Descrever esta conversa como uma entrevista é claramente uma ideia errada.
Nem quero arriscar ir por aí.
Talvez pudesse dizer que é desconcertante. Mas no mais belo sentido da palavra.
O Maestro António Vitorino de Almeida é uma ‘persona’ muito especial.
Mistura uma vasta cultura geral e musical com uma ironia e humor capaz de dinamitar qualquer dogma de que a cultura tem que ser algo sério e pomposo.
Apaixonou-se pela música através de uma bateria. E acabou como exímio pianista e criador de sinfonias.
Com ele falei sobre a música enquanto instrumento de comunicação universal. Não depende da língua, dispensa palavras e nem precisa quase de referenciais culturais para a entendermos. É como se a música fizesse sempre parte de nós.
O maestro que nos contou as histórias dos músicos desde Viena e que fez concertos em igrejas de aldeias confessa-se desgostoso pela falta da cultura da nossa Lisboa.
Mas se acham que a conversa é só sobre música, desenganem-se. Há um momento de fábula em que se conta a história de uma amizade com um búfalo no Jardim Zoológico ou como Moledo é o seu sítio de sempre.
Há tantas provocações e risos nestes minutos.
Do jazz que desafia os compasso mais quadrados e binários até ao cinema que valeu a Portugal o primeiro prémio internacional para Portugal.
E tudo porque Vitorino de Almeida teve de aprender a realizar os seus próprios programas em Viena porque os realizadores eram demasiado caros.
É Portugal continua na mesma: todos a desenrascar qualquer coisa para que algo aconteça.
E depois transformamos dificuldades em saudades e seguimos.
Tópicos da conversa:
(0:00:13) – Início do episódio: Discussão sobre o papel da música como ferramenta de comunicação e o papel do maestro António Vitorino de Almeida na transformação musical e cultural de Portugal.
(0:04:50) – A experiência do maestro em Viena
(0:09:30) – Reflexão sobre a universalidade da música e a experiência do maestro na direção de programas de televisão.
(0:14:24) – Início da discussão sobre a evolução do jazz e da ópera e a sua influência no cenário musical.
(0:21:40) – Reflexão sobre como o jazz introduziu o acentuar dos tempos fracos e a grandiosidade da ópera dos séculos 17 e 18.
(0:29:10) – Discussão sobre como a música má pode atrair pessoas e transformar-se num negócio.
(0:35:10) – Início da discussão sobre a possibilidade de transmitir sentimentos entre diferentes espécies de animais.
(0:42:00) – Reflexão sobre a experiência do maestro de viver em harmonia com a natureza e a inteligência natural dos animais.
(0:49:44) – Início da discussão sobre o impacto do turismo em Lisboa e a cultura local.
(0:51:30) – Opinião do maestro sobre o uso de instrumentos tradicionais e a música de Madonna.
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0:00:13 – JORGE CORREIA
Ora Viva. 1. Bem-vindos ao Pregunto Simples, o vosso podcast sobre comunicação. Estamos de volta à nova série de programas, novos episódios, novas pessoas para ouvir, para ouvir falar da comunicação, de formas de comunicar, dos dilemas da comunicação. Como sempre, a partir de setembro é tempo de recomeçar E nesta edição poderia dizer que falamos de música, mas isso é muito pouco para descrever uma conversa com o mestre, o vitorino de Almeida, um contador de histórias imitável que se ri com grande prazer E isso é francamente contagioso. Vamos ao programa, vamos a isso. Descrever esta conversa como uma entrevista é claramente uma ideia errada e redutora. Nem quero arriscar a ir por aí. Talvez pudesse dizer que é desconcertante, mas no mais belo senti da palavra. O maestro António Vitorino de Almeida é uma pessoa muito espacial. Mistura uma vasta cultura já alimusical com uma ironia e humor capaz de dinamitar qualquer dogma de que a cultura tem de ser algo sério e pomposo. Apeixonou-se pela música através de uma bateria, quem diria, e acabou com o isêmio pianista e criador de sinfonias. Foi com ele que falei sobre a música enquanto instrumento de comunicação universal. Não depende da língua, dispensa palavras e nem precisa quase de referências culturais para a entendermos.
É como se a música estivesse sempre parte de nós, o maestro que nos contou histórias de músicos desde Viena e que fez concertos em igrejas de aldeias, confessa-se desgustoso pela falta de cultura da nossa Lisboa. Mas se acham que a conversa é só sobre música, desenganem-se. Há um momento de fábula em que se conta a história pessoal de uma amizade com o bófalo no jardim zoológico, ou como o moledo é o seu sítio de sempre. Há tantas profecações e risos nesses minutos do jase que o compasso mais quadrado e binário até ao cinema que valeu Portugal o primeiro prêmio internacional. E tudo porque Victor Indalmeida teve de aprender a realizar os seus próprios programas em Viena porque os realizadores eram demasiado caros. No fundo é Portugal. Continuamos na mesma, todos a desenrascar qualquer coisa para que algo aconteça, E depois transformamos dificuldade em soldados e seguimos em frente.
0:02:41 – VITORINO DE ALMEIDA
Tenho muitas saudades de fazer cinema, ainda que eu tenha aparecido no cinema de uma forma esporádica, porque surgiu da seguinte maneira eu fui convidado pela televisão RTP neste caso para fazer um programa de televisão e eu estava a viver em Viena E lá se conseguiu porque havia uma pessoa que era séria na RTP. Eu não sei se o senhor ainda é vivo, mas a homenagem fica sempre feita. Se a ser vivo ou não, o Miguel Danda era um homem sério, um homem muito conservador, um homem que não era nada, o tipo de pessoa que vingasse num 25 de abril, por exemplo, em que era anseiro. Outro tipo de razões.
Agora que a verdade é que eu não conheço ninguém sério ligado ao 25 de abril, que não diga que o Miguel Danda diz que era sério E então que estava em Viena. E o Miguel Danda hoje é que tratou de todas as coisas. Mas eu fui fazer o programa em Viena, simplesmente, quando se foi a verificar em Viena, quando até que custava tudo, verificou-se que o realizador escolhido custava mais que todo o programa, ah, mas era que era um luxo, era um grande realizador.
Não, não, não Era normal E era o esperança de Viena.
E não aos pobres E é que não era nada normal E praticamente existiu, não era possível. A montadora, a Erika Lorenz, que foi uma montadora histórica do cinema e da televisão A Austria, que é alemã, europeia e dá, isso foi uma coincidência, era ela que trabalhava para a firma que teoricamente iria produzir isso. Ela não leu o guião porque era em português, os guiões não era em português, mas falou comigo, conversou e apaixonou-se pela pela ideia que era um programa, que era histórias da música, e depois foi a música e os cilesos e tudo, e disse-me se eu ouça uma coisa, tente fazer Eu na montagem. Eu fui olhando umas ideias, eu tive um curso de montagem com uma das maiores montadoras mundiais.
0:05:34 – JORGE CORREIA
Portanto na realidade não havia o realizador, porque ela?
0:05:37 – VITORINO DE ALMEIDA
era cara, não havia, não havia realizador, é nenhum.
0:05:44 – JORGE CORREIA
Mas o que é que sabia de realização nessa altura? Nada, zero.
0:05:48 – VITORINO DE ALMEIDA
Zero. Mas ela ia dizer olha, para já, faça assim, faça assado, faça assim. Quando devolver esta outra coisa? quando o gonto quiserem romper, ponham uma árvore tal, mas não se esqueça de se tiver ou perder a árvore. Olhem para o ar, porque se não é absurdo, se tiver ou olhar para o chão, ia aparecer mais o seguinte Que é para fazer sentido toda a montagem, exatamente, ela deu-me um múmico, de modo que eu até sou um excelente montador, como a professora dessas.
Pois, exatamente, não a mexer nas máquinas, mas a dizer o que quero e coisas assim, porque eu montei cento e trinta e tal programas.
0:06:35 – JORGE CORREIA
E com essa ideia, de lá está a coerência de recorde de saber que se parece uma pessoa virada para um lado não pode aparecer a seguir virada para outra, exatamente E todas essas coisas.
0:06:44 – VITORINO DE ALMEIDA
É que foram muitas coisas ainda neste estilo Os pequenos detalhes, Os pequenos detalhes. Isso foi se desenvolvendo, se desenvolvendo Ao ponto que eu acabo de ter feito não sei quantos cento e trinta e tal programas aqui é para a ERTP, de se de concorrer ao Porque escrever? sempre escrevi Minha líquido foi publicada já minhas ois ou três E portanto os guiões não eram um problema. Os guiões escrevi aos eu e as assinas.
0:07:18 – JORGE CORREIA
Mas também, já a pensar nas informações que a Erika Aloran se mudeu, Percebe que a Zé, Isso foi tudo ligado, tudo se ligou No fundo, começou a escrever, já com o conceito da imagem, já com o conceito da imagem, o que é que podemos ver, o que é que podemos escrever, o que é que podemos imaginar.
0:07:41 – VITORINO DE ALMEIDA
E assim fiz o primeiro filme, que foi A Culpa. A verdade é que ganhou o primeiro prémio que o cinema português ganhou num festival internacional. Uma história Ficou surpreendido.
Fiquei espantado. Eu nem pensava que se tivesse classificado para Foi em Alva. É que é um bom festival. Não é a Veneza, nem é a Olíudo, mas na Europa é um festival com respeitado, o Alva é um bom festival. Estávamos lá no Júri. Aquele ator que não estou com a relevada do nome, que trabalhava sempre para o Albuño Muel, era o presidente do Júri. Não foi, ganhei Pronto E o filme tinha atores fantásticos O mario Marivegas, o Sin Flip, muita gente boa, maria Igama, que já morreu, a Estrela Univais, muito, muito nova ainda e tal.
0:08:50 – JORGE CORREIA
Mas eu quero ficar nesse tempo em Viena Porque o desafio na realidade desta filmagem para RTP são um conjunto de programas que hoje não podemos ver no arquivo RTP ele está aberto Que são histórias de músicos, Sim E de músicas Pois De músicos. E já te diz, os músicos são assim bons personagens para contar histórias, há tudo.
0:09:19 – VITORINO DE ALMEIDA
Há tudo, há tudo. E eu falei um Está vendo em 60 e tal.
0:09:24 – JORGE CORREIA
Eu falei um bocadinho de tudo O que é que são os interessantes, o que é que são os mesmos.
0:09:31 – VITORINO DE ALMEIDA
Há figuras extremamente curiosas, há tipos extremamente inteligentes com músicas. Há tipos verdadeiramente burros.
0:09:42 – JORGE CORREIA
E grandes músicos. Como é que se pode ser grande músico?
0:09:46 – VITORINO DE ALMEIDA
Pode ser tudo Apesar de Há caixas diferentes. Há caixas diferentes A borrisse. É só perigosa quando é alimentada, Por exemplo ficar sergado.
0:10:04 – JORGE CORREIA
A gente não se preocupa com.
0:10:06 – VITORINO DE ALMEIDA
A borrisse em si. Há pessoas que não são inteligentes, mas que se não for alimentado, essa deficiência não é. Ela passa despercebida e as pessoas até conseguem fazer o que.
0:10:23 – JORGE CORREIA
Mas então a música é uma coisa complexa, isto é é ao mesmo tempo uma coisa muito fácil, que permite que qualquer lego, como eu, que não percebo nada de música, consiga perceber e dizer eu gosto de isto ou não gosto de isto, e consigo.
0:10:37 – VITORINO DE ALMEIDA
A música é isso, é feita para todas as pessoas.
0:10:41 – JORGE CORREIA
Mesmo as burras, neste caso eu. Vamos aos ignorantes. Os ignorantes conseguem perceber a música também conseguem entender ela?
0:10:49 – VITORINO DE ALMEIDA
Claro que sim, é essa a imagina da música. Eu nasci no campo grande, numa casa que foi a última coisa que eu me ligo ao Lisboa, que foi a casa onde eu nasci, há cinco primos. Era como se fossem cinco irmãos, filhos de três irmãs. O meu avô, quando eu comprou essa casa, não era nascida, é evidente, para a Daniela e para as três filhas. E depois eu brincava na rua, quer dizer, mesmo quando eu já estudava a piano, eu os ansiai para para a rua e muitos dos meus amigos, ainda hoje alguns eram chamados pés de escalço porque havia pés de escalço na altura Não havia sapatos.
0:11:41 – JORGE CORREIA
Havia pôbreza também. Havia pôbreza também.
0:11:43 – VITORINO DE ALMEIDA
Havia, pôbreza, não havia sapatos. O Abilo e o Shanena, o Fanito estou a citar nomes de pessoas que fazem parte da minha vida, mewds que fazem parte da minha vida, que se queriam borrar uns, alguns, não sei. Perdeu o contacto com esta gente. Faz, eu vi em 27 anos em Viena. Percebe, Mas pior que isso a terra, era uma baixa da minha casa. Eu percebe, é uma mágoa que guarda um ódio. Um ódio, um ódio com aspectos de instinto vingativo. Não queres dizer sim, lá está.
0:12:22 – JORGE CORREIA
Convém manter algumas coisas numa caixinha.
0:12:25 – VITORINO DE ALMEIDA
O doestro era minha casa, quer dizer, foi um Não perdoei E não perdoei, inclusive a despeito de toda a duração. que posso dizer? a palavra que não importa, se é que eu tenho pelo meu pai, a minha mãe ou o meu avô mas foram as três irmãs. O meu avô morreu a fazer partinhas parvas. Acabaram de toda viver. Do mesmo sentido na parede.
0:13:00 – JORGE CORREIA
E o maestro foi negligente ou não conseguiu parar isso. Eu não era um miudo, então não teve voto na matéria.
0:13:07 – VITORINO DE ALMEIDA
Então, quando eu estou a falar nesses mil despeitos calços, eu tinha 8 anos, 9 anos, 10 anos e já nessa altura comecei a mostrar músicas a esses meus amigos, e não há um único que não gosto de música.
0:13:24 – JORGE CORREIA
Qual foi o clique inicial? Qual foi o? Tem memória do momento da vida em que disse é isto, a música, é minha vida.
0:13:35 – VITORINO DE ALMEIDA
Não, eu nunca fui assim tão drástica dizer a música é minha vida, a minha vida é minha vida e a música faz para aquela Começa a como. Começa a onde Eu conheci, aos 6 anos, mas nem sequer pensava ser músico. Só que o meu primeiro instrumento foi uma bateria que o pai Natal me deu. E ainda hoje sou apaixonado por bateria bem tocada.
0:14:04 – JORGE CORREIA
Para fugentar de vicinos.
0:14:05 – VITORINO DE ALMEIDA
Não, não, não, não, Serrafeiros não.
0:14:10 – JORGE CORREIA
Serrafeiros não O que é que é bateria bem tocada.
0:14:15 – VITORINO DE ALMEIDA
É os grandes batistas do jazz. Do jazz Sim do longe, Do longe, esquecer A bateria é um Não da orquestra sinfónica. É raro Eu tenho bateria em orquestras sinfónicas, mas sou eu. Há muitos outros pocos que não estou com um.
0:14:33 – JORGE CORREIA
E o que é que tem nesse jazz?
0:14:34 – VITORINO DE ALMEIDA
Eu lembro-me Acho que o Bernstein tem. Acho não sei que o Bernstein tem peças em que me atrevei a bateria, mas é raríssima aparecer a bateria porque a bateria não é a percussão. A percussão é uma coisa que eu também gosto de menos, mas a bateria tem características especiais. A forma de atacar a caixa, o prato, de conjugar as coisas Tem uma ciência própria, é uma ciência própria.
0:15:04 – JORGE CORREIA
Eu lembro, mestre, que um dia eu ouvi numa conferência a fazer uma interessantíssima comparação sobre o contributo que o jazz, enquanto música, deu entre o que aqui era a música até ao jazz e depois do jazz, até ao jazz com as marchas militares. Ah, e o jazz que introduz, faz uma tremenda batata, o acentuar os chamados tempos fracos.
0:15:32 – VITORINO DE ALMEIDA
O que fez o jazz Para já ver denunciar que não havia tempos fracos? Bem, para denunciar que teve que fazer de uma forma explícita e começou a acentuar aqueles que chamavam os tempos fracos. E quais são esses tempos fracos? Os tempos fracos, teoricamente, dentro de uma teoria reacionária, é o segundo e o quarto, as marchas militares Um, dois, três, quatro. Um dois, três, quatro. Um dois, um, dois, um dois. A mesma melodia se Se fizer um Já, uma ginga, não Já uma ginga, automaticamente Um É o seu atwing.
0:16:36 – JORGE CORREIA
É isso que faz com que o jazz, no fundo, tenha sido quase discriminado Exatamente pelo porquê olhava de uma forma conservadora para a música.
0:16:46 – VITORINO DE ALMEIDA
Para jazz? seguramente que sim, foi e é, foi e quando? E continuou a ser Porque hoje em dia está Ainda, que nada seja proibido Em arte nada é proibido. Todavia, agora, se for uma mal feita, tudo não presta.
0:17:15 – JORGE CORREIA
Aí essa coisa de música boa e música má.
0:17:18 – VITORINO DE ALMEIDA
Claro que há, mas não é de dizer que o jazz é bom. O jazz nem é bom, nem é mau. A jazz boa e a jazz mau. Há sifonias boas e sifonias más. Há rock bom e rock mau.
0:17:36 – JORGE CORREIA
Há rock bom e consegue colocar mesmo o patamar, grande música sinfónica e grande rock, ou não, em princípio o Frank Zappa, por exemplo.
0:17:51 – VITORINO DE ALMEIDA
O Frank Zappa pode clasificar, como Eu clasico como música de grande Atogria? Não, não, não vou fazer o mesmo, doutores. Que quer dizer? E hoje em dia, a música que se chama um pop? Não sei se está realmente a arrastar-se.
0:18:13 – JORGE CORREIA
E é sempre a mesma coisa, não é.
0:18:15 – VITORINO DE ALMEIDA
É má.
0:18:15 – JORGE CORREIA
É má, é má.
0:18:18 – VITORINO DE ALMEIDA
Mas é má. porque é má? Porque se a gente tivesse explodado, como deu a composição. Tenho ido para o conservador e seria um péssimo compositor.
0:18:28 – JORGE CORREIA
Não perceba Então o que é hip fenômeno neste de fazer com que música em princípio má ou pior do que a boa música tenha uma capacidade de atração das pessoas. Que estados É?
0:18:43 – VITORINO DE ALMEIDA
assim, se ganha dinheiro, ganha dinheiro com isso. Não pode tomar E é claro, é um negócio. É um negócio, mas é uma coisa. Mas isso também não traz nada de novo A ópera dos séculos de 17 e 18. Foi um acontecimento em que acho que o rock mesmo, este rock mais quer dizer, é discreto ao lado daquilo que se passava na ópera dos séculos de 17 e 18. Então, em princípio, morrer sempre alguém em cada espetáculo E havia espécies, espetáculos, dezeiros Matavam pessoas, processo de pessoas, processo de gente, por entusiasmo, por coisa, matavam-se e agatenhavam-se no palco Uma dovidórica social.
Era uma coisa E antes do Isto é estudos de história da música. Está lá de mostrar Antes da ópera, Da ópera italiana. Calma lá, porque a Alemane nunca foi assim, Mas a Angeldo havia exatamente com menos isobrância a precisar tudo quando tinham-se um bocadinho, mas havia as mesmas coisas e brigas e insultos e coisas assim nas missas.
0:20:07 – JORGE CORREIA
Nas missas.
0:20:11 – VITORINO DE ALMEIDA
Nas missas é a missa do. as missas do fulano eram melhores que a missa de e brigavam, jogavam apagada. no asso É ler, é ler essa toda a música instantálar.
0:20:27 – JORGE CORREIA
Portanto, no fundo, nós melhoramos um bocadinho. Apesar de tudo, temos alguma ordem no caos.
0:20:34 – VITORINO DE ALMEIDA
Não sei ou continuamos iguais, mas estamos aqui, como os autores lá que me diziam olhe que não, olhe que não, porque não há, por que entretanto foram introduzidos outros elementos que nessa altura não, não, não, não, não, não vou dizer que fosse. Era. Era muito mal. A pessoa ira assistir a ópera e isso, sair de lá para o caixão com uma facada, o que era normal, era habitual. A ópera em italiana também tinha uma prática mesonha que era a castração. Castravam pessoas para terem, aos dez anos, para virem a ter voz de que eles apreciavam muito, a voz de castrado Falasse de quase Sim, era uma voz assim esquisita, a voz branca, assim uma voz é, eu acho horrível. Mas E castravam canhos, intérpretes. Castravam as crianças, as crianças pobres, que depois aquelas que ficassem com voz de castrado iam para ópera e ficavam podiam ser mil binárias, as outras ficavam apenas castradas. Era bem como.
Era assim, Isso é uma história assustadora. É, é uma história assustadora, mas não é sempre coisa. Mas a introdução de droga no espetáculo musical não é pior nem melhor do que a castração.
0:22:07 – JORGE CORREIA
É uma forma de tentar potenciar as características de quem está a fazer o espetáculo.
0:22:12 – VITORINO DE ALMEIDA
Quer dizer não há nada novo. Sabe, e eu não sei se digo essa coisa, pensei que isto é para o bem ou para o mal. Mas não há nada novo. As coisas repetem-se, têm apenas outro ferdamento.
0:22:29 – JORGE CORREIA
Portanto, para aumentarmos a performance, no fundo há sempre um atalho qualquer.
0:22:39 – VITORINO DE ALMEIDA
É evidente que a droga.
0:22:43 – JORGE CORREIA
Todos sabemos que ela existe E aí nós podemos ir desde as drogas cocaína, heroína, o axis ou o vinho que nós bebemos todos também não é Pois, mas há aquelas que Aquelas diferentes.
0:23:05 – VITORINO DE ALMEIDA
Eu não sei o que isso é, por experiência. Nunca tive curiosidade nunca tive curiosidade nenhuma.
0:23:12 – JORGE CORREIA
Mesmo sendo um dos homens do Vilares Mouros de 1970. Nenhuma, nenhuma, nenhuma Ou não?
0:23:17 – VITORINO DE ALMEIDA
eu imagino que Eu sou um bisçando de selvagem. Eu gosto de saber exatamente onde estou, como estou ou como como é defender isso. Eu não sei tomar uma coisa que me enfaquece E hoje em dia, o que se faz de mal no mundo basei-se em grande parte no facto de não haver reação, porque as pessoas estão muito enfraquecidas, anestesiadas, anestesiadas. Estou muito anestesiado.
0:23:48 – JORGE CORREIA
E nunca tive essa ilusão ou esse desejo de A ideia de que uma determinada droga pudesse potenciar as suas capacidades, suas características, suas criatividades. Não, porque nunca ouvi falar que isso tivesse acontecido.
0:24:00 – VITORINO DE ALMEIDA
Importante. Nunca ouvi falar que isso tivesse acontecido. Eu acho que é perfeitamente Já ensastro. Me perguntaste se não não O Bordelére e muitos outros que utilizavam isso. Tá bem, mas não foi por isso que foram grandes.
0:24:27 – JORGE CORREIA
Eles já eram grandes. Por acaso me usavam drogas numa determinada período da sua vida.
0:24:33 – VITORINO DE ALMEIDA
Eles fizeram essas coisas, mas isso não ficou, digamos assim não criou nenhum movimento, percebe ou passe atualmente, etc. É mal. Tornou-se uma rotina no fundo não é, É uma rotina.
0:24:51 – JORGE CORREIA
É uma rotina e é mal, é mal.
0:24:53 – VITORINO DE ALMEIDA
Bem agora, isso não quer dizer que as pessoas que se drogam que têm um talento. Isso é outra história.
0:25:08 – JORGE CORREIA
Estão a gostar do Pregunta Simples, Estão a gostar deste episódio. Sabia que um gesto seu me pode ajudar a encontrar e convencer novos e bons comunicadores para gravar um programa Que gesta isso? Subscrever Na página PreguntaSimplescom. tem lá toda a informação de como pode subscrever. Pode ser por e-mail, mas pode ser ainda mais fácil subscrevendo no seu telemóvel através de aplicações gratuitas como Spotify, o Apple ou o Google Podcasts, Assim cada vez que houver um novo episódio ele aparece de forma mágica no seu telefone. É a melhor forma de escutar o Pregunta Simples. Onde é que vai buscar a inspiração. mestre, Onde está a inspiração? Acho que a inspiração não existe.
0:25:55 – VITORINO DE ALMEIDA
Não existe tudo Parece-me que não existe A inspiração Não há um momento.
0:26:00 – JORGE CORREIA
Ureca não há um momento.
0:26:02 – VITORINO DE ALMEIDA
Há em tudo, mas há em tudo. Mas às vezes isso é Ou seja. Quando às vezes já foi, se livrou-te de ser atropelado porque teve a inspiração de olhar e viu o carro. Não quero dizer que é a mesma inspiração. Automobilista com a oddepião.
0:26:24 – JORGE CORREIA
Portanto não teve nenhuma visão. O que teve foi um.
0:26:28 – VITORINO DE ALMEIDA
Acontece acontece, Mas isso pode acontecer. Mas eu acho, que, sinceramente, eu gosto muito de. Eu sou um bom produtor de vinho, gosto de tomar a minha guarda em tantas vezes, mas não vou dizer que seja já. Não me diga é mesmo Todas nós, não é? Mas não fiz por me sentir obrigado a mostrar que me queimera em bebê-bedeus.
0:27:03 – JORGE CORREIA
Ou para produzir uma grande obra ou para escrever uma peça.
0:27:08 – VITORINO DE ALMEIDA
Nos dizem que estava bem e é para que quer mais das neres.
0:27:12 – JORGE CORREIA
Era portanto contraproducente.
0:27:16 – VITORINO DE ALMEIDA
É Ou talvez seja ainda, se pera ainda é a apanhar uma outra bebê-bedeus E portanto, na realidade é porque da transpiração do trabalho aturado sobre uma determinada coisa. A transpiração faz um avalo, muito, muito mais do que a inspiração.
0:27:29 – JORGE CORREIA
Como dizem os criatores, que vêm à inspiração, mas que me apanha a trabalhar.
0:27:33 – VITORINO DE ALMEIDA
Sim, é a inspiração. É um conceito muito vago, muito romântico. Sim, talvez Um romantismo, um bocadinho serode, um bocadinho. Hoje em dia vim, vivo com muitas coisas que são muito velhas E com a ideia de que são muito novas. Quer dizer não, adonado, está andando a dizer isso. Quer dizer, os cessos que se praticam com o espírito da aventura é para achar que já se praticava no século anterior e no outro, e no outro. Quer dizer aprendemos pouco, sim, e isso não adianta assim muito, ou melhor, isso não adianta nada.
0:28:23 – JORGE CORREIA
Estou a dizer isto porque quando nós vivemos tempos de guerra, de alterações climáticas, que são todas muito claras para toda a gente, de riscos, Mas não reage.
0:28:37 – VITORINO DE ALMEIDA
As pessoas não estão a reagir. Há uma apatia? Eu acho que há. Eu acho que há uma tremenda apatia. Mora toda uma exerção de pinguins de um milhão ou 10 milhões.
0:28:52 – JORGE CORREIA
E nós dizemos ok, bem, olha, que satisfeito, o que pena, coitadinhos, the thumbs up bun e aben巴el, eu vou permitext bulin씨 a meninata por me ser. Esquecendo-se que os próximos pinguins não, não, não, não dê que seja imediatamente a seguir mas seremos nós E portanto o que quer dizer Tem esse risco que nós desejamos atrilhar um caminho, muito, não, não não, não, portanto tenho 83 anos.
0:29:22 – VITORINO DE ALMEIDA
Em princípio não estou afetado, não serei afetado, Mas é consciente disso, Mas eu só sou consciente disso. E quer dizer, isso é uma coisa horrível E acho que Mas eu agora por conta da, tenham confiança que haverá uma Já em gerações, que existem há sempre assim uns flanos que de repente pegam na bandeira e vão enfrentar Quando quem quer dizer a bandeira até pode ser um pau. Não é O importante, é o pau.
E que possam fazer essa mudança de paradigma Estou convencido que sim, eu estou convencido que esta porcaria não vai continuar sempre assim, até porque, se continuará, de facto isso acaba. Acaba para nós.
0:30:22 – JORGE CORREIA
O planeta continua claro.
0:30:24 – VITORINO DE ALMEIDA
É claro, é, é, é, é. Até se você se acabasse o planeta, não é O que é que o universo tinha que ter com isso, que o universo faria? Ah, tá bem, mas é, sim, é, é, sério, é tão grande, é tão grande que nem se queira grande, é, não tem dimensão, só que É?
0:30:45 – JORGE CORREIA
É cedido o infinito do universo, perturbou o diverte, ah É.
0:30:50 – VITORINO DE ALMEIDA
Que é isso?
0:30:53 – JORGE CORREIA
Eu ainda vou tentar ler Weinstein e a Finzi, mas aquilo é muito difícil de entender da maneira.
0:31:00 – VITORINO DE ALMEIDA
Sim também, mas eu percebi muito, muito pouco do assunto. Todos percebem muito, muito pouco do assunto. Eu acho, por exemplo, muito apiadado. Eu não pratico nenhuma espécie de religião, mas acho que a religião mais ridícula que existe é o ateísmo. É perigoso, É uma artiduta que poderá ter problemas com a SP, com a sociedade dos autores, porque é de mentir uma obra sem autor. Tanta espécie de pelagem de coisa em um índio É uma provisional.
0:31:44 – JORGE CORREIA
Mas o ateísmo, que é em princípio a negação dos deus, é algo que diz que se comporta como uma religião. O ateísmo se pode comportar quase como uma religião.
0:31:54 – VITORINO DE ALMEIDA
É atualmente há muitos anos, é mais fanático Os seus militantes são.
0:31:59 – JORGE CORREIA
Especialmente.
0:32:01 – VITORINO DE ALMEIDA
Os seus militantes não acreditam, polenemente, em que não acreditam E lutam pelo zero. Quer dizer, eu acho uma coisa Porque os matemáticos atribuem ao zero uma certa importância? porque é uma ferramenta. O zero, no fundo, é uma ferramenta da matemática.
0:32:23 – JORGE CORREIA
E os ateus dizem não, a partida é onada. Esses são?
0:32:27 – VITORINO DE ALMEIDA
Acham que o zero é um ponto de partida fantástico, ou eu acho que é isso, que do zero não se parte para de lado nenhum.
0:32:35 – JORGE CORREIA
A bocadinho estava a dizer que na arte tudo é permitido, E eu estava a ouvir logo sobre o zero e sobre essa religião que é o ateísmo. E para fora não estava a pensar. Nós estamos no mundo do cancelamento, estamos do mundo do politicamente correto, do Num mijo de fora do pênico, Pois pois, pois, estamos também numa época de permanente consciência, de permanente silêncio, de deixar andar, de deixar andar.
0:33:17 – VITORINO DE ALMEIDA
Eles é que mandam, eles é que sabem E eles não nós. Os eleges não estão definidos sequer. Quem são? Alguém, alguém, alguém.
0:33:29 – JORGE CORREIA
Mas isso é uma forma de desresponsabilização também, não é? É? É, eu não tenho nada a ver com isto, é.
0:33:37 – VITORINO DE ALMEIDA
Mas aí eu acredito, eu acredito que Eu acredito que este animal, porque o homem é um animal, mas nada se não é animal é planta, mas ainda como não é planta é animal. Bem, este animal é um animal efetivamente fascinante e tem capacidades que eu não acredito que, se a altura não haja uma verdadeira revolta da vida humana neste caso não é Há outros que já estão em guerra aberta. Conosco Os vírus, os microbios. Assim De vez em quando despertam, despertam e são normalmente mais fortes.
0:34:32 – JORGE CORREIA
Pelo menos mais Parece mais espertos. Não é Em determinados momentos Se calhar a atenção, Se calhar a?
0:34:37 – VITORINO DE ALMEIDA
ação. Se calhar a ação, a capacidade de mutação.
0:34:41 – JORGE CORREIA
Este é ordinário, É uma capacidade de adaptação. No fundo não é.
0:34:45 – VITORINO DE ALMEIDA
É inacreditável, é preciso de mutar. Agora há que ver que muitos desses Os vírus acho que não são seres vivos Ou seja não. Mas estão nos grandes satis. Pois são, mas não são exatas. O microbe é um ser vivo. Acho que eu estou aqui arriscado de dizer as neiras, porque não?
0:35:14 – JORGE CORREIA
Tenta bicharada. não Tenho aqui uma forma de contar.
0:35:19 – VITORINO DE ALMEIDA
Há infinitamente pequenos, que se podem considerar algo de alguma forma da nossa espécie, que são pequeníssimos animais Ainda por cima, Mas há outros que não. Eu acho que os vírus não têm Não têm a vida própria.
0:35:40 – JORGE CORREIA
Todavia, aproveitam-se de nós, da nossa biologia para saltar de uns Sendo que eu estou aqui em frente de um maestro conhecido como maestro, mas na realidade esta conversa podia ser sobre os animais dos jardins lógicos. E assim Porque?
0:35:55 – VITORINO DE ALMEIDA
Maestro, porque algumas pessoas sabem, eu queria ser zoológico.
0:36:04 – JORGE CORREIA
Para compreender os animais.
0:36:07 – VITORINO DE ALMEIDA
Também, mas sobretudo para me fazer compreender junto deles, o que é mais fascinante ainda.
0:36:15 – JORGE CORREIA
Quase de fábula, quase para perceber que linguagem é que eles usam. Não não quer dizer. você me quer dizer Ou para você?
0:36:21 – VITORINO DE ALMEIDA
entender Não quer dizer o que é mais fascinante. Cada um tem a sua casa, cada um tem os seus hábitos. Que é a sua casa? Quer dizer não vale a pena ler lá, ler cá, monja, um lagarto, não vale a pena.
0:36:41 – JORGE CORREIA
Não é. Acho que o lagarto não vai entender a coisa O lagarto ou um cão inclusive.
0:36:46 – VITORINO DE ALMEIDA
Não, não vale a pena, quer dizer, não é isso. Agora que um cão sente sentimentos que o cão transmitiu em poema, aí isso é verdade, isso é verdade.
0:37:03 – JORGE CORREIA
Portanto, os animais estão na realidade, na sua perspectiva, muito mais evoluídos e cienciantes do que nós na realidade os olhamos em princípio.
0:37:13 – VITORINO DE ALMEIDA
Em certas coisas Eu estou à tua terreno. com o barra-aparede, não é, Mas em certos aspectos eu penso que há coisas que os animais sabem mais que nós. Sendo que nós dividimos depois os animais ali em categorias não é Sim, também me diz isso O caval, o tata tata, tata.
0:37:36 – JORGE CORREIA
esses são os perdos, não é? E depois dizemos ok, a cobra alargatice o mosquito, então É também me diz isso É o que a gente diz Eles estão então, se marimba de nada, Querem saber de nós por nada Que eu sabe não. Nem querem saber do Camões, nem querem saber, de facto, de nós em grande problema.
0:37:56 – VITORINO DE ALMEIDA
Em princípio, não Em princípio. tem lá a sua vida e a sua inteligência, o seu instinto, que é uma coisa.
0:38:08 – JORGE CORREIA
Porque algumas das coisas?
0:38:09 – VITORINO DE ALMEIDA
que Também não sei se podemos aprender com eles, porque é verdade esta coisa. Se eu for para uma escola chinesa, não sei se vou. Te ganho muito com isso, é difícil, não. Eu acho que cada espécie, cada espécie que se viva, que tenha vida, tem suas, tem suas coisas. Tem suas coisas, tem suas características próprias E não vale a pena se tratar de tentar fazer com as suasções. Por exemplo, eu sempre tive que ser gatos. já fui amigo de um búfalo nos erenos lógicos. Se vinha a correr atrás de mim, se vinha a correr sempre que me convivei. Vio a longe. Há pessoas que viram, não é E tal de um urso E tal. Agora. O teor da conversa não é este. Falavam de quê São? Há transmissões de sentimentos possíveis?
0:39:33 – JORGE CORREIA
Tocaram.
0:39:33 – VITORINO DE ALMEIDA
ouviram tocar Tocaram o búfalo, imagino que seja até arriscado. Não há sentimentos. O sentimento transmite-se de espécie para espécie. É fácil de transmitir o seu sentimento a um cão e o cão transmite-se de cento e o outro.
0:39:48 – JORGE CORREIA
E quando diga um cão, um gato, um outro Sentimentos da feto. A feto raiva. Isso, nota-se bem, não é Quando estão zangados conosco.
0:39:56 – VITORINO DE ALMEIDA
A feto por um lado, raiva por outro. Ao ódio há amor E o gesto Há puro amor no animal E o gesto demonstra isso. E o gesto demonstra isso.
0:40:10 – JORGE CORREIA
Quero pagar no maestro o polo em frente da uma orquestra, com sobretudo regendo a toda a uma orquestra. Quem é que manda? Manda mesmo o maestro, ou a música está escrita? É o maestro que manda, Manda-se aquilo se aquilo está escrita.
0:40:27 – VITORINO DE ALMEIDA
E eu estou a dizer até porque eu sou compositor Fui francamente bom pianista. Continua a ser um bom improvisador.
0:40:40 – JORGE CORREIA
É uma delícia, o vilo, porque não só pelo que toca, mas depois porque para e explica É aquilo que está a fazer ao piano.
0:40:48 – VITORINO DE ALMEIDA
Mas, maestro, só por sentir a constância que nunca estou em reger sempre.
0:40:54 – JORGE CORREIA
É porque é como é este o homem né.
0:40:56 – VITORINO DE ALMEIDA
Agora, o que A verdade é que isso, eu acho que uma ou duas vezes em assais, ao princípio eu fiz essa experiência de não reger De não reger, não, não, não, não fazer nada E se parar um logo. Ah, e quando eu disser que não reger não é ficar quieto. Basta que eu, em vez de ir com a mão para a direita, vá com ela para a esquerda, qualquer coisa, e eles param logo. Uou, e tu? mas o que é que Até me trai.
0:41:32 – JORGE CORREIA
O que Até me trai, Quer dizer não dá para fazer o tabaio, Não não dá.
0:41:39 – VITORINO DE ALMEIDA
Não, Todos pensamos isso. Todos pensamos isso Porque há uns mestres mais esteriónicos. Mas isso é o esterionico, é a sua ofa, É, é, é, é A sua ofa, é o que dá o momento. Mas há ali um conjunto de estes que são vistos e interpretados A sua, ofa, ou também pode funcionar em termos expressivos, em termos claro de Quando há força, quando há, quando há um treinador treina, transmita aos jogadores coisas mais.
0:42:09 – JORGE CORREIA
Pelo geste. Pelo geste também né.
0:42:12 – VITORINO DE ALMEIDA
Pelo geste, não é, mas realmente se não haver orientação E portanto eles precisam mesmo.
0:42:27 – JORGE CORREIA
Porque o maestro vai olhando para várias zonas da orquestra e vai dando indicações específicas, ou elas são gerais.
0:42:34 – VITORINO DE ALMEIDA
Não, não é. Normalmente são as mais específicas. Mais específicas As mais específicas, mas é É curioso. por exemplo, se for um grupo pequeno, é chamado de música de Câmara. que são quantos músicos?
0:42:49 – JORGE CORREIA
E então é de músicos.
0:42:52 – VITORINO DE ALMEIDA
Quer dizer, pode ser cinco, pode ser dez, depende até do De que estilo de música que se escreveu. Apreste a coisa. Aí o maestro só estaria a perturbar a coisa. Não é Porque eles conhecem-se muito bem, olham uns para os outros. Eles são todos mestres se olhar uns para os outros.
0:43:18 – JORGE CORREIA
E portanto conseguem ter ali uma dinâmica de grupo.
0:43:22 – VITORINO DE ALMEIDA
Agora quando se vai para a orquestra, aí digamos assim o espírito é outro, o espírito é outro.
0:43:35 – JORGE CORREIA
Aí eles precisam que o maestro se tenteja, está toda a chance de olhar para o farol para acompanhar o mesmo Eu acho que, portanto, um bocadinho Não é um bocadinho, é fascinante é.
0:43:48 – VITORINO DE ALMEIDA
Mas Como é que os músicos, mas inclusive pianistas, fazem parte da orquestra, porque é uma coisa que é o solista. O solista é diferente. O solista faz o que quer Em princípio, óbvio, é bem traste.
0:44:04 – JORGE CORREIA
É bem brilhante que está Não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não.
0:44:10 – VITORINO DE ALMEIDA
O solista tem uma partitura em que ele tem um papel proponderante e os tempos que ele os comanda é ele, mas o maestro tem que saber qual são para teje-me-tirem O resto, o resto bem, isso sim, agora o solista, mas agora é, para mim é ser um treinário. Como é que um músico está a olhar para a pauta? Porque eles estão a olhar para a pauta?
0:44:48 – JORGE CORREIA
Isso é uma coisa que eu E tem uma visão periférica para olhar para o maestro.
0:44:54 – VITORINO DE ALMEIDA
E de repente nós podemos tentar. É uma ideia de mau gosto e nós podemos ter essa ideia de Eu vou trocar aquilo, Vou buicotar isto, E o tipo que está a olhar para a pauta é Mas é logo, logo um automatismo, Não uma reação indiana. Ele notou que o gesto está a ver errado. A exitação está a ver errado. Isto é extraordinário, É é fascinante também.
0:45:26 – JORGE CORREIA
Você quer uma empatia Entre os músicos e o maestro. O gente pode se criar a antipatia. Exato a raio do maestro.
0:45:37 – VITORINO DE ALMEIDA
Ai, ai, ai, ai, ai de quem quiser, de qualquer maestro que quer brigar com um orquestra. É o jogo que perdeu, É não é Perdeu. Precisa de os conquistar.
Pode gritar lá o que quiser, Até pode gritar, porque os músicos também sabem quando é que foram eles que falharam O que são eles que estão a falhar ou o que eles acham eles sabem pera feitamente Não é, podem não admitir, assim como o maestro pode fingir que teve uma cossica de braço e que pareceu que entrou, mas é verdadeiramente. Se você for, porque a música está um trato a olhar pera ao instrumento, eu estou a dizer, para referir-me um estilo alfenista, que tem que estar a olhar ali para baixo, tem que estar a olhar, mas que tem a pauta, porque se não olhar para a pauta não toca E tem que olhar para o maestro. É um camaleão, é um tipo que está a olhar em três direções diferentes, o que é extraordinário, o que é verdadeiramente Não tinha nada a essa ideia.
0:46:58 – JORGE CORREIA
Primeiro pensava que os músicos tinham no fundo quase decorado a pauta ao final e ali há algum tempo dos ensaios. mas não, Não, não, não.
0:47:07 – VITORINO DE ALMEIDA
E portanto realmente todos estentevamos essa ideia. Eu lembro quando era miúdo, quando Eu não sei, eu pensava de facto que o maestro fazia gestos bonitos. Mas não é isso Aquela coreografia.
0:47:25 – JORGE CORREIA
Não é assim, não é assim, o maestro, estamos praticamente a fechar. Quero levar-lo até à praia de Moledo, onde passei ainda na praia de Moledo.
0:47:33 – VITORINO DE ALMEIDA
Pensava que, se quiser, vamos já O que tem àquela praia. Também tem o fascínio de ser a minha terra e não é.
0:47:45 – JORGE CORREIA
Se assente como sou eu é.
0:47:49 – VITORINO DE ALMEIDA
Bem, isso é verdade. Isso é verdade, concordo. Eu sinto com a minha.
0:47:56 – JORGE CORREIA
Se houvesse lá uma casa, se houvesse lá um sítio, seria o sonho.
0:48:01 – VITORINO DE ALMEIDA
Seria. Eu gostaria muito de viver, por exemplo, em Vierna do Castelo, Eu gostaria próximo de Moledo, porque o fascínio de Moledo também não Vamos se assinar Em outubro, novembro, dezembro, dezembro dezembro É creste, é creste. Já não é a mesma coisa. Até caminhinhas Já não é a mesma coisa, ainda que eu fotei passar os Natássias.
Os invernos são úmidos e são mais frescos Os páscoas, que eu estou com os meus avós e tal, mas tudo aí e tal. O meu país é Portugal, mas Lisboa não me diz nada, é uma cidade que me chateia. Não gostar nada de Lisboa Não há as piadas nenhuma.
0:48:53 – JORGE CORREIA
É uma casa da Lugana.
0:48:55 – VITORINO DE ALMEIDA
Eu não sei, eu não gosto de Lisboa. Acho que foi uma cidade que se deu se deu, se deu se deu. É uma cidade sem os seus dignos, é uma cidade sem ópera, é uma cidade Com a sem-cultura. Sim, é uma cidade sem-cultura, ou seja. Quando vem no jornal, que um artista seja ou que seja um vilão celista ou um roqueiro famoso, se siga uma cidade e as chegadas vem no jornal, é porque a cidade não presta, porque é normalíssimo, está percebendo, é que parecem músicos, empariçam em Londres, em Viena, qualquer coisa.
0:49:44 – JORGE CORREIA
Olha o músico.
0:49:45 – VITORINO DE ALMEIDA
Quem é que está aqui? Está aqui ao bítele? Está bem que esteja.
0:49:50 – JORGE CORREIA
Para bens Daqui ao concerto E aqui não.
0:49:53 – VITORINO DE ALMEIDA
Aqui não, Não vai, vai Tudo para o aerócoo.
0:49:56 – JORGE CORREIA
Somos pacóvias, somos.
0:49:59 – VITORINO DE ALMEIDA
Lesboa é assim. Lesboa transformou-se para mim numa cidade extremamente desinteressante, extremamente porca Eu adoro este nativo no barro alto. A versão do turismo está a fazer esse É vergonhoso, mas é também um turismo pétis caldo que nós temos que fazer. É uma versão do turismo que dá dinheiro. Vai ao ópera antes de ir ao ópera, vai ao restaurante antes de ir ao restaurante. Está no hotel, depois vai ao museu, depois vai ver aquilo. Tudo isso é contabilizado pelos militares da cultura.
0:50:41 – JORGE CORREIA
Percebe, e nós continuamos a olhar essa cultura como um desperdício de dinheiro, quase.
0:50:49 – VITORINO DE ALMEIDA
E sempre, pensemos sempre assim. Isso não tem que ver com os gostos musicais ou as as preferências, que podem ser abrangentes ou menos abrangentes. Não, Realmente, aqui é notícia Seu, aí a Madonna. Ah, eu vou tudo a ver a Madonna. A Madonna vai a qualquer outro sencrito. Olha a Madonna, pronto, Olha Quem é conhecido devista, Se não, não vou me deixar de vista. Seu senhor não sempre anda pintada.
0:51:23 – JORGE CORREIA
Portanto já sabemos se vir a Madonna, fingem que são parisiences e nem reparem nela. Será que esta nossa forma de ver o mundo, venerar o que vem de fora e apoiar o que está cá dentro, não passa nunca. Proponho que, ao invés de tocarmos o Reckon, usamos o cavaquinho com certainas ou bombos. Pode ser que se resolva E assim já se faz uma bela festa Até para a semana.