Estamos no pรณs-jornadas mundiais da juventude e atรฉ para um nรฃo crente รฉ impossรญvel nรฃo observar toda uma sequรชncia de momentos, palavras e emoรงรตes que criaram um acontecimento รบnico na cidade de Lisboa.
Na perspetiva da comunicaรงรฃo, o Papa รฉ detentor de uma poesia muito prรณpria na sua linguagem. Nรฃo sรฃo sรณ as palavras. Sรฃo as pausas. Sรฃo os olhares.
Para os crentes hรก um olhar sobre a sua fรฉ. Para os outros um olhar sobre a sua humanidade.
O Papa que fala a centenas de milhares de pessoas em Lisboa รฉ o mesmo que falou โ sem dizer uma รบnica palavra โ para uma Praรงa de S. Pedro vazia no tempo da pandemia.
Este aparente contraste faz-me ir recuperar uma conversa tida com Josรฉ Manuel Pereira de Almeida em fins de maio de 2020, mesmo na saรญda de um dos confinamentos da COVID 19.
Pereira de Almeida รฉ professor de รฉtica, padre e mรฉdico.
E se a parte da conversa sobre a pandemia sabe, felizmente, a um tempo antigo, todas as outras palavras sรฃo de uma atualidade permanente.
Gostei em particular do momento em que partilha connosco a importรขncia de acolher o outro, de sorrir, de ouvir.
Uma linguagem universal que ajuda a perceber uma forma de viver ao serviรงo dos outros.
Talvez algo ainda mais importante do que a certeza ou dรบvida que sempre paira sobre a existรชncia de deus.
Mas a curiosidade existe e vale sempre a pena fazer a pergunta โDeus Existe?โ
LER A TRANSCRIรรO DO EPISรDIOTranscriรงรฃo automรกtica
0:00:11 – JORGE CORREIA
sOra Viva-o. Bem-vindos ร segunda ediรงรฃo do podcast Pregunta Simples. Depois de passar pela televisรฃo com Clara de SouSa, รฉ tempo de ouvir palavras que vรชm do pรบlpito de um altar. As igrejas tรชm normalmente uma excelente acรบstica, um som caracterรญstico com um ecoinimitรกvel, mas tambรฉm podem ser palavras de cรกtodara, de um mestre que ensina teologia na universidade, ou de um mรฉdico que sabe ler pedaรงos da nossa carne, chama-lhe tecidos, mas que intui o espรญrito das pessoas num piscar de olhos. Chama-se Josรฉ Manuel Pereira de Almeida e รฉ o convidado desta ediรงรฃo. ร mรฉdico, รฉ padre, รฉ professor, mas estes sรฃo rรณtulos mais formais. Lรก dentro tem muito mais coisas para mostrar. Conhecemos-nos numa Comissรฃo Diรฉtica. Todos nessa Comissรฃo sabiam muito do tema da Eรฉtica. Acheto eu.
O meu papel nessa Comissรฃo era o de Preguntador Ignorante. Seguramente fui convidado porque nada sabia de nada. Nรฃo me dei mal na funรงรฃo ao longo da vida nรฃo saber nada de nada e perguntar sobre tudo. Desde esses tempos ouvi-o sempre com atenรงรฃo, muito por aquilo que sabia e tanto por aquilo que dizia. Nรฃo saber ou duvidar E assumir isso sรณ estรก ao alcance dos sรกbios ou dos mestres. Este รฉ um podcast sobre comunicaรงรฃo e o convidado desta ediรงรฃo usa a palavra e o silรชncio para comunicar. Comeรงamos com a mais รณbvia e fรกcil das perguntas E Deus existe.
0:01:56 – PEREIRA DE ALMEIDA
Para muitos pode ser uma pergunta, creio mesmo que para aqueles que defendem que nรฃo existe, serรก mesmo a pergunta da vida.
Neste tempo que รฉ o nosso, creio que para os cristรฃos recebemos de Paulo VI uma e do patriarcto Atenรกgoras ao tempo, na visita ร Jerusalรฉm, em que ele reconhecia o texto รฉ conjunto e editem francรชs, porque a lรญngua internacional que รฉ o Espรญrito Santo fala ร s nossas igrejas, portanto ร igreja oriental e ร igreja ocidental, atravรฉs do ateรญsmo dos nossos irmรฃos e irmรฃs. E portanto, isto para dizer, se calhar, estamos todos nessa procura, alguns mais conscientes, outros menos, uns pela negaรงรฃo, outros pela convicรงรฃo de que, a partir de uma determinada via, hรก uma procura de sentido que faz denominar alguรฉm de Deus eu estou a dizer alguรฉm, porque รฉ a tradiรงรฃo cristรฃ e que diz que Deus รฉ pai ou mรฃe de todo somado, mas estamos lรก no seu coraรงรฃo, ou seja que Deus mora no nosso coraรงรฃo, mas sรญnteme, particularmente prรณximo daqueles que sobre isto nรฃo sabem dizer nada. Hรก uma tradiรงรฃo importante da teologia cristรฃ que รฉ a teologia negativa, quer dizer que nรณs fazemos melhor serviรงo a Deus nรฃo dizendo nada do que dizendo as tontices que ร s vezes em algumas teologias aparece.
0:04:04 – JORGE CORREIA
Como รฉ que รฉ ser padre e subitamente os fiรฉis desapareceram da igreja. Imagine que desapareceram.
0:04:11 – PEREIRA DE ALMEIDA
Claro que desapareceram E como desaparecemos todos de todo lado. รฉ da convivialidade e portanto para o padre, รฉ essa da igreja vazia ou, naquela imagem tรฃo difundida e que eu creio que atingiu a todos, falou da mesma maneira crentes e nรฃo crentes do Papa numa praรงa de Sรฃo Pedro Vazia. ร uma imagem fortรญssima, digo eu.
0:04:39 – JORGE CORREIA
Como รฉ que viu esse momento.
0:04:41 – PEREIRA DE ALMEIDA
Sim, como profecia, no que diz respeito a poder comungar da dor e da afliรงรฃo em tantos outros sรญtios diferentes, que se haviam confinados que รฉ agora um termo que a gente tambรฉm aprendeu numa intimidade nรฃo querida, numa escolha de uma closura nรฃo desejada.
E portanto, o que รฉ um padre e uma igreja vazia รฉ outra vez tomar a consciรชncia de que claro que nรณs somos, na tradiรงรฃo cristรฃ, a assembleia que รฉ conta, nรฃo รฉ O sujeito que reza, que escuta a palavra que รฉ assembleia E portanto, na ausรชncia fรญsica de uma assembleia, รฉ perceber que eu Caristia, no caso vulgarmente diz missa, รฉ a missa, รฉ celebrada por todos os que estejam, quer ou nรฃo, a uma obra pequenina de Art Chardinck que รฉ intitulada A Missa Sobre o Mundo. E a ideia de facto de retirar o aspecto consumista das missas, a vulso e a todas as horas e como se vai ao supermercado. E portanto queramos, que quer ou nรฃo, ou se quer que nรณs tambรฉm resbalamos para estas ideias feitas que no ocidente versam as ideias do consumismo. E esta hipรณtese, que nรฃo nos foi proposta, que nรฃo foi escolhida por ninguรฉm, foi tambรฉm a ocasiรฃo de repararmos que hรก coisas que hรก para lรก daquilo que รฉ imediato e hรก relaรงรตes que perduram para lรก daquilo que รฉ imediato.
0:07:07 – JORGE CORREIA
Quer dizer que, apesar das pessoas nรฃo se reunirem na comunidade nessa altura da missa, a comunidade se mantive perci, ainda que psicologicamente, a se sentir de uniรฃo.
0:07:17 – PEREIRA DE ALMEIDA
Eu creio que sim, que aquela ideia do estarmos perto ainda que longe, estarmos prรณximos ainda que distantes, isso de resto foi facilitado porque poderia nรฃo ser exatamente ali ร volta, nรฃo รฉ De resto isso nas cidades jรก nรฃo estava tรฃo ร volta, assim a mobilidade.
0:07:42 – JORGE CORREIA
No Maldรฉm a missa รฉ uma coisa importante, em particular a ideia de ir no domingo a missa dominical ainda รฉ uma coisa.
0:07:50 – PEREIRA DE ALMEIDA
Eu acho que ainda marca. Nรฃo รฉ Atรฉ para aqueles que nรฃo vรฃo e que ficam no cafรฉ zinho ร frente. Mas atรฉ isso faltou. Nรฃo รฉ O cafรฉzinho da frente da igreja.
0:08:00 – JORGE CORREIA
Se nรณs olhamos para aquilo que sรฃo ritos religiosos, mas estรฃo bem muito ritos culturais. Estou a pensar nos casamentos que pararam, nos batiismos que foram adiados e nos funerais inadiรกveis, mas onde nรฃo estava ninguรฉm.
0:08:18 – PEREIRA DE ALMEIDA
Pois isso durante eu tive funerais todo esse tempo, pois estรก claro, e nas primeiras circunstรขncias situaรงรตes podiam ser Mesmo assim. Na cidade รฉ diferente, como tu dizias, podiam ser mais penosas. Isso mudou muito a partir de miados desta temporada, quando se disse nรฃo hรก limite para os familiares. E claro que nas famรญlias grandes o limite depois dizia respeito a. De cada um. Depois hรก a circunstรขncia objetiva do espaรงo, mas Como eram esses funerais sem pessoas?
Com quatro pessoas. Sim, pessoas, sim eram, podiam ser. Eu tive boas experiรชncias, mas acho que outras circunstรขncias nรฃo foram boas experiรชncias, sobretudo aquelas em que vivem o afeto muito ร flor da pele. Nรฃo รฉ Porque nรฃo hรก abraรงos, nรฃo hรก Tanto, foi tudo muito sรณbrio nรณs aqui, se calhar, jรก somos mais sรณbrios do que em outras bandez do mundo e portanto acabava por ser uma dor muito vivida. Sem partilha nรฃo รฉ, e portanto sem o espaรงo do acompanhamento humano que torna mais humana a dor ou eventualmente vivรญvel.
0:09:47 – JORGE CORREIA
Qual รฉ a importรขncia do toque nesses momentos?
0:09:51 – PEREIRA DE ALMEIDA
Pois รฉ, รฉ tanto e nesta altura nada e mais. E a expressรฃo com a mรกscara a expressรฃo tambรฉm muda muito e portanto a gente sรณ vรช os olhos e nรฃo sabe nada o que รฉ que se passa abaixo. รs vezes os olhos falam, mas nรฃo dizem tudo.
0:10:08 – JORGE CORREIA
E o poder da palavra, alguรฉm com a experiรชncia que tem com enfim, com muitos anos a acompanhar comunidades e nesses momentos hora de grande felicidade, como o caso dos casamentos ou batismos, hora de grande tristeza e luto, como um funeral de um entre querido Como รฉ que escolha as palavras? Prepara-se para isso, pensa sobre isso, escreve sobre isso, ou รฉ um ato natural e de empatia nesta conversa?
0:10:43 – PEREIRA DE ALMEIDA
Eu diria que a gente sim, que arreza sobre isso, e durante muito tempo, e continua a ser um desafio no geral. Para as coisas importantes, que รฉ de alegria, que รฉ de tristeza, as palavras nunca chegam e portanto nรณs temos as palavras que dizem na tradiรงรฃo cristรฃ, a palavra que รฉ o prรณprio Jesus. Portanto a gente espera que de alguma maneira isso passe atravรฉs dos nossos pobres termos e dos gestos, que aqui sรฃo mais austeres depois e que a pouco e pouco, como as pessoas tambรฉm conhecem a palavra e sรฃo essa que Deus, nos dirijem, jesus, que viveu uma vida humana atรฉ ao fim, nรฃo excluindo o sofrimento e a morte, podem elas prรณprias anunciar-nos essa mesma palavra, ou seja. Acreditamos que nรฃo hรก uma comunicaรงรฃo รบnica, quer dizer, as pessoas nรฃo sรฃo รบnicamente destinatรกrias, eles tambรฉm sรฃo protagonistas, sรฃo habitados por mesma palavra e podem, na melhor das hipรณteses, evangelizar os padres.
0:12:09 – JORGE CORREIA
Entรฃo hรก um diรกlogo entre as pessoas.
0:12:12 – PEREIRA DE ALMEIDA
Sim, mesmo quando nรฃo รฉ dito.
0:12:15 – JORGE CORREIA
Ocorre-se-me agora provavelmente dos diรกlogos mais รญntimos que pode ter tido a questรฃo do confecionรกrio formalmente num confecionรกrio, mas seguramente hรก muitas conversas, assim como esta, que hรก voltas uma vez Deixar que realizaram um bocadinho isto. como รฉ que se resolveu isso? Que pessoas enfim da comunidade que precisaram de trocar algumas palavras, de ouvir algumas coisas e desabafar posso usar a expressรฃo?
0:12:45 – PEREIRA DE ALMEIDA
Pode, com certeza radiaram e passรกmos a fazer, sempre com marcaรงรฃo, que รฉ uma coisa que a gente habitualmente na igreja estรก disponรญvel ao ponto. e agora nรฃo ร por marcaรงรฃo, รฉ com uma hora, รฉ com uma distรขncia, รฉ com uma higienizaรงรฃo da cadeira e da mesa em que outra pessoa se sente depois do outro lado. Sim, e portanto radiaram, mas, como dizias, tive atรฉ recentemente pessoas que nรฃo รฉ para se confessarem, รฉ para a procura do sentido que tem este desentido todo desta coisa que nos aconteceu. Isto รฉ que senti-te, isto portanto, e รฉ engraรงado porque a gente no geral, como em todas as boas conversas, devolvemos-lhe a pergunta, vamos encontrando alguns caminhos ร procura desse sentido.
0:13:44 – JORGE CORREIA
Faz parte da parte da do uso da palavra รฉ muita. A parte da escuta.
0:13:49 – PEREIRA DE ALMEIDA
ร muitรญssima parte da escuta.
0:13:51 – JORGE CORREIA
Como รฉ que escuta bem? Dรก uma ideia que os tempos estรฃo muito para se falar muito, para se falar muito alto e para se ouvir muito pouco, ouvindo o murmurio das coisas. Que estratรฉgias sรฃo estas para escutar?
0:14:04 – PEREIRA DE ALMEIDA
Estar lรก e estar disponรญvel, nรฃo julgar e ter tempo, nรฃo andar ร pressa, isto sรฃo tudo coisas raras neste momento que a gente se encontra. Eventualmente o tempo melhorou, quer dizer nรฃo sei porque agora ao menos temos mais tempo entre as reuniรตes, porque nรฃo temos que nos deslocar de um lado para o outro, a nรฃo ser nรณs aqui hoje, por exemplo, porque sempre ร frente de um รฉ crรฃ e estamos sempre de uma sala e entramos de outra, com ambientes muito diferentes e sem tempo gasto nos transportes. Mas o tempo รฉ um recurso escasso no mundo em que vivemos, nรฃo รฉ? E portanto dar tempo, dar atenรงรฃo, dar um sorriso, dar confianรงa รฉ tambรฉm expressรฃo de uma vida que se dรก, que se entrega e eu creio que isso faz viver. ร uma vida que faz viver, que dรก a possibilidade ao outro de ser quem รฉ e de perceber que, na visรฃo crente, que Deus o ama, mesmo que as circunstรขncias ร s vezes nos mostrem o contrรกrio.
Quando vimos a imagem, para quem nรฃo viu do Papa atravessar a Praรงa de Sรฃo Pedro a fazer uma viesa vi a sacra em si, no meio da praรงa, sem ninguรฉm, completamente a praรงa fazia via uma Essa tendรชncia nem foi via sacra, foi uma oraรงรฃo sobre o povo como a venรงรฃo. sim.
0:15:48 – JORGE CORREIA
E hรก o sinal do silรชncio, porque hรก momentos em que o Papa para e ouve, sovente verdadeiramente esse silรชncio. Como รฉ que viu isso?
0:16:06 – PEREIRA DE ALMEIDA
Esse silรชncio รฉ muito cheio de sentido, nรฃo รฉ? Eu creio que ali estรก a humanidade, suspensa como ainda nos encontramos hoje do tanta coisa e numa pausa que, como quando nรณs paramos de respirar um instante, nรฃo รฉ. Ficamos em suspenso durante um tempo e eu creio que foi isso que acontece ร humanidade naquelas momentos.
0:16:43 – JORGE CORREIA
E notou-se mais por este Papa ser um Papa cheio de palavras. Ele รฉ um Papa cheio de palavras e palavras vibrantes. Ele nรฃo poupa palavras.
0:16:53 – PEREIRA DE ALMEIDA
Sim, mas tambรฉm nรฃo รฉ um fala barato. Quer dizer, sendo do origem italiana, sendo um argentino, sendo um jesuita, podia De facto. Ele escolhe muito bem o que diz. รs vezes tem termos muito simples, mas nรฃo nos podemos enganar acerca da facilidade com que quer dizer. Toda a gente o percebe, mas depois, quando se lรช o que ele escreve, nรฃo รฉ uma leitura sรณ nรฃo dรก para perceber tudo. Ele nรฃo pรตe muitos adjetivos para dizer o que pretende ou seja o texto, que รฉ simples, tem densidade em cada palavra.
0:17:46 – JORGE CORREIA
Podemos ficar em Itรกlia. A Covid nรฃo tinha chegado. A Portugal, tรญnhamos muito poucos casos e olhรกvamos para as imagens do caos nos hospitais. olhรกvamos para o nรบmero de mortos muito elevado e Olhamos tambรฉm para decisรตes รฉticas que tiveram de ser tomadas Nomeadamente. Isso foi muito discutido, a probabilidade que era imaginar que a realidade de que nem todos os doentes italianos que necessitavam poderam ter acesso a um ventilador, a uma mรกquina de respiraรงรฃo que os pudesse ajudar a sobreviver ร Covid. Como รฉ que se faz uma escolha destas?
0:18:37 – PEREIRA DE ALMEIDA
Isso รฉ uma questรฃo que surge logo no inรญcio da chamada bioรฉtica, ano 70, estados Unidos, reins Arteficiais. Era a questรฃo de hemodiales. Como รฉ que hรก poucos aparelhos hรก muitos pretendentes? como รฉ que se faz, portanto, a criaรงรฃo da primeira, de uma das primeiras comissรตes da รฉtica, chamada nรฃo por acaso God’s Committee, exatamente para decidir quem Comitรช de.
Deus, quem vive, quem morre, como se Deus tivesse essa funรงรฃo, que รฉ uma coisa que eu acho que tambรฉm รฉ a de teologia devidosa. Isso foi muito agudo em todas estas circunstรขncias e deu de novo novos escritos de vรกrios matizes. ร muito importante que haja critรฉrios objetivos, definidos ร partida, para diminuir ou evitar uma arbitrariedade momentรขnea de sentimentos ou de afinidades. ร muito importante que nรฃo seja, por exemplo, sรณ a ideia da idade ou que os velhos sejam como que relegados para uma vida que nรฃo tem valor. Lembra outras coisas mais estranhas acerca do sentido da humanidade E portanto, efetivamente, em cada circunstรขncia, รฉ preciso proteger os que estรฃo mais vulnerรกveis, mas dando a oportunidade para que eles tenham maior possibilidade de sair do ventilador, porque nรฃo se ventila ninguรฉm ainda, mesmo em circunstรขncias sem sรฉria e epidemia, para depois ficar ligado ร mรกquina. Nรฃo รฉ Tanto. Isso, รฉ um azar dos azares.
Portanto, utiliza essa mรกquina transitoriamente para conseguir salvar alguรฉm E portanto รฉ preciso que ela seja bem aplicada naqueles que tรชm melhor possibilidade de passar por lรก e dar lugar ao outro. Ficando-os bem entendido.
0:20:50 – JORGE CORREIA
Quero imaginar que numa unidade de cuidados intensivos com dezenas de doentes entrar todos os dias e com incapacidade real de resposta, essa capacidade de decidir seja um.
0:21:07 – PEREIRA DE ALMEIDA
ร um trabalho muito รกrduo, trabalho de equipa, e รฉ isso que faz, por exemplo, o burnout dos profissionais de saรบde que viveram estes tempos na linha da frente. Como se disse, tambรฉm utilizando uma expressรฃo que eu creio que รฉ bรฉlica, tudo somado ร o esgotamento. Isso E portanto tambรฉm eles precisam, depois de algum recuo e de alguma recuperaรงรฃo, depois de voltar de novo a esta luta, porque รฉ de uma luta que se trata pela vida.
0:21:47 – JORGE CORREIA
Da sua experiรชncia como mรฉdico, e ainda por cima numa instituiรงรฃo no IPO de Lisboa, onde a vida e a morte estรฃo ali, sempre, em permanรชncia. Como รฉ que as equipas gerem isto? O que รฉ que se diz a quem? Como รฉ que isto funciona dentro de uma dinรขmica de equipas?
0:22:07 – PEREIRA DE ALMEIDA
Pois eu, apesar de tudo, vi aos de fora porque estava numa รกrea em que o primeiro pedido รฉ que fizesse bons diagnรณsticos e depressa, e isso tambรฉm conta para tratamentos. Agora sim, o nรญvel de formaรงรฃo em termos de humanidade dos tรฉcnicos, que รฉ importante que sejam bons tรฉcnicos na รกrea em que se encontram, mas que tenham de facto um background, uma formaรงรฃo humana de reflexรฃo sobre o seu agir, sobre as consequรชncias do seu agir, sobre as motivaรงรตes. No fundo trata-se de uma formaรงรฃo completa e o mรฉdico tem-se. Quer dizer, qualquer escola de medicina que se preze aponta nesse sentido.
A minha altura, ou na altura em que nos formรกmos, aqueles que agora temos perto de 70 anos, tรญnhamos poucos que nos tematizaram coisas destas. Houve isso no Miller Guerra, por exemplo, que nos deu histรณria da medicina e de ontologia, mas a de ontologia nรฃo era a de ontologia dinheira, era uma reflexรฃo muito humanista da medicina e tivemos grandes mestres que, sendo internistas ou patologistas, de facto discurriam sobre a vida e o mistรฉrio da vida na relaรงรฃo de encontro das pessoas umas com as outras. E eu acho que isso รฉ o que faz a formaรงรฃo de um mรฉdico hoje, que se calhar agora dรก-se mais atenรงรฃo ร s questรตes da bioรฉtica, da filosofia da medicina ou seja lรก, mas รฉ muito importante aquela figura dos mestres em que aprendemos a pensar e a sentir, como vemos que eles pensam e sentem e decidem nas alturas decisivas.
0:24:24 – JORGE CORREIA
Os mestres desapareceram ou รฉ especulativo?
0:24:28 – PEREIRA DE ALMEIDA
dizer isso Eu creio que as grandes figuras para nรณs, como รฉ natural, sim, de alguma maneira entre nรณs nรฃo teremos, mas รฉ evidente que os miรบdos continuam. Eu acho, por exemplo, o Manel Sorencimรตes, para muitos que o tiveram como professor e como companheiro, de Configura na minha รกrea anatomia patolรณgica, essa figura do mestre, o que รฉ que o distingue, eu imagino.
0:25:04 – JORGE CORREIA
Quer dizer critรฉrios tรฉcnicos que saรญam da anatomia patolรณgica de irmear. Mas hรก mais qualquer coisa aรญ?
0:25:10 – PEREIRA DE ALMEIDA
Hรก essa relaรงรฃo humana de pensar a medicina, de pensar a vida, a relaรงรฃo das pessoas de procurar mais, ir mais longe e nรฃo se resignar com o sofrรญvel ou o pocachinho.
0:25:31 – JORGE CORREIA
Isso A questรฃo do mestre era uma provocaรงรฃo. O primeiro da medida รฉ um mestre Tem os chibros?
0:25:37 – PEREIRA DE ALMEIDA
Nรฃo pergunte-se a mim.
0:25:38 – JORGE CORREIA
O que รฉ que lhes diz, o que รฉ que Tem alunos faz parte de comissรตes dรฉticas, o que รฉ que diz aos, o que รฉ que diz ร queles que o querem ouvir. Eu acho que essa รฉ a palavra que eu quero colocar vale a pena perceber a รกrea em que nos movemos.
0:25:59 – PEREIRA DE ALMEIDA
nรฃo รฉ Portanto aqui na Catรณlica. a minha รกrea รฉ a reflexรฃo รฉtica na รกrea social E portanto Imagino que os exames sejam fรกceis de fazer.
0:26:13 – JORGE CORREIA
Sim, uma cadeira de biรฉtica e reflexรฃo social. Eu nรฃo.
0:26:18 – PEREIRA DE ALMEIDA
No geral os exames Fazer ou Em termos de anunciado ou de responder.
0:26:23 – JORGE CORREIA
Imagino que anunciado quer dizer pode perguntar coisas qual รฉ o sentido da vida ou coisas sobre os sรญmbolos de responder.
0:26:29 – PEREIRA DE ALMEIDA
Como vai ser em coisas objetivas. pode-se ainda nos poder classificar com objetividade?
0:26:33 – JORGE CORREIA
Imagino que nรฃo dรก para fazer cruzinhas nรฃo รฉ.
0:26:36 – PEREIRA DE ALMEIDA
ร que vocรช tem que ser mesmo uma reflexรฃo.
0:26:38 – JORGE CORREIA
Sim.
0:26:40 – PEREIRA DE ALMEIDA
Mas o que รฉ muito, muito importante รฉ Para quem pensa estas questรตes da รฉtica, รฉ acordar que qualquer pessoa tem um certo saber de รฉtica porque a sua experiรชncia moral รฉ รบnica e repetรญvel, e pode ser mais novo ou mais velho, mas ele chega ao encontro comigo ou com os outros com essa bagagem, e valorizar isso รฉ logo um primeiro passo. Portanto, isso รฉ o que eu digo de entrava a quem comeรงa um percurso comigo.
0:27:25 – JORGE CORREIA
Sim, Nรณs hรก pouco falamos da questรฃo dos ventiladores e da questรฃo das escolhas รฉticas, que nรฃo tรชm sรณ a ver, seguramente, com os ventiladores, mas falamos da questรฃo dos rins, lรก estรก, da questรฃo de quem รฉ que tem acesso ou quem nรฃo tem. E cada vez mais, se nรณs olhamos para a nossa pirรขmide etรกria em Portugal, vemos que o nรบmero de pessoas mais velhas รฉ cada vez maior e mais crescente. Essas questรตes vรฃo-se colocar cada vez mais no nosso paรญs e naquilo que รฉ nossa civilizaรงรฃo ocidental.
0:27:57 – PEREIRA DE ALMEIDA
Eu diria que, sobretudo nas circunstรขncias de alguma crise como esta que estamos a viver, no que de respeito ao considerar uma sociedade com muitos idosos, eu creio que รฉ uma claro que vamos ter que preparar para ela e se calhar, nรฃo fizemos a preparaรงรฃo de vida atรฉ agora. Vida รฉ a questรฃo dos lares e afins, mas que os velhos nรฃo sejam encarados como um peso ou uma sobrecarga que nรณs temos que alviar. Os mais velhos sรฃo, como em muitas culturas percebemos, aqueles que garantem o futuro, porque trazem uma memรณria e essa capacidade de transmitir ร s vรกrias geraรงรตes.
0:28:59 – JORGE CORREIA
Sรฃo a nossa biblioteca.
0:29:01 – PEREIRA DE ALMEIDA
Mais do que isso. A biblioteca tambรฉm รฉ muito importante E por isso eu creio que nรณs temos que nos equipar em matรฉria de uma melhor rede de cuidados, paliativos, por exemplo, e paliativos nรฃo รฉ o sentido paliungo da proteรงรฃo e portanto paliativos nรฃo รฉ para as รบltimas semanas ou apรณs รบltimos dias. Paliativos, todo o cuidado, mesmo o curativo, tem que ter uma parte paliativo. Mas a palavra tem mรก fama, a palavra tem mรก, pรฉssima fama e eu nรฃo sei como รฉ que a gente melhora, mas paliungo nas preciรงรตes nรฃo tem mรก fama. Assim vai fazer aquele tetozinho.
0:29:44 – JORGE CORREIA
Faz som bem proteรงรฃo.
0:29:46 – PEREIRA DE ALMEIDA
E portanto, mas a ideia de opor dizer que jรก nรฃo faz mais nada, se nรฃo, jรก nรฃo hรก perspectiva nenhuma, jรก estรก nos cuidados paliativos, jรก estรก, a ideia, assim ร uma ideia de fim.
ร uma ideia de prรฉ. Havia uns senhores que diziam que eram como se fosse os mordoros E portanto que eles nรฃo estavam interessados nisso. Ninguรฉm estรก interessado nisso, como se fosse uns serviรงos para a Cรขmara de Morte. Nรฃo sei se diz a Cรขmara de Morte ou a Cรขmara de Morte, e entรฃo? mas os cuidados paliativos bem estruturados, que requerem uma rede fina e muitas vezes sรฃo domiciliรกrios. Tambรฉm era importante termos apoios em casa que permitem que as pessoas possam estar na sua casa com conforto, em vez de serem exportadas para outras instituiรงรตes que nรฃo lhes dizem nada sobre o ponto de vista da histรณria e das relaรงรตes.
0:30:52 – JORGE CORREIA
Durante este tempo uma das questรตes que se colocou muito mesmo ainda antes que estavam entrenados, no caso da Covid, era que os familiares nรฃo podiam ir visitรก-los. Os piores casos nรฃo.
0:31:05 – PEREIRA DE ALMEIDA
Mas claro, viram, despediram-se para o vรญdeo chamada. Nรฃo รฉ, Sim, foram coisas muito, muito pernosas.
0:31:18 – JORGE CORREIA
Por outro lado, imagino que mesmo para um doente que estรก entrenado numa unidade de cuidados intensivos que nรฃo esteja sedado obviamente ver os mรฉdicos e as enfermeiras ร sua volta metidos dentro de escafandros onde praticamente se vรชem os olhos, sim se tanto Nรฃo hรก calor, Se tanto รฉ bastante e รฉ tudo muito branco, รฉ tudo muito frio.
0:31:41 – PEREIRA DE ALMEIDA
Sim, รฉ verdade, รฉ verdade.
0:31:43 – JORGE CORREIA
Essa relaรงรฃo enfim. Vamos chamar-lhe mรฉdico doente. Mas รฉ muito pouco dizer. Mรฉdico doente รฉ quase indistente nesse sentido.
0:31:53 – PEREIRA DE ALMEIDA
ร verdade. Isso passa a ser uma circunstรขncia quase laboratorial e tรฉcnica Em que nรณs jรก nรฃo somos. Estamos ร espera que ele passe depressa para podermos voltar a ser.
0:32:12 – JORGE CORREIA
Imagino, รฉ minha sensaรงรฃo. Eu tenho sempre duas curiosidades sobre os relatรณrios que os mรฉdicos produzem, quer das anรกlises, quer da anatomia patolรณgica, quer do que for. A primeira curiosidade รฉ porque รฉ que os exames veem sempre um envelope fechado. Se รฉ para nรณs, abrirmos. E a segunda รฉ porque รฉ que aquilo estรก escrito de uma maneira ininteligรญvel, ininteligรญvel ininteligรญvel.
0:32:36 – PEREIRA DE ALMEIDA
Mas รฉ isso, รฉ sim Ao porquรช. Quer dizer, รฉ suposto que esteja bem escrito. รs vezes nรฃo estรก. ร suposto que seja em portuguรชs, Portuguรชs, portuguรชs, ร s vezes nรฃo estรก, porque usa-se um calรฃo de tal coisa que nem o portuguรชs รฉ portuguรชs, nรฃo รฉ. Lembre-se da quantidade de palavras inglesas que entraram na gรญria comum, quanto mais na medicina nรฃo รฉ. Antigamente era grega, agora passou em inglรชs, que faz a mesma funรงรฃo.
0:33:07 – JORGE CORREIA
ร grego para a maioria das pessoas.
0:33:08 – PEREIRA DE ALMEIDA
Exatamente nรฃo, e รฉ o grego E portanto de facto depois tem que se traduzir em linguagem compreensรญvel para quem, para a pessoa, para o interessante, para a famรญlia. nรฃo รฉ O que รฉ que eu estou a dizer quando digo o que, e por isso o que vai escrito รฉ mais a base para uma boa conversa, de encontro e de relaรงรฃo e de explicaรงรฃo do diagnรณstico, do que propriamente um rรณtulo para pรดr na pessoa.
0:33:43 – JORGE CORREIA
Quando nรณs estamos perante. Imagino que isso acontece com todos os mรฉdicos. Olhamos, por exemplo, para a oncologia e a situaรงรฃo de um doente รฉ verdadeiramente difรญcil, comunica-se o que Comunica-se, toda a verdade, metade a verdade, a verdade que o doente quer, porque hรก aqui muitos inoendes no meio desta conversa, nรฃo รฉ?
0:34:07 – PEREIRA DE ALMEIDA
A primeira coisa รฉ saber que tomรกramos nรณs para perceber alguma coisa do que รฉ verdade Todos. Depois รฉ evidente que รฉ na verdade do diagnรณstico. Nรฃo รฉ, รฉ sempre uma verdade provisรณria e vamos ver. E depois nรฃo รฉ sรณ o diagnรณstico, รฉ tambรฉm o prognรณstico, lembrando que nรฃo hรก doenรงas, hรก doentes. Contra-diz a minha รกrea, porque na minha รกrea a gente anda ร procura das doenรงas e portanto classifica doenรงas e nรฃo e deixa ao clรญnico esse trabalho de perceber que na histรณria concreta daquela pessoa aquela doenรงa tem estas particularidades que ele depois vai acompanhando, porque a terapรชutica tambรฉm nรฃo รฉ, nรฃo dรก a todos o mesmo efeito em todos.
0:34:56 – JORGE CORREIA
Por aรญ fora, Mas imagine que, pelo olho do microscรณpio, quando vรช determinados tecidos com algumas alteraรงรตes que para si sรฃo clarรญssimas, nรฃo pode deixar de pensar que este doente e este caso nรฃo tem nenhum bom prognรณstico.
0:35:13 – PEREIRA DE ALMEIDA
Claro o prognรณstico tambรฉm. dรก-nos sรณ o ponto de vista morfolรณgico, a ideia do diagnรณstico e do prognรณstico, a clasicaรงรฃo รฉ cada vez mais fina, sobretudo com a imunรณ, e que permite perceber atรฉ, em determinadas circunstรขncias, dizer baixa grau de maligunidade, alta grau de maligunidade. Agora, com isto tudo, depois as pessoas nรฃo sรฃo todas iguais e nรฃo E os estudos aos doentes.
Pois isso รฉ um trabalho que o que o de relaรงรฃo, como o Jorge dizia, hรก um bocadinho do mรฉdico doente e portanto da relaรงรฃo do mรฉdico assistente ou da equipe que acompanha o doente, รฉ essa relaรงรฃo de diรกlogo em que, em princรญpio e ร maneira abstrata e norte-americana, os doentes subtraรญmos-se do paternalismo dos mรฉdicos do antigamente tรชm direito a verdade sobre si, mas a verdade sobre as pessoas nรฃo pode ser uma verdade que esmaga a vida, que quer viver, que nรฃo estรก ร espera de um abafador, estรก ร espera de uma ajuda. Nรฉ. Portanto eu creio que foi feito, mesmo nos americanos, uma investigaรงรฃo dos รญndios navajos em que quem a verdade era dita ou o diagnรณstico era dito a mulher, a mulher, nunca o marido. Nรฉ.
0:36:56 – JORGE CORREIA
O que a gente sabe. Parece que รฉ a รบnica mim que sabe.
0:36:59 – PEREIRA DE ALMEIDA
E portanto a ideia de perceber que รฉ pessoa, รฉ uma pessoa, mas tambรฉm tem uma famรญlia e que isso a medicina familiar faz melhor do que ninguรฉm diria eu, e que, portanto, que acompanha todo um processo que um roto, que a pessoa pode querer saber como รฉ, que se chama a doenรงa mas isso nรฃo muda muito acerca de nada se for um nome esquisito e que, portanto, รฉ de facto a verdade que a pessoa pode apelher e sobretudo a verdade que a possa fazer caminhar na esperanรงa ou seja.
0:37:44 – JORGE CORREIA
Pode haver o risco de destruir a esperanรงa.
0:37:46 – PEREIRA DE ALMEIDA
Isso e a esperanรงa รฉ a รบltima a morrer, ou seja, quando morra a esperanรงa, nรณs tambรฉm morremos, nรฉ. E portanto claro que se estamos numa situaรงรฃo iminente, se a pessoa tem รฉ importante resolver coisas em termos de famรญlia, รฉ bom, perceba que nรฃo tem provavelmente dois anos ร frente para ver, mas o que รฉ que nรณs sabemos? Nรฃo sabemos nada. Pode morrer no mesmo instante.
Qualquer um de nรณs estamos aqui a falar, mas a ideia de que aceta o devido, que รฉ uma coisa que a gente nunca pรตe em uma barreira, que tem de facto, para eles um horizonte mais curto e portanto hรก coisas em que pode ser importante manter a pessoa numa determinada, mesmo com alguma terapรชutica que ajuda a poder resolver as coisas e a despedir das pessoas antes de depois poder ser acedada, ou isso tem que ser vou utilizar uma palavra estรบpida porque se usa para tudo nรฉ Negunciada. Tambรฉm tem que ser negociada, portanto tem que se perceber plรกssia e contras e sobretudo tem que se perceber o coraรงรฃo das pessoas. Isso รฉ uma vida para aprender.
0:39:13 – JORGE CORREIA
Nos tempos de covid, que รฉ onde de nรณs ainda estamos. Covid, covid, covid, covid. Exageramos a falar do tema. Usamos na medida certa ou, se calhar, olhando para trรกs, podemos ter seguido outro caminho. Estou a olhar e imaginar que muitos doentes nรฃo covid de outras doentas que continuam a existir, claro. E desapareceram nos hospitais com medo se podemos usar a palavra ou nรฃo.
0:39:41 – PEREIRA DE ALMEIDA
Eu acho que o que desapareceu muito foi as urgรชncias que nรฃo eram urgรชncias. Baixamos nos bรขnicos de urgรชncia. Isso รฉ bom. Desapareceu as consultas.
0:39:55 – JORGE CORREIA
Sim, isso รฉ que eu acho queโฆ As consultas de repetiรงรฃo que se calharam nรฃo eram necessรกrias Talvez, e depois como os hospitais tambรฉm se organizaram em termos de รกreas especรญficas.
0:40:08 – PEREIRA DE ALMEIDA
Eu acho que essa ideia do medo desapareceu em termos de hospitais. Agora hรก muitas coisas que ficaram aviadas, suspensas, cirurgias, coisas assim. Eu nรฃo sei muito bem, mas acho que isso vamos ter que retomar antes deโฆ E recuperar agora.
0:40:27 – JORGE CORREIA
Lassiona teologia moral. Nesses tempos de Trumps, Bolsonaro e Afins, qual รฉ a moral da histรณria?
0:40:36 – PEREIRA DE ALMEIDA
Para quem pensa as questรตes da รฉtica social, nรฃo hรก moral da histรณria. Ou seja a histรณria ensina-nos a que o bem e o mal nos atravessam na nossa histรณria pessoal e na histรณria das instituiรงรตes, ou seja que hรก estruturas na tradiรงรฃo atรฉ a vinda da Amรฉrica Latina, com a trilogia da imprimiรงรฃo em si, nรณs dizemos hรก estruturas de pecado.
0:41:02 – JORGE CORREIA
ร o diรกrio.
0:41:05 – PEREIRA DE ALMEIDA
ร a questรฃo que, sendoโฆ o pecado รฉ sempre entendido como pessoal. nรฃo รฉ Sรณ que hรก organizaรงรตes, a leis econรณmicas, a organizaรงรตes da sociedade que, direta ou indiretamente, podem influenciar as pessoas a viver falhando o sentido verdadeiro da vida, que รฉ a vida na relaรงรฃo com os outros. Portanto, uma vida virada para si, uma vida em que eu tenho o primeiro lugar e em que o outro nรฃo me interessa, ou se me interessa, sรณ me interessa porque eu ganho com isso Por exemplo quase utilitรกrio e nรฃo de bem com o outro.
Portanto, estruturas econรณmicas ou a apartheid ou a mรกfia, sรฃo lugares em que a gente percebe o que รฉ que estรก a falar, quando faz, quando fala de estruturas de pecado. รs vezes o poder polรญtico leva essas estruturas a umaโฆ sem serem estados de direito com a democracia a funcionar saudรกvelmente. Leva essas estruturas a nรญveis que, na fase atual da nossa vida, esperรกvamos nรฃo voltar a encontrar. Claro, os Estados Unidos devem encontrar saรญdas airosas. Agora o Brasil รฉ preocupante numa situaรงรฃo destas e atualmente.
0:42:48 – JORGE CORREIA
Mas o facto รฉ que nรณs podemos olhar para Bolsonaro, olhar para a trampa, mas como o mel e esses fenรดmenosโฆ comeรงam a repetir-se com muita frequรชncia e popularidade dentro da prรณpria Europa.
0:43:02 – PEREIRA DE ALMEIDA
Sim, o que era algo que Sim, desde a รบltima guerra a gente preferir nunca mais ouvir falar. Nรฃo รฉ De cรก na.
0:43:12 – JORGE CORREIA
Europa. O discurso populista รฉ um discurso fรกcil de entender, รฉ binรกrio, da essas respostas e porque a gente tem uma comunicaรงรฃo, รฉ atrativa.
0:43:20 – PEREIRA DE ALMEIDA
E รฉ preocupante. Nรฃo รฉ Provisto, รฉ atrativo, รฉ fรกcil. ร propaganda, a palavra que eu usava, Pois era Propaga-se pela propaganda e รฉ fรกcil, nรฃo รฉ Eu. Agora jรก hรก muitas coisas acerca do populismo, nรฃo รฉ? E vale a pena refleti-las para estarmos pervenidos, fundamentalmente porque pode haver um pequeno Bolsonaro aqui que surge no bairro ou no municรญpio nรฃo รฉ Para nรฃo falar de clubes de futebol pronto E que possa galvanizar as boas vontades, imagino.
0:44:14 – JORGE CORREIA
Vamos buscar esta entrevista com quase um desafio. Nรฃo sei se a memรณria vai para aรญ ou se qual รฉ que foi a sensaรงรฃo da primeira Eucaristia, agora, depois do Covid, de estar de novo no Pulpito a falar ร sua comunidade, ou se preferir lรก atrรกs e pensar na primeira missa, na primeira homilia que esteve. que fazer para uma comunidade? Como รฉ que foi a sensaรงรฃo? A sensaรงรฃo.
0:44:51 – PEREIRA DE ALMEIDA
Entรฃo lรก atrรกs era Bem, agora รฉ a tua vez, no sentido de que velasse as desenrascas, nรฃo รฉ? Portanto, se depois nรฃo se dio certo, nรณs nunca estamos preparados para estes momentos iniciais, nรฃo รฉ, iniciais. A gente estudou, estudou, tal, tal, acha que agora รฉ que รฉ, mas somos uns atados. Lembro que ter que preparar, bem, รฉ claro.
Mas por exemplo, uma vez no Hospital de Santa Maria que alhei, que presidiam um funeral de um familiar de uma colega, e acho que fiz um discurso que mais ou menos cobria o tema a vรก da questรฃo, e foi uma coisa que devia ser claramente que estava atado, quer dizer queria falar para lado dos limites confecionais porque havia uma grande participaรงรฃo de pessoas que nรฃo eram catรณlicas ou que nรฃo eram cristรฃs, nem eram crentes, e vi-me de acordo com os cรบcos, se รฉ assim uma jรก agora que a gente vai lรก para trรกs. Agora nรฃo, pois se foi a possibilidade de dizer ร s pessoas que aquilo que a gente conversou logo no inรญcio, que era, se para as pessoas foi um grande peso nรฃo ter esta ausรชncia da visibilidade na Sebaรงรฃo de Eu-Christia, para os fatos tambรฉm nรฃo รฉ fรกcil a gente estar a separar sozinho por todos sem ser para aqueles, e portanto isso decorreu com muita leveza no sentido que era muito sujado e foi bem preparado e corro bem.
0:47:01 – JORGE CORREIA
E assim aconteceu. Antes de vos pedir que subscrevam o podcast ou falem dele aos vossos amigos, ou se gostarem mesmo mesmo muito, deixem um comentรกrio no web ao podcast. sou no site PreguntaSimplescom. Fiquem com uma nota final. tenho na minha mรฃo o รบltimo livro de Praia da Almeida. A dor dos outros, diz o autor que se trata. que se cuida, que se acolhe como รบnica palavra, com paixรฃo, atรฉ a prรณxima.