sucedem se. As mensagens na televisão, na rádio, nos jornais e nas redes sociais fluem ao minuto. As mensagens são repetidas até à exaustão. Todas as palavras são afinadas ao milímetro. Ninguém quer eleitores zangados e há que manter os fiéis conquistando indecisos e, ao mesmo tempo, sublinhar as dúvidas, os erros e as contradições no adversário. E tudo isto roda a 1000 à hora, com milhões de dólares investidos, com os melhores consultores de comunicação a trabalhar. Tudo a toque de caixa nas sondagens que nascem de todos os lugares, a todo o momento.
JORGE CORREIA 00:02:59 Tudo conta popularidade, paixão ou rejeição dos candidatos. Nos Estados Unidos, a polarização é cada vez mais acentuada. Isso nota se nas trocas de argumentos e na exploração de convicções ou medos dos eleitores. Há momentos em que vale tudo, mas há um momento sublime. O grande debate entre candidatos a presidente pode ser até mais do que um. Neste caso, parece haver espaço apenas para um um único um debate entre o candidato Donald Trump e a candidata Kamala Harris. Germano Almeida, 30 anos, jornalista, 20, a acompanhar a realidade norte americana à realidade política. Imagino que para ti é um festim por estes dias. Não, não tens mais nada. Estás? Estás sempre ligado. Como é que é?
GERMANO ALMEIDA 00:03:53 Antes de mais obrigado pelo convite, Jorge. Voltar. É um prazer voltar a este podcast que além de ser pela segunda vez convidado, sou essencialmente ouvinte assíduo e interessado. Sim, é aquele caso em que, estando sempre a acompanhar uma coisa que é uma parte das pessoas durante três anos e tal, não liga nada, ninguém quer saber.
GERMANO ALMEIDA 00:04:10 Começam nos últimos meses a perguntar mas afinal, quem vai voltar O Trump? Quem é que vai ganhar? Como é que vai ser? E sim, neste momento, atenção, eu acho que está a ser bastante grande. Equivalente, talvez noutras situações, ao sol, à última semana de campanha ou coisa assim. E curiosamente, eu acho que grande parte dos portugueses tem neste momento mais interesse e atenção pela eleição americana do que muitos americanos.
JORGE CORREIA 00:04:31 Essa é uma coisa curiosa. Eu estive com felicidade nos últimos dias em em Nova Iorque e é muito curioso perceber que ninguém discute política, ninguém comenta política nas conversas do metro, na rua, no café, mesmo quando nós temos ali uma bucha a dizer então está a ver as eleições e mais para o lado de Trump e mais para o lado de Kamala. Parece que há uma espécie de adormecimento de que não se quer saber. Ou ainda é cedo para eles, para eles começarem a pensar sobre.
GERMANO ALMEIDA 00:05:03 As duas coisas. Ainda é cedo. Uma boa parte dos americanos, uma percentagem na ordem dos 20 a 30%, só presta verdadeira atenção à eleição presidencial ali nas últimas duas, três semanas de.
JORGE CORREIA 00:05:13 Eleição em novembro.
GERMANO ALMEIDA 00:05:14 Exactamente em em alguns Estados. Se fosse perguntar ao americano comum, alguns não sabem sequer quem são os candidatos e, portanto, temos de ter essa perspetiva. Por outro lado, há um fenómeno que também é um bocado como aqui em Portugal também se diz sobre muita coisa. Só neste país há o fenómeno de desvalorizar e criticar o seu próprio processo. Mas isso não quer dizer que ele não seja importante e muito importante para os americanos. E é mesmo muito importante também, por exemplo, a nós europeus, tendo em conta o que será a sorte da Ucrânia. Mas. Mas isso também não nos serve de nada, porque são eles que decidem, Costumamos dizer a Jorge que a próxima eleição é a mais importante. Escreve se isso em todas as eleições. Sucede que esta é mesmo a mais importante. Olha como é.
JORGE CORREIA 00:05:58 Que tu te preparas. Nós estamos na semana em que aconteceu o debate. O primeiro ou segundo, se contarmos com o outro Trump Biden. Este foi o segundo debate presidencial.
JORGE CORREIA 00:06:10 Como é que tu te preparas? Como e onde é que tu vais beber a tua informação? Como é que tu te sentas para, para, para ver e para ouvir este?
GERMANO ALMEIDA 00:06:18 Este debate work in progress é uma coisa que já não parte do zero há vários anos. Tu tens um.
JORGE CORREIA 00:06:22 Contexto, tu tens uma bagagem e portanto quando vais ver um debate deste, tu já sabes o que é que está em jogo. Sim.
GERMANO ALMEIDA 00:06:28 As pessoas podem não acreditar, mas se por acaso passassem este momento, não passam por razões profissionais, mas se passassem uns dias sem acompanhar nada e sem saber nada, tinha algum síndrome de privação e ficava com saudades. É verdade. E o teu.
JORGE CORREIA 00:06:41 Reality show é.
GERMANO ALMEIDA 00:06:42 Uma coisa que que é? Sim, é uma coisa familiar para mim. Quero saber o que é que se está a passar e continuar. E passados tantos anos, eu acompanho a política americana diariamente a mais de 20 anos. Não é? Nunca achei que isso fosse demais. Sucede que depois que aconteceram algumas coisas a nível pessoal e até profissional que levaram a essa continuação e essa renovação, ou seja, algo que começou por ser um mero gosto pessoal.
GERMANO ALMEIDA 00:07:07 Depois comecei a escrever em blogues, depois comecei a escrever em em sites, na imprensa tradicional, publicar livros, comecei a comentar na televisão. Foi todo um caminho. Fui lá numa bolsa dos Estados Unidos, recebi e creio que se convertesse a história. Na primeira vez que cá vim, recebi uma carta do baralho da Michelle Obama de agradecimento pelo primeiro livro. Quando o Obama veio cá em 2010, na cimeira da NATO europeia e a partir daí fui. Sempre fui, sempre continuando. Depois porque eu, sendo alguém que, como sabes, tenho uma formação jornalística, fui uma grande parte da minha vida jornalista em redacções. Hoje sou comentador. Mantenho a ligação ao jornalismo, mas de outra maneira. E, curiosamente, passei grande parte do tempo, por exemplo, na área do futebol. Curiosamente, e eu considero que a eleição presidencial americana e a política americana é uma escola em muita coisa, porque há ali princípios de comunicação. Por exemplo, se fizermos uma análise ao debate, isso é.
JORGE CORREIA 00:08:08 Obviamente muito.
GERMANO ALMEIDA 00:08:09 Interessante.
GERMANO ALMEIDA 00:08:09 Sim, comunicação, princípios de comunicação, depois princípios. Por muito que que tenhas grandes conselheiros de comunicação, o candidato é fundamental e a mensagem é fundamental. Se não tens mensagens, se tens candidato, podes ter os melhores consultores do mundo. Há uma junção dessas duas coisas. Tem que partir de uma coisa que tem que ter uma ligação à realidade. Mas depois a forma também importante, porque o jogador a 27 de Junho é o exemplo de um presidente que, embora com muitos problemas e falhas, foi, na minha opinião, um grande presidente e é uma pessoa com princípios, digna e respeitável. Tinha foi também muito bem preparado, como foi a Câmara e depois chegou lá. E foi um desastre, porque a forma e a incapacidade de transmitir o que tinha para tinha preparado o comprometeu completamente. No fundo, aquilo é comunicação.
JORGE CORREIA 00:08:53 Como é que tu viste este debate? Nós tínhamos esse histórico do debate entre Joe Biden e Trump, catastrófico para o presidente ainda em funções. E este debate prepara se de maneira muito evidente.
JORGE CORREIA 00:09:07 Achei muito curioso, desde logo, que os candidatos tinham uma caneta, uma folha de papel e um copo de água e não tinham nada mais. Não há telemóveis, não há tablets, não há nada e vão para para este jogo televisivo. Que foi, foi o que? Aquilo que foi durante 01h30, quase um jogo de futebol. Como é que tu viste este este debate?
GERMANO ALMEIDA 00:09:29 Este debate é, na minha opinião, a prova de que a preparação pode levar a uma vitória clara. Camila tinha um grande desafio pela frente nestes anos todos. Foram poucas as situações em que Donald Trump perdeu o pé E Donald Trump perdeu o pé porque Camilla ganhou em quase tudo. Começa logo a ganhar ao ir ao terreno do adversário, provocando a surpresa. Eu recordo que nas quatro vezes, nas três vezes que Trump e Biden debateram duas em 2021, em 2024, nunca se cumprimentaram.
JORGE CORREIA 00:09:59 Não se cumprimentaram, nunca se cumprimentaram. Curioso é que a minha memória então trai me. E eu penso sempre. Nunca se.
GERMANO ALMEIDA 00:10:06 Cumprimentaram, nunca.
JORGE CORREIA 00:10:07 Cumprimentaram, nunca deram um passou bem, nunca nos.
GERMANO ALMEIDA 00:10:09 Debates, não só em situações. Por exemplo, ontem, no 11 de setembro, nos debates.
JORGE CORREIA 00:10:13 Não é aqui que a mala decidiu avançar para o lado. Onde, onde está? Onde está Trump? E vai cumprimentá lo?
GERMANO ALMEIDA 00:10:20 Cumprimenta. Eu chamo Camilla Harris porque eles não se conheciam pessoalmente e desejo um bom debate. Marcou logo ali um território. Curiosamente, na primeira resposta, só na primeira acusa um certo nervosismo na forma. A garganta secou lhe um bocado, ficou ali dificuldade numa, noutra palavra, mas nada de especial. E depois houve ali qualquer coisa. Ela arrancou e fez um grande debate. Uma coisa não foi nota 20, mas foi nota 18,5 próximo, 19 a 1.
JORGE CORREIA 00:10:47 Sempre há uma coisa que se discute que tem a ver com a altura dos candidatos. Trump é um candidato francamente mais alto. Lá está essa ideia mesmo do cumprimento dessa proximidade à Câmara e à vez em que se mostra que há claramente uma diferença entre um candidato de um metro e 90 com não sei quanto e que mede a camada dois.
JORGE CORREIA 00:11:07 Há uma diferença muito grande, mas há esta iniciativa, este olhar nos olhos, na forma. Observei que os microfones, quando um dos candidatos está a falar, o microfone está fechado para o outro lado, portanto não permite aquela aquelas interjeições ou aquelas interrupções. E eram as regras do debate. Todavia, Kamala comenta com os olhos, com as sobrancelhas e com o sorriso sempre O que Donald Trump está a dizer é verdade.
GERMANO ALMEIDA 00:11:37 Isso é muito importante. Antes de mais, essa diferença de alturas. Como bem disseste, a única vez que o plano estava aberto é que vi essa diferença. Ela compensa ser muito mais baixa com a atitude de ir ao terreno do adversário surpreendê lo. Marcou um golo fora e começa o jogo a ganhar fora e depois o plano. Isso foi certamente tratado pelas candidaturas. Lá está, a importância da equipa foi a vitória. A vitória de Câmara no debate foi a vitória da preparação de uma equipa altamente profissional, porque.
JORGE CORREIA 00:12:04 Cada um dos planos mostra ora Kamala, ora Trump não os mostra quase nunca, apenas em planos muito abertos.
JORGE CORREIA 00:12:12 Não os mostra comparativamente, mas é como se tivessem exactamente a mesma altura. Os próprios púlpitos estão ajustados, estão desnivelados.
GERMANO ALMEIDA 00:12:21 O que é discutível. Mas pronto, foi mais uma vitória da equipa de Câmara garantir esse desnível, porque isso não foi antes.
JORGE CORREIA 00:12:27 Antes destes debates há estas negociações ao pormenor total.
GERMANO ALMEIDA 00:12:31 Isso não foi relevante porque no plano eles estavam equivalentes e depois por comparação. Então quem viu o primeiro debate em 51 milhões viram o debate Biden e 67 milhões viram este por comparação. A diferença é tão grande e o desempenho de campo é tão melhor do que de Biden que nos percebemos uma coisa o desempenho de Trump a 27 de junho já não tinha sido grande coisa. Mas ele ganhou largo porque Biden foi desastroso e voltou a não ser grande coisa. Ainda foi pior do que a 27 de junho. E, calma, lá foi muitíssimo melhor. Enquanto Biden olhava para o lado deslocado, às vezes parecia ausente. Camilla, como bem disseste, respondia com o olhar e com um sorriso as as provocações, aos insultos e aos disparates absolutos que Trump disse à Câmara, que tentou que os microfones ficassem abertos.
GERMANO ALMEIDA 00:13:18 Porque e porque a táctica de Camilla era de equipa de câmera a mostrar como Trump é malcriado.
JORGE CORREIA 00:13:24 Insultar, irritar o outro candidato.
GERMANO ALMEIDA 00:13:26 E permitir eles, eles queriam. Eles queriam levar Trump a interromper, a mostrar se um bully. Mas ela com os microfones fechados, acaba por ter uma estratégia ainda melhor. Que foi Respondia com e com aquilo que disseste. Respondeu assim, por exemplo, aquela coisa dos cães e gatos e outras situações também. Acima de tudo, a nível dos conteúdos, a preparação dela foi de facto absolutamente notável, com respostas do estilo Depois de Trump dizer que se ganhou em 16 com 103 milhões de votos, como é que pode ter perdido em 70, com 75 milhões de votos? Em 20, 20? Ou seja, fez das pessoas estúpidas. Não é porque é tão fácil responder a isso. Porque? Porque o universo de votantes foi muito maior em 2020 e ela, em vez de dizer em vez de se indignar e não sequer diz porque você foi despedido por 81 milhões de americanos.
JORGE CORREIA 00:14:16 Que é logo uma frase, muitíssimo mais essa frase. Em termos de.
GERMANO ALMEIDA 00:14:20 Comunicação, essa frase em comunicação é perfeita. Porquê? Porque é uma frase curta. Tem o dado objectivo 81 milhões que que mata logo os 75 milhões. E é uma frase que pela por essa afirmação ridiculariza o disparate do adversário.
JORGE CORREIA 00:14:34 É quase provocatório dizer você foi despedido por. Pelos cidadãos que estão do despedido.
GERMANO ALMEIDA 00:14:40 Já que aqui é que remete ao fired, que é a coisa dele, do you’re fired. E ele diz uns comícios. Camaleão, fired e pronto. Portanto, esta frase, em poucas palavras tem tudo. Depois outras frases do estilo Putin comia te ao pequeno almoço contigo na Casa Branca. Quando os russos invadiram a Ucrânia, Putin estava hoje em Kiev. Pronto. E dentro desse género, Putin de comida ao pequeno almoço era uma festa, por exemplo. Biden também diria mas. Mas calma, tem ali, de facto uma preparação muito grande depois, e isso é aquilo que para nós é mais evidente. Agora eu vou tentar ser advogado do diabo, inverter a coisa, fazer contra o vapor.
JORGE CORREIA 00:15:17 Vamos falar de Trump. Sim, o que é que Trump fez? Bem.
GERMANO ALMEIDA 00:15:20 Já vamos lá. Mas. Mas antes passar a Trump só para perceber o Nate Silver, que é alguém que acertou em quase todos os estados nos últimos três eleições, escreveu assim minutos depois. Isto foi o debate que desejava. Vai ser difícil. Era quase impossível voltar a ver o momento em que tudo correu tão bem a Camila como nesta noite. Se depois disto ela não tem um claro salto para a liderança, então é porque aquilo que ela tem para oferecer os americanos não querem comprar, porque para vender os americanos não querem comprar. Porque de facto, a nível de desempenho e de estratégia, ela chegou a um limite quase. Então se não é assim, então se calhar não é mesmo possível.
JORGE CORREIA 00:15:58 Portanto, ela atingiu um nível de otimização na comunicação política, por um lado, a defender se para não ficar com os créditos ou com as nódoas negras da administração Biden, por um lado, e, por outro lado, aparecer quase ela própria, como uma incumbente a ganhar e não alguém que esteve no poder também nos últimos três anos.
GERMANO ALMEIDA 00:16:18 Apresentou se assim Ela apresentou se como uma candidata do futuro perante o passado inaceitável de sempre que que põe em risco a democracia americana, apresentou se como o esteio da defesa da democracia e por isso foi sempre bom quando Trump mostrou se e se mostrou inaceitável. Foi a questão da preparação contra o excesso de confiança narcisista. E é tudo sobre Trump. Enquanto a candidatura democrata, ele surge como a solução de uma equipa e de uma diversidade. Mas também, de facto, essa parte do para futuro versus passado ela ter se de demarcar um pouco porque ela sabe uma coisa 61% dos americanos desejam uma mudança. Ora, se deseja uma mudança e para ganhar não basta ser a herdeira de Biden, ela tinha que se demarcar de alguma maneira.
JORGE CORREIA 00:17:00 Ela tem que ser a renovação dentro da própria corrente de vida dos democratas.
GERMANO ALMEIDA 00:17:05 Sim, é isso. Por isso ela se demarcou até mais do que estava à espera de vida. Mas tem a ver com isso. Há uma coisa que temos que ser justos e eu acho que os moderadores estiveram muito bem na no.
GERMANO ALMEIDA 00:17:17 No facto de check in imediato, tinha uma grande equipa por trás perante algumas coisas que sempre disse e que disseram, por exemplo, quando disse aquilo dos imigrantes ilegais. É como cães e gatos.
JORGE CORREIA 00:17:24 Isso é extraordinário. Vamos ver essa história. Trump no meio do debate, diz. No Ohio, numa determinada zona do Ohio, diz que os imigrantes ilegais estão a roubar os Os cães e os gatos de estimação dos vizinhos norte americanos e implícito estão a comê los. E esta história. É tão inverosímil e tão fantasiosa. Tens alguma ideia? Porque é que. Porque é que um candidato decide contar uma história dessas que é verificável neste caso? Que é que pode ser objecto da tal verificação dos factos?
GERMANO ALMEIDA 00:18:01 Sim, isto é mais que se lhe diga, Jorge. Não é um disparate que o João se lembrou.
JORGE CORREIA 00:18:05 Por isso não parece.
GERMANO ALMEIDA 00:18:06 Não é uma. É uma coisa alimentada de uma cartilha internacional. Noutros países, se se explorou algo do género. Recordo que em Portugal, há uns meses houve uma notícia que no Barreiro andavam a desaparecer e portanto isto é alimentado.
GERMANO ALMEIDA 00:18:23 O que é que isto tem subjacente? O medo do diferente, do outro é explorar os medos mais básicos das pessoas. Vêm para aqui uns tipos que nós não sabemos como é, quais são os seus hábitos? Vão, vão nos. Comem. Parece que vêm de uns países que até comem gatos e cães e portanto, vão nos roubar os animais domésticos. Há aqui subjacente a ideia de tal invasão. É uma.
JORGE CORREIA 00:18:46 Polarização do diferente.
GERMANO ALMEIDA 00:18:47 Que leva, sim, que leva a que o nosso modo de vida vá ser incomodado e perturbado, Não haver ligação com a realidade, para quem alimenta isto não tem a mínima importância. E, portanto, quando o moderador David Moore diz porque é viciante, antecipou se porque isso já estava a correr, eles contactaram o maior da cidade, contactaram a polícia e a resposta foi não se passa nada, Não temos qualquer registo de nada. Isso não tem qualquer importância, porque para o para Trump os seus apoiantes estão a ver e eles já tinham isso preparado e estão a mentir nos.
GERMANO ALMEIDA 00:19:20 E nestas comunidades nós sabemos que se passa alguma coisa e pessoas com medo dos imigrantes. Nessas comunidades começam a rolar histórias. Isso não. E não tem nada a ver com com. Com. Com 2024.
JORGE CORREIA 00:19:32 E são os rumores que estão a circular das coisas mais inverosímeis.
GERMANO ALMEIDA 00:19:35 Sempre houve mitos urbanos, explorações dessas coisas que que apareciam cobras nos hipermercados. Lembras te disso? Que os chineses não morriam e coisas desse género?
JORGE CORREIA 00:19:45 Já viste alguma vez.
GERMANO ALMEIDA 00:19:46 Já viste um funeral chinês? Portanto, e portanto, explora se esse tipo de coisas. E quando vem um ex-presidente que está próximo de voltar a ser presidente ou tem 50% de hipótese, confere credibilidade, confere que afinal tinha razão a ter este medo. E tenho aqui o meu herói que me está a proteger do sistema que me está a esconder.
JORGE CORREIA 00:20:06 Isto é mesmo alguém que acha que a história é inverosímil ao ver alguém com algo com alguma credibilidade na televisão dizer isso pode já usar no seu argumentário. Eu ainda ontem vi na televisão e portanto só pode ser verdade.
GERMANO ALMEIDA 00:20:23 Só para isto.
GERMANO ALMEIDA 00:20:24 Parte de uma coisa que é em Springfield, Ohio, uma comunidade de 60.000 pessoas, uma pequena comunidade de 60.000 pessoas. E nos últimos anos, por razões económicas que não consigo explicar, mas devem ser relativamente fáceis de explicar, estão cerca de 15.000 haitianos a viver. Deve ter a ver com alguma coisa de construção. Enfim, é apenas isso e apenas isso. Obviamente que os haitianos em Springfield, Ohio, não estão a roubar os pets das pessoas e comer gatos e cães. Isso é um disparate absoluto e tremendo. Mas de tal modo teve algum efeito no objectivo que eles queriam que nós aqui em Portugal, uns dias depois, estamos a falar disso. Está respondido.
JORGE CORREIA 00:21:03 Pois que é que é uma coisa que deveria ser uma piada. Nós rimo nos e passávamos à frente porque nem sequer é importante. Nós estamos a olhar para a América, mas é importante perceber que na Europa e em Portugal, também em zonas de fronteira de comunidades e comunidades diferentes, também começa a haver esse olhar que é claramente estigmatizante em relação ao outro que não fala português, ou outro que não tenha religião dominante, ou outro que come coisas diferentes, ou outro que se agrega em sítios que em que há quase um.
JORGE CORREIA 00:21:38 Lá está, é um viés a dizer e o outro é.
GERMANO ALMEIDA 00:21:40 A partir de certo ponto perdes o controlo sobre o disparate que tu já me fez, Porque o que é que aconteceu nos últimos dias? Nós ou entre aspas, elites urbanas Estados Unidos, Pessoas que percebem que apesar de, se calhar quando, quando vêem pessoas diferentes também. Se calhar um grupo de pessoas diferentes até tem medo. Não é isso que está em causa. É como lidar com isso. As sociedades e a sociedade americana, as cidades abertas diversas, vivem sob essa tensão. E a questão é como lidar com essa tensão? O Trump está a lançar um estigma sobre a comunidade haitiana. Isso pode correr mal, pode levar a crimes de ódio e é grave. Pode estimular a.
JORGE CORREIA 00:22:16 Violência no fundo.
GERMANO ALMEIDA 00:22:18 Vindo de um ex-presidente, não é grave e gravíssimo vindo de alguém que pode ganhar outra vez é extremamente grave. É sinal de uma sociedade que está doente quando, em vez de rejeitar alguém assim o pode voltar a pôr na Casa Branca.
GERMANO ALMEIDA 00:22:29 Mas as coisas são como são, não é como nós queremos que gostasse, como nós gostava, gostávamos que fossem. Então temos que saber lidar com isso. E a questão é ele depois? Isto dos cães e gatos começa com piada e nós mandámos umas piadas no Facebook. Eu marquei o meu gato como como estando a salvo. Enfim, estou nesta.
JORGE CORREIA 00:22:48 Cidade e.
GERMANO ALMEIDA 00:22:49 Tu está encontrado o ilegal. E ele que de Springfield que anda a comer os gatos e a fotografia do Alf, mas que está cá comigo. Pronto. Mas mas isso, Mas isto cola.
JORGE CORREIA 00:23:02 Se à pele.
GERMANO ALMEIDA 00:23:03 Não é só colar a pele, é que isto depois é uma escalada. Anteontem, na sequência disso, o Trump já veio dizer não. E além dos cães e gatos que havia em Springfield a perguntar onde é que está o meu cão, está o meu cão pronto. E parece que no lago desapareceram os gansos também já está a largar. Pronto. E depois já vem com a conversa de E eu digo me porque também há histórias de raparigas violadas e sodomizados por imigrantes ilegais e aí já.
JORGE CORREIA 00:23:31 Estamos num nível completamente.
GERMANO ALMEIDA 00:23:33 Escolar. Sim, e depois vais dizer assim Pois vai. Os media tradicionais vão dizer ah ah ah, mas nós ligamos a polícia e não se passa nada. Estão a esconder nos? E como é que tu paravas isto? Sim, porque a.
JORGE CORREIA 00:23:41 Teoria da conspiração lá está. Alguém que nos está a esconder a realidade que nós não queremos ver. Por um lado, há uma descredibilização da própria máquina do Estado e do próprio país. Mas em que é que isso se pode transformar? Em ganho de votos?
GERMANO ALMEIDA 00:23:57 Pode se no sentido em que, quando Trump depois diz uma coisa que tem a ver com isso, mas mais mais geral, que apanha as percepções das pessoas, que é o crime está a subir neste país por culpa dos imigrantes ilegais. E depois? E tu vais dizer a um relatório do FBI que diz Houve uma subida de crime nos Estados Unidos durante a pandemia e desde 2021. Todos os anos há uma descida até significativa do crime. Em 2023, o crime violento desceu 6% e no primeiro trimestre deste ano, 15%.
GERMANO ALMEIDA 00:24:25 Portanto, não é a afirmação o crime está a subir. Errado. Está a descer a afirmação os imigrantes ilegais estão a tomar conta das nossas cidades e de forma violenta. Errado. Há um conjunto de imigrantes maior em algumas cidades americanas e é como aqui, por exemplo, por causa de uma lei que está obsoleta, Um conjunto de pessoas que estão num limbo em que estão, estão lá, estão a trabalhar e estão a tentar legalizar se. Estão a tomar isso e isso é sinal que estão a tomar as cidades de forma violenta. Não agora. Grandes cidades americanas têm um novo tipo de percentagem de crime. Sim, sempre tiveram. A culpa disso e dos imigrantes Não está respondido. Agora tu vais responder assim às pessoas que têm um certo medo e querem, se é que que ouvem Trump se sentem mais seguras, pois é um problema.
JORGE CORREIA 00:25:09 Entretanto, é curioso Trump cavalgando precisamente essa onda do desconhecido, daquele que vem para roubar os empregos, que vem para comer os cães por aí fora. Tenho um anuncia um plano e o plano é vou deportar milhares, milhões de imigrantes.
JORGE CORREIA 00:25:33 Primeiro não diz como. Segundo, nem sequer fala sobre a necessidade da economia norte americana, obviamente, ter aquela força de trabalho e aqueles imigrantes.
GERMANO ALMEIDA 00:25:43 Pois é, isso não é mais uma visão e é uma exploração básica, porque o problema disto é que já nós já sabemos o fim desta história. Ele já foi presidente com o.
JORGE CORREIA 00:25:53 Muro em linha com o México.
GERMANO ALMEIDA 00:25:55 E fez uma coisa que era travel ban, que começou por chamar Muslim ban e ele parte de identifica sete nacionalidades e do nada impede as pessoas desses lugares de entrar nos estados porque sim, não supostamente sobre sob a capa de depois Como com grandes, com profundas ilegalidades, porque a base da coisa era de facto, eram sete países de maioria muçulmana. Logo ali com um problema porque um dos países era o Iraque, que é um aliado dos Estados Unidos neste momento. Os outros não. A Síria, o Iémen, o Afeganistão e tal, mas o Irão. Mas o que é que isso aconteceu? Durante uns dias houve o caos no aeroporto.
GERMANO ALMEIDA 00:26:33 Pessoas na cidade iraniana iraquiana. Que trabalham, por exemplo, em universidades, tinham tinham estado fora e não puderam voltar. E depois, dentro do que estás a dizer, a pressão também foi muito de alguns. Algumas empresas, algumas que as apoiam, que, como sabes, empresas americanas, algumas digitais e outras que têm nos seus quadros pessoas altamente qualificadas com nacionalidades desses países, também começaram.
JORGE CORREIA 00:26:58 A dizer, a explicar ao presidente Trump que era uma ideia tola como.
GERMANO ALMEIDA 00:27:02 Tola. Agora é apoiada por muita gente por causa desse medo básico. E o que é que acontece depois de uma fase em que parecia que ele ia moderar e não sei quê. E ele, perante as dificuldades nas sondagens, está a voltar à fórmula de 2016, pensando eu ganhei em 2016 assim, Agora vou repetir sim.
JORGE CORREIA 00:27:18 Olha a minha sensação. Trump parece estar a perder gás quando Trump aparece antes de antes desta ideia da política, Era um candidato muito luminoso, que dominava completamente o mídia televisão. Era um showman quando estava a fazer os comícios.
JORGE CORREIA 00:27:39 Neste debate e nos últimos comícios que tenho visto, vou usar a expressão parece um disco riscado e cansado.
GERMANO ALMEIDA 00:27:48 Parece me, acima de tudo, limitado, sempre com as mesmas histórias, sem elasticidade. Uma das coisas onde Kamala o encostou às cordas e ele é o espicaçou. Ele mordeu o isco e passou se e perdeu completamente controlo da narrativa. Foi quando a câmara começa a dizer Ele está obcecado pelo tamanho das multidões. É fácil mostrar que eu tenho muito mais gente e que nos comícios do Trump. Há apoiantes deles que já não, que já não aguentam aquilo, já não podem ouvir e começam a sair antes do tempo. Ele ficou furioso com aquilo.
JORGE CORREIA 00:28:16 Mexeu no.
GERMANO ALMEIDA 00:28:16 Ego? Sim, completamente. Mas é verdade. Eu já assisti a dois deles nesta campanha a dois.
JORGE CORREIA 00:28:22 É verdade mesmo. Há pessoas que estão a sair do sim, sim, já não.
GERMANO ALMEIDA 00:28:25 Não é uma multidão, mas sim, há relatos disso. E se tu comparares, a Câmara tem tido muito mais, muito mais gente. Não há comparação.
JORGE CORREIA 00:28:32 Claramente há um crescendo. Se olharmos para as campanhas, há um crescendo, há um encher de da candidatura de Câmara. Não só o número de pessoas, mas também dos donativos nos donativos, sem dúvida milhões que por lá aparecem e, por outro lado, uma espécie de cansaço de de Trump. Vamos às coisas mais sérias e substantivas, porque houve coisas sérias e substantivas neste Neste debate, nomeadamente a questão da economia. Diz se sempre é a economia. Estúpido, não é? Quer dizer, a economia ganha ou perde eleições. Estamos a sair de uma crise inflacionária muito, muito forte. Seria um terreno muito fértil para Trump poder dizer, e até com propriedade, que Kamala é, no fundo, alguém que liderou ou liderou o país numa altura em que as pessoas passaram a viver pior.
GERMANO ALMEIDA 00:29:20 Sim, eu acho que essa é a grande lacuna dessa grande verdade de perspetiva, em que, mais uma vez, não há justiça nestas coisas. É o que é. Na minha opinião, o desempenho da presidência nesse aspeto é muito bom.
GERMANO ALMEIDA 00:29:31 Não é bom, é muito bom, porque eu recordo que há dois anos, quando se chegou ao pico de 9,1 de inflação, na sequência de duas de junção de duas coisas o final da pandemia, o regresso da actividade e uma disrupção das cadeias de distribuição que não estavam preparadas para o aumento brutal e rápido dessa actividade e.
JORGE CORREIA 00:29:47 Depois o disparo do preço da energia. Portanto, essas três coisas transformaram se no caos, porque.
GERMANO ALMEIDA 00:29:53 Se bem quem se quiser recordar, há relatórios de grandes consultoras internacionais durante a pandemia que dizia que o regresso à actividade ia demorar dez anos, 20 anos. Não foi nada assim. Foi automático e automático. Foi imediato e, portanto, nós.
JORGE CORREIA 00:30:05 Todos quisemos comprar os mesmos bens. Sim, tínhamos dinheiro guardado, porque a pandemia nos permitiu fazer algumas poupanças e fomos todos para o mercado com um regresso brutal.
GERMANO ALMEIDA 00:30:14 E nós vimos isso na questão do turismo. Mas as cidades voltaram fluorescentes e não houve capacidade para isso e, portanto, esse aumento brutal levou a uma disrupção que, entre outras coisas, levou uma grande inflação.
GERMANO ALMEIDA 00:30:24 Depois, também é verdade que houve planos federais e que aqui na Europa a questão do PR e nos Estados Unidos há planos de administração. Biden injetou dinheiro e já trouxe dinheiro a mais. E depois veio a guerra da Ucrânia, com a questão das sanções à Rússia, rápidas que levaram a um problema energético, um aumento dos preços, não tanto como também como se imaginava. Mas também isso aconteceu e essa junção levou a inflação, como não havia há muitas décadas 9%. E na altura se dizia que para se baixar dos 5% era preciso uma série de anos e que se por esta altura se tivessem cinco, 5,5 já era bastante bom. Neste ponto a inflação está a 2,9, portanto subiu.
JORGE CORREIA 00:30:57 E desceu de uma forma muito rápida, muito rápido. Portanto, os tempos claramente estão muito acelerados. Vamos olhar para o futuro, o que pode ser um segundo mandato de Trump.
GERMANO ALMEIDA 00:31:09 Muito pior que o primeiro. Porque é alguém que está quatro anos mais velho, ou melhor, oito anos mais velho do que nessa altura, que passou por uma derrota que nunca soube processar.
GERMANO ALMEIDA 00:31:19 Como também disse no debate, que não só soube processar como atirou os seus apoiantes para muitos deles a fazerem figuras de idiotas úteis no Capitólio, fazer um crime brutal contra o Estado americano e contra a democracia americana. Os que foram apanhados em flagrante estão presos e o seu autor moral e político a jurar que não, que não teve nada a ver com isso, que não sabe nada. Fez essa figura de sonso na outra vez no debate. Isso é muito grave, não é? Por outro lado, ele quer a vingança, quer a vingança disso, quer a vingança das estruturas intermédias ao nível das assembleias estaduais, que lhe impediram de fazer o golpe há quatro anos e que lhe.
JORGE CORREIA 00:31:58 Foram bloqueando também, mesmo quando foi presidente, que lhe bloquearam muitas medidas que ele quis implementar.
GERMANO ALMEIDA 00:32:03 Sim, isso não é o que ele próprio diz nos comícios que o vai fazer é e portanto, será Trump depois. Eu recordo, antes de mais, político que quer a administração Trump em 2016. Ou melhor, 17. Ainda teve um chefe que um um grande militar que vinha da NATO, um general que vinha da NATO.
GERMANO ALMEIDA 00:32:21 O jornal de Jim Mattis, na chefiar o Pentágono, teve alguém que, embora no mundo dos negócios, era alguém até bastante razoável e, por exemplo, bastante para a Ucrânia anti-Rússia, o Rex Tillerson na chefia do Departamento de Estado.
JORGE CORREIA 00:32:33 Havia contrapesos, havia contrapesos.
GERMANO ALMEIDA 00:32:35 Eles saíram todos, todos em rutura com o presidente, quase todos. O general McMaster, no Conselho Nacional foi tudo.
JORGE CORREIA 00:32:43 Portanto, este novo Trump presidente, se for eleito, vai no fundo, fazer uma limpeza geral e vai colocar.
GERMANO ALMEIDA 00:32:53 Macas, macas fiéis, sem todos eles negacionistas do que aconteceu em 2020 na administração. Esta a gravidade para lá de nós europeus. E o que é que eles dizem sobre a Ucrânia, que é um problema nosso? Dizem que não, Não, também não chegam ao ponto defender o Putin, mas quase. E por exemplo, acaba de dar uma entrevista a dizer bom, é vamos promover a paz fazendo ali uma linha divisória na actual. Na atual linha da frente, no leste da Ucrânia.
JORGE CORREIA 00:33:19 No rio Dnipro e de Dnipro para a direita.
JORGE CORREIA 00:33:22 Basicamente vai, vai, entrega se a Rússia e do lado de cá fica uma Ucrânia ocidental. Sim, ele não chega.
GERMANO ALMEIDA 00:33:27 A dizer isso, isso é que os russos queriam. Mas apesar de os russos ainda não chegaram a esse ponto, não é a linha da frente neste momento. Não, não está delimitada pelo Dnipro. Está mais atrás, portanto está mais para leste. De todo modo, uma coisa desmilitarizada. E depois o resto. Apareceu Putin a falar. Exigimos e vamos exigir a Ucrânia que não entra na NATO, que seja neutral para exigir, para dar garantias à Rússia, para a Rússia não voltar a atacar. É isto que vai acontecer se o tempo for presidente. É esta a gravidade.
JORGE CORREIA 00:33:53 Mas isso é o contrário de tudo aquilo que, no fundo, a política norte americana tem defendido durante os últimos anos.
GERMANO ALMEIDA 00:34:00 Claro. Mas também já foi assim quando ele foi presidente, não é? Mas, apesar de tudo, volto a dizer, ele como presidente, havia uma certa entropia quando ele era presidente.
GERMANO ALMEIDA 00:34:10 É verdade. E o Putin noutro dia lembrou isso que a primeira admnistração americana a fazer sanções a Rússia pós invasão da Crimeia foi a prestação de Trump. Mas não foi por causa do presidente, foi por causa do Departamento de Estado. Isso não vai acontecer agora. Ele vai pôr um departamento de Estado próximo do Putin. Não tenho qualquer dúvida sobre.
JORGE CORREIA 00:34:27 Dóceis servidores que vão aplicar aquilo que ele está a pensar. Olha, Kamala, primeiro obstáculo é alguém que, genericamente não passou pelas primárias ou passou de uma forma apenas no congresso dos Democratas. É uma mulher, é negra. Isto, estes pressupostos podem levar a que seja mais difícil para ela conquistar os votos que precisa para ganhar a eleição.
GERMANO ALMEIDA 00:34:56 Não tenho qualquer dúvida sobre isso. Eu estava antes de ir para aqui a ler uma peça muito interessante no nosso jornal que me preocupou verdadeiramente sobre o debate em que eles falam sobre. Falam com um conjunto de eleitores indecisos em estados decisivos que viram o debate. E posso falar numa mulher de 40 anos da Pensilvânia, que votou em Biden há quatro anos e que acha que a Câmara ganhou o debate.
GERMANO ALMEIDA 00:35:18 E que é que o Trump teve um comportamento inaceitável no debate e mesmo assim está indeciso. Uma ou outra do Arizona, que votou na Hillary em 2016, votou no Trump em 2020 e tendia a votar no Kennedy. Ficou me desiludida quando Kennedy, portanto, é alguém que está enfim, desiludida com o sistema Voto contra, viu debate e achou que a Câmara ganhou e passou a ficar indecisa. E não é por acaso que a estratégia, se reparares da Câmara, ao contrário do que aconteceu a Hillary, que achava que ia ganhar, fez a campanha a dizer que vai quebrar o teto de vidro. Vai ser a primeira mulher e.
JORGE CORREIA 00:35:52 Numa conversa altiva no fundo.
GERMANO ALMEIDA 00:35:55 Aquela voz do facto de estar a poucos dias de ser a primeira mulher ainda é a segunda e o segundo negro. A primeira mulher negra dos Estados Unidos.
JORGE CORREIA 00:36:02 Está a tentar de uma forma quase muito discreta. Não, não tornar isso um mote de discussões ou de insegurança de alguns eleitores de dizer eu até votava nela, mas como é uma mulher, se calhar não acredito tanto.
GERMANO ALMEIDA 00:36:17 Porque eles sabem. E percebeu se pelo tipo, pela excelsa preparação de que ela, do debate que levou ao desempenho dela, que depois levou a coisa, só mais este mesmo interessante. Ela chega a falar dos dos da Polónia, que consigo a Rússia invadir a Polónia e atacar a Polónia. Você não fazia nada e falou para os americanos com ascendência polaca que são 2,6% no total do país, 5% no total dos estados decisivos e 8% no Wisconsin, em Michigan. É disto que estamos a falar.
JORGE CORREIA 00:36:47 E portanto, agora estamos a falar já de criar.
GERMANO ALMEIDA 00:36:51 Micro targeting para cada.
JORGE CORREIA 00:36:53 Eleitor. Olha, a eleição nos Estados Unidos é uma eleição estranha para nós europeus. Embora, se nós olhamos para Portugal, elegemos também o nosso Parlamento pelo método de Hondt, círculos eleitorais distritais Nos Estados Unidos, o presidente é eleito de uma forma indirecta através de um colégio eleitoral e cada Estado elege um conjunto de delegados. Por isso, a ideia das sondagens nacionais de voto popular é muito pouco relevante ou interessante em relação depois ao resultado final ou não.
GERMANO ALMEIDA 00:37:23 Ajuda nos a ter um barómetro. Ou seja, embora não haja um dado como objectivo para isso, se, por exemplo, se eles estiverem empatados como estavam antes do debate numa sondagem, isso indicava que seria muito difícil para a Câmara ter uma matemática de ganhar colégio eleitoral, porque os democratas têm logo uma vantagem de alguns milhões de votos, com a vantagem que tem na Califórnia e em Nova Iorque. São dois dos três estados mais populosos e que.
JORGE CORREIA 00:37:46 Tendem e que são estados de voto.
GERMANO ALMEIDA 00:37:48 Com grande vantagem. É verdade que outros dois dos primeiros quatro são mais republicanos Texas e Flórida, mas a vantagem dos democratas na Califórnia e Nova Iorque é bem maior que as vantagens dos republicanos no Texas e na Flórida. E essa junção desses quatro, sendo que esses quatro juntos já tem uma percentagem bastante significativa do total. Só isso. Só essa relação já dá lhe uma vantagem de três, 4 milhões, às vezes 5 milhões aos democratas. E portanto, eles partem com essa vantagem no voto popular e Estado.
JORGE CORREIA 00:38:17 A Estado.
GERMANO ALMEIDA 00:38:18 Estado a Estado. Onde é que isto é que.
JORGE CORREIA 00:38:19 Isto vai decidir? No fundo, e isto.
GERMANO ALMEIDA 00:38:21 Em sete estados três da cintura da ferrugem, Wisconsin e Pensilvânia, que o Trump ganhou a Hillary, mas que o Biden ganhou Trump e sempre por diferenças pequenas nos quatro nos três da Sand Belt, Geórgia, Arizona e Nevada, que são estados com forte componente latina e no caso da Geórgia também negros. E depois um outro que entra agora nos estados decisivos que é a Carolina do Norte, tem sido consistentemente republicano, mas onde o Trump já só ganhou por 70.000 votos ao Biden e que é neste momento. Neste momento, a Câmara está à frente da Carolina do Norte porque houve uma mudança interestadual em que vieram. Vieram cerca de 400.000 de Nova Iorque e de Illinois. Mudaram se para a Carolina do Norte. Porquê? Porque é um estado bastante mais barato. A crise da habitação. Isto tem uma consequência política. Não quer dizer que os 400.000 votem. E também não votam todos os democratas. Mas as sondagens já estão a mostrar isso.
JORGE CORREIA 00:39:09 Podem mudar o perfil do tipo de eleição? Podem.
GERMANO ALMEIDA 00:39:11 Já estão a mudar.
JORGE CORREIA 00:39:12 Como é que? Como é que está a tua bolsa de apostas?
GERMANO ALMEIDA 00:39:15 Se fosse hoje a eleição, eu punha o meu dinheiro na vitória da Câmara. Não tenho grandes dúvidas que se fosse hoje a eleição a Câmara ganhava. Mas a eleição não é hoje é dia 5 de.
JORGE CORREIA 00:39:24 Novembro e portanto, tudo pode. Pode mudar, aliás, no tempo. Kamala Harris como presidente, como é que? Como é que será ela como presidente.
GERMANO ALMEIDA 00:39:35 Da Câmara, se tem sido uma candidata que foi uma candidata de emergência, não fez primárias. É a primeira vez que acontecem desde 1968, mas é vice presidente. Estados Unidos é alguém que que que estava demasiado na sombra porque o cargo de vice presidente é um pouco isso e que teve um presente envenenado, que foi a gestão da questão da fronteira do Texas, México. Não estava a correr bem, mas a verdade é que também basicamente não tinha encontrado a solução com um acordo bipartidário no Congresso que levaria a um grande reforço e de meios na fronteira.
JORGE CORREIA 00:40:08 Então passou.
GERMANO ALMEIDA 00:40:09 E quem não passou porque o Trump travou.
JORGE CORREIA 00:40:11 Começou a campanha.
GERMANO ALMEIDA 00:40:12 E a Câmara explicou isso bem no debate e, portanto, a culpa é do Trump de não ter passado. Isso não é do Trump Até lá, porque houve uma má gestão dos democratas, nomeadamente no ano passado. As coisas melhoraram um pouco no último ano. Mas. Mas isto para dizer agora estamos a falar de alguém que, como vice presidente, representou os Estados Unidos na Cimeira da Paz na Suíça. Representou os Estados Unidos na Conferência de Munique. Tem estado nas reuniões com Biden, com Netanyahu, com silêncio, e, portanto, é alguém já bastante experiente.
JORGE CORREIA 00:40:39 Alguém que está preparado. Olha, é sempre tradicional, que não vai só o presidente, O candidato a presidente, neste caso é Trump. Mas também há uns números dois os vice presidentes, olhando para a realidade aqui do lado de fora e de quem muito pouco entende a política norte americana. Esta escolha dos números dois não é propriamente a escolha do melhor amigo e normalmente correspondem a tipos de candidatos que entram em eleitorados diferentes e conseguem alargar a base de sustentação dentro da maioria.
JORGE CORREIA 00:41:15 Ora a esquerda, ora o democrata, ora ora republicana.
GERMANO ALMEIDA 00:41:18 Sim, é essa foi a lógica da escolha da Câmara ao escolher símbolos, que é o oposto dela. É um homem branco e uma mulher negra. A câmara é uma sofisticada liberal da costa oeste Califórnia, estado mais rico dos Estados Unidos. Se fosse um país, era o quinto país mais rico do mundo. É disso que estamos a falar. E o House é um homem branco, com uma ligação rural e vem de um distrito congressional rural muito republicano do Minnesota, um estado muito, muito, muito próximo daquele estado. Estamos a falar Wisconsin, Michigan, menos da Pensilvânia. O time Wallace é proprietário de uma arma. Foi treinador de futebol e foi professor. Foi da Guarda Nacional do Exército. Portanto, oferece uma complementaridade em relação à Câmara. E depois tem um discurso muito terra a terra. Enquanto a Câmara tem se dirige muito mais às minorias.
JORGE CORREIA 00:42:10 Sei como é que esta gente depois se vai entender. Dirige se ao.
GERMANO ALMEIDA 00:42:12 Homem branco na.
JORGE CORREIA 00:42:12 Câmara branca, na Casa Branca, mesmo tendo esta tendo estas.
GERMANO ALMEIDA 00:42:18 Mesmo que Barack Obama e Biden também eram bastante diferentes. Obama mais vindo das elites e universitárias, e o Biden muito de uma universidade que não era de elite e de mais América branca. E o Biden do Congresso Tinha, tinha, tinha, tinha paciência para falar com os líderes republicanos. O Aidan nunca teve esse perfil. O Obama nunca teve esse perfil. Isso faz mais lógica. Tradicionalmente tem havido isso. Trump fez essa escolha na altura em que achava que ia ganhar fácil contra um Biden fragilizado e escolhe uma versão sua com metade da idade que é dos Advance.
JORGE CORREIA 00:42:56 O início do trumpismo, verdadeiramente, porque sim, este tem esse, esse perfil, mesmo em tempos comunicacionais. Mas vai mais longe na interpretação.
GERMANO ALMEIDA 00:43:04 É mais trumpista que o Trump, porque o Trump é um tipo que vem de Nova Iorque, um ricaço que herda dinheiro do pai especulador.
JORGE CORREIA 00:43:14 Podia ser um liberal.
GERMANO ALMEIDA 00:43:15 Podia ser. Ele foi um liberal nos anos 70 e 80 e no início de 90 o Trump apoiava os democratas.
GERMANO ALMEIDA 00:43:21 Foi registado democrata, financiou os Clinton. É daí que ele vem e depois vem um vê um mercado eleitoral precisa de altura nos herdados do sistema, nos nos nos zangados. Mas, por exemplo, no iniciozinho e ele não tinha o apoio dos ultraconservadores, porque até pelo seu comportamento pessoal, não é? Não venho de uma direita religiosa agora. Erdogan agregou, fez uma OPA sobre ela.
JORGE CORREIA 00:43:46 Mas nasceu, na realidade, num contra movimento, um contrapoder. O xadrez.
GERMANO ALMEIDA 00:43:50 E esse sim, é sério. O Trump está a brincar com isto há muitos anos e é um egocêntrico que só quer ser presidente e faz e não tem tudo.
JORGE CORREIA 00:43:58 O que é preciso porque não.
GERMANO ALMEIDA 00:43:59 Tem. Assim, não tem nem ideologia, nem nem profundidade, nem empatia. O sujeito, ao invés, tem profundidade, tem ideologia e vem dali, vem, vem dos Apalaches, subiu a pulso, chega de facto a Harvard. Mas porque? A ele. Desculpa, mas mas por por por mérito e é um tipo denso. No entanto está e também representa um bocado aquela direita ultra direita ideológica, branca e heterossexual que acha que a ascensão das minorias é uma e 01h01 de algum modo, uma ameaça à sua afirmação e o seu modo de vida.
GERMANO ALMEIDA 00:44:39 Enquanto exemplo simples, é alguém que vive bem com essa diferença e a promoveu. São diferenças, mas portanto o Trump é que agravou o extremismo ultra religioso com o seu ticket. Curiosamente, a última vez que aconteceu alguém muito parecido e foram mesmo bem parecidos entre presidente e vice presidentes, aí fez sentido para reforçar aquilo que representava, que era o Bill Clinton, que era um jovem governador do Sul. E o Al Gore também vinha do sul e estavam ambos na casa dos 40 anos. Representavam uma nova América e isso fez sentido naquele refrescamento geracional. Era um refrescamento depois.
JORGE CORREIA 00:45:20 Agora não ganha as eleições e perde como vice presidente. Nós estamos praticamente praticamente a fechar. Claramente uma sociedade norte americana polarizada também na comunicação e agora nem é especialmente popular por cá. Mas o X antigo Twitter com ela, Musk, que apoia Trump. Mas não só. Há um quase uma não verificação das coisas que passam no Twitter e há um fervilhar dessa polaridade. Estamos a ver uma bela expressão da democracia ou uma catástrofe anunciada.
GERMANO ALMEIDA 00:45:55 Acho que é mais a segunda coisa, mas sob a capa de suposta liberdade de expressão.
JORGE CORREIA 00:46:00 Absoluta e total.
GERMANO ALMEIDA 00:46:01 Sem controlo ou ambas têm tido um comportamento absolutamente irresponsável, nalguns casos mais que o Trump, aquilo que ele escreveu sobre o que se está a passar em Inglaterra é muito grave. A dizer que não havia alternativa a uma guerra civil. Em Inglaterra houve uma, houve uma um incitamento. Isso claramente o alarma. Se tentou. Acha que encontrou no Trump uma forma de de uma administração que que que le, que lhe aliviou os impostos, que lhe que aquele que supostamente o o empodera nessa via de de impor ali uma certa nova forma de liberdade de expressão. E o Trump? Já se percebeu que a ligação a ele, quando lhe promete aquele cargo lá da eficiência do Estado dentro daquilo que aquilo representa, é e pronto. E estamos a falar de novos tempos, em que também é fundamental, por exemplo, para um conjunto de de narrativas e de falsidades e de coisas como há pouco estávamos a falar sobre os cães e os gatos que noutra forma e nos media mais tradicionais ele leva com o contraponto, leva com a verificação e com o desmentido.
JORGE CORREIA 00:47:13 E ali não, ali tudo flui.
GERMANO ALMEIDA 00:47:15 Pois, mas a questão é que é que ao nível do alcance, tempo depois temos surpresas.
JORGE CORREIA 00:47:19 Olha, fechamos. O que é que te assusta? E o que é que te fascina na América de hoje?
GERMANO ALMEIDA 00:47:25 Fascina me quase tudo mesmo, que me assusta, porque é aquilo que há pouco estávamos a falar. Se ao fim de tantos anos eu ainda não consigo compreender como é que o Trump tem metade do país a apoiá lo perante esse comportamento. A culpa não é dessas pessoas, é minha, de não ter conseguido compreender.
JORGE CORREIA 00:47:38 Compreender e o derradeiro ato de comunicação. Não basta saber os factos e entender o contexto. Nesta coisa das eleições há sempre margem para uma surpresa. Claramente, os eleitores dizem se racionais, mas votam tantas vezes com o coração. A eleição do presidente dos Estados Unidos não é como a nossa. Nós por cá votamos e todos os votos vão para uma mesma caixa. Se posso usar esta expressão e depois de contados os votos, ganha o preferido pelo voto popular e uma eleição directa e simples.
JORGE CORREIA 00:48:11 Nos Estados Unidos, cada Estado escolhe delegados para um colégio de 538 membros. O candidato que conseguir ter um grupo de 270 votos é eleito. Mas pode até acontecer que um dos candidatos tenha mais votos populares, mas menos delegados neste tal colégio eleitoral. Já aconteceu. Além disso, os eleitores têm de seguir um conjunto de regras no Estado onde votam, desde a forma como se podem recensear até se podem votar presencialmente ou por correspondência. O sistema é complexo e acaba muitas vezes por levar a longas conversas em tribunais estaduais ou nacionais. Falta muito pouco para a eleição. Agora é a vez de Kamala ou Trump. Um deles será o novo presidente dos Estados Unidos. A América vota. Mas a decisão também tem consequências para a nossa velha Europa. Até para a semana.