Sandra Fernandes | Quando acaba a guerra?

Sandra Fernandes | Quando acaba a guerra?
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O medo do nuclear, a derrota de Putin, a propaganda e o jogo dos espiões.

Um olhar sobre a dinâmica e a comunicação da guerra na Ucrânia. A maneira como as forças em confronto usam a comunicação para influenciar o curso da guerra. Sandra Fernandes é professora de Relações Internacionais e estudiosa da Rússia e saberes na área da guerra híbrida que hoje vivemos.

O mundo está incerto.

O discurso público é cada vez mais um sinal dessa incerteza.

Dessa dúvida. Desse não dito.

Como se não dizer apagasse os factos.

O mentir fosse uma nova forma de fingir verdades enganadoras.

Nesta edição voltamos olhar a guerra.

A tentar antever para além do fumo e da poeira.

A poeira real e a percecionada.

Vamos às perguntas?

Quando acaba a guerra?

Como acaba a guerra?

Quando voltamos a ter paz?

Como este é um ‘podcast’ de perguntas simples hoje dedico-me a fazer as mais diretas, fáceis e óbvias.

As respostas podem ser mais complicadas.

Ficou-me por estes dias uma frase do historiador Timothy Snyder citado por Teresa de Sousa no jornal Público.

“No princípio, ninguém conseguia imaginar que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia poderia começar. E, no entanto, começou. E agora ninguém consegue imaginar como é que vai acabar. E, no entanto, acabará.”

Timothy Snyder

As guerras começam sempre por uma decisão política e terminam exatamente da mesma forma.

Seja por acordo, seja por rendição.

A história está repleta de exemplos desta dinâmica.

Na edição de hoje falámos de comunicação, de propaganda, de verdade e de perceções.

Tudo misturado.

Os discursos políticos sobre a guerra vão variando conforme a situação no terreno. O que está a acontecer ou não está a acontecer é sempre objeto de uma cuidadosa e sistemática manipulação comunicacional.

Seja pela divulgação ou pela ocultação de factos.

Seja pela inclusão de fórmulas de retórica, ameaça ou diminuição do outro lado.

Com tanta incerteza floresce a ciência certa da propaganda, das notícias falsas ou claramente tendenciosas.

Proponho que percam uns minutos a ler a opinião dos jornais ou os comentadores de televisão. Escolham os mais aguerridos. Os mais próximos ou opostos de um determinado facto.

E ouçam com atenção. Não com vontade de contrariar ou seguir a tese do comentador, ou líder.

Ouçam com pensamento crítico. Verifiquem os factos lendo peças jornalísticas de jornais de referência.

E muitos dos factos jurados como reais são afinal tigres de papel usadas para criar perceções nos mais distraídos.

O discurso do uso potencial de uma arma nuclear, o corte do gás, as narrativas do tipo da guerra fria, com apelos a armar-nos até aos dentes, são bons exemplos do efeito da comunicação interessada e nada neutra na nossa vida.

Para perceber a esta guerra, o está por de trás dela e como se encontra o caminho da paz, conversei com Sandra Fernandes, professora de Relações Internacionais e estudiosa da Rússia e saberes na área da guerra híbrida que hoje vivemos.

Numa palavra, o conflito aberto hoje em curso na Europa trouxe uma surpresa diária.

Como é fácil perceber Sandra Fernandes mantém contactos com colegas cientistas sociais na Rússia e por isso escolhe proteger a sua identidade e até o que muitos podem pensar, mas tem de calar.

Talvez a coisa principal que se joga hoje na Ucrânia, tal como outrora noutros movimentos militares, é a liberdade.

A liberdade de autodeterminação. De expressão e ter uma vida em paz.

Sem liberdade toda a comunicação é mera caixa de ressonância.

Ou de silencio forçado, ou cúmplice.

E falar aberta e livremente é vital para o nosso modo de vida.

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