Como vai a vossa carteira?
A minha emagrece olhos vistos.
E digo para mim mesmo “é a economia, estúpido, é a economia”
Os salários são agora mais pequenos que as compras.
Inflação e juros a subir,
E uma pergunta fundamental: se Portugual está a ficar todos os anos mais rico, porque estamos nós, cidadãos e donos do país, mais pobres?
Será só a economia?
O meu fascínio pela matemática dos grandes números é inversamente proporcional à minha compreensão desse lado da barricada.
Sou das letras, penso em forma de letras, palavras, frases e poemas.
E fico hipnotizado quando me falam do PIB, da dívida pública, dos indicadores macroeconómicos e das perspetivas de crescimento.
É uma dança de muitos mil milhões de euros, difíceis de imaginar, mas com impacto na nossa carteira.
E aí já todos sabemos a matemática da vida real.
Portanto esta edição não vai tentar perceber o que é uma imparidade, que nas contas dos bancos quer dizer “buraco”
Nem tão pouco perceber os multiplicadores da economia, os rácios de divida ou inebriantes dança das flutuações cambiais do euro, dólar ou libra.
Hoje falámos da vida real. De vidas normais. De contas de supermercado. De empréstimos para comprar a casa ou o carro.
E até de raspadinhas, totolotos e lotarias.
Para isso pedi a ajuda de Sandra Maximiano, professora do ISEG e colunista regular nos jornais. É que ela dedica-se a explicar a economia real e a tentar perceber como funciona a mente dos seres humanos nessa relação com o dinheiro.
O dinheiro que temos, o que gastamos, o que devemos e o que gostaríamos de ter.
Um caldo que mete salários, inflação, juros dos depósitos e dos empréstimos.
E, confesso, a minha primeira intenção era tentar perceber porque está o pais cada vez mais rico, com o tal PIB a crescer, mas a nossa carteira cada vez mais magrinha
Quem se lembrou de dizer que o dinheiro não traz felicidade?
Se calhar deveríamos postular: Quem não tem dinheiro é menos feliz.
Quem tem algum dinheiro e vê a inflação, gulosa, desvalorizá-lo fica ansioso.
Esta coisa de empobrecer é uma ideia que me aborrece.
E a equação ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres precisa de ser arranjada.
Se não, a economia deixa de ser uma respeitável ciência e passa a ser uma descarada desculpa.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIOTRANSCRIÇÃO AUTOMÁTICA
00:00:12:03 – 00:00:12:05
JORGE CORREIA
A.
00:00:12:22 – 00:00:38:17
JORGE CORREIA
Obra viva. Um bem vindos ao pergunta simples voz, podcasts sobre comunicação. Então como é que vai a vossa carteira? A minha emagreça a olhos vistos e digo para mim mesmo é a economia, estúpido! E a economia? Os salários são agora mais pequenos do que as compras. A inflação e os juros estão a subir. E tenho uma pergunta fundamental se Portugal está a ficar todos os anos mais rico, cada vez com mais PIB.
00:00:39:05 – 00:00:53:06
JORGE CORREIA
Porque estamos nós, cidadãos e donos do país, afinal mais pobres? Será só economia?
00:00:55:19 – 00:01:22:14
JORGE CORREIA
O meu fascínio pela matemática dos grandes números é inversamente proporcional à minha compreensão desse lado da barricada. Nas letras, penso em forma de letras, palavras, frases e poemas e fico hipnotizado quando falam do PIB, da dívida pública, dos indicadores macroeconómicos e das perspetivas de crescimento. É uma doença de muitos 1000 milhões de euros. Difíceis de imaginar, mas com um impacto real na nossa carteira.
00:01:23:03 – 00:01:55:23
JORGE CORREIA
E aí já todos sabemos a matemática da vida real. Portanto, esta edição não vai tentar perceber o que é uma imparidade nas contas dos bancos. O que quer dizer buraco? Nem tão pouco perceber os multiplicadores da economia, os rácios da dívida ou as inebriantes flutuações cambiais do euro, dólar ou da libra? Os falamos da economia real, da vida real, das vidas normais, de contas de supermercado, de empréstimos para comprar a casa ou carro e até de raspadinhas, totoloto e lotarias.
00:01:56:15 – 00:02:21:16
JORGE CORREIA
Para isso, pedia ajuda de Sandra Maximiano. Ela é professora do ISEG e colunista regular nos jornais. É que ela se dedica a explicar a economia real e a tentar perceber como funciona a mente dos seres humanos nesta nossa relação com o dinheiro. O dinheiro que temos. O que gastamos? O que devemos e o que gostaríamos de ter. Um caldo que mete salários, inflação e juros dos depósitos e dos empréstimos.
00:02:21:23 – 00:02:34:02
JORGE CORREIA
E confesso, a minha primeira intenção era tentar perceber porque está o país cada vez mais rico, com o tal PIB a crescer. Mas a nossa carteira cada vez mais magrinha.
00:02:35:17 – 00:02:53:13
SANDRA MAXIMIANO
Estamos numa altura também de grande inflação. Portanto, apesar de a inflação estar a dar algumas tréguas. Mas ainda são sem tréguas, ainda muito tímidas, no sentido em que não vemos os preços ainda a descerem. O que vimos é uma desaceleração da inflação e, portanto, eles.
00:02:53:13 – 00:02:54:09
JORGE CORREIA
Continuam a crescer.
00:02:54:18 – 00:03:39:13
SANDRA MAXIMIANO
E alguns preços continuam a crescer. Não é? Não é realmente um movimento muito homogéneo nem para todos os produtos. Mas há realmente ainda um crescimento de preços. Mas esse crescimento de uma forma também mais lenta, o que também é justificável. Ainda temos a guerra e não é com novos acontecimentos que nos augura um grande optimismo nesse sentido. Então é natural que temos, tenhamos o PIB, o PIB a crescer e a crescer, porque de uma pandemia com uma recessão que nos últimos anos afetou e conhecemos um crescimento que era natural, era de esperar que houvesse essa aceleração depois, depois da crise pandémica.
00:03:39:14 – 00:03:49:04
JORGE CORREIA
Então quer dizer que este crescimento pode ser de alguma maneira? Não digo artificial, mas, mas estamos a comparar nos com com um buraco negro.
00:03:50:15 – 00:04:12:22
SANDRA MAXIMIANO
Diria não diria um buraco, não diria um buraco negro. Porque? Porque, apesar de não ser, eu acho que se calhar, em vez de dizer artificial, diria talvez temporário, porque tem um crescimento em V que nem todos os economistas provam. Quando nós não esperaríamos que a economia portuguesa tivesse esse tipo de comportamento, então.
00:04:12:22 – 00:04:14:16
JORGE CORREIA
Estava mais pessimista, estava mais pessimista.
00:04:14:19 – 00:04:39:13
SANDRA MAXIMIANO
Estávamos um pouco alguns nós estávamos um pouco mais pessimistas, sim, até porque havia muito, muito essa noção de que que as preferências das pessoas iam ser muito afetadas pela pandemia e que as pessoas iam preferir algo diferente. Isso é que é um exemplo muito simples. Nós temos uma economia que é muito baseada no turismo e que vive muito à base do turismo.
00:04:39:13 – 00:05:06:06
SANDRA MAXIMIANO
Todo este crescimento foi, em parte e em grande parte diria, por causa do crescimento do turismo pós pandemia. Mas o que se esperava e alguns de nós esperávamos foi era sobretudo uma alteração de preferências de que as pessoas percebessem que, se calhar, aquele consumo desenfreado que houve antes da pandemia e aquelas coisas de viajar muito, conhecer novos sítios.
00:05:06:06 – 00:05:07:00
JORGE CORREIA
Não era natural.
00:05:07:02 – 00:05:15:06
SANDRA MAXIMIANO
Que não era natural naquela altura que as pessoas procuravam isso, mas que depois de uma crise pandémica, que.
00:05:15:06 – 00:05:16:01
JORGE CORREIA
Se está sem.
00:05:16:13 – 00:05:29:07
SANDRA MAXIMIANO
Se assustar, sem mais e que outros valores, se se sobrepusesse, nomeadamente à questão de estar mais tempo com os amigos, estar mais tempo com as pessoas, tem com as pessoas que se conhece há muito tempo, estar com a família.
00:05:29:22 – 00:05:36:15
JORGE CORREIA
Valorizar aquilo que era emocionalmente no fundo reprodutivo e não essa ânsia de comprar tudo.
00:05:36:21 – 00:05:58:18
SANDRA MAXIMIANO
Não há sido comprar tudo e viajar e de conhecer outros sítios e outros países e outras culturas que ao fim e ao cabo é muito interessante, enquanto enquanto turista não é, mas que também não nos dá essa ligação profunda com aquela que temos, com os nossos amigos e com a família. E isso prova se um pouco que as pessoas pensassem ou começassem a preferir um outro modo de vida.
00:06:00:02 – 00:06:21:06
SANDRA MAXIMIANO
Se calhar procurassem outro tipo de experiências, não tanto aquela experiência de conhecer novos mundos, mas uma experiência mais em casa. E é claro que, tendo essas expectativas, eu pelo -1 pouco também essas expectativas e que é que isso iria afetar, obviamente, o turismo e a procura de bens e serviços de turismo?
00:06:21:19 – 00:06:25:09
JORGE CORREIA
REFREAR. No fundo, está assim de começou exactamente.
00:06:25:09 – 00:06:38:08
SANDRA MAXIMIANO
Isso não aconteceu, não aconteceu. Portanto, o que aconteceu foi realmente também o que também não era. Não, não é uma surpresa muito, muito grande, porque nem as pessoas muito tempo fechadas em casa e com essa sensação de saída.
00:06:38:15 – 00:06:41:22
JORGE CORREIA
Atravessaram assim e para já nos livramos desta. Agora vamos Masegosa.
00:06:42:03 – 00:07:08:08
SANDRA MAXIMIANO
Agora vamos rezar a vida a um pouco também isso. E depois vão. Aqui tem havido um pouco Portugal estar na moda, Lisboa, Porto estarem na moda e outros outras vilas e cidades portuguesas. E acabámos por ter também tirar vantagem disso. Temos um turismo em alta, que contribuiu muito para este, para essa recuperação em vir de Portugal e o PIB a crescer muito face portanto face ao setor de exportação.
00:07:08:08 – 00:07:18:24
SANDRA MAXIMIANO
Mas que é um setor de bens transacionáveis, tem basicamente o turismo e há uma redução das importações. Portanto, nós reduzimos realmente o nosso consumo interno e.
00:07:18:24 – 00:07:22:22
JORGE CORREIA
Isso, em princípio, é uma boa notícia. Estamos a comprar ou estamos a ficar mais pobres e por isso.
00:07:23:12 – 00:07:41:23
SANDRA MAXIMIANO
Os franceses, até irlandeses? Não, não há estudos que mostram que seja realmente uma alteração profunda das preferências das pessoas em inflação, padrões de consumo que se alteraram, mas que é obviamente por um aumento dos preços que se tem, que se reflectiu nessa redução do consumo.
00:07:42:17 – 00:08:08:23
JORGE CORREIA
E ficamos mais pobres. Sei é que eu volto à conversa inicial. Se o PIB representa que o país no seu todo está a ficar mais rico, quer dizer, não digo eu não digo, não digo não a alguém que não está a ouvir, mas em média, nós devíamos estar a dizer a vida estamos a correr bem, não é? Se o PIB cresce dois, três, quatro, 5% e eu volto a dizer para onde é que está a ir o meu dinheiro?
00:08:09:07 – 00:08:09:17
SANDRA MAXIMIANO
Pronto.
00:08:09:23 – 00:08:19:02
JORGE CORREIA
Eu não sei se é meu, mas se é o PIB nacional. Imagino que haja uma parte sim, que seja, que seja a minha na minha. Retorno não é a questão da questão.
00:08:19:02 – 00:08:25:05
SANDRA MAXIMIANO
Retorno sim, eu. A questão é que o retorno acaba por não ser distribuído de uma forma homogênea e, portanto.
00:08:25:08 – 00:08:25:23
JORGE CORREIA
Observo.
00:08:28:13 – 00:08:48:07
SANDRA MAXIMIANO
Que para os que ganham mais e outros ganham menos, é certamente pessoas que beneficiaram bastante até com a pandemia e portanto, alguns negócios que que beneficiaram com a pandemia. E houve. Houve criação de valor para alguns setores e para algumas pessoas dentro desses setores.
00:08:48:09 – 00:08:57:21
JORGE CORREIA
E ainda bem que eles ganharam dinheiro, até porque nos resolveram alguns problemas que nós não temos ao pensar no levar comida para casa e afins. Então foi a economia respondeu verdadeiramente.
00:08:58:08 – 00:09:16:14
SANDRA MAXIMIANO
Claro, claro. Claro que sim. E nomeadamente, a ter, por exemplo, todos os produtos de quem não nos afetou tanto a nossa economia interna. Mas toda a criação é uma de cada vez mais produtos digitais de software para para reuniões. As distância, os.
00:09:16:15 – 00:09:17:17
JORGE CORREIA
Números desta vida vezes.
00:09:17:19 – 00:09:27:15
SANDRA MAXIMIANO
Esta vida. Portanto, UVA é uma criação de valor muito grande que não nos afetou tanto porque não foi criada em grande parte não foi criada cá em Portugal.
00:09:28:01 – 00:09:46:17
JORGE CORREIA
Mas nós beneficiamos dela. Beneficia e lá está ser aquela ideia de que eu não preciso de ir ao Porto para uma reunião de meia hora. Não, não preciso ir ao Funchal ou a Ponta Delgada, obviamente. Ajuda me aqui na minha vida e a criar e a criar esse e esse e esse valor. E alguém captou esse esse valor?
00:09:46:17 – 00:09:47:22
JORGE CORREIA
Ótimo! Excelente!
00:09:47:23 – 00:10:14:10
SANDRA MAXIMIANO
Claro que sim. E Captur no sentido cricri, não só na criação de um produto. Nós estamos a falar de, nomeadamente na valorização em termos do mercado financeiro, de algumas de alguns investimentos, quem os fez na altura certa, que ganham mesmo muito dinheiro. Portanto, há muitas pessoas que fizeram, temos literacia financeira, olhe para para esse negócio do mercado financeiro que investiram, por exemplo, em ações de zoom, não é?
00:10:14:17 – 00:10:35:02
JORGE CORREIA
É que saiu a sorte. Grande, razoabilidade grande. Assim, olha, eu não posso deixar de perguntar a uma economista onde é que se põe o dinheiro. Quem quer tem. A classe média parece estar a morrer. Classe média onde é que põe o dinheiro que tinha nos certificados de aforro? O banco não dá nada. As acções estão voláteis. Como é que anda?
00:10:35:02 – 00:10:35:13
JORGE CORREIA
É que depois o.
00:10:35:13 – 00:11:00:21
SANDRA MAXIMIANO
Dinheiro pronto e sim, antes de mais faz colchão. É? Antes de mais, deixe me falar um pouco para as pessoas que não têm dinheiro e que é a uma grande parte da classe média, uma classe média e mais baixa que vive à míngua, portanto, não consegue acumular nenhuma poupança. Chega ao fim do mês com basicamente a zeros, portanto, não tem cor, não tem.
00:11:01:08 – 00:11:15:24
SANDRA MAXIMIANO
Pode até não ter uma acumulação de dívida, mas também não tem essa capacidade de uma poupança, de uma poupança. E essas pessoas, uma grande bola, um grande conselho que apostar e não se endivida nem para fazer investimentos arriscados.
00:11:16:02 – 00:11:31:03
JORGE CORREIA
Porque normalmente esse risco que as pessoas no fundo fazem vão à procura de créditos para o consumo? Por um lado, sim, para passar as férias ou para comprar electrodomésticos no limite. E a outra parte são pessoas que compram para quê? Para comprar os bens.
00:11:32:00 – 00:11:49:15
SANDRA MAXIMIANO
Hoje em dia há uma procura desses investimentos, nomeadamente nas criptomoedas, por pessoas que não têm rendimento e, portanto, não têm poupanças para investir e não têm um perfil de risco que lhes permita suportar esse investimento.
00:11:49:16 – 00:11:51:00
JORGE CORREIA
Ou não sabem que podem perder tudo.
00:11:51:03 – 00:11:54:09
SANDRA MAXIMIANO
Se não sabem que podem perder, realmente perder, mesmo que.
00:11:54:09 – 00:11:59:11
JORGE CORREIA
Em bom rigor, na realidade não têm nem sabem. Eu, por exemplo, não sei se deve comprar esta criptomoeda ou não.
00:11:59:18 – 00:12:10:23
SANDRA MAXIMIANO
Assim não está, não tem informação adequada. É a informação que existe ou não a procura. Hoje em dia acaba por haver muita informação nos ministros, nos vídeos do YouTube, no Instagram, tanto que nas redes sociais.
00:12:10:23 – 00:12:12:10
JORGE CORREIA
É informação ou é poluição.
00:12:13:22 – 00:12:27:00
SANDRA MAXIMIANO
E é uma informação muito poluída. Portanto, eu diria que em grande parte é poluição. Há alguma informação, mas é preciso saber que é preciso ter uma literacia financeira para perceber como é que selecionamos a boa e a má informação.
00:12:27:00 – 00:12:43:01
JORGE CORREIA
Que que eu tenho que pensar. Até não tem a ver com os que tomam moedas, mas gosto muito daquelas páginas da internet em que nós estamos à procura de um produto ou de um serviço e que dizem Olha, está aqui o top dez das aplicações que podem ajudar te naquilo que estás à procura e fico sempre fascinado. Vou lá ler.
00:12:43:01 – 00:12:56:07
JORGE CORREIA
Normalmente são coisas bem feitas. Aí está aquilo um ao outro, às dez e eu depois esperaria que o parágrafo final, que é das dez que nós acabamos de um e a três e que são boas, não é do tipo agora desenrasca te, vai por aí fora?
00:12:56:07 – 00:13:05:15
SANDRA MAXIMIANO
Sim, exactamente. Não existe, não existe uma lá, existe essa informação que é deixada para o consumidor depois decidido e eu não percebo é que não percebe porque.
00:13:05:22 – 00:13:07:02
JORGE CORREIA
Isso é que é o ponto não é assim.
00:13:07:10 – 00:13:31:21
SANDRA MAXIMIANO
E é um perigo muito grande. Portanto, não é realmente esse histórico que é visto também que estes investimentos, nomeadamente na questão das criptomoedas, eles estão a ser feitos por pessoas novas. Portanto, até estes jovens entrar no mercado de trabalho que não têm grandes rendimentos e que estão à procura de se endividarem com esta perspetiva de fazerem dinheiro rápido.
00:13:31:22 – 00:13:42:12
JORGE CORREIA
O Eldorado, no fundo, é quase o Euromilhões. Eu sou inteligente, estou aqui a ver uma oportunidade que ninguém viu e não, não é. Não pode ser. Tudo pode acontecer.
00:13:42:12 – 00:14:02:14
SANDRA MAXIMIANO
Tudo é realmente ainda mais perigoso do que propriamente. A questão das pessoas estão a jogar. Não é jogarem muitas raspadinhas. Nome no Euromilhões. E quando vemos as pessoas que jogam como uma grande sequência, são pessoas que realmente aquele dinheiro faz falta. Mas tem sempre com aquela expectativa. Não é com o sonho de poder poder alcançar uma vida melhor.
00:14:03:01 – 00:14:13:23
SANDRA MAXIMIANO
Portanto, essas pessoas eu não queria acabar com o sonho de se poder acontecer. Não acho que exista um mal ao mundo se jogar de vez em quando, não tenham juízo.
00:14:13:23 – 00:14:16:21
JORGE CORREIA
No fundo, não comprometam a vossa vida com esta.
00:14:16:21 – 00:14:27:11
SANDRA MAXIMIANO
Sim e sempre que possam sempre, sempre que possam o melhor que tem realmente a fazer. E quando existe algum dinheiro de lado e pagar as dívidas, portanto a.
00:14:27:12 – 00:14:29:07
JORGE CORREIA
Abater. Blatter aos créditos é.
00:14:29:07 – 00:14:38:16
SANDRA MAXIMIANO
Exatamente eu e eu. É a maior poupança que essas pessoas que não têm realmente poupança podem fazer e podem fazer por si. No futuro.
00:14:38:16 – 00:14:55:16
JORGE CORREIA
Só que não percecionam assim, porque se quando se endividaram para comprar um eletrodoméstico ou as férias tiveram uma recompensa que foi poder ir poder fazer poder ter esse abate. A dívida é percepcionado quase como como, como um saco sem fundo. Não é um dinheiro que se põe lá.
00:14:55:21 – 00:15:19:05
SANDRA MAXIMIANO
Se é, é um pouco tão pouco exercer este enviesamento chamado inglês. Isso, juntamente ao atacante, tem basicamente o que significa que as pessoas têm põe o dinheiro em contas diferentes na sua cabeça, que se tivéssemos aqui uns saquinhos e basicamente eu dizer assim a este dinheiro ir para as férias ia só para as.
00:15:19:05 – 00:15:20:10
JORGE CORREIA
Férias e o porquinho ele.
00:15:20:21 – 00:15:40:16
SANDRA MAXIMIANO
O porquinho ia ter em vários porquinhos milhares e depois terem aqui uma dívida muito grande. Mas aquele dinheiro é para as férias. Não se pense naquele dinheiro antes e isso acaba por ser por não ser racional fazer isso. Porque às tantas tem aquele dinheiro, temos a dívida que está a pagar um juro muito mais alto.
00:15:40:21 – 00:16:00:00
JORGE CORREIA
Portanto, no fundo é irracional e irracional. Nós somos mesmo uma. Sempre que eu me dedico para os caras e economistas, que é um desporto favorito, que eu tenho, o que é sempre dizer, mas porque é que? Porque é que vocês não acertam mais nas previsões e não dizem? Eu avisei e dizem que vai acontecer antes. E qual é a solução?
00:16:00:07 – 00:16:17:24
JORGE CORREIA
Mas o meu desporto favorito, que é que é, de que é de provocar os economistas, é a dificuldade de prever o que é que pode acontecer num movimento económico. Tem a ver com o que tem a ver com a nossa própria, o nosso próprio comportamento, que sabe Deus como é que vai?
00:16:18:13 – 00:16:54:19
SANDRA MAXIMIANO
Sim, há duas hipóteses muito básicas na ciência econômica tradicional, em que as pessoas são racionais, totalmente racionais, que fazem as melhores escolhas, que conseguem sempre optimizar. São não se sentar, que não sabem, que têm toda a informação disponível. Mesmo não tendo informação disponível, conseguem ir à procura da melhor informação da informação, que é correta e baseada em hipóteses que a gente sabe que não funcionam, pois também não têm uma outra hipótese de que as pessoas são sempre muito egoístas, portanto, basicamente maximizam o seu bem estar individual e se preocupam um.
00:16:55:01 – 00:17:05:06
SANDRA MAXIMIANO
Os outros e tem se verificado, nomeadamente através de estudos da economia mais comportamental e da economia experimental, que põem as pessoas em laboratórios a jogar determinados.
00:17:05:06 – 00:17:06:24
JORGE CORREIA
Jogos, a fazer de ratinhos, fazer.
00:17:06:24 – 00:17:41:24
SANDRA MAXIMIANO
De ratinhos. Exatamente. E percebemos que as pessoas não são assim tão racionais e que também não são assim tão egoístas para o bem. É que depois, claro, falha nas previsões desses modelos, porque esses modelos têm por base esses modelos económicos, têm por base a racionalidade económica. Portanto, imagine que um exemplo muito simples a economia diz nos a ciência econômica diz nos que a pessoa que hoje ente económico mente sempre, desde que os benefícios do mentir sejam superiores aos custos, é uma hipótese, mas.
00:17:42:03 – 00:17:44:02
JORGE CORREIA
Essa lei é muito assustadora.
00:17:44:02 – 00:18:01:23
SANDRA MAXIMIANO
Basicamente, dizer que todos nós somos seres morais e isso nem sempre se verifica porque para algumas pessoas verifica se, para outras não se verifica. Não é exactamente como assume que os trabalhadores, se não tiverem um incentivo à cenourinha, não. E basicamente também vão não se encostar.
00:18:02:23 – 00:18:03:08
JORGE CORREIA
Não fazem.
00:18:03:08 – 00:18:08:19
SANDRA MAXIMIANO
Ruído, não fazem ronha, não trabalham. E porque não existe motivação intrínseca para o trabalho.
00:18:08:19 – 00:18:11:17
JORGE CORREIA
Que é o pau de marmeleiro, que é para usar.
00:18:11:23 – 00:18:12:00
SANDRA MAXIMIANO
De.
00:18:12:01 – 00:18:13:05
JORGE CORREIA
Modo marmeleiro, para.
00:18:13:23 – 00:18:41:11
SANDRA MAXIMIANO
E e essas hipóteses falham aí. Quando estamos a construir modelos económicos que são baseados nessas hipóteses, eles acabam por por não ser. Não vale a pena, por não ser correto e nomeadamente expectativas racionais, tanto nos modelos mais macroeconómicos que têm muito que muito baseados no que as pessoas pensam que pode acontecer e são baseados num modelo de expectativas racionais que as pessoas não têm expectativas racionais.
00:18:41:11 – 00:18:58:20
SANDRA MAXIMIANO
As pessoas fazem expectativas. Um bocadinho adaptativas e depois tem toda esta estas emoções e enviesamentos cognitivos que lhes vão afetar não vamos afetar as escolhas e as expectativas que têm para o futuro, portanto, os modelos falham.
00:18:58:23 – 00:19:02:11
JORGE CORREIA
E, portanto, vamos decidir em função do desejo e do medo.
00:19:03:01 – 00:19:12:08
SANDRA MAXIMIANO
Nós decidimos em função do desejo, em função do medo e muito em função do que os outros fazem. Portanto, o tal comportamento da manada não é.
00:19:12:08 – 00:19:15:21
JORGE CORREIA
Um efeito e ser quase uma epidemia. No fundo.
00:19:15:21 – 00:19:16:13
SANDRA MAXIMIANO
Assim quase.
00:19:17:11 – 00:19:20:13
JORGE CORREIA
Fez, o outro fez. Os meus amigos fizeram e eu também posso fazer.
00:19:20:16 – 00:19:44:22
SANDRA MAXIMIANO
Sim, sim. E é por isso que é muito perigoso. Obviamente qualquer é que não. Não, não estou aqui a querer atacar os media, mas nomeadamente determinados a lata de determinados anúncios. E eu estava a pensar em específico na cabeça do placard desses jogos on line e em que se com as redes sociais que é muito mais fácil percebermos o que o outro.
00:19:44:22 – 00:19:48:15
JORGE CORREIA
Faz é o efeito de multiplicação e é de é de ver o que é que ele está a fazer.
00:19:48:19 – 00:20:09:00
SANDRA MAXIMIANO
Sim, e isso é. Há muitos estudos que mostram isso, portanto, que basicamente que as pessoas fazem o que os outros fazem, porque lhes dá algum conforto e sobretudo quando eu não tenho informação completa. Se eu não tenho informação perfeita, se não sei qual é a melhor escolha, poder fazer pelo menos o outro fazer me dá um conforto psicológico.
00:20:09:00 – 00:20:13:17
JORGE CORREIA
À teoria da carneirada. Se outros estão a fazer, provavelmente é porque não é assim tão errado exactamente.
00:20:14:02 – 00:20:23:02
SANDRA MAXIMIANO
E é por isso o meu desconforto não seguir a norma que até pode ser que esteja errado, mas eu não sei. Se calhar quem está errado sou eu e por.
00:20:23:02 – 00:20:33:10
JORGE CORREIA
Isso, na dúvida devolvo. Então, mas isso não pode. Isso pode ser profundamente arriscado. Se alguém me disser que o Banco X pode falir amanhã.
00:20:34:00 – 00:20:34:10
SANDRA MAXIMIANO
Claro.
00:20:34:17 – 00:20:42:02
JORGE CORREIA
E vamos lá todos, claro. E não assim não há dinheiro, não. E convém dizer à malta que o dinheiro é um multiplicador no fundo.
00:20:42:11 – 00:21:10:19
SANDRA MAXIMIANO
E é muito endemismo, um grande problema. Nós temos várias experiências que mostram as chamadas bem comuns, portanto, é que fazemos essa tem no laboratório, portanto, testes em laboratórios. São os ratinhos em que basta uma pequenina informação muito subtil até, de que o banco está com algum problema e em que basicamente começa um dos jogadores a retirar da minha área que o começar é um efeito manada e o banco vai ganhar falência.
00:21:11:08 – 00:21:32:14
JORGE CORREIA
Então, mas isso lá está? É muito curioso a nossa relação, a minha relação com com a banca é, por um lado, nós sabemos para que que o banco serve. E quando precisamos de comprar uma casa, um carro, não sabemos mesmo para que serve. Chegamos lá o dinheiro que metemos, essa sensação de segurança que eles estão a juntar, economia, tudo, ver quando as coisas correm mal.
00:21:32:22 – 00:21:55:11
JORGE CORREIA
E não preciso sequer de citar exemplos, porque temos todos muito presentes e aquilo corre mesmo mal. O contribuinte é chamado a pagar a conta e nós nem compreendemos muito bem várias coisas. Quer dizer o quê? Porque? Porque? Porque é que temos que pagar? Porque é que não pode simplesmente fechar a porta? E não são coisas que se assaltam essas dúvidas?
00:21:55:17 – 00:22:06:24
SANDRA MAXIMIANO
Sim, porque nós é que dizer? E quando, se, quando estamos a falar de grandes instituições financeiras, de que se deixamos cair uma grande instituição financeira, podemos ter aqui um efeito.
00:22:07:07 – 00:22:07:19
JORGE CORREIA
Dominó.
00:22:07:22 – 00:22:10:02
SANDRA MAXIMIANO
Dominó. Portanto, é preciso.
00:22:10:16 – 00:22:11:18
JORGE CORREIA
Estancar uma hemorragia no.
00:22:11:18 – 00:22:22:07
SANDRA MAXIMIANO
Fundo, estancar a hemorragia e se calhar deixar falir é muito diferente. Deixar falir uma empresa, uma empresa de calçado não é importante. A empresa foi à falência e a.
00:22:22:07 – 00:22:23:18
JORGE CORREIA
Outra que produz sapatos e depois a.
00:22:23:18 – 00:22:43:08
SANDRA MAXIMIANO
Nossa parte é uma, não tem. Não tenho grande impacto na outra, não é agora, no sistema financeiro em geral, e com a interligação que existem desses produtos financeiros, exatamente o grande risco. Depois de haver uma avalanche.
00:22:43:08 – 00:23:11:19
JORGE CORREIA
Estão a gostar da pergunta? Simples. Estou a gostar deste episódio. Sabia que um gesto seu pode ajudar a encontrar e convencer novos e bons comunicadores para gravar um programa que gesta isso subscrever? Na base da pergunta, sempre pronto, como tem lá toda a informação de como pode subscrever. Pode ser por email, mas pode ser ainda mais fácil subscrevendo no seu telemóvel, através de aplicações gratuitas como o Spotify, o APL ou o Google Podcasts.
00:23:12:04 – 00:23:34:02
JORGE CORREIA
Assim, cada vez que houver um novo episódio que aparece de forma mágica no seu telefone, é a melhor forma de escutar a pergunta simples onde estão podcasts sobre comunicação? E eu não posso deixar perder esta oportunidade, já que estamos a falar aqui dos bancos que é porque é que quando aquilo corre mal e vender assim, olha mal, deu prejuízo.
00:23:34:09 – 00:23:44:22
JORGE CORREIA
Está que um buraco aqui está para se usam expressões como imparidades e outras outras coisas que ninguém sabe o que é.
00:23:46:09 – 00:23:48:23
SANDRA MAXIMIANO
Sim, mas eu diria que são.
00:23:48:23 – 00:24:01:11
JORGE CORREIA
Essas, que é uma forma de os políticos também não quererem, enfim, explicar as coisas como como se ronda o aquilo. Ou estamos nos a escudar em tecnicalidades para esconder o óbvio que é um buraco.
00:24:01:11 – 00:24:25:05
SANDRA MAXIMIANO
Aqui sim, temos. Aqui temos os dois tipos, portanto, eu por um lado e aqui há vantagens e desvantagens em quase tudo. Mas em esconder o óbvio existe uma vantagem que é conter o pânico, porque poderia acontecer realmente um pânico nas corridas aos bancos e às corridas aos depósitos.
00:24:25:08 – 00:24:29:23
JORGE CORREIA
Passa se ali uma coisa claro que nem percebo muito bem, mas mas quem sabe está a tomar.
00:24:30:09 – 00:24:43:23
SANDRA MAXIMIANO
Exactamente isso em mim? E a informação acaba por também não ser tão percetível pelo público em geral. Portanto, não gera hispânico. Não é importante falar em paridade, numa palavra que não é um pântano. Está a falir.
00:24:44:12 – 00:24:45:04
JORGE CORREIA
Aí, sabemos.
00:24:45:04 – 00:24:46:21
SANDRA MAXIMIANO
E sabemos, não é tanto.
00:24:46:24 – 00:24:54:02
JORGE CORREIA
Aliás, se pensarmos nos países, a gente também pode pensar que Portugal não faliu. Portugal foi intervencionado ou teve direito a um memorando de entendimento.
00:24:54:07 – 00:25:17:03
SANDRA MAXIMIANO
Exatamente. No entanto, isso cria, cria uma casta zero, o pânico. E tenta, tenta conter o pânico, o pânico nas pessoas, o problema que acontece e que, ao mesmo tempo é o estarmos a esconder uma situação real. Estamos também a contribuir para a falta de informação na nossa população.
00:25:17:03 – 00:25:18:04
JORGE CORREIA
E de escrutínio também no.
00:25:18:07 – 00:25:39:05
SANDRA MAXIMIANO
Escrutínio de falta de escrutínio, falta de informação. Estamos a prejudicar uma coisa que sabemos que é a falta de literacia financeira, porque quanto mais jargão difícil de perceber pela tela, pela população em geral, mais difícil também será puxar essa população para a aprendizagem.
00:25:39:05 – 00:25:39:15
JORGE CORREIA
De algo novo.
00:25:39:22 – 00:25:54:08
SANDRA MAXIMIANO
Exactamente. Portanto, estamos aqui a criar nos a gerir esse pânico. Não estamos a criar esse nevoeiro que depois se quer dizer que funciona, pois para o bem e para o mal acaba por terem um grande impacto na literacia financeira. Olha.
00:25:54:18 – 00:26:22:15
JORGE CORREIA
Esta ideia dos bancos e da macroeconomia dos PIBs é muito interessantes, mas o que é mesmo mais interessante nos últimos tempos é ir ao supermercado e a descobrir que a conta do supermercado que custava 50 € agora custa 100, que dizem que a inflação é 10%. E eu tenho a sensação, perceção, ignorância ou fiz muitas contas de que a conta subiu mais do que o que me estão a dizer?
00:26:22:20 – 00:26:32:13
SANDRA MAXIMIANO
Sim, eu também tenho riqueza e acho que outras pessoas em geral têm. Eu é que não. Se calhar não falando tanto como economista, mas como cidadã.
00:26:33:12 – 00:26:35:01
JORGE CORREIA
Como cidadã e economista.
00:26:35:02 – 00:26:46:08
SANDRA MAXIMIANO
Não faço isso. Fiz em alguns alunos algumas contas, não é gorda e os recibos? Guardei os folhetos porque agora temos. Até temos essa vantagem. Nós recebemos os.
00:26:46:13 – 00:26:46:24
JORGE CORREIA
Digital.
00:26:46:24 – 00:26:48:03
SANDRA MAXIMIANO
Supermercados digitais.
00:26:48:04 – 00:26:49:01
JORGE CORREIA
E ficas perplexo.
00:26:49:01 – 00:27:11:02
SANDRA MAXIMIANO
Menos. Fico perplexa porque consigo comparar. Portanto, hoje em dia mesmo, mesmo essas grandes superfícies económicas a dizerem que não, que não aumentaram esses preços mais do que a inflação, quando é evidente quando temos toda essa informação guardada, nomeadamente panfletos promocionais e portanto informativos que se recebem.
00:27:11:04 – 00:27:34:18
JORGE CORREIA
Mas assim a sensação é que aquilo não foi um bocadinho, porque eu podia dizer assim ok, um quilo de batatas custa 2 € e agora custa 2 € e dez ou 220. É normal a inflação, os custos da gasolina e por aí fora. Não há determinados produtos e eu estou a falar dos alimentares porque os outros eu posso dizer que se calhar cada um para escrever se quer comprar o mais barato.
00:27:35:05 – 00:27:42:11
JORGE CORREIA
Nestes que estamos a falar de batatas, arroz, leguminosas, eu tenho mesmo que comprar. Tem sim, mesmo que vá para casa.
00:27:42:12 – 00:28:07:08
SANDRA MAXIMIANO
Sim, são produtos essenciais. Tanto o que nós dizemos em um jargão mais económico não é que nós temos. São produtos com uma elasticidade muito rígida. Não há cada pessoa. Portanto, não existe uma resposta do consumidor a um aumento de preço com uma redução drástica na procura. Não pode haver porque é preciso consumir, não é em si. Mas antes pensar que nós, na nossa tradição culinária, nós usamos sempre azeites.
00:28:07:11 – 00:28:09:17
SANDRA MAXIMIANO
Aliás, não é fazer refogado, é?
00:28:09:20 – 00:28:12:06
JORGE CORREIA
E vamos comprar sempre esses anos a longo.
00:28:12:08 – 00:28:36:02
SANDRA MAXIMIANO
Prazo, sempre alimentos. Portanto, o que significa é que, por muito que o aumento do preço, a nossa redução no consumo desses bens não pode cair muito drasticamente. Portanto, logo ainda há um poder maior para o lado das empresas. Não é na oferta para gerir, para manipular ou prepará la para competir. Esses preços em alta.
00:28:36:02 – 00:28:56:01
JORGE CORREIA
E quando nós olhamos para esse incremento, há uma parte que é falou desde o início com a guerra e com o aumento do preço do petróleo, que, como é evidente, tudo é transportado. Os fertilizantes ficaram caríssimos, a maioria vinha vinha da Rússia. Portanto, é fácil perceber que não é aquilo. Não são cinco, nem dez sequer. Era muito mais do que isso.
00:28:56:01 – 00:29:07:20
SANDRA MAXIMIANO
É que demorou e houve um tempo, pois o impacto, mesmo a inflação, já viesse a desacelerar. Depois demorou a que se reflectissem alguns produtos alimentares.
00:29:07:22 – 00:29:13:22
JORGE CORREIA
E enquanto as contas destas são honestas. E quanto o oportunismo é que é aqui? Porque essa é a dúvida que.
00:29:14:05 – 00:29:37:09
SANDRA MAXIMIANO
Mas existe sempre, não é em qualquer crise. Há sempre aqueles que vão tirar vantagem dessa crise e, portanto, temos aqui. E quanto a mim, a mesma lógica não é que com o aumento dos preços, portanto, com esta inflação, ou quando foi a questão, nomeadamente a mudança do escudo para o euro, também teve alguma. Portanto, houve quem? Para alguns produtos não todos.
00:29:37:09 – 00:29:48:24
SANDRA MAXIMIANO
Ajustou sim. E e não se recorda que muitos produtos mais duradouros não tiveram a inflação mais baixa, mas aquele produto consumo diário, uma cerveja, um café, um corte de cabelo, o que foram.
00:29:48:24 – 00:29:50:12
JORGE CORREIA
Aqueles e o muito que eu lembro subiu.
00:29:50:12 – 00:30:01:20
SANDRA MAXIMIANO
Bastante, portanto, que eram produtos que as pessoas não iam deixar de consumir. Portanto, a quebra não é muito, não é muito grande. Na procura é que se tirou vantagem. Portanto, não há.
00:30:02:01 – 00:30:15:13
JORGE CORREIA
Apesar de tudo, os consumidores não não reagem muito no sentido de que queixam se, reclamam. Mas objetivamente, esse movimento quer dizer, a partir de agora não. Durante duas semanas não compro cenouras.
00:30:16:03 – 00:30:33:11
SANDRA MAXIMIANO
Não existe. Por cá está, porque são produtos de consumo essencial. E também nós temos uma característica também muito portuguesa. Não é nós que nós acabamos por nos queixar muito e queixamo nos muito muitas vezes, mas acabamos por não ter, pois uma ação.
00:30:33:11 – 00:30:33:21
JORGE CORREIA
Não sempre.
00:30:33:21 – 00:30:37:20
SANDRA MAXIMIANO
Consequentes. Não somos tão consequentes e portanto não que se os.
00:30:37:20 – 00:30:51:12
JORGE CORREIA
Portugueses deixassem de consumir a tonelada, cenouras, coitado, exportado, cenouras, posso mudar? Pode ser outra coisa qualquer. Se acontecesse um movimento dos consumidores de determinados produtos baixar mesmo fortemente o consumo, isso teria um impacto?
00:30:51:16 – 00:31:14:02
SANDRA MAXIMIANO
Sim, claro que sim, porque acaba por ser essa concertação do lado da procura, que é ganhar poder e poder de compra, o poder de compra, o poder de negociação face ao lado da oferta e portanto isso é preciso essa união de forças. E eu a pensar num outro assunto que não está em que não tenha necessariamente a ver com os produtos de consumo essencial.
00:31:14:02 – 00:31:24:03
SANDRA MAXIMIANO
Mas quando vimos a questão do aumento da idade da reforma e as manifestações em França, nós temos a certeza que aquele tipo de reação não acontece em Portugal.
00:31:24:03 – 00:31:29:22
JORGE CORREIA
E é bravo e bravo. Aquela população está a dizer claramente sim ao seu governo, ao seu presidente.
00:31:30:00 – 00:31:30:21
SANDRA MAXIMIANO
Que não aceite que.
00:31:30:21 – 00:31:31:04
JORGE CORREIA
Essa lei.
00:31:31:10 – 00:31:31:22
SANDRA MAXIMIANO
Exatamente.
00:31:32:01 – 00:31:51:15
JORGE CORREIA
Embora é muito engraçado. Tanto a falar disto. Eu estou me lembrar de uma da primeira grande manifestação no pós troika, quando houve a questão da discussão da Taxa Social Única e os portugueses com muito silêncio e na semana que casaria saíram para a rua e o governo tremeu e no dia seguinte voltou exatamente.
00:31:51:19 – 00:31:55:18
SANDRA MAXIMIANO
Eu lembro me não vivia em Portugal, vivia. Estava nos Estados Unidos, ainda nessa altura.
00:31:55:18 – 00:31:56:16
JORGE CORREIA
Em Lisboa, 1 milhão de pessoas.
00:31:56:19 – 00:32:14:18
SANDRA MAXIMIANO
Eu lembro me perfeitamente e escrevi lá mesmo escrever sobre isso, que foi impressionante, se é que cá está e a união faz a força. Nós nós não podemos, não é não. E basicamente um ou outro consumidor queixar se. Faz se uma série de entrevistas, os mini fazem uma série de entrevistas e o que.
00:32:14:19 – 00:32:15:21
JORGE CORREIA
É que passa?
00:32:15:21 – 00:32:27:13
SANDRA MAXIMIANO
Uma desgraça é que aquele queixume que é típico, mas que depois ninguém leva a sério. Claro que se for uma manifestação como essa que aconteceu na altura da Téssio, tem um grande impacto.
00:32:27:16 – 00:33:01:04
JORGE CORREIA
Que tenha um poder humano. A inflação para mim é um fenómeno curioso e assustador. Eu lembro me dos meus pais, quando era criança, falarem da inflação, falarem destas inflações e não era de não era de dez nem de cinco, era inflações de 15, de 17 dos salários aumentarem. Mas aquilo ser uma mentira, porque o dinheiro ir o dia no fundo, no fundo e isto até até chegamos aqui, é culpa da inflação eda guerra eda pandemia.
00:33:01:04 – 00:33:07:11
JORGE CORREIA
Ou então o Banco Central Europeu ter decidido imprimir notas em barda para comprar dívida pública.
00:33:09:17 – 00:33:11:17
SANDRA MAXIMIANO
Num conjunto reportagem para.
00:33:11:22 – 00:33:14:09
JORGE CORREIA
Comprar mais algumas, só algumas histórias depois.
00:33:14:13 – 00:33:21:18
SANDRA MAXIMIANO
Basicamente, era claro que era um conjunto a imprimir dinheiro. Vai criar, obviamente. E isso.
00:33:21:18 – 00:33:22:05
JORGE CORREIA
Aconteceu.
00:33:22:21 – 00:33:35:13
SANDRA MAXIMIANO
Mas eu acho que não, acho que não. Eu não diria que que foi a fonte desta inflação, esta inflação, foi realmente essa conjugação da pandemia e da guerra.
00:33:35:21 – 00:33:37:23
JORGE CORREIA
Quer dizer, é uma quebra da economia. Por um lado.
00:33:37:23 – 00:33:39:23
SANDRA MAXIMIANO
Nós temos uma crise pandémica.
00:33:40:08 – 00:33:40:23
JORGE CORREIA
E não temos essa.
00:33:41:05 – 00:33:44:04
SANDRA MAXIMIANO
Crise pandémica que tivemos no mundo, no.
00:33:44:04 – 00:33:47:23
JORGE CORREIA
18 a série e depois nos anos 50, qualquer coisinha, mas de facto termina.
00:33:48:07 – 00:33:55:16
SANDRA MAXIMIANO
Realmente a série que nós tivemos nos meses em que fechados que a economia não funcionou, a economista.
00:33:56:03 – 00:33:57:04
JORGE CORREIA
Talvez tenha que pagar a conta.
00:33:57:04 – 00:34:04:08
SANDRA MAXIMIANO
Não é claro que alguém tinha que pagar a conta e que depois é que houve realmente uma grande criação de liquidez. Portanto, não é.
00:34:04:16 – 00:34:07:01
JORGE CORREIA
Isso quer dizer, o que é que o dinheiro ficou no banco?
00:34:07:01 – 00:34:12:13
SANDRA MAXIMIANO
Quer dizer que o dinheiro que as pessoas pouparam, que as pessoas pouparam, foram obrigadas a poupar, que não tinham fronteira.
00:34:12:19 – 00:34:14:11
JORGE CORREIA
Isso não é uma má notícia? Pois não.
00:34:14:16 – 00:34:36:05
SANDRA MAXIMIANO
Não é uma má notícia. Mas o que aconteceu foi depois da abertura e quando a economia abriu? Houve exactamente um grande consumo, uma grande procura, um aumento do consumo muito rápido e, portanto, exponencial aliado ao facto, pois com uma guerra e na quebra das cadeias de abastecimento temos aqui um aumento do consumo. Portanto, a procura está a.
00:34:36:05 – 00:34:39:12
JORGE CORREIA
Explodir, mas a comprar as mesmas coisas. Por um.
00:34:39:12 – 00:34:44:00
SANDRA MAXIMIANO
Lado, mais dinheiro, mais vontade, mais disponibilidade a comprar.
00:34:44:00 – 00:34:54:21
JORGE CORREIA
O que em termos práticos é assim. Se eu e tu quisermos comprar este microfone é que fomos comprando um por mês, a coisa ainda vai se subitamente os dois. Quisemos comprar este microfone e agora.
00:34:55:02 – 00:35:29:14
SANDRA MAXIMIANO
Ainda mais numa situação em que estes plásticos, que não é todo este material de construção, exactamente o que é preciso para construir o microfone, aumento de preço por causa da guerra, como temos o lado dos custos que é importante na redução dos problemas nas cadeias de abastecimento que vieram mais pela guerra contra mim e pela guerra. E depois temos aqui abertura da economia pós pós pandemia, que faz aumentar esta tal procura de microfones e de outros produtos.
00:35:29:14 – 00:35:47:07
JORGE CORREIA
E então isto? Isto é um tsunami que não tsunami. Quando é que está calma lá entramos nas previsões. Agora é que os ouvintes não vão ter juízo, não façam coisas loucas nem idiotas, comportem se bem porque a Sandra vai acertar na previsão que.
00:35:49:13 – 00:36:11:01
SANDRA MAXIMIANO
Não quer dizer com isso. Basicamente, houve a tentativa em que o Banco Central Europeu e o Fed fizeram com o aumento das taxas de juro. Basicamente, foi a questão de tentar se remediar. Não é só resolver a inflação competindo pelo aumento da taxa de juro. Tenta conter valor o consumo.
00:36:11:11 – 00:36:19:24
JORGE CORREIA
Isto na prática, para mim, para a minha carteira, eu pagava um empréstimo X e agora estou a pagar o dobro. Esta solução não me agrada muito.
00:36:20:04 – 00:36:36:11
SANDRA MAXIMIANO
Não é uma solução que ao fim e ao cabo, vai criar mais empobrecimento. O grande problema desta solução é que é uma solução que se por um lado, teoricamente pretende corrigir a inflação e teoricamente até corrige, mas não tem sentido porque nós queremos uma solução que contenha.
00:36:36:12 – 00:36:39:18
JORGE CORREIA
Não estão a sugar o dinheiro do mercado, aí estão com a aspirar.
00:36:39:18 – 00:36:42:09
SANDRA MAXIMIANO
Basicamente, e é essa ideia.
00:36:42:09 – 00:36:44:07
JORGE CORREIA
Não é só o da minha carteira?
00:36:45:01 – 00:37:14:20
SANDRA MAXIMIANO
Claro que sim, mas basicamente a ideia é perante a ideia e essa ideia que vamos controlar este consumo desenfreado, portanto, aumentando as taxas de juro, nomeadamente na mesma própria. A compra não é o mesmo do mercado imobiliário. Considera tentar arrefecer exactamente esse mundo? A explosão de preços no mercado imobiliário também muito contribuiu para esta inflação. Portanto, que nós falamos a inflação de produtos alimentares, pois temos.
00:37:14:20 – 00:37:15:19
JORGE CORREIA
É impossível comprar uma.
00:37:15:19 – 00:37:40:05
SANDRA MAXIMIANO
Casa. Não é possível comprar exactamente e o que que acontece não tem essa solução, contou. Com todas essas boas intenções de arrefecer a economia, mas tem o grande perigo de arrefecer demais, porque vai empobrecer as pessoas. Porque o aumento da taxa de maior parte das pessoas tem crédito bancário para as que têm casa própria e têm crédito bancário para pagar e.
00:37:40:05 – 00:37:42:17
JORGE CORREIA
Normalmente com taxas variáveis. O que significa que é.
00:37:42:17 – 00:38:01:00
SANDRA MAXIMIANO
Uma vez também o grande problema em Portugal, porque comparativa com o mercado norte americano, que é o que eu conheço melhor há muitos anos. O default é que as pessoas peçam empréstimos com taxa fixa, taxa variável, exceção. Muito engraçado.
00:38:01:02 – 00:38:01:13
JORGE CORREIA
Mas não se.
00:38:01:13 – 00:38:04:04
SANDRA MAXIMIANO
Habituou à nossa que habituamo nos à taxa variável.
00:38:04:04 – 00:38:04:18
JORGE CORREIA
Que era mais baixa.
00:38:05:04 – 00:38:26:19
SANDRA MAXIMIANO
Porque é mais baixa. Mas isso tem muito a ver também com o e a falta de literacia financeira, porque a literacia financeira não significa apenas sabermos calcular os juros compostos de juros simples e fazer aqui alguns cálculos de produtos financeiros. Tudo está perdido, mas não significa isso. Literacia financeira significa que eu vou conseguir pensar mais do que hoje.
00:38:27:00 – 00:38:46:14
SANDRA MAXIMIANO
Vou pensar um bocadinho no que vai acontecer amanhã, no que pode acontecer amanhã. Vou pensar se sou uma pessoa que consiga assumir muito risco ou não a o que eu espero que não ordenado venha a acontecer daqui a dez anos. Será que tenho o suficiente para a minha reforma ou não tenho? Será que quando é que vou conseguir pagar este empréstimo?
00:38:46:14 – 00:38:48:04
SANDRA MAXIMIANO
Se vou conseguir pagar de tudo?
00:38:48:07 – 00:38:49:18
JORGE CORREIA
Lá está a Formiga.
00:38:50:13 – 00:39:04:18
SANDRA MAXIMIANO
Mas fazer este tipo de planeamento, este pensar na coisa. E depois há um. Nós somos muito optimistas. Mesmo quando o banco nos apresenta. Vamos pedir um empréstimo a 30 anos e nós recebemos aquela folha com os anos todos. Portanto, temos lá.
00:39:04:23 – 00:39:05:11
JORGE CORREIA
Ninguém menos.
00:39:05:19 – 00:39:26:16
SANDRA MAXIMIANO
Que ninguém ali e que tem lá o empréstimo. Tem lá todo o valor anual para cada ano e às vezes até mensal. Então, qual é que vai ser o nosso pagamento mensal para cada um dos anos do empréstimo, com a taxa variável assumindo uma estimativa, com o banco pronto, com o banco de ir para uma estimativa positiva, mais optimista, mais pessimista.
00:39:26:16 – 00:39:32:22
SANDRA MAXIMIANO
Nós recebemos esses papéis e as pessoas em geral não se preocupam com o ano 20, nem com 30.
00:39:33:06 – 00:39:35:10
JORGE CORREIA
Nem nos próximos dois anos ou três.
00:39:35:10 – 00:39:35:23
SANDRA MAXIMIANO
Já também.
00:39:36:02 – 00:39:46:23
JORGE CORREIA
Até porque o nosso rendimento na realidade vai crescendo e, portanto, tendencialmente, o que nos acontece a nós é que o empréstimo vai pesando menos em relação ao nosso rendimento em condições normais.
00:39:47:04 – 00:40:06:22
SANDRA MAXIMIANO
Que o nosso rendimento vai crescendo e isso é verdade. Mas há outra coisa que as pessoas não têm conseguido não é tão verdade o rendimento nominal esperado que cresça até à idade da reforma, depois a idade da reforma. Vamos lá uma talhada, não é? Mas há uma outra coisa as despesas vão aumentando. Há muitas pessoas.
00:40:06:22 – 00:40:08:10
JORGE CORREIA
E essa conversa estava a correr também.
00:40:08:16 – 00:40:18:24
SANDRA MAXIMIANO
Há muito com as despesas vão aumentando e então agora tende a correr melhor. É que não são só despesas com coisas bonitas e boas. Não é família. Cresceu com a nossa saúde.
00:40:18:24 – 00:40:19:14
JORGE CORREIA
Vai por aí.
00:40:19:14 – 00:40:37:22
SANDRA MAXIMIANO
E exactamente. A saúde é uma despesa brutal lá mesmo em sistemas de saúde que nós temos, temos, felizmente, com grandes falhas. Não tínhamos um sistema de saúde pública ainda que, pelo menos para grandes males, nos consegue dar uma proteção.
00:40:37:22 – 00:40:41:16
JORGE CORREIA
Grande nos outros. Nós temos que assegurar progressivamente maiores co-pagamentos?
00:40:41:16 – 00:40:42:15
SANDRA MAXIMIANO
Sim, sim.
00:40:42:15 – 00:40:43:19
JORGE CORREIA
Já sentimos todos, isso sim.
00:40:44:17 – 00:41:11:19
SANDRA MAXIMIANO
E temos que fazer esse planeamento. Temos que conseguir perceber que, para além dessa despesa, aquele empréstimo é o que eu possa vir a ganhar mais no meu ordenado, podendo compensar com as despesas cujo roteiro e isso é algo que as pessoas não fazem. Portanto, acaba por ser por ser também, pois, muito penoso quando acontece uma situação destas, com um aumento de juros e juros variáveis, que punha as pessoas muito desprevenidas e.
00:41:11:19 – 00:41:33:00
JORGE CORREIA
Eu resgatar esta conversa com uma ideia parva que acabei de ter. Em princípio, sem inflação há uns costas. E se juro está uma desgraça, isto agora é difícil de pagar e por aí fora. Mas depois pensei assim se isto, se os preços cresceram 10%, a minha casa também valorizou 10%.
00:41:33:00 – 00:42:04:06
SANDRA MAXIMIANO
Pois o problema é que não tendo antes de ver a casa que está no Marquês de Pombal, que informal no Largo do Rato, no Príncipe Real? Talvez, talvez sim. Talvez até valorize muito mais do que os 10% e que tenha aí um grande, um grande investimento. Mas o problema, o problema não é, não é basicamente só isso. O problema é que, tendo as taxas de juro aumentar, depois tem que encontrar.
00:42:04:06 – 00:42:08:23
SANDRA MAXIMIANO
Imaginemos que tem quatro em casa com um investimento seguro, pois pode vender a casa. Não é que.
00:42:08:23 – 00:42:11:01
JORGE CORREIA
Encontrar um investidor que consiga pagar a.
00:42:11:01 – 00:42:18:05
SANDRA MAXIMIANO
Conta consiga pagar a conta, até porque cada vez sendo mais difícil pedir um empréstimo bancário, também é mais difícil vender a casa.
00:42:18:05 – 00:42:19:17
JORGE CORREIA
Lá está o arrefecimento pronto.
00:42:20:07 – 00:42:42:16
SANDRA MAXIMIANO
E é, por vezes em muito. É isso que as pessoas têm que ter em ter noção e que a casa é sempre um investimento que pouco se pode. Podemos utilizar em caso de desespero ou necessidade, mas não nos dá logo em liquidez imediata. Por vezes, por vezes é necessária e, portanto, é preciso também ter isso em atenção.
00:42:42:18 – 00:42:53:04
JORGE CORREIA
Lá se foi o meu Prémio Nobel da Economia, claramente não. Não sou talhado para essas coisas porque que os impostos nunca baixam.
00:42:55:00 – 00:42:56:00
SANDRA MAXIMIANO
E são opções.
00:42:57:05 – 00:43:15:06
JORGE CORREIA
Não deflação em Portugal. Quer dizer, se nós olharmos para os países desenvolvidos todos, de uma forma ou direta ou indireta, de uma forma mais maquilhada ou de uma forma mais transparente, os impostos vão sempre crescendo. Encontramos sempre olha aqui mais mais um sim.
00:43:15:07 – 00:43:28:05
SANDRA MAXIMIANO
E não é, não é totalmente verdade. É verdade que temos uma carga fiscal muito elevada. Somos um dos países da Europa com uma carga fiscal muito elevada, sobretudo não só no RS. Mas não é assim.
00:43:28:05 – 00:43:30:16
JORGE CORREIA
Mas o IVA mais está sempre a pingar.
00:43:30:22 – 00:43:36:18
SANDRA MAXIMIANO
Exactamente. Mas não somos o mais importante. Há países com cargas fiscais.
00:43:36:18 – 00:43:38:01
JORGE CORREIA
Melhor não partilhar isso.
00:43:39:18 – 00:43:40:02
SANDRA MAXIMIANO
Mas é.
00:43:40:18 – 00:43:44:16
JORGE CORREIA
Uma questão só dos nórdicos, eventualmente com cargas fiscais muito, muito elevadas.
00:43:44:16 – 00:43:55:20
SANDRA MAXIMIANO
Elevadas. Mas mas é verdade, é um grande constrangimento. E eu diria que a carga fiscal muito elevada hoje em dia para a nossa economia é um grande constrangimento.
00:43:55:20 – 00:43:59:13
JORGE CORREIA
E onera principalmente as pessoas que trabalham.
00:44:00:03 – 00:44:53:10
SANDRA MAXIMIANO
Sim, é a partir daqui muito engraçado, porque no outro dia estava uma experiência que me aconteceu num supermercado, um bocadinho mercado em Lisboa de supermercado e a minha senhora, que trabalha no supermercado, então as duas colegas, uma colega. Portanto, ela entra e diz assim muito contente e que tinha. Estava toda contente. Tinha recebido um aumento salarial e que finalmente tanto empenho que ela pôs mesmo muito empenho, recebeu esse aumento salarial que foi fazer a mulher que na altura dos impostos, quando se apercebeu que tinha subido de escalão e que estava ela estava indignada, completamente indignada, porque basicamente em termos líquidos e significava eu não sei o montante daquele momento, mas ela disse que em termos
00:44:53:10 – 00:45:03:03
SANDRA MAXIMIANO
líquidos ela ia ganhar mais 15, porque pelo aumento do escalão e comia basicamente tudo aquilo que.
00:45:03:07 – 00:45:09:20
JORGE CORREIA
Devia ser proposto proporcional, não devia ser no fundo gradativo, mas não é sempre, não. E há momentos em.
00:45:09:21 – 00:45:19:19
SANDRA MAXIMIANO
Que não é exatamente daqueles momentos de transição. Basta que a pessoa não fixe. Que aumentos escalar não em 5 €, que faça que aquela pessoa de escalão.
00:45:19:19 – 00:45:20:11
JORGE CORREIA
A foi o aumento.
00:45:20:15 – 00:45:33:00
SANDRA MAXIMIANO
Qual foi o aumento? Às vezes até pode ser prejudicial. Se foi corrigido, portanto já tínhamos alguns problemas que foram nos escalões que permitiram corrigir isso, que era para não falar, não desincentivar ao trabalho.
00:45:33:00 – 00:45:34:04
JORGE CORREIA
E eu não quero esse aumento.
00:45:34:05 – 00:45:53:15
SANDRA MAXIMIANO
Quer dizer, para que é que eu vou esforçar para que? Pois no final o aumento é tão pouco ou então nenhum momento se encontrar foi prejudicado. Portanto, isso aí era, não fazia sentido nenhum. Mas mesmo um aumento que fique nos 10 €, menos 15 € desincentiva muito o trabalho. E isso é um grande problema, pois temos o problema do IRS.
00:45:53:15 – 00:45:56:04
SANDRA MAXIMIANO
Se que obviamente.
00:45:56:04 – 00:45:57:11
JORGE CORREIA
É o imposto sobre os lucros das.
00:45:57:11 – 00:46:12:19
SANDRA MAXIMIANO
Empresas empresas, o imposto sobre o lucro das empresas que também é muito alto. E o e temos aqui um problema porque nós quando falamos, as empresas acumulam lucro e não investem, pagam baixos salários, o que é verdade. Em Portugal não temos um salário muito.
00:46:12:19 – 00:46:15:24
JORGE CORREIA
Baixo e a malta emigra e em particular os mais qualificados.
00:46:16:06 – 00:46:16:12
SANDRA MAXIMIANO
Sim.
00:46:16:20 – 00:46:29:22
JORGE CORREIA
Senhor, eu acho que nós não pensamos bem no que é que nos está a acontecer. Quando? Quando estamos a olhar e dizer porque é que não está a faltar pessoas qualificadas, os médicos é um bom exemplo. O que está a acontecer é que os qualificados estão todos a ir procurar o futuro noutro sítio, sem.
00:46:29:22 – 00:46:47:18
SANDRA MAXIMIANO
São, estão a procurar e é que o problema é que eu acho que somos muito. Nós temos políticos muito optimistas no sentido em que nós não quer dizer não há mal nenhum. E é bom que se lá e depois volta a ser, porque eles voltam e até damos os incentivos, não é? Temos.
00:46:48:23 – 00:46:55:04
JORGE CORREIA
Temos vários e 100.160 funcionários. Era isso que aconteceu agora? Não agora, com incentivo.
00:46:55:04 – 00:47:17:11
SANDRA MAXIMIANO
O problema é que nem com incentivos nós temos realmente alguns incentivos para pessoas que estiveram alguns anos fora e que voltam em alguns incentivos fiscais que mesmo que apesar de ser um bom incentivo fiscal dada a nossa carga fiscal que existe em Portugal, é o nível salarial é tão baixo que esse incentivo não compensa. E depois há um outro problema.
00:47:17:11 – 00:47:30:06
SANDRA MAXIMIANO
Não é se deixarmos que as pessoas emigrem por muito tempo em idade em que estão, o que são idades jovens que vão ter filhos, vão ter filhos, vão, vão criar relações fora.
00:47:30:06 – 00:47:37:02
JORGE CORREIA
E vão se sentir numa nova. Mas é porque a Europa nesse momento é muito a nossa casa e portanto é muito tranquilo ficar.
00:47:37:05 – 00:48:02:04
SANDRA MAXIMIANO
É muito tranquilo ficar. É fácil viajar e vir vir cá. A família ir e o jogo também. O facto de a comunicação ser a comunicação à distância e hoje em dia também facilita, facilita muito mais essa diminuição da saudade e da ligação à terra. E, portanto.
00:48:02:13 – 00:48:04:01
JORGE CORREIA
Nós não estamos a desvalorizar.
00:48:04:01 – 00:48:32:09
SANDRA MAXIMIANO
Estamos, nós estamos a desvalorizar, estamos a desvalorizar o perigo que isto nos pode causar na nossa economia, porque nós temos aqui o problema que estamos a deixar ir, pessoas qualificadas, as quais para para as quais o Estado português contribuiu em muito e todos nós contribuímos muito para criar essas qualificações. Portanto, estamos estamos a dar esse valor e esse nosso investimento.
00:48:32:10 – 00:48:33:03
JORGE CORREIA
A tirar dinheiro pela.
00:48:33:03 – 00:48:35:16
SANDRA MAXIMIANO
Janela, tirar a dar esse dinheiro a outros não.
00:48:36:01 – 00:48:44:03
JORGE CORREIA
Que vão beneficiar e ao mesmo tempo com o pagamento de salários baixos. Estamos a atrair um conjunto de migrantes que na realidade são de baixa qualificação.
00:48:44:03 – 00:49:09:18
SANDRA MAXIMIANO
De baixa qualificação. Mas o mais engraçado ainda é que é que também precisamos dessas pessoas. Nós nós precisamos de pessoas para trabalhar em vários setores do setor fabril. O setor agrícola na construção é cada vez menos. Estamos a ter também a população portuguesa suficiente para dar resposta e disponível para trabalhar nesses setores. E também tem a ver com a crise demográfica que estamos a sentir.
00:49:10:02 – 00:49:19:23
SANDRA MAXIMIANO
Mas o problema é que mesmo não está a ser tão fácil capturar esses próprios imigrantes. Mesmo com salários baixos.
00:49:19:23 – 00:49:23:23
JORGE CORREIA
Vai ficando e vão se embora rapidamente sem encontrarem uma oportunidade de uma coisa que ela.
00:49:24:03 – 00:49:35:15
SANDRA MAXIMIANO
Pode procurar. E pode perguntar a qualquer imigrante com mais baixas qualificações se o sonho dele é ficar em Portugal ou ir para a Alemanha ou ir para uma Suécia.
00:49:36:00 – 00:49:38:02
JORGE CORREIA
Mostrando que é fácil. Eles não.
00:49:38:12 – 00:49:54:15
SANDRA MAXIMIANO
Basicamente, isto aqui é uma transição, é um país onde é mais fácil conseguirem um visto de residência que depois lhes permite moverem se na Europa. Portanto, acabam também mais facilmente se moverem sem roupa. Portanto, é um.
00:49:54:15 – 00:49:55:08
JORGE CORREIA
Ponto de passagem.
00:49:55:16 – 00:50:17:17
SANDRA MAXIMIANO
É um ponto de passagem. Portanto, temos aqui a criar estes dois problemas. Não temos salários. Mesmo ao nível do salário médio, o salário mínimo não é suficientemente atrativo para as mais baixas qualificações e depois os salários um pouco mais elevados, que não são de todo suficientes para para pessoas com bastantes qualificações.
00:50:17:17 – 00:50:23:07
JORGE CORREIA
É o caso. E quase não é mesmo a caricatura, mas não tarda muito. O salário mínimo ultrapassa o medir.
00:50:24:03 – 00:50:31:10
SANDRA MAXIMIANO
Sim, tem vantagens, tem vantagens e desvantagens. Mais uma vez é muito bom que o salário mínimo tenha vindo a aumentar.
00:50:32:03 – 00:50:37:07
JORGE CORREIA
Mas é muito mau que que o teto do salário médio e mantém esta quase estagnado.
00:50:37:07 – 00:51:10:16
SANDRA MAXIMIANO
E muito mau é que nós não tenhamos uma vala, um tecido empresarial com capacidade para dar bons salários e o facto de haver essa aproximação do salário médio ao salário mínimo é uma estatística e um cálculo. Portanto, significa que para o cálculo entraram todos os salários pagos na economia e o que é que acontece é que, claro, o salário, o salário é baixo, tem vindo a aumentar, não tem vindo um aumento depois dos salários mais altos e acaba por vir essa aproximação do salário com o salário, com o salário.
00:51:10:16 – 00:51:27:19
SANDRA MAXIMIANO
Mas, portanto, aqui, o que eu não diria cumprir é termos um salário mínimo a crescer no segundo combate à pobreza e aquela pobreza que é mesmo que que temos de combater e que faz parte dos direitos humanos. Nós queremos pessoas com uma com mínimo dignidade.
00:51:27:20 – 00:51:29:06
JORGE CORREIA
E entretanto, a classe média.
00:51:29:13 – 00:51:49:18
SANDRA MAXIMIANO
Só que a classe média está cada vez mais pobre. O problema é que nós temos uma classe média que vive. É quase impossível se pensarmos no salário mínimo, que é de 1.050 €. À volta disso, isso vamos olhar para o salário médio feminino ainda é mais baixo. Não siga e para não chega sequer.
00:51:49:18 – 00:51:51:02
JORGE CORREIA
Ainda temos esse problema e no.
00:51:51:02 – 00:52:15:24
SANDRA MAXIMIANO
Segundo problema, portanto, são os que são salários muito baixos, são de uma renda mensal. E já nem estou a falar das pessoas que estão à procura de casa neste momento. Portanto, ainda que tenham uma renda mensal dos 400 500, ainda é muito boa face agora às características do mercado de arrendamento, mas mesmo assim é muito pesado com despesas familiares.
00:52:15:24 – 00:52:39:19
SANDRA MAXIMIANO
Termos despesas correntes a pagar. Portanto, é muito difícil que que depois consigam consigam fazer mais do que sobreviver do que viver o quotidiano. E qual é a qualidade de vida que classe média hoje em dia tem? Se calhar comparativamente uma classe A ao mesmo tempo, falar de classe média há uns 30 anos atrás bastante mais reduzida.
00:52:39:24 – 00:52:42:21
JORGE CORREIA
E a perspetiva se calhar não é tão otimista.
00:52:43:13 – 00:53:07:17
SANDRA MAXIMIANO
É economista e posso acrescentar que uma coisa eu acho que é pensar nas grandes cidades. Eu acho que cria ainda mais infelicidade, porque hoje em dia, se pensarmos o pensarmos e pensar basicamente em Lisboa há 30 anos atrás, a oferta de Lisboa há 30 anos atrás, não é a oferta de Lisboa que nos permita hoje ao Porto ou outras grandes cidades em Portugal e falando do Porto e Lisboa.
00:53:08:06 – 00:53:38:10
SANDRA MAXIMIANO
E é muito difícil para a nossa classe média, para os nós, para a nossa população, que os salários portugueses usufruírem do que Lisboa hoje oferece, por exemplo, e isso cria e cria uma infelicidade. Cria uma sensação de não se ter não gente. As pessoas são mais infelizes quando lhes é evidente o que não chega, o que não tem acesso, porque existe muitas vezes que os povos em África têm tão pouco estão tão felizes, mas porque não têm a volta?
00:53:38:11 – 00:53:55:18
SANDRA MAXIMIANO
Não estamos a pensar naquelas vilas mais remotas que não têm uma oferta de coisas, bens e serviços onde possam comprar. Não é porque não existe essa oferta, não existindo essa oferta, as necessidades ou procura também é mais baixa.
00:53:56:07 – 00:54:00:09
JORGE CORREIA
E aqui, neste caso, nos grandes centros, nós temos essa oferta por um lado.
00:54:00:12 – 00:54:01:05
SANDRA MAXIMIANO
Mas não é.
00:54:01:12 – 00:54:12:21
JORGE CORREIA
Estamos a ser empurrados para, no fundo, para a grande periferia, por um lado, que gera essa essa infelicidade. É uma minha sensação. Quando abrimos.
00:54:12:21 – 00:54:17:12
SANDRA MAXIMIANO
E depois virmos nós vemos oferta, por exemplo, de restaurantes onde eles.
00:54:17:16 – 00:54:18:15
JORGE CORREIA
Não são para nós, mas.
00:54:18:15 – 00:54:20:24
SANDRA MAXIMIANO
Não são para nós. É exactamente isso, só.
00:54:20:24 – 00:54:23:20
JORGE CORREIA
Para aqui, uma refeição que é maravilhosa, mas custa 200 €.
00:54:23:22 – 00:54:24:18
SANDRA MAXIMIANO
Não é para nós.
00:54:24:19 – 00:54:37:23
JORGE CORREIA
E o turista olha, olha aqui. Um quarto de hotel no Algarve em agosto é extraordinário e custa 340 350, 400 € por dia ou 100 vem quem vai dormir aqui.
00:54:38:04 – 00:54:59:22
SANDRA MAXIMIANO
Não é para nós é e realmente acaba por ser. Isso gera mais infelicidade e é isso que eu quero que dizer e que é porque é evidente, é evidente. A nossa incapacidade, portanto, é a insatisfação da população. Vai ser cada vez maior. Se não conseguirmos aumentar a aumentar os salários, é impossível que não seja.
00:55:00:05 – 00:55:23:04
JORGE CORREIA
Quem se lembrou de dizer que o dinheiro não traz felicidade. É seguramente alguém com muito dinheiro. Se calhar deveríamos postular. Quem não tem dinheiro é menos feliz. Quem tem algum dinheiro e vem a inflação gulosa a desvalorizá lo, fica ansioso. Esta coisa de empobrecer é uma ideia que me aborrece. Quando acontece, o mesmo é a equação de ricos cada vez mais ricos e pobres, cada vez mais pobre.
00:55:23:04 – 00:55:53:13
JORGE CORREIA
Está a precisar de ser arranjada, senão a economia deixa de ser uma respeitável ciência e passa a ser uma descarada desculpa. O que é que me dizem até a semana que?