Como vai a vossa verdade?
A minha vai bem, obrigado.
A edição de hoje resume o conceito de verdades diferentes.
É estranho, não é?
Verdades diferentes. Factos diferentes.
Sem prova nem demonstração.
São assim porque alguém os declara como existentes.
Podia ser uma rábula, mas é um sintoma dos dias de hoje.
E expressa-se na comunicação global.
Preparem-se assim para defender verdades mil.
Afinal, a verdade é um conceito elástico no mundo moderno.
Navegamos por entre muita informação, talvez demasiada informação, e uma aparente transparência que esconde muitas coisas.
Estamos na era da informação e da desinformação.
As duas coisas em simultâneo.
Até agora os factos eram os factos, as opiniões eram as opiniões.
Agora vivemos uma espécie de distopia informativa.
A cada novo virar de página da realidade aparece alguém a reclamar que tem a sua verdade. Não a sua opinião ou perspetiva. Reclama a sua verdade. Que pode diferir da verdade dos outros.
A verdade tornou-se assim um conceito fluído. Uma pós-verdade onde se misturam factos, perceções, intuições e convicções.
É o terreno fértil para toda a cultura da desinformação. Das “fake-news” as falsas notícias. Numa contradição extrema rotulando de falso o que é, por definição, verdadeiro. Ou pelo menos honesto.
Esta conversa é sobre estes fenómenos mas também sobre um antídoto chamado bom jornalismo. Sobre a importância de ter uma opinião pública mais bem informada e consciente. Com menos dogmas. Com menos viés. Com menos crendice cega e mais cidadania.
Paulo Pena é cofundador de um projeto de jornalismo de investigação internacional. Junta jornalistas europeus de 11 países. Para melhor entender e explicar este nosso mundo.
Do mais verdadeiro ao mais lunático.