Gabriela Barros faz-me rir. E quem me faz rir já me ganhou. Isso é importante, especialmente quando falamos sobre Como fazer rir? Gabriela Barros.
Há episódios em que se fala com a razão, em que se explicam coisas.
Outros com o coração, em que se descrevem emoções.
E há episódios raros em que sentimos que estamos a falar com uma pessoa inteira. A Gabriela Barros é dessas pessoas. E desconstrói todo o episódio deste o primeiro minuto. Chegou para tomar conta do programa, e sem pedir licença, montou a casa, transformou esta conversa em algo dela. Limitei-me a segui-la. Depressa que não temos tempo a perder
Ocorre-se-me agora a ideia que fiz de coelho perseguindo Alice na sua aventura pelo País das Maravilhas. Fui testemunha, só isso.
Gabriela Barros é atriz. Mas não só.
Mãe, comediante, improvisadora, cantora por dentro. Virá daqui o seu sentido de ritmo?
Uma mulher que entra num programa de humor como o Taskmaster e sai de lá campeã, não por estratégia, mas por instinto.
Uma atriz que se atira para a comédia com a mesma entrega com que representa o vazio, o silêncio, a alienação contemporânea numa série como Ruído.
Este episódio é isso tudo. E mais.
Falámos de improviso. De criatividade em estado de urgência.
Daquele momento em que não há nada — e ainda assim, é preciso entregar alguma coisa. E é aí que nasce o poema do pato.
Sim, ouvimos esse poema outra vez. Mas o mais bonito não é o poema. É o que ele revela: que há uma Gabriela que trabalha sem rede, que gosta do risco, e que acredita que fazer figuras parvas com dignidade é uma forma nobre de arte.
Falámos do Taskmaster, do concurso, sim. Mas também da sua arquitetura secreta — do segredo partilhado entre concorrentes que não sabem o que os outros fizeram, da magia de se rir em direto da catástrofe alheia.
Falámos do prazer de não saber, do improviso como regra e da frustração como combustível. E falámos do Nuno Markl, claro. E da relação de palco, de corte e costura, de quem faz rir por dentro e por fora.
Mas este episódio também mergulha noutro registo.
Ruído, a série escrita por Bruno Nogueira e realizada por Luís Araújo, é um espelho torto do nosso tempo.
Uma espécie de distopia realista onde as personagens andam perdidas, anestesiadas, com medo de parar.
E a Gabriela, que também lá está, entra nesse universo com a mesma coragem com que se mete numa coreografia de perucas no Pôr do Sol.
Sim, o Pôr do Sol também veio à conversa. Uma série que parecia novela, mas era paródia. Um fenómeno cultural onde Gabriela interpretou — no mesmo dia, às vezes na mesma cena — três personagens diferentes. Matilde. Filipa. Salomé.
E uma atriz que, como ela própria diz, chegava ao fim do dia em orgia emocional, com a sensação de estar a viver um daqueles projetos que acontecem uma vez na vida. Onde tudo bate certo. Texto, elenco, realização, tempo, intuição. E felicidade.
No meio disto tudo, falámos também do que não se vê.
Da dúvida. Da vaidade. Da insegurança.
Da sensação de que às vezes é preciso alguém de fora para dizer: “isso não está a funcionar.” Falámos do ego. E do trabalho com diretores de atores — esse papel muitas vezes invisível, mas fundamental. A Gabriela não foge a nenhuma dessas conversas. E fá-lo com uma lucidez desconcertante.
Há ainda espaço para o drama. Para o cinema. Para O Som Que Desce na Terra, o filme que lhe valeu o Prémio da Fundação GDA e a nomeação para os Globos. Um papel duro, silencioso, inteiro. Que a esvaziou e a preencheu. Como só os grandes papéis fazem.
E depois há a Gabriela que canta. Que sonhava ser a Carolina Deslandes, mas não aprendeu a escrever letras.
Que teve uma banda. Que ainda sonha com a Broadway.
Que canta nos musicais e sorri como uma criança quando fala disso. E que diz, sem hesitar: “Cantar é a coisa que me faz mais feliz.”
Esta conversa tem tudo isso. Tem humor. Tem densidade. Tem falhas, dúvidas, pudor, vaidade. Tem memória curta e intuição longa. E tem uma atriz que nos deixa sempre a pensar: qual é a Gabriela que vai aparecer agora?
E essa talvez seja a melhor definição para ela: uma mulher que recusa ser um rosto fixo. Uma atriz que muda, que se desmonta, que se reinventa. Uma artista livre — que leva a sério a arte de fazer rir. E que sabe que, às vezes, é mesmo no ridículo que se diz a verdade.
Esta é, sem exagero, uma das conversas mais completas, mais soltas, mais ricas que já passaram por este programa.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO0:00
Viva Gabriela Barros, a atriz.
Tu estás na moda porque agora decides fazer o ruído, decides aparecer no taskmaster e ganhar o taskmaster.
Queres apresentar te às pessoas que ainda não te conhecem?
Para aí 2.
Olá, sou a Gabriela de Barros, sou atriz, mãe, mulher, guerreira, não, como é que?
0:23
Tu te vês?
As pessoas que não sabem?
Tu nasceste na Bélgica, estiveste lá até aos 18 anos.
E depois disseste assim, e agora vou para Portugal, vou tomar conta daquilo mal.
Sabia?
Eu.
Quer dizer, não, mentira.
Eu já sabia exatamente o que é que queria fazer.
Se há, se, se há alguma coisa do que eu tinha certa na minha vida é que eu queria fazer qualquer coisa com artes, ou fosse a cantar ou fosse representar.
0:43
Ainda não sei se estava muito certo na minha cabeça quando.
É que descobriste, quando é que te viste como como atriz?
Olha, é uma ótima pergunta, porque eu, na verdade, foi quando decidi começar a estudar que demorou um tempo.
E eu achei que era que era desnecessário ir tentar estudar música, porque achei isso.
1:02
Ninguém, nenhuma cantora pop faz sucesso a ter um canudo, não é?
Então não é preciso, portanto, foste treinar e pensei, olha, vou então tentar a representação.
E assim foi.
E comecei AA estudar EE pouco tempo depois saí para ir logo trabalhar e então.
1:19
Começaste por onde?
Olha, comecei por uma série francesa, ainda estava eu.
Acho que foi antes do conservatório, ou depois, ou no meio, já não sei.
Cronologicamente, eu perco me um bocadinho e comecei por uma série francesa de época.
Muito gira e pouco tempo depois fui chamada para fazer casting para os morangos com o açúcar.
1:40
E é aí que todos nós te descobrimos.
Alguns, alguns.
Pelo menos a geração, a geração mais nova.
Olha, já vamos falar das das das 2 coisas, o ruído que é seguramente.
Uma série de cultos está na RTP do Bruno Nogueira Oo mais louco dos task Masters, que é também extraordinário, mas interessa.
2:00
Muito.
E eu não ganhei esta última temporada.
Tu estás a dizer que eu ganhei?
Isso irrita te muito.
Claro.
Sou extremamente competitiva.
Não sei se já perceberam.
Aquilo é feito, aquilo foi feito para ti, não é?
Aquilo é a.
Série que tu ganhaste que é dos sapatos.
Sim, esta porque eu estava grávida.
2:16
Estás numa casa no meio de muitos, muitos sapatos, a tentar encontrar pares.
O que é que é?
A memória?
É essa EE não encontras.
Sim.
Mas o ponto daquilo e é mesmo bom são as as tuas caras de frustação, aquilo não é treinado certo.
2:37
Não, não de todo.
Aquilo é improviso e montagem.
Não, aquilo é é extremamente improvisado e extremamente EE guardado num secretismo pela parte por parte da equipa.
Incrível.
Nós eles não nos deixam comentar.
Entre porque há há dias que 2 ou 3 concorrentes estão juntos nos bastidores o dia inteiro para fazer provas.
2:55
E entre provas, nós estamos ali e eles não nos deixam sequer dar a entender o que é que aconteceu durante os 45 minutos que nós fomos abduzidos.
E voltámos com cara de frustrados ou não, mas a equipa não nos deixa comentar entre nós, portanto, quando nós estamos lá a ver as provas uns uns ao lado dos outros, é mesmo genuíno, nós não fazermos ideia, o que é que aconteceu com o outro?
3:18
EEE, enfim, EE, por isso é que eu acho que o programa também tem a magia e guarda essa magia, porque é muito mais giro descobrirmos as catástrofes que nós fizemos, uns ao lado dos outros, é muito.
Gira quanto pior, melhor.
Ah, sim, eu já.
3:34
Eu já não tenho a mesma.
Quer dizer, não fuçanguice eu tenho.
Eu sou muito fuçanguinha, muito fuçangona para ganhar, gosto muito.
Mas mas eu também percebo que quando a coisa não dá certo, também é, é é positivo o resultado, porque às vezes dá, dá, dá olhada, essas provas catastróficas dos dos sapatos e de não sei quê.
3:53
Essa foi muito catastrófica.
Quais foram as mais maquiavélicas, as mais difíceis?
Essa foi bastante, ou seja, essa essa parecia de tortura interminável.
E sei lá, sei lá, sei lá, mas há há umas muito giras.
Eu gostei muito desta última temporada, do um carrinho ali no estacionamento às vendada.
4:14
Essa foi muito aqui.
À vontade há 11 momento nesse, há obviamente a dinâmica.
A tua dinâmica com o com o markl é muito engraçada, porque tu ora és a pobre donzela frustrada na Câmara, ora a maquiavélica que castiga o próprio markl.
4:35
E essa e essa dinâmica é muito interessante, mas fica me na memória um momento mágico da tua criatividade, que é uma claramente uma prova.
Em que tu pareces vazia que não tens nada de?
Parar muitas vezes.
4:51
E de súbito inventas o poema do pato.
Ah.
O pato e o sim explica me esse processo criativo.
Vá, deixa me entrar na tua cabeça.
Às vezes é mesmo partir do vazio e saber que nós temos que entregar alguma coisa daí a uns minutos.
5:08
E é o que há.
Esse foi mesmo.
Vou pôr um pato a sapatear.
Eu já nem me lembro qual era AA proposta da prova, já não me lembro.
Era fazer um texto à volta de uns sapatos.
Não, não, não, não, não.
Esse foi o que eu acabei por fazer.
Mas a prova eu acho que era fazer uma coisa muito estúpida, não, não, isso era outra.
5:28
Bom, já não me lembro, mas era qualquer coisa que envolvesse o pato e eu não tinha nada e eu lembrei me disso, pronto.
EE, às vezes era um no puro desespero, pronto, que nós temos que nos safar e entregar qualquer coisa.
É do tédio que nasce a criatividade.
Muitas vezes sim, às às vezes também.
5:47
Eu acho que é de trabalho árduo e de ter que entregar coisas a certas alturas EE aquilo com que em que pensamos, até ao dado momento em que temos que entregar essa tal tarefa pronto.
Às vezes é o que é, mas.
Mas muitas vêm do do ócio, de não fazer nada, não é?
6:04
Olha.
O que é que?
O que é que tu aprendeste?
Do do tacmaster ou no?
O que é que aprendeste sobre ti No No no tacmaster?
Olha, aprendi uma coisa muito curiosa, curiosa para mim.
Eu eu sempre fui, acho eu, bastante reservada em relação a mim.
6:22
EEE.
Gosto de manter também essa faceta sendo atriz.
Ninguém diria.
Mas.
Estás a falar da da reserva da tua vida privada da.
Minha vida privada ou mesmo ou mesmo de.
Eu acho interessante um ator manter algum, algum secretismo, algum mistério, algum, algum mistério, mas não de uma forma antiquada das divas dos anos 6070 do cinema, não é isso?
6:47
É, eu gosto que as pessoas também não tenham uma ideia fixa daquilo que nós somos, que é para nós podermos também nos transformar naquilo que quisermos.
Mas isso tu tens, tu tens uma plasticidade.
Nos teus vários registos, eu eu nunca sei qual é a Gabriela que vai aparecer ali naquele.
7:03
Momento AI, que bom que.
Grande eu não.
Eu não consigo.
Já já vamos saltar para um tema que é que tem a ver com o ruído e que e que eu achei fascinante.
Ainda por cima estamos.
Estamos na rádio, que é o momento em que tu apareces com um microfone a fazer aqueles vídeos que agora estão na moda.
7:20
Há SMR.
Há SMR que são sonzinhos os.
Essas coisas.
Que estimulam partes do cérebro não sei o quê, sim.
Mas aquilo funciona porquê?
Funciona porque eu, quando fui fazer a pesquisa, fiquei fascinada.
Eu adormecia umas 2 noites ao som daquelas coisas, daquelas, daqueles som.
7:36
Ao início, achei idiota.
E depois pensei, olha, está bem.
Olha que isto ainda tem um fundamento científico.
Em princípio, isto é tolo, mas afinal, funciona?
Até admirei a arte, sim.
Mas depois há ali eu?
Não, eu não sei.
Que texto estava escrito?
Oo ruído.
A série tem guionistas.
7:52
Ah, sim, sim, sim.
Entre eles, o Bruno, o Frederico.
Regaio de texto que está escrito para que a Gabriela apareça a dar um linguado ou um linguado, ó peixe verdadeiro a fazer 11 açorda Na Na careca duma.
8:08
Aquilo está tudo escrito, ipsis verbis.
O que nós dizemos?
Tudo, tudo sim.
Quantas vezes repete aquilo?
Aquele.
Repara aquilo.
Não deu para repetir muitas vezes, demorou muito tempo.
Havia pouca absurda.
Havia era pouca careca para pôr a açorda.
8:26
Aquilo desmilingue IA para um lado, caía para o outro.
Enfim, foi uma arte pôr 11 açorda chefes de estrelas Michelin.
Tentem, porque é um, é uma tarefa.
Pode ser um prato?
É um prato.
Venha aqui ao nosso restaurante Michelin, onde Gabriela faz um happening.
8:42
Que é colocar uma açorda na cabeça de um caneca.
Exato, não.
Mas é tudo escrito?
É.
Tudo escrito.
Tem, tem, teve 55444. 4.
Guionistas é o é o Bruno Nogueira, o próprio criador do programa é depois o Frederico pombares, o Carlos Vilhena Coutinho e o Luís Araújo.
9:02
E esses guionistas são assim inaturáveis.
Carlos Coutinho Vilhena AI eu sou péssima.
Carlos Coutinho Vilhena enganei me não foi AI sou péssima com nomes.
Desculpa, Carlos e.
E eles, EE, quem é que dirige aquilo depois?
Depois há um realizador.
Sim, sim, sim, sim.
O Ricardo fez os sketches.
9:18
EE depois Oo Tiago realizou a parte mais mais densa, mais dramática da série, mas foi o Luís Araújo que que fez a direção de atores junto com o Bruno.
O que?
É que faz um diretor de atores, desculpa a minha ignorância.
Olha, melhora muitas vezes o nosso trabalho, muitas.
9:36
Eu adoro ter um diretor de atores que me guie.
Depois também é uma sorte de tu teres alguém que tenha a mesma visão que tu dentro do trabalho e isso é mesmo é 11 amálgama de sortes para um projeto dar certo.
É tu teres alguém que realize e que tenha uma visão parecida com a tua, um diretor de atores que te seguiem no sentido que tu achas?
9:57
Também válido, mas que te dá dicas, como é que?
Muitas vezes te dá dicas que muitas vezes tem o olhar de fora que diz aquilo que não funciona, que tu estás a fazer, que achas que é que estás a ser brilhante e às vezes tens alguém de fora que diz isso não funciona.
Então, então, e o ego, o Gabriel?
O ego, às vezes é é uma profissão em que tem que estar sempre a ser trabalhado.
10:15
Quer dizer, porque por um lado, eu quero imaginar que.
Um ator, uma atriz, uma Diva, tu começaste uma francesa a partir deste momento.
És.
Sou uma Diva, uma Diva não.
Eu gosto, eu não devo, não me importo, não.
Faz uma Diva a partir de agora e, portanto, em princípio, como boa ferramenta de trabalho, uma atriz tem que ser vaidosa ou não?
10:39
Olha, não sei eu, eu acho que.
Perguntando te diretamente, tu és vaidosa?
Sou, sou, sou, sou.
Na minha, na minha vida pessoal.
Sou bastante agradecer.
Pronto, eu, tu, tu tens neste momento tens 11, filha, uma filha.
É, é muito engraçado, porque eu eu vou partilhar.
10:55
Partilhar?
Quer dizer, os os os homens não percebem nada das mulheres, não é?
Tu sabes.
Quer dizer, gente.
É o que vocês tentam.
Não é oculta.
Não quer dizer não, não.
Nós apaixonamo nos não é.
Quer dizer.
E então têm que tentar.
Não sobreviver não fica é uma EEEEEA.
Minha filha Sofia, agora, agora já crescida no quando quando ela tinha para aí 3 ou 4 anos.
11:14
Foi a primeira vez que eu acho que tive um vislumbre do do do como, como?
Uma vaidade feminina, não?
Não é não é não é vaidade da luz.
Da da, da eu nasci para para ser olhada e para ser para para estar aqui.
Por isso é que eu te estou a perguntar, como é que?
11:30
Como é que tu que és uma atriz muito bonita, além de quer dizer as outras características que tu tens, como é que depois levas com um com um chato de um diretor de atores que que disseste pá.
Eu estive aqui 3 dias a pensar e a preparar aqui a minha personagem e agora este diretor diz, me, olha que isto não vai funcionar, olha que o ritmo não é bom, olha que tu estás a pensar alguma coisa, como é que, como é que é essa?
11:53
Eu, eu ser milhando de energias, imagino.
Sempre tive a sorte na maioria dos trabalhos na maioríssima, na maior parte das vezes, de ter tido o diretor de atores fantásticos.
Por exemplo, nos morangos.
Comecei com o João pedreiro, que é um ator, um diretor de ator e ator também, mas maravilhoso, muito sensível e muito atento ao trabalho de um ator.
12:16
EE de perceber a narrativa.
Foi aí que eu comecei a trabalhar e, sinceramente, o.
Começa se muito inseguro como ator.
E não sei se tenho a coisa do do síndrome do impostor, que hoje em dia toda a gente diz eu não me revejo.
12:32
Se calhar muito nisso.
Mas.
Mas compreendo.
EEE.
Aceito que haja muita gente.
E mas, sobretudo, eu fiz isto e sou muita boa.
Não, eu quero saber não de todo, mas estou, estou.
Mas acho, acho que acho que leva algum jeito também.
Já daqui a alguns anos.
E as pessoas vão me chamando, acho eu, por alguma razão, não é só pela minha simpatia.
12:49
Olha, antes quando?
Antes de nós, quando.
E às vezes podem correr uns uns trabalhos menos bem, outros menos mal.
Mas nem por isso eu me vejo num lugar de sou uma impostora, não estou aqui a fazer.
Eu devia era de ter uma loja de flores e de todo e não devia estar aqui.
Como é que?
Como é que tu lidas com as coisas que correm mal?
13:06
Tento lidar com fair play porque acho que que não vale a pena.
O que está feito, está feito.
Em televisão isso é muito mais difícil, como em cinema, porque o que está feito fica fica registado para todo o sempre e em teatro isso é muito mais.
13:25
É é muito mais simpático.
Passou, passou.
Essa passou.
Amanhã há mais para a semana, há mais.
Tenho mais 3 meses pela frente e vou aperfeiçoando.
E acaba por ser uma hipótese de tentar também dentro das linhas que o que o encenador deu, tentar ir aperfeiçoando uma coisa ou outra, mas mas não, não.
13:48
Foi engraçado.
Eu lembro me de estar, olha eu outra vez, citando outra vez os morangos, quando estava a começar EEE, uma das professoras lá na escola de era a Mafalda Vilhena.
E eu lembro me nós, na altura, tínhamos muitas cenas para gravar por dia.
14:04
Era mesmo muito.
Aquilo é uma fábrica para as pessoas que não.
Que não.
Sim, na altura.
Então, era mesmo.
O que é que é?
Não as novas temporadas que estão a sair.
O.
Que é que é muito, muitas cenas.
Ah, eu cheguei a ter 40 e tal cenas para gravar por dia por.
Dia, há texto que aguente isso.
Na cabeça?
14:22
Na cabeça, sim, sim, há cérebro, não é não?
Muita, muita exaustão, muito cansaço.
O que vale é que nós queríamos muito estar lá e fazer as coisas e tal, mas, mas, mas que era de facto, muito trabalho.
E eu lembro me de ficar frustrada e ficar AI, esta cena não me correu bem, não sei quê.
14:38
E eu lembro me que a Mafalda disse, olha, com o com o grau, com o nível de trabalho que temos, não dá para todas as 40 cenas serem fantásticas, portanto, tens é que te focar em 2 ou 3 que que queiras muito, que dêem certo.
EEE leva isso para ti, para a vida, ou quando fores fazer novelas, que é também um registo de trabalho muito denso, com muitas cenas por dia e muito.
14:57
Então isso foi 11 das dicas que eu aprendi também.
Olha, também está tudo bem.
Cultivas a memória de peixe.
A memória de peixe, nunca.
Ouviste falar da memória de peixe, qual aquela AI?
Eu sou 11 autêntico peixe, um autêntico aquário.
Aquilo aquilo acontece.
Ah, eu sou essa pessoa na vida, corre.
15:13
Bem, corre mal 3 segundos depois já não queremos saber, já estão noutro?
Os meus amigos vão se rir, se ouvirem.
Isto porque eu sou o peixe ou o aquário ou as algas dentro do aquário.
Eu sou isso tudo.
Eu sou a pessoa que, meu Deus, eu estou muito preocupada.
Aliás, faço um apelo a Portugal.
Porque eu não devo durar muito tempo?
15:30
Porque eu, com a memória que eu tenho, é uma triste.
Curiosamente, com o texto dá se ali um fenómeno muito estranho que vou me lembrando.
Entra dentro de ti e tu vais construindo.
Mas acontecimentos e coisas e pessoas, às vezes tenho mesmo muita nomes, então hoje em dia.
15:46
Caras, mas caras funcionas.
Não também já não, não como antigamente.
Olá, quem és tu?
Às vezes chego a casa e digo, Hum, uma criança olá.
Pode, se pode se partilhar.
Que que tu tens uma criança?
16:01
Agora vem, vem a caminho uma segunda criança.
Pode ser.
Portanto, o primeiro filho muda a nossa vida, o segundo acaba com ela.
Não digam isso.
Eu ando a tentar manter as esperanças, porque também já não vou a tempo de fazer nada.
Portanto, agora ele vai ter que vir.
Não.
16:17
Mas eu, eu, eu, eu fico triste.
As pessoas desmoralizam me muito.
Estou a brincar mais ou menos e a tua e a tua filha já, já já te imita.
AI ela é muito cómica.
Eu sei que todos os pais dirão assim, está bem, é o meu também, mas o meu grande o.
Meu filho é o mais giro do mundo, sim.
16:33
O meu é um prodígio, a minha, a minha filha é um prodígio.
Se chegar futebol em Cristiano Ronaldo?
Sim, sim, mas ela tem muita graça.
Ela faz me rir muito.
E eu e esse era um dos meus grandes medos.
Eu AI.
Olha, ela até pode vir fainha, mas pá, que ela perceba o meu sentido de humor e que haja aqui uma troca, porque senão fica muito difícil a vida assim e graças a Deus veio muito lindinha.
16:56
E por acaso até te parece com 1 ano e 9 meses, não faz rábulas de comédia, não é?
Mas pronto, mas.
Mas faz birras desespera te também ou não AI.
Sim, claro.
Como uma criança saudável de 1 ano e 9 meses?
Sim.
Espero, espero que sim.
Olha olhando para o ruído e eu vejo.
17:13
Aquela série num momento de de grande ruideira pública, que é onde?
Que é onde nós estamos, aquilo parece me ser uma série sobre o vazio, porque há há ali momentos em que.
Em que os personagens parecem desamparados à procura de qualquer coisa, está está sempre alguém a pedir 111 boia para para para ir à procura.
17:38
Há há cenas onde onde tu estás, há há 11 cena tua de uma entrevista em que em que o desgraçado do comentador, que é um especialista militar, cabe à guerra e que ele dizia, agora o que é que eu faço?
Vou perder o emprego?
Ó meu Deus.
EE tu estás com o ar mais.
17:57
Entre o admirado e o surpreendido.
E o que é que nós fazemos a isto?
Como é que se treina para fazer isso?
Como é que tu te treinas?
Como é que eu me treino?
Sim, como é que tu desenhas os teus então?
Aí estão aí várias, várias, várias perguntas numa só, não é?
Desculpa.
Sabes que a pergunta é simples?
18:13
É uma.
É uma falácia.
Eu ouvido sempre as.
Pessoas primeiro, olha, é, não tinha, quer dizer.
Tenho a noção do desse vazio agora que mencionas também, mas mas não era OOOA imagem principal que ficou para mim da série mas mas tens toda a razão.
18:30
Aquilo parece negro, parece 11 lugar, um lugar de ninguém, não?
É mesmo aquelas imagens de silêncio, em que parecem as pessoas a rir aquilo a mim de que eu, eu, eu não, eu não me Rio com aquelas imagens eu olho.
18:46
Para tu e.
Há uma estranheza, não é?
Eu, eu, eu Rio me da, eu Rio me das desgraças que vão acontecendo ali.
Essas estão vontade de rir.
EE dos risos, não me apetece.
Há aqui uma parece uma contradição.
E acho que AA série também anda sempre nesse Balanço, entre entre o riso e o drama também EEOEO hipotético, real, não é que pode se vir a ser a nossa sociedade e já lá estamos.
19:11
E não já lá estamos, não é?
Exato.
Eu tenho sempre às vezes medo de de pôr em concreto as palavras, mas.
Mas é um bocado isso é.
Não sei se tens visto as caixas de comentários de que de que aparecem das.
Não, não sou, não sou essa fanática de leitora de comentários, mas.
Vale vale é, é.
É mais ou menos como como dar como dar um microfone num casamento aos tios bêbados.
19:33
E depois esperar.
O que é que acontece?
Há.
Uns brilhantes e há outros que era bom cair dentro da piscina.
Há um.
Brilhante EE 9 que vão estragar a festa?
Basicamente, é isso que acontece.
Só que não dá para, não dá para, não dá para conseguir mudar.
Não mudar isto não, porque lá está vivemos aparente bom, pelo menos por enquanto, uma democracia em que ainda se pode ter Liberdade de expressão e dizer o que se pensa.
19:58
Mas sim, mas, mas acho que a série proposita.
Eu acho que nestes momentos, neste.
Momento, sim, mas estou a pensar até no politicamente correto, se tu disseres alguma coisa que ofenda alguém ou que saia da matriz, ou que ofenda um determinado grupo de pessoas especialmente ativas nas redes sociais, se calhar essa Liberdade de expressão não é assim tão direta e imediata.
20:23
Não, não de todo.
E estamos a ver agora vários movimentos também a acontecer, não só cá em Portugal.
Enfim, sabemos do que é que estou a falar e também lá fora, pessoas a serem presas por por terem.
Por terem falado.
Por terem falado, por terem feito piadas, por terem, enfim, e o quão e o quão certo ou errado isso possa estar, não é?
20:44
É essa, é.
São esses os tempos difíceis e complicados com que com que nos estamos a deparar de um certo extremismo neste momento.
EEO medo é que haja essa regressão de nos calarmos todos.
20:59
E então ficou o quê?
Passamos a ter medo, olha, voltamos à construção dos teus bonecos, dos.
Teus Ah, perguntavas me se eu tinha como é que tu fazes?
Qual é o meu processo?
Tratas o texto primeiro incorporas aquilo, sentes, o que é que lá está, ó?
Pá e agora vai ser o momento em que eu digo não faço.
21:16
Nada em que eu revela é natural, é como beber um copo de água.
Não, mas, mas, mas eu não tenho um.
AI, AI, não tens um método?
Eu sinto sempre que eu devia dizer que tenho, mas não tenho, não tenho, não tenho, não.
Não tenho muito um método, não tenho um método particular ou ou ou recorrente para as coisas que faço ou que de alguma forma, quando a comédia, que é muito mais específico, é um trabalho muito mais específico, diferente do drama.
21:49
É mais fácil fazer chorar ou fazer rir?
Acho que os 2.
Os 2 são complicadíssimos.
EE tramados depende muito do texto que se tem.
Se um texto de comédia for muito bom, é pá.
Quase que não tens que sinto que quase que não tens que fazer nada.
22:05
Se um texto dramático for excelente, tu só tens que proferir o que está ali escrito.
Mas tens que gerir o timing, tens que gerir a forma.
Claro, eu diria que que o timing é uma coisa que dirão muitos que se trabalha.
Não sei.
Eu sou, se calhar apologista de que se nasce um bocadinho com um ou não.
22:22
As sortudas, sim.
E se calhar, não sei, não sei.
Há pessoas que naturalmente têm esse timing.
Eu, eu, eu, eu sou muito leiga, eu estou aqui a falar, eu sou muito leiga em tudo.
Eu, eu nunca acabei o conservatório para estar aqui, a dissertar coisas, estou a falar do meu método.
22:37
EE não acabaste porquê, porque olha.
Porque comecei a trabalhar e pareceu me muito mais divertido.
Que horror, nunca tirar umas pessoas muito chatas que.
A minha mãe, com muita pena.
Da minha mãe que ela queria muito que eu acabasse o conservatório.
Nunca o acabei.
Se calhar, um dia ainda me dedico.
22:53
Não sei, EEE cobrou te isso, fala disso.
Não, não.
A minha mãe nunca me cobrou estudos.
Nenhuns que foi maravilhoso, foi, foi sempre olha o mínimo para passares, que é para eu não ter que me chatear e pronto.
E foi foi perfeita nesse sentido.
E o teu pai ao meu pai também a.
Tua mãe portuguesa, o teu pai brasileiro.
23:11
Os 2 encontram se algures em em Bruxelas.
Não, não numa travessia do Rio de Janeiro para Lisboa.
No avião?
Num navio, num navio, navio nos anos 70 ou 80.
Conta me essa história.
A minha mãe foi visita.
Não sei porque é que tu sabes dessa história.
Sei, sei, sei bastante, sei bastante.
23:27
A minha mãe foi viver 78 anos para o Rio pouco depois do do 25 de abril.
EE ficou lá uns 78 anos.
EE depois, quando voltou, cruzou se com o meu pai no navio.
Onde o meu pai estava a tocar, era músico e estava, era e é ainda estão os 2 vivinhos da Silva e pronto e conheceram se lá e assim foi e a minha mãe, entretanto, engravidou do meu irmão e depois engravidou de mim e quando engravidou de mim entrou para a comissão europeia e foi para lá trabalhar pronto.
23:56
E este, assim resumidamente, é isso.
Uma história bonita.
Quem sabe dará uma série para mim?
Não sei.
Olha OOO humor.
É uma ferramenta séria ou é uma coisa que tu fazes para divertir os outros?
24:13
Como é que tu olhas para para a maneira como tu constróis algo que faz rir as pessoas?
Uau.
Essa essa pergunta.
Vejo várias respostas.
Se é uma ferramenta séria, em que sentido?
Bom, há bocado há bocadinho estavas a dizer me OKA, minha filha quando nasceu.
24:31
Ainda bem que me faz rir o.
KOK deste me, deste me um caminho, OK?
Para mim é uma ferramenta essencial na minha vida para tudo eu é um lugar comum e clichê dizer Ah, é um homem.
Para me interessar, tenho que ter sentido humor, mas isso para mim é mesmo fundamental.
24:49
E assim como um parceiro de vida, digo, amigos, pessoas à minha volta muito que te fazer rir.
Na generalidade, todos os meus amigos são bastante.
São bastante engraçados.
Quer dizer que os sorumbáticos e aqueles que não têm graça em princípio?
Não.
25:05
Mas há sorumbáticos com imensa graça, com imenso sentido de humor.
Há.
Há pessoas.
Bastante mal na vida, com imenso sentido de humor em que a vida lhes corre muito mal e com muito sentido de humor, não é?
25:21
Eu, desde que me façam rir.
Oh, a vida pode estar a correr.
Mal olha se faz me rir, a sua vida é uma verdadeira desgraça.
Mas faça me rir, sim, que eu não não estou aqui para levar a conduzir, não estou a brincar, mas mas sim, mas gosto para mim é é uma ferramenta.
Então responder à tua pergunta é uma ferramenta essencial na vida e.
25:41
E pronto.
E no trabalho, quando tenho que o fazer?
Quando tenho que fazer humor?
EEE.
E é um trabalho ou é uma coisa que te sai dos poros, no teu caso?
Eu eu acho que que naturalmente, Na Na minha vida, gosto muito de ter um olhar um bocado.
25:58
Enviesado.
Enviesado?
Obrigada.
Estou à procura da palavra.
Enviesado sobre as coisas, é mais divertido, é mais.
É mais leve, é mais.
Ver a coisa do lado, do lado oposto à que as pessoas estão a ver, ouço muitas vezes os.
Não especial, mas eu para me entreter a mim próprio não é só para te divertires só para me divertir, só para.
26:16
E é será instintivo porque eu se calhar desde miúda que o faço e eu desde miúda que sempre, como estamos aqui, a andar às voltas a voltar atrás em assuntos, mas se calhar quando tu falavas da vaidade, eu como nunca me vi como.
Uma rapariga linda ou e não sou daquelas de virar a cabeça.
26:34
Enfim, quando me arranjo, acho que acho que faço boa figura.
Podemos definir o que é que é isso de uma rapariga linda, de virar a cabeça.
AI há algumas de algumas em que uma pessoa que elas entram e parece que vem um vento atrás e os e os cabelos abanam que tem Maura, sim, e deixam o rastro de folhas e flores lindas pelo caminho.
26:50
Sabes?
Isso é nos anúncios.
Quer dizer, acho que está a vida real ou na mesma vida é.
Assim que eu as vejo.
Boas ou más, conforme.
Em que as pessoas ficam sabes com o bocado esparguete pendurado e a e a virar a cabeça.
E as namoradas, então?
Então olha para mim pronto, eu não, nunca.
As namoradas, ciumentas.
As namoradas ciumentas e possessivas, mas eu eu acho que não.
27:08
Eu, quando era miúda, não me via de todo assim, então eu acho que naturalmente tentava cativar por outro.
Por outro lado, EE sempre tive figuras femininas também muito engraçadas na minha família.
A minha avó, também tendo nascido nos anos 30, também sempre foi uma mulher diferente do seu tempo, com muito sentido de humor.
27:24
A minha mãe também o é, então eu acho que também.
Comecei a comecei a comportar me assim na vida.
Olha, é mais fácil ser mulher hoje ou do no tempo da tua avó ou da tua mãe.
27:42
Eu acho que.
Ou da tua filha a seguir?
Eu acho que são são tempos diferentes que pedem também comportamentos diferentes.
Se é mais fácil, é mais fácil no sentido em que que nós.
Estamos a tentar existir e estamos a tentar ter um lugar de igualdade perante um mundo claramente se calhar até hoje, levado mais pelos homens do que por nós.
28:08
Temos feito os nossos progressos.
Eu acho EEEE constantemente a tentar EAEE.
Acho que nós próprios a acordarmos também para essas para essas diferenças.
Eu quando cresci nos anos 90, eu não tinha noção que o mundo era assim tão diferente para as para as mulheres como para os homens, ou.
28:25
Ou que nós não tivéssemos as mesmas?
Oportunidades ou porque não?
Tivéssemos os mesmos salários ou?
Por isso, porque há a mesma diferença, por exemplo.
AI sim, sim, sim, sei de sei de colegas que se calhar homens que não, que ganham diferente das mulheres sim, é uma, é uma, é uma realidade e não estou a falar só no nosso meio, estou a falar no mundo, é um, é uma.
28:47
Claro que haverá mulheres que dirão, eu ganho, eu ganho muito mais do que o meu colega.
Claro, há sempre exceções, mas.
Se formos pôr isto mesmo na pauta, eu acho que há.
Há diferenças salariais, sim.
EE não só e de e de e de liberdades de comportamento e de aceitação de comportamento de homens versus das mulheres.
29:08
Vê se hoje em dia bate bocas absurdos em parlamentos em por serem mulheres pura e simplesmente e, portanto.
E quem EE portanto um parlamento é, é, é o reflexo da sua sociedade, não é?
E, portanto, se vermos isto em lugares em que as pessoas andam de fato e gravata, o que é que não não acontece na rua?
29:30
É, é claro que eu sou uma mulher privilegiada nos tempos de hoje, portanto, também não sei se terei um lugar de fala absurdo, de dizer, de poder dizer, nós somos muito eu.
Eu tenho muitas facilidades na minha vida enquanto mulher, sei disso.
29:48
Mas acho que há haverá, há muitas no mundo inteiro que que terão muito mais esta realidade do que que eu estou a dizer.
E, portanto, sim, acho que é um caminho que, passo a passo, estamos a construir.
Se nos nos anos 30 acho que não era de todo 11 realidade percetível para muita gente.
30:07
Pelo menos falo na minha família, que é o exemplo imediato que eu tenho.
Eu não sei se a minha avó nos anos 30 tinha tanta noção das prisões sociais que era.
Refém.
Havia uma cultura.
Havia uma cultura, sim, sim, sim.
Olha falando de 3 mulheres que tu conheces muito bem de seu nome, Matilde, Filipa e Salomé.
30:28
Assustaste me com a sua amiga Matilde.
Matilde.
Matilde.
Quem é a Matilde?
A Matilde.
Ainda tenho memória para isso, a.
Filipa e a Salomé são 3 personagens que tu improvisaste na mesma série que é em pôr do sol, que é daquelas séries que eu a primeira vez que vi, no primeiro dia que vi aquilo.
Numa telenovela eu pensei assim, há algo aqui que não faz sentido neste texto.
30:47
E depois pensei, estúpido, isto é uma comédia.
Foste desse apanhado de.
Surpresa, isto não é possível.
O que é que está a acontecer aqui?
Mas este texto não faz sentido.
Depois apareceu a sequinha, com não sei quê e a gente?
Muito azuis.
E eu pensei nos sentes, OK, já fui apanhado.
31:03
Está tudo bem fazer 3 personagens na mesma série, diferentes como é, como é que é isto é o quê?
Gravaste a Matilde toda seguida, a Filipa toda seguida.
Em não, não, não.
Umas em cima das outras.
Foi um foi uma suruba, foi.
31:21
Foi uma grande orgia de de tu.
Disseste, agora és a Matilde.
Sim, sim, sim, sim, tudo no mesmo dia.
Então, cenas onde elas contracenavam uma com a outra, Ah, está feito o lado da da, da, da Matilde e agora vamos para o lado do Salomé e não.
Está lá ninguém para falar contigo, está?
31:36
Está, está, está, está.
Havia uma dupla que punha a minha peruca e ficava só assim a nuca e pronto.
EE ficava só a olhar para mim às vezes, sim, muito.
Houve dias de grande alucinação, de, como eu disse já uma vez, de tripolaridade, porque.
31:55
Foi um projeto muito giro, que eu guardo assim para o resto da minha vida.
Tenho às vezes receio quando as coisas são tão, tão, tão boas.
Até me vou emocionar porque estou grávida.
Posso?
Podes, podes sempre.
Não é, mas às vezes tenho medo de de que essa AI estou mesmo a emocionar de que essa?
32:11
Isso é ótimo para as audiências.
É ótimo.
Gabriela, não tens um, não tens 11.
Mas hoje em dia, limpa se assim não tenho as unhas de gelinhos gigantes, mas limpa, se assim nos cantinhos.
Mas tenho medo às vezes que essa Felicidade Extrema não volta a aparecer, porque são são raros esses momentos em que tudo dá certo, em que olha, o realizador é espetacular, a direção de atores é espetacular, os textos são maravilhosos, os atores à tua volta são incríveis e estás a fazer uma coisa com que te identificas a 1000%.
32:41
Isso é, é muito raro, muito, muito raro, uma produção espetacular, é, é mesmo?
E, portanto, às vezes penso, AI, será que vou ter outra vez 11 experiência destas fomos muito felizes.
E levas para casa?
Pedaços desses personagens, se alguma vez ou não.
32:57
Não, não levo ninguém para.
Não acho que não fica lá tudo, não.
Eu acho que quando estás a fazer, por exemplo, um drama intenso, é óbvio que há algo molecular dentro de ti.
Muda, não é?
Durante um dia inteiro tu estás a chorar a morte de um filho ou a morte de uma mãe, ou o que for muito trágico.
33:13
Eu acho que tu, ao fim do dia, estás de rastos.
Quer dizer, tens que fazer ali uma, tens que te reorganizar, um bocadinho só emocionalmente, não é?
Mas eu não levo uma forma de falar ou uma forma de me sentar, por acaso.
Não, não, não.
É é muito extenuante quando quando tens essas personagens.
33:29
Sim, já não tenho há algum tempo.
EEEE gosto e ultimamente falo muito de humor, como se percebesse alguma coisa disto.
Mas mas gosto muito de fazer também.
Drama EE.
E já não tenho assim uma experiência de estar assim meses a fio, a fazer uma coisa dramática.
33:49
Tu fizeste Oo som que.
Fizeste não, mentira, mentira.
O ano passado fiz OA série sempre do Manuel pureza, também para ARTPE.
Era bastante dramático.
Eu não vi, conta me.
Era uma série com vários episódios.
Agora não me vou lembrar do número, mas cada um contava uma história e algo iá e estavam todas interligadas em certos momentos do episódio.
34:11
E era dias antes do do 25 de abril, seguia várias personagens no seu caminho até ao ao dia e pronto.
Olha, o que é que te fascina, Oo texto, a história, o realizador.
Tudo isso, tudo isso junto?
34:28
Acho que não se pode dissociar umas coisas das outras.
É, é a experiência como atriz que eu vou ter a interpretar x personagem, personagem XEE é depois.
Obviamente, o texto importa muito, EEO realizador se trabalhaste ou não com ele.
34:46
Eu gosto sempre de trabalhar com pessoas ou que admiro ou que ou que ainda não trabalhei e que estou curiosa por gosto muito de ir conhecendo gente nova, EE de me expor a desafios também novos.
Mas é, é.
Tudo, tudo.
Olha, eu aprendi com o Filipe la féria que é sempre bom acabar com boa música.
35:06
E no outro dia, no ruído, precisamente ouvi te com a tua insistência, a quereres cantar.
E eu disse, olha, ela canta, então espera isto.
Isto é, portanto.
Era o meu tributo aos musicais.
Não.
35:21
E depois fui ver coisas que tu fizeste antes e pensei, mas ela canta mesmo, isto é mesmo?
Isto é mesmo, isto é mesmo?
É mesmo, de onde é que vem isso?
Desde miúda, desde que nasceu, isso é que era a minha verdadeira paixão.
Era tens uma banda, falas de uma banda, não é?
35:38
Que não.
Eu tive uma banda, mas mas o que eu queria mesmo ser era cantora, ou seja, adorava.
Adorava poder ser Carolina, deslandes dos nossos tempos, mas não sei escrever letras, não me dediquei o suficiente a aprender música e pronto.
E olha, o meu percurso não foi por aí, mas eu adoro cantar, acho que é das coisas que.
35:56
Não, não.
Acho que não há nada no mundo que me que me traga mais Felicidade do que cantar.
Por isso é que eu gosto muito de fazer musicais.
A arte de combinar as 2 coisas para mim é é uma purga emocional.
Maravilhosa.
Como é que se faz aquilo de de cantar e representar ao mesmo tempo?
36:11
Como é que?
AI, eu adoro, eu adoro, acho que.
Como é que se faz?
Não, não sei.
Chego lá.
Cobres a boca e cantas.
Cantas, então, quando tens um diretor musical fantástico como o Artur Guimarães, com quem trabalho quase sempre.
Tu és uma ofensa para as pessoas sem talento, desculpa esse que é.
36:28
Como é que se faz?
Eu chego lá e abro a boca e canto e não então decoro e faço 40 episódios.
Não tenho as minhas dificuldades e também tenho as minhas, claro, obviamente, e sofro também.
E acho que estou a fazer tudo uma merda.
Desculpem AA asneira, mas acho que estou a ser uma porcaria.
Acho que não está.
36:43
E depois, às vezes tenho grandes surpresas e às vezes dizem me, pois realmente não é o teu melhor trabalho e pronto.
E a e a vida cega?
E uma pessoa vai tentando.
Como é?
Como é que tu lidas quando, quando lês 11 crítica num jornal ou num ou num sítio qualquer, a dizer Gabriel?
37:02
Olha, às vezes magoa, às vezes dói, às vezes dependendo de quem é donde fores e do que for, às vezes também.
Gosta da pessoa?
Não.
No outro dia.
No outro dia ouvi uma coisa ótima.
Foi um espetáculo em que o senhor abordou me EE enfim, é um é um espetáculo que está, está, está a ver agora e que há vários autores que fazem o mesmo texto.
37:26
E o e a pessoa em questão abordou, me fez questão de me abordar para me dizer, você foi a menos pior.
Isto aí eu achei aquilo fenomenal.
Eu fiquei a olhar para o senhor e eu, OK, muito obrigada.
Boa tarde.
A.
Escala a escala dele está como?
37:42
Foi a menos pior.
Fico com estas, espero que lhe tenha, que tenha feito o seu dia.
Você foi o menos pior.
E eu pensei, pronto, olha, também é isso.
Às vezes não corre tão bem, às vezes as pessoas gostam, às vezes não.
Há muita gente que não gosta.
Nem do tassmaster, nem do ruído, nem de nem de pôr do sol, nem de nada, mas isso.
38:00
São pessoas que estão zangadas com elas próprias.
Não sei.
Ou então eu também acho que sim.
Secretamente, não é, acho.
Que sim, no fundo é assim, olhe, eu peço desculpa.
Eu comecei no cinema francês, eu estou a fazer aqui coisas que divertem as pessoas.
Não entendeu?
38:16
É, é, não pode ser, quer dizer, aqui.
Olha o que é que te falta fazer?
O que é que te apetece fazer?
Meter uma Cunha para entrar no rabo de peixe?
Não sei.
Ah, olha, não tive essa sorte.
Eu adorei aquela série.
Eu também também gostei muito.
Acho que há há há coisas fantásticas, há colegas extraordinários a brilharem, a fazerem coisas muito fixes.
38:35
Também fiquei muito fã.
Estou muito ansiosa pela segunda e terceira temporada.
E mas gostava de fazer, olha, gostava de fazer agora pronto, olha coisas internacionais, porque não?
Porque não?
Cinema, séries?
Sim, adorava.
38:51
Ah, bom, o sonho do sonho de uma vida fazer uma Broadway.
Olha, olha que espetacular, mas pronto.
Com 2 filhos neste momento, se calhar é uma coisa.
A Broadway, especificamente, não sei.
Sentes isso como um limitante, eu?
Acho que sim.
Assim, tão pequenos.
39:08
É toda uma jornada que se tem que fazer.
Eu tenho amigos que estão em links de Broadway e que pronto, tiveram que de facto perdão.
Ir à aventura e ficar tinha que mudar de país porque?
Aquilo é intenso.
É, tens que lá ficar um ano, 2 anos, sei lá são, são são temporadas grandes, mas mas sim, mas gostava, sobretudo sendo fluente em francês, em inglês.
39:30
Eu vou aqui deixar o meu correr bem, bem, bem.
Portanto, já sabem.
Essa é uma curiosidade que é tu estiveste fora do país até aos 18 anos, todavia, o teu português é absolutamente impecável.
É, é porque estudei na escola europeia, ou seja, para.
39:46
Que foi especificamente pensada para filhos de funcionários da comissão europeia.
Quando comprou?
O luxo, então, é assim, um oásis de de de muita gente que vem de vários sítios da Europa para ele para lá trabalhar.
EE portanto, italianos que depois têm professores italianos.
Os portugueses têm professores portugueses que são mandados em missão para dar aulas lá de cá de Portugal.
40:06
Portanto, nós assim, estudei sempre em português de Portugal e.
Eu agora estou a pensar aqui num num português que fala muito bem alemão, com quem tu trabalhaste também o Herman.
Sim, como é que é?
Trabalhar com o Herman é uma loucura.
É um é uma loucura e é um sonho.
40:21
E é e é e é uma honra e é um privilégio e que é outra coisa que às vezes também me emociona a falar, porque eu acho que é é uma sorte, é uma sorte.
É uma sorte ele ele ter achado que eu que eu valia a pena fazer parte.
40:39
O que é que ele te disse lembras te da primeira conversa que tiveste com ele?
Não porque eu tenho memória de peixe, não.
Mas eu lembro.
Me eu lembro me da primeira vez que participei no programa das 14 badaladas dele.
As 14 badaladas.
Era.
Era o programa que se chamava, que era o programa de fim de ano, que era o programa de fim de ano que ele tem e que ele tinha e fui lá e era e era assim, a mais novinha.
41:03
E fiquei muito lisonjeada e muito nervosa, e lembro me dele estar a ver um Sketch ao meu lado e a pensar, AI, meu Deus, que nervos se isto não é o casting mais nervoso?
Aquilo era um casting.
Não, não.
Mas parecia.
Para mim era e por isso, se ele não gostar, eu vou, eu vou.
Eu vou me embora amanhã, mas porque?
41:20
Ele, ele faz faz muito também de diretor, de atores.
Sim, ele, ou seja, ele ele, ele dirige.
Ele domina a ferramenta toda.
Absolutamente tudo, sim.
Portanto, as ideias são dele, de base dos sketches, quando não é ele a escrever a equipa dele, liderada obviamente por ele e, ou seja, liderada pela Maria João Cruz.
41:38
Mas mas depois, os os toques finais são todos dele.
E as retificações?
EE assim é para a, para a realização, para os atores, para o guarda roupa, para para a caracterização.
Todos sabemos que ele é extraordinário, mas o que é que ele tem de Oo?
Que é que para ti o define enquanto olha como enquanto artista de variedades, não é ele.
42:00
Voltei meia goza com isso, mas enquanto artista de variedades.
Ele é um génio autêntico, é um génio.
Eu acho que é um génio que tenho o receio.
Será que vai aparecer outro nas novas gerações?
É um génio EE cultíssimo ele.
42:18
Então, se eu se eu acho que tenho um olhar enviesado para o humor, não sei.
Ele tem um olhar com as pernas e com a cabeça para baixo.
É, é um é uma coisa mesmo.
Consegue.
Se é é das pessoas mais fascinantes a contar histórias, porque porque contas as sempre com.
42:37
Com um com um, com um travo diferente, com imagens que nos deixam alcionar de a rir.
É mesmo uma figura fora do e depois cultíssimo e fala te de tudo e tem referências de todo o lado que tu ficas sempre a parecer um desculpem, é 111 inculto 11.
42:57
Estás a aprender?
Um acéfalo ao lado, o que é que?
Ele te acrescentou.
Que.
É que ele te ofereceu?
Portanto, para já, para já 111 lugar, um emprego, um emprego um.
Bom, bom indício de conversa.
Um emprego e 11.
43:14
Lugar para estar todas as semanas a fazer o que gosto EEEA fazer me brilhar de alguma forma, porque ele dá nos também o nosso espaço para criar, para para existir ao lado dele e, portanto, sendo o programa dele.
Ele cria uma constelação.
Sim, somos ali, somos nós ali os 5, mas para mim, sim, criou me ali um espaço muito.
43:34
Muito privilegiado que eu sei que há muita gente que vê o programa dele e toda uma geração, várias gerações que cresceram com ele e inclusive as novas.
Portanto, é uma grande honra, sim.
Ele deu me várias coisas, inclusive a sorte de poder ter memórias um dia para contar ao lado dele.
43:52
Portanto, maravilhosas.
Gabriela, muito obrigado por teres vindo.
Olha, obrigada, eu neste. 13 de junho não estava à espera de uma conversa tão agradável.
Ah, mas isso foi um acidente e sabes?
Não é?
Pois foi, fui eu.
Não fui eu que te sugeri, não foi?
44:07
Eu pensei, eh pá, esqueci me completamente que era feriado.
No fundo, aquelas pessoas que quer dizer Ah, então pode ser no dia 13 e eu pronto, vamos lá concorrer com as mulheres de Santo António.
Toda os atores nunca sabem quando é que são os feriados, porque para nós não há não há feriados.
Eu nem arrisquei, eu nem disse, nem é melhor nem falar sobre.
44:24
Isso eu não me lembrava.
Mas olha, obrigada pela conversa.
Adorei.
Valeu mesmo.
Tudo, tudo, tudo.
Adorei.
Gostei mesmo, muito.
Obrigado Gabriela, obrigada.