Vai chover? Bruno Café

Vai chover? Bruno Café
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Quiseram os deuses da chuva e do sol fazer coincidir com a publicação deste episódio a chegada de um comboio de tempestades ao nosso país.

Já vos explico o que quer dizer a expressão “comboio” de tempestades embora a coisas seja mais ou menos intuitiva de entender.

Quero deixar duas notas: a primeira é que quando ocorrem estes fenómenos típicos é mais difícil prever o tempo que vai fazer.

A segunda é que esta conversa foi gravada há semana e meia e por isso é importante situar no tempo, o do relógio, quando foi criado este episódio.

Em todo o caso a conversa é muito interessante e aprendi muito sobre a fascinante ciência meteorológica.

E o que tem a vez com comunicação? Tudo. Dizer que vai chover, que vem ventania ou vai ficar um calor de. Rachar cria uma expectativa.

E na nossa cabeça a previsão passa rapidamente a certeza absoluta e não a uma probabilidade mais ou menos certa.

Em caso de dúvida vá à janela e observe com atenção. Isso ajuda.

Se ainda tiver incertezas inultrapassáveis, leve o guarda-chuva. Se não chover batize o instrumento como guarda-sol.

A meteorologia é uma ciência de precisão… mas também de incerteza.

Ouvimos a previsão na rádio, vemos os mapas na televisão, conferimos a ‘app’ no telemóvel–e, no final, ou confiamos, ou desconfiamos.

“Mas afinal vai chover ou não?” é talvez a pergunta mais repetida a um meteorologista, e esta semana traz-nos um cenário perfeito para explorar essa questão: um verdadeiro “comboio de tempestades” está já a chegar a Portugal.

Se nos últimos dias tem sentido o tempo instável, prepare-se porque a tendência não vai mudar tão cedo.

Um bloqueio anticiclónico sobre as ilhas britânicas está a funcionar como um muro invisível, empurrando depressões diretamente para a Península Ibérica.

Os ingleses quiseram experimentar o clima algarvio e mandaram chuva cá para baixo.

O resultado? Uma sequência de tempestades que nos vão atingir quase dia sim, dia não, com chuva intensa no sul já que começou nesta terça-feira e previsões de instabilidade pelo menos até ao fim de semana.

E a questão que se coloca é: podemos confiar totalmente nas previsões?

Se tudo depende de modelos matemáticos e observações, porque é que por vezes a chuva anunciada nunca chega ou, pelo contrário, uma tempestade inesperada varre tudo sem aviso?

Para responder a isto, convidei Bruno Café, meteorologista do IPMA, um dos rostos da previsão do tempo em Portugal. Se já o viu na televisão ou ouviu na rádio, sabe que tem o dom de explicar a meteorologia claramente e sem rodeios. E nesta conversa, ele ajuda-nos a perceber como tudo funciona nos bastidores: como se fazem previsões, que instrumentos são usados, o que mudou na meteorologia nos últimos anos e por que motivo a incerteza nunca desaparece completamente.

A pergunta chave é:

Como se prevê o tempo?

Sabia que diariamente são lançados balões meteorológicos que sobem na atmosfera para medir pressão, vento, temperatura e humidade? E que os radares meteorológicos conseguem detetar em tempo real a formação de tempestades? Mas mesmo com esta tecnologia, há fatores que tornam algumas previsões mais difíceis do que outras–como os famigerados aguaceiros isolados, que podem cair forte num local e deixar outro completamente seco a poucos quilómetros de distância.

O que permite o desejo de poder ter afinal chuva no nabal e sol na eira.

Bruno Café explicou-me como os meteorologistas trabalham com milhares de dados e recorrem a modelos matemáticos complexos, mas também precisam de experiência e análise humana para interpretar a informação. A meteorologia não é um jogo de certezas absolutas, mas sim de probabilidades bem calculadas.

Então e os fenómenos atípicos.? O impacto das alterações climáticas.

Afinal, temos mais fenómenos extremos ou apenas mais atenção sobre eles? Bruno Café explica como os dados mostram um aumento real de temperaturas e eventos severos, mas também como as redes sociais e a mediatização dos fenómenos fazem com que estejamos mais conscientes do que nunca.

As tempestades datuaissão mais fortes do que as de há 30 anos?

As cidades estão mais vulneráveis à chuva intensa? E o que acontece quando um ano inteiro de precipitação cai em apenas um dia, como já aconteceu em algumas regiões da Península Ibérica?

Volta e meia recebemos alerta, nnos ‘media’ou no nosso telemóvel..

São os chamados alertas ou avisos de tempo severo.

Estes avisos meteorológicos: são úteis ou alarmistas?

Quando o IPMA emite um aviso laranja ou vermelho, há sempre quem critique: “Disseram que vinha tempestade e afinal não aconteceu nada!”

Mas, como Bruno explica, os avisos são feitos com base na probabilidade de risco, não numa certeza absoluta. E se a tempestade acabar por não ser tão grave num determinado local, é sinal de que as previsões falharam – ou de que simplesmente tivemos sorte?

Falamos ainda da inteligência artificial na meteorologia, uma tecnologia que já começa a ser usada para prever padrões climáticos de forma ainda mais rápida e precisa. Será que um dia a IA poderá substituir os meteorologistas humanos? Ou continuará a ser necessário alguém para interpretar os dados e traduzir a incerteza da ciência para o público?

E claro, não podíamos deixar de perguntar: será que os meteorologistas conseguem ir a um jantar sem que alguém lhes pergunte ‘Como vai estar o tempo amanhã?’

Este episódio é essencial para quem quer entender como se faz a previsão do tempo e por que motivo a incerteza nunca desaparece totalmente.

E com um cenário meteorológico tão instável como o desta semana, é quase como se tivéssemos marcado esta entrevista de propósito… mas juro que foi apenas coincidência!

Nós os humanos queremos sempre a certeza e nem sempre há essa resposta.

Em princípio no verão está melhor tempo, sem contar com as ondas de calor, e no inverno chove mais.

No meu norte diz-se que o primeiro de agosto é o primeiro de inverno.

O meu amigo Zé Terra , que é um optimista meteorológico anunciam-me sempre que “isto vai levantar” quando chove a cântaros e o céu está negro.

E o Rui Teixeira, que é do Porto sempre enunciou, com graça, que o norte é tão acolhedor que até o inverno decidiu passar por lá as férias de verão.

Na minha praia, a de Moledo, é certo e sabido que a nortada pode desgraçar qualquer dia de bangos. Mas que quando nem vento corre, é o melhor dia de praia do ano.

O problema é saber qual é esse dia.

Sim, os metrologistas que usam grandes números para prever o tempo escrevem com letras miudinhas que há uns sítios especiais onde há os chamados micro-climas.

Em caso de profunda irritação ou neura com o mau tempo há sempre uma expressão que podem usar: “vai la fora ver se chove”

Não é bonito mas ajuda a aliviar o espírito.

Sejam optimistas, afinal já falta mês e pico para a primavera.

Isto vai levantar.

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