Hoje viajamos pelo universo do cérebro.
Pela maneira como comunicamos, como aprendemos, como sabemos quem somos e como somos.
Ou pelo menos sabemos qualquer coisa, do tanto que ignoramos.
Já imaginaram que a nossa máquina de pensar tem 86 mil milhões de neurónios? E 16 mil milhões são uma espécie de células VIP, vivendo numa assoalhada chamada córtex cerebral?
Já que estamos em modo de curiosidade enciclopédica, descobri que o cérebro, apesar de ter apenas 2% do peso do corpo, consome 25% da energia total.
O que me dá uma boa desculpa para comer muito.
Afinal é comida para o pensamento.
Agora a sério, este é um programa sobre a casa do pensamento. Aqui em cima, na cabeça.
Embora haja neurónios espalhados até pelo tubo digestivo.
Veem? Mais uma boa desculpa para comer bem.
A magia do funcionamento do cérebro humano é hipnotizante.
Há um infinito mistério quando tentámos compreender como um quilo e meio de células cinzentas consegue pensar tanto.
O tamanho pode até não ser tão importante.
Mas a capacidade de aprender, conhecer e recordar é provavelmente o segredo da inteligência humana.
A capacidade de pensar. De imaginar. De criar algo novo. De criar relações entre coisa, pensamentos e emoções.
Lá dentro, na caixa negra, por acaso cinzenta, há milhares de ligações, milhares de contactos.
Ou serão milhões de sinais elétricos?
É nesse cérebro onde guardamos as palavras que aprendemos. Que as agrupamos em frases, poemas e livros.
Que podemos imaginar, chamar alma ou simplesmente perguntar quem somos, de onde vivos e para onde vamos.
Cérebro onde tem provavelmente morada a consciência. E seguramente a nossa forma de ser e pensar.
Será alma? Será biologia?
Em busca de respostas vou em busca de um perguntador-cientista, Nuno Sousa um escutador profissional das neurociências, um hábil comunicador e tradutor simultâneo do que quer dizer a grande ciência.
Uma conversa que me deu que pensar.
Do nada, pouco, tanto ou tudo que podemos saber ou ignorar.
TÓPICOS:
O funcionamento do cérebro humano [00:00:12]
Nuno Sousa discute a complexidade do cérebro humano e a sua capacidade de pensar, aprender e criar.
A natureza do conhecimento [00:03:23]
Os diferentes níveis de conhecimento e a angústia de nunca saber tudo.
A influência das neurociências [00:06:48]
Como o conhecimento das neurociências pode influenciar as nossas decisões de compra e votos políticos.
O cérebro humano se adapta [00:09:22]
Como o cérebro humano possui capacidades plásticas para se adaptar aos estímulos e ao contexto que o rodeia.
A importância da conectividade cerebral [00:11:44]
A importância da conectividade entre diferentes redes e regiões do cérebro, e como isso influencia a forma como nos comunicamos.
A complexidade do cérebro humano [00:14:11]
Sobre a complexidade do cérebro humano, que permite antecipar o futuro, ter consciência de si mesmo e criar um sistema de valores próprio.
O funcionamento do cérebro humano [00:15:40]
Neste tópico, é discutida a forma como o cérebro humano funciona, incluindo a criação de uma escala de valores pessoal e a importância de necessidades básicas como comida e frio.
A inteligência artificial [00:17:14]
Nesta parte, é abordada a temática da inteligência artificial, sendo mencionado o potencial e os limites dessa tecnologia, assim como a sua influência na sociedade.
A influência das tecnologias na vida cotidiana [00:19:11]
Neste tópico, é discutido o impacto das tecnologias, como o Google e os algoritmos de busca, na forma como as pessoas pesquisam e consomem informações, e como isso afeta a sociedade.
O uso da tecnologia na medicina [00:23:22]
Discussão sobre o uso da tecnologia na medicina e como preparar os profissionais de saúde para utilizá-la de forma adequada.
A influência da máquina nas decisões clínicas [00:24:07]
Conversa sobre a possibilidade da máquina resolver melhor os problemas de saúde e a importância de manter o controle sobre as decisões clínicas.
A relação entre médico e paciente [00:25:52]
Exploração da importância de os médicos se preocuparem com o ser humano à sua frente, além de se fascinarem com a tecnologia.
Discriminação na escolha de modelos educacionais [00:30:56]
Discussão sobre a falta de capacidade socioeconómica das famílias para proporcionar diferentes modelos educacionais aos seus filhos.
Previsões sobre o futuro dos cuidados de saúde [00:31:18]
Exploração das previsões sobre o uso da tecnologia, a sofisticação da incorporação de dados e a importância das competências comunicacionais e de trabalho em equipe.
A importância da comunicação na área da saúde [00:35:43]
Ênfase na importância da comunicação entre profissionais de saúde, pacientes e seus cuidadores, e a necessidade de desenvolver habilidades de comunicação adequadas às diferentes gerações.
Responsabilização cultural [00:38:37]
Discussão sobre a mudança cultural na responsabilização individual e a complexidade dos processos sociais.
Inteligência coletiva [00:40:23]
Exploração da expansão da inteligência coletiva e o surgimento de um cérebro coletivo através da interconexão de conhecimentos.
Desafios da informação [00:43:10]
Reflexão sobre a capacidade do cérebro de discernir a verdade diante da propagação de notícias falsas e a importância do filtro na disseminação de informações.
TRANSCRIÇÃO AUTOMÁTICA
JORGE CORREIA (00:00:12) – Ora vivam! Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre Comunicação. Hoje vamos viajar pelo universo do cérebro, pela maneira como comunicamos, como aprendemos, como sabemos quem somos e como somos. Ou pelo menos sabemos qualquer coisa do tanto que ignoramos. Já imaginaram que a nossa máquina de pensar tem 86 mil milhões de neurónios E que 16 mil milhões são uma espécie de células VIP vivendo numa assoalhada chamada córtex cerebral? Já que estamos em modo de curiosidade enciclopédica, descobri que o cérebro, apesar de ter apenas à volta de 2% do peso do corpo, consome 25% da energia total, o que me dá uma boa desculpa para comer muito, afinal, é comida para o pensamento. Agora a sério, este é um programa sobre a Casa do Pensamento. Aqui, aqui em cima, na cabeça. Embora haja neurónios espalhados até pelo tubo digestivo. Vêem mais uma boa desculpa para comer bem. A magia do funcionamento do cérebro humano é hipnotizante. Há um infinito mistério quando tentamos compreender como é que um quilo e meio de células cinzentas consegue pensar tanto.
JORGE CORREIA (00:01:34) – O tamanho pode até não ser muito importante, mas a capacidade de aprender, de conhecer e recordar é provavelmente o segredo da inteligência humana. A capacidade de pensar, de imaginar, de criar algo novo, de criar relações entre coisas, entre pensamentos e emoções. Lá dentro, na caixa negra para casa cinzenta, há milhares de ligações, milhares de contactos ou serão milhares de milhões de sinais elétricos? E nesse cérebro, onde guardamos as palavras que aprendemos, que as agrupamos em frases, em poemas, em livros e que podemos imaginar chamar de alma. Ou simplesmente perguntar quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Cérebro onde provavelmente tem morada. A consciência é seguramente a nossa forma de ser e de pensar. Será alma? Será biologia? Em busca de respostas, vou à procura de um pensador cientista. Não sou um escuta de profissional das neurociências. É um hábil comunicador e tradutor simultâneo do que quer dizer a grande ciência. Numa conversa que me deu que pensar do nada pouco, tanto ou tudo que podemos saber ou ignorar.
JORGE CORREIA (00:02:50) – Viva! Não sou professor catedrático, diretor de um Centro Clínico de Investigação da Universidade do Minho e do Hospital de Braga. Certo xadrezista ouvi e ouvi agora xadrezista. É sempre engraçado esta esta ideia de que esses níveis do conhecimento. Ora, nós não sabemos nada e sabemos que nada sabemos. Ora, no topo da escala sabemos tudo que dominamos tudo. O rei do problema é que nós estamos normalmente no meio, entre e entre o não saber coisa nenhuma e o saber muito. E às vezes pensamos que sabemos tudo, já sem saber.
NUNO SOUSA (00:03:23) – Completamente correto, Jorge, O ponto é de facto o primeiro e o último nível. São estados que quase não existem porque obviamente nós sabemos sempre alguma coisa sobre alguma coisa, mas muito raramente sabemos tudo sobre alguma coisa. E, portanto, nós viajamos entre entre dois estados do conhecimento, um estado em que sabemos relativamente pouco, mas achamos que somos uns tipos que realmente dominam o assunto. Os maiores.
JORGE CORREIA (00:03:58) – Da Cantareira.
NUNO SOUSA (00:03:59) – Os maiores da Cantareira. É altamente perigoso em larga medida e muito pouco ansioso.
NUNO SOUSA (00:04:06) – Médico, é bom que se diga, porque para o próprio é muito simpático.
JORGE CORREIA (00:04:10) – E se faz uma embriaguez do conhecimento.
NUNO SOUSA (00:04:12) – É exactamente um tipo está embriagado por achar que é, que é, que é o da Cantareira mesmo sobre aquele assunto. E depois um estado muito mais difícil, que é aquele estado em que de facto, nós já sabemos bastante sobre o assunto. Mas temos aquela dúvida metódica de que se calhar não sabemos o suficiente para para nada, para resolver nada e portanto, nunca chega.
JORGE CORREIA (00:04:39) – Isso angustia, é isso, essa ideia de que eu nunca vou saber tudo.
NUNO SOUSA (00:04:46) – Não me angustiava. E essa é a beleza de se ficar mais velho. E digo isto sem problema nenhum, porque tu, tu aprendes os limites da tua pessoa. Isso é espetacular.
JORGE CORREIA (00:05:03) – Então esses tu.
NUNO SOUSA (00:05:03) – Humildade é um exercício de humildade. Precisamente quando um tipo é jovem, tem aquela ambição de que de facto eu vou ser a última coca cola no deserto daquele assunto e cuidar de tudo junto com a experiência não tem que ser necessariamente cuidada.
NUNO SOUSA (00:05:19) – Obviamente, isso também depende das características personalidade de cada um. Tu, tu, tu encaras com toda a naturalidade os teus limites e os limites do teu contexto, que fazem com que tu possas contribuir de uma forma interessante, mas sem nenhuma obsessão por tudo o que for de facto, dominar todo o conhecimento.
JORGE CORREIA (00:05:39) – Só para chatear a humanidade. Muitos médicos dedicam se a estudar o coração, o pâncreas, os rins, o fígado e tu disseste Não, eu por mim vou estudar o cérebro. Compraste um bilhete para para essa angustia permanente?
NUNO SOUSA (00:05:55) – Pois acabas de tirar uma camada da minha roupa, do meu hábito externo. Porque? Porque me apanhaste na realidade. E esse foi o motivo pelo qual eu fui parar às neuro coisas que eu já não acho que sejam. Um campo de ciência. É uma estratégia para te dizer toda a verdade.
JORGE CORREIA (00:06:17) – Onde é que está a fronteira?
NUNO SOUSA (00:06:18) – A fronteira está como? Como? Como isto e como isto tem implicações para tudo o que nós fazemos. De facto, é muito mais do que um campo de saber.
NUNO SOUSA (00:06:34) – É um campo em que tu, com o domínio ou com algum domínio do campo, tu de facto influencias, muitos influencias, multidões.
JORGE CORREIA (00:06:45) – E agora em português isso quer dizer o que.
NUNO SOUSA (00:06:48) – Isto quer dizer? Que tu hoje, com aquilo que são os nossos conhecimentos das neurociências, tu podes influenciar aquilo que tu vais comprar. Quando estás numa grande superfície ou numa livraria, vais influenciar até a tua forma de decidir. Por exemplo, politicamente, o voto.
JORGE CORREIA (00:07:09) – Quem sou eu e o que eu faço? E porque é que faz exactamente? Não é biologia só.
NUNO SOUSA (00:07:14) – Não é biologia, só são um conjunto de estímulos que muitas vezes nós não nos apercebemos e que de facto, em alguma medida, manipulam o nosso cérebro.
JORGE CORREIA (00:07:25) – Portanto, isto o que tu estás a dizer é que essa ciência da compreensão do cérebro é, de facto, quase a aproximar se da ideia de alma que antigamente existia quase que algo plástico que ao mesmo tempo nos define, que ao mesmo tempo que nos guia, que ao menos e que ao mesmo tempo, ainda por cima tem o desplante de nos organizar questionando quem és tu, o que faz e porque é que fazes Precisamente.
NUNO SOUSA (00:07:52) – E essa é a força das neurociências. E lá está. Repara, e eu sempre achei fascinante esta viagem de estar a fazer um esforço para conhecer melhor o meu cérebro e por essa via, me conhecer melhor a mim e aos outros.
JORGE CORREIA (00:08:07) – A fazer as perguntas que tu queres respondidas para ti próprio.
NUNO SOUSA (00:08:11) – Absolutamente eu. Estás a ver o que é a experiência? É um tipo ser capaz de também expressar se sem nenhum e sem nenhum problema, sem nenhum enviesamento, nenhum, nem explícito, nem implícito, as suas, as suas fraquezas. E aqui um componente na curiosidade que é muito egoísta. Tenho um componente altruísta, obviamente que que sobre o qual eu posso falar e sobre o qual eu músculo, obviamente em em em conversas com maior formalismo do que esta que estou aqui a ter com e com os teus colegas, estou à vontade e com os meus pares. E depois, neste ambiente eu de facto sou capaz de dizer que há aqui um componente também egoísta de me conhecer melhor a mim e de perceber também os meus limites e se calhar, de perceber porque é que eu só conseguia prever três ou quatro lances em antecipação em vez dos cinco que deveria almejar para ter sido um grande mestre na arte do xadrez.
JORGE CORREIA (00:09:15) – Olha o que é que te? Quais são? Quais são as perguntas? Qual é a pergunta que neste momento te inquieta o espírito?
NUNO SOUSA (00:09:22) – A uma pergunta que me tem vindo a inquietar com tonalidades, com nuances diferentes ao longo da minha vida, enquanto tu, enquanto investigador, enquanto cientista que é, como é que o nosso cérebro se adapta? E tu já usaste? O termo técnico tem capacidades plásticas para se adaptar ao aos estímulos e ao contexto que o rodeia e portanto fomos evoluindo. E digo fomos porque obviamente isto é um esforço de motivar muitas pessoas à volta da mesma ideia e garantir que nós nos motivamos uns aos outros e, portanto, ultrapassamos as dificuldades que cada um de nós sente num determinado momento. Mas colectivamente, temos um objetivo.
JORGE CORREIA (00:10:15) – Comum e uma inteligência coletiva e.
NUNO SOUSA (00:10:17) – Uma inteligência coletiva, um cérebro social, se tu quiseres também, que é que é que é um tema muito, muitíssimo interessante. E portanto, eu comecei com uma pergunta à volta do conceito de stress, sendo que stress tu? Toda a gente acha que é uma coisa negativa, Não é nada.
NUNO SOUSA (00:10:35) – O stress é aquilo que nos trouxe até hoje aqui, sem estresse nós não conseguimos sobreviver. Que nos salve, que nos salve, obviamente. Claro que tenho um componente mal adaptativo que que tem, que tem efeitos nefastos para a nossa saúde cerebral cognitiva, mas também para para bom, para os outros sistemas do tu no nosso, do nosso corpo. E é fomos entendendo escrita que regiões é que é que é que eram mais afetadas que alterações e que aconteciam primeiro do ponto de vista estrutural, com as técnicas que nós na altura dominávamos. E se quiseres podemos falar um pouco sobre isso. É uma história que tem alguma piada. Enfim, como todas as narrativas hoje em dia. Eu acho que quanto melhor isso há. Quanto os aspectos que são interessantes, procuramos esquecermo daqueles que foram menos interessantes.
JORGE CORREIA (00:11:29) – Deixas cair as.
NUNO SOUSA (00:11:29) – Outras que deixam cair as outras. Essa é a auto narrativa normal.
JORGE CORREIA (00:11:33) – Uma arte de contar a.
NUNO SOUSA (00:11:33) – História. É uma arte de contar histórias até partir para a história e para se criar significado e significância para ti e para aqueles que tu amas.
NUNO SOUSA (00:11:44) – E depois começamos a evoluir mais para pouco, para algo que é de facto mais importante do ponto de vista do estudo do cérebro, que é a conectividade entre entre diferentes redes, entre diferentes regiões e com as novas tecnologias. Nós agora abordamos isto do ponto de vista do conector, uma estrutural do conector, uma funcional com técnicas de imagem como manipulação de regiões.
JORGE CORREIA (00:12:10) – Mas isso é dentro do nosso cérebro, de cada um de nós. E isso sendo que, por exemplo, nós dois estamos agora aqui a conversar. E esta atitude de conversa parece tão simples e é tão natural. Na realidade é um ato em que o meu cérebro e o teu estão a plantar coisas na cabeça do outro. Exatamente isto é fascinante, absolutamente fascinante.
NUNO SOUSA (00:12:29) – O facto de tu teres evocado o meu passado de jogador de xadrez já me mudou até até a forma como eu comunico contigo e os exemplos que estou a usar para ilustrar esta minha narrativa de vida. O facto de tu teres dito plástico fez com que com que eu pudesse puxar pelo termo técnico da neuroplasticidade.
NUNO SOUSA (00:12:56) – De repente tu vais ouvindo as minhas, as minhas respostas e vais e estás atento porque estás preocupado. Como é que eu vou alimentar a conversa a seguir? Para para continuar a torná la interessante quando este tipo não tem nada de interesse para dizer.
JORGE CORREIA (00:13:15) – Não concordam? Então, vejo aqui dois caminhos muito fáceis, muito abertos, que é óptimo. Nós, pessoas, encontramo nos logo, influenciamos para o bem comum, fazer mais ou fazer mais longe. Mas o ideal olímpico, outro lado, o lado negro que é nós também podemos influenciar nos para estragar isso tudo.
NUNO SOUSA (00:13:36) – Certo?
JORGE CORREIA (00:13:36) – Então, como é que tem uma alma moral? O cérebro tem uma moral. Nós, seres humanos, temos uma moral ou somos simplesmente os sobreviventes e estamos a fazer o que podemos?
NUNO SOUSA (00:13:44) – Com certeza, Com certeza que tem. E isso é super importante porque a complexidade do sistema e lá está o meu fascínio por ele. A complexidade deste sistema fez com que nós saltasse mos de patamar, saltasse nos de nível. Repara, para o.
JORGE CORREIA (00:14:10) – Bem e para o mal.
NUNO SOUSA (00:14:11) – Para o bem, para o mal. Repara, há mais neurónios no tubo digestivo do que no cérebro.
JORGE CORREIA (00:14:18) – Eu desisto desta conversa. Há mais neurónios no tudo existe sim.
NUNO SOUSA (00:14:23) – Mas a complexidade das suas, dos seus contactos é menor e, portanto, servem um propósito, têm uma função. Aliás, as interações cérebro periferia hoje em dia são muito estudadas e são muito importantes do ponto de vista fisiológico e do ponto de vista patológico e até do ponto de vista terapêutico, juntos. Mas a complexidade dos contactos que nós temos dentro da nossa caixa craniana é tamanha que faz com que nós consigamos dar um salto de complexidade. E esse salto de complexidade é um salto que nos permite antecipar o futuro, que nos permite ter consciência de nós próprios. E é por essa via que nós criamos um sistema de valores próprio, influenciado por por pela nossa mãe, pelos nossos genes, pelo papel, pela pela educação que nós recebemos, que depois tem uma tradução epigenética e por uma tradução neuro estrutural e neuro funcional, biologia.
JORGE CORREIA (00:15:39) – Mais.
NUNO SOUSA (00:15:40) – Cultura, biologia, mais culto, exactamente. E que de repente faz com que tu tenhas criado a tua própria escala de valores que obviamente tem processos dinâmicos, vai evoluindo à custa daquilo que é a tua experiência, o seu contexto e aquilo que te faz tornar mais humano. E isso, isso é futuramente extraordinário, porque de repente tu já não estás preocupado com um estímulo, ação, reação, susto.
JORGE CORREIA (00:16:15) – Tenho fome, preciso de comida e de frio que.
NUNO SOUSA (00:16:17) – Continuam a ser estímulos absolutamente críticos. Eu costumo dizer que ninguém. É criativo. Se estiver com fome, é um facto. A única coisa que está a pensar é onde é que eu vou? Como é que eu vou sair daqui depressa?
JORGE CORREIA (00:16:28) – Resolvido esse problema, nós podemos saber exactamente essa.
NUNO SOUSA (00:16:33) – Essa sensação de bem estar que nós precisamos permite nos então subir de nível e subir de nível. Permite nos estar aqui agora, se quisermos, a trabalhar noutro nível de pensamento, noutro nível de partilha de experiências que que de facto transformam isto numa numa.
NUNO SOUSA (00:16:56) – Numa conectividade agora entre dois cérebros, entre duas pessoas e, eventualmente um cérebro social que é muito importante e que é que faz e que é que dá o e apropria o sentido de cultura?
JORGE CORREIA (00:17:14) – Olha, nós estamos aqui sempre, sucessivamente, a tentar perceber como é que funciona esta nossa inteligência natural. Pode chamar se simplesmente inteligência. E todavia, algures atrás dos computadores há uns engenheiros que dizem ter inventado a inteligência artificial. Damos lhes crédito?
NUNO SOUSA (00:17:33) – Absolutamente. É um primeiro. É um instrumento extraordinário.
JORGE CORREIA (00:17:39) – Assustador ou promissor e brilhante.
NUNO SOUSA (00:17:42) – Simultaneamente, como todas as aspas, como todas as grandes descobertas. Assustador e brilhante, assustador e brilhante. Não é nada que seja disruptivo, que não seja simultaneamente, paradoxalmente, assustador e brilhante. Agora, o potencial destas, destas novas tecnologias, enfim. E depois, se é de facto inteligência ou não, isso é uma discussão ligeiramente diferente. É ou.
JORGE CORREIA (00:18:13) – Não é?
NUNO SOUSA (00:18:14) – E em alguma medida, é em alguma medida e consegue ser.
JORGE CORREIA (00:18:17) – Conseguirá ser criativa.
NUNO SOUSA (00:18:18) – Que consegue ser, que consegue ter elementos de criatividade que não têm o mesmo? Lá está, não tem o mesmo potencial que tem o nosso ar do e, portanto, também tem os seus limites e provavelmente vai vai melhorar.
NUNO SOUSA (00:18:33) – Agora é absolutamente extraordinário e eu fico sempre muito incomodado que hoje em dia ninguém se preocupa com o que nós Google damos. Faz parte da nossa. Enfim, está aqui, está aqui e, portanto, faz parte de nós e portanto, isso já ninguém põe em questão. Se bem te lembras, porque o nosso tempo e a aceleração do tempo faz com que nós possamos ter o privilégio de assistir a um conjunto de coisas que nunca pensávamos que vai ser possível. E de repente, googlar já já não tem pecado. Se bem te lembras, no início era um.
JORGE CORREIA (00:19:11) – Cuidado.
NUNO SOUSA (00:19:12) – Que era preciso imenso cuidado porque aquilo ia e iria mudar tudo. E quem diz o Google ou qualquer outro motor de busca? A verdade é que já não nos preocupamos, enfim, sobejamente com aquela coisa de que eu fui pesquisar ontem uma viagem e hoje a abrir o jornal que costumo ler, já estão a aparecer outras opções de viagens para aqueles sítios, hotéis e tudo e portanto há muitas formas.
JORGE CORREIA (00:19:42) – O raio do algoritmo já está, já devia estar, já está a vender.
NUNO SOUSA (00:19:45) – Já está. Mas isso já existe há uns tempos e só agora, Agora é que nós estamos a falar disto porque ele se democratizou o Jorge e agora está para todos e portanto, e isso é que é absolutamente extraordinário. Claro que que vai haver quem quem tire disso um proveito extraordinário.
JORGE CORREIA (00:20:07) – Como qualquer conhecimento.
NUNO SOUSA (00:20:08) – De qualquer indústria. E há ver a alguns, espero que poucos e que nós consigamos, dentro do possível, modular, moderar e tirar daí ações que visivelmente serão negativas para para aquilo que nós entendemos como como os cidadãos.
JORGE CORREIA (00:20:36) – Estão a gostar do pergunta simples são a gostar deste episódio? Sabia que um gesto seu me pode ajudar a encontrar e convencer novos e bons comunicadores para gravar um programa que gesta isso? Subscrever na página Pergunta sempre Pronto, como tem lá toda a informação de como pode subscrever, Pode ser por e-mail, mas pode ser ainda mais fácil, subscrevendo no seu telemóvel através de aplicações gratuitas como o Spotify, o Apolo ou o Google Podcasts. Assim, cada vez que houver um novo episódio, ele aparece de forma mágica no seu telefone.
JORGE CORREIA (00:21:10) – E a melhor forma de executar a pergunta simples Vamos falar do risco versus benefícios É o campo da medicina. Para mim é muito interessante perante a. Sibilidade de uma máquina começar não só a fazer melhor do que o ser humano. Medicina, seja o que for, é ter capacidade de aprendizagem e portanto, acelerar este processo e cada vez fazer mais e melhor. E, portanto, no fundo, o médico passa a ser um companheiro da máquina. Mas a máquina consegue fazer coisas, mas é uma caixa negra. Nós não sabemos como é que está a funcionar aquela inteligência lá dentro dos chips, quando a máquina é rara, quem é que se responsabiliza por esse? Porque, pelo benefício de todos, estaremos aqui para para dizer a minha magnífica, A minha magnífica torradeira faz as melhores torradas do mundo quando a torrada queimar e nós dizemos Desculpe lá, mas eu não sei por que é que isso queimou e não sei corrigir. Porque é que a torrada ficou queimada?
NUNO SOUSA (00:22:08) – Oh Jorge, eu vou, vou, vou dar um salto e vou te dizer como é que eu comecei a resolver esta questão, ok? E eu quero que o médico que me trate no futuro não seja uma máquina.
JORGE CORREIA (00:22:24) – De anos de um jeito.
NUNO SOUSA (00:22:25) – Quero que não seja uma máquina.
JORGE CORREIA (00:22:27) – Por quê? Porque é que eu.
NUNO SOUSA (00:22:28) – Quero que seja um médico que usa as máquinas.
JORGE CORREIA (00:22:32) – Mas continua a ser ele o responsável?
NUNO SOUSA (00:22:34) – Isso mesmo.
JORGE CORREIA (00:22:35) – Ou seja, cara, empatia. Repara.
NUNO SOUSA (00:22:36) – Portanto, eu quero que seja um médico que usa estas novas tecnologias porque se torna melhor médico para usar as tecnologias. Agora, não quero que essa pessoa porque é uma relação de confiança com outra pessoa ou com outro grupo de pessoas, melhor dito, sejam substituídas de uma forma acéfala por uma máquina, exatamente em primeiríssima ordem de razão, por aquilo que tu disseste e se erra. E portanto, claro que os humanos também erram e não erram menos vezes, mas têm sempre esta capacidade de rapidamente corrigir o erro. E é por isso.
JORGE CORREIA (00:23:19) – Que, ao ponto de fazer uma reflexão sobre o que é que foi aquele e.
NUNO SOUSA (00:23:22) – Sobre o que foi aquele erro e, dentro da medida do possível, mitigar as consequências do erro. E, portanto, é nisso que eu creio que eu acredito.
NUNO SOUSA (00:23:32) – E nós, para alcançarmos esta e esta visão que acho que o que fique, que todos nós, seguramente todos com dilemas, uma larga maioria de nós concordará. Nós temos que preparar os profissionais de saúde do futuro para estarem confortáveis com o uso da tecnologia para que a tecnologia não seja um obstáculo para eles. Mas que eles não se esqueçam deste elemento humano na relação com aqueles que precisam de cuidados.
JORGE CORREIA (00:24:07) – Mas se a máquina resolver melhor o problema, está lá. O médico que compreende e usa.
NUNO SOUSA (00:24:11) – Vem a máquina.
JORGE CORREIA (00:24:12) – Vem a máquina.
NUNO SOUSA (00:24:13) – Repara, mas o que fantasticamente.
JORGE CORREIA (00:24:16) – Que ela possa ser incontrolada de alguma maneira, no sentido em que tu não possas recusar o benefício. Por um lado, porque, porque, porque faz melhor assim. E, por outro lado, essa aprendizagem pode ser pôr em causa a nossa maneira de estarmos todos.
NUNO SOUSA (00:24:31) – Na qualidade de quem está neste momento a coordenar um centro de Medicina digital. É nisso que eu acredito. E eu, Se a máquina me ajuda a ter o melhor algoritmo de decisão, eu quero usar a máquina com a capacidade de estar, de ter o controlo sobre aquela decisão.
NUNO SOUSA (00:24:56) – O que eu não quero é que a máquina tenha o controlo sobre a minha decisão.
JORGE CORREIA (00:24:59) – E isso é o ponto.
NUNO SOUSA (00:25:00) – E esse é que é o ponto e portanto, é eu. E aliás, acho que o facto da máquina me ajudar neste processo me torna melhor, porque me faz focar nas coisas que são mais importantes e me dá o conforto de que eu tenho ali uma decisão que até parece estar a apontar numa determinada direção, mas que eu possa sempre dizer mas isto não bate certo. Pese embora o algoritmo esteja a dizer com 98% de probabilidade.
JORGE CORREIA (00:25:32) – Em tudo o que se calhar não há.
NUNO SOUSA (00:25:33) – Aqui um elemento que na minha experiência, tem um peso que não está a ser bem considerado. E eu quero estar atento a este elemento, porque ele pode ser claramente influenciador do algoritmo de decisão clínica.
JORGE CORREIA (00:25:49) – Já te posso provocar.
NUNO SOUSA (00:25:51) – Com certeza.
JORGE CORREIA (00:25:52) – E então, com tanta tecnologia, então, com tanto saber, estão os médicos de agora e aqueles que vêm no futuro mais interessados e fascinados com os botões, as luzes e a máquina, ou com aquele ser humano vulnerável que ali está à sua frente.
NUNO SOUSA (00:26:06) – O nosso trabalho, enquanto uns formadores, enquanto colegas mais experientes e garantir que todos vão estar sempre muito preocupados com aquele ser humano. Com aquela pessoa e não fascinados com o botão verde ou o dashboard de amarelo e laranja ou laranja e azul que tipicamente é usado e, portanto, que eles olham para a face da pessoa que tem à frente, independentemente de ser a presencial ou por pôr por soluções digitais, mas que olham para a pessoa porque a relação entre um clínico e um doente é uma relação entre pessoas e isso é a beleza do ato médico, do ato clínico. E essa é. E esse é um valor que nunca vai ser substituído. E, portanto, se ele tiver mais tempo para para se dedicar a essa relação humana, ele de facto vai praticar um ato clínico de melhor qualidade. E já agora, se estiver ajudado por tecnologia que o ajuda não só a ter mais tempo, mas também a ter uma segurança maior naquilo que está a fazer, tanto melhor. Repara que isso não muda, volto a dizer.
NUNO SOUSA (00:27:37) – E eu hoje peço análises e hoje precisamos. E eu acredito que o valor daquelas análises está correto. E é só se ele for muito desviante ou se houver um padrão que que não está alinhado com o cool. Com o meu padrão de expectativas perante aquela situação clínica e que desperta em mim um sinal, um click, um alerta no timeline. E eu digo para lá, aqui qualquer coisa que pode não estar a bater certo. Repara, mas isso já está tão incorporado na nossa prática clínica diária que nós já nem sequer é uma rotina como tu tens.
JORGE CORREIA (00:28:17) – Tu tens fortes responsabilidades na formação dos médicos do futuro. O novo modelo de aprendizagem foi muito baseado no te aqui o saber empírico Saber compreende o saber e depois faz o quiseres ao saber que se calhar gastamos muito pouco tempo na criatividade a olhar para o mundo, como é que ele está? Como é que se consegue hoje ter uma ideia de preparação desse médico do futuro que nos vai tratar daqui a dez, daqui 20, daqui a 30 anos? Muito bem.
JORGE CORREIA (00:28:48) – Que ferramentas tens que lhes oferecer lhes Ofereces.
NUNO SOUSA (00:28:51) – Primeiro aqui várias, várias premissas que eu acho que são importantes. A primeira premissa é que não há um modelo perfeito, ou seja, todos nós temos estilos de aprendizagem distintos e o estilo de uns não é melhor nem pior do que o dos outros de imagem. Mas estamos.
JORGE CORREIA (00:29:16) – Todos na fábrica.
NUNO SOUSA (00:29:17) – Quando quando tu compras este, deste a este computador, há pessoas que começam a ligar e carregar nos botões, Há outras que lêem todas as instruções até ao fim. O resultado deste ato estás a de estar dentro de um dos grupos e posso dizer que eu também me rio sempre que lá por casa há estilos absolutamente contrastantes.
JORGE CORREIA (00:29:41) – E conflituam.
NUNO SOUSA (00:29:42) – E conflituam ou por acaso. O resultado final é bastante interessante e bastante interessante. Repara, para quem gosta de ler as instruções e o modelo de aprendizagem, deve fomentar isso. Para quem gosta de ser mais experimentalista, o modelo de aprendizagem deve fomentar isto, porque o modelo está ao serviço do processo. Segundo aspecto, é fundamental que tu penses na forma como vais avaliar os.
NUNO SOUSA (00:30:11) – Os docentes pensam 90% do seu tempo no processo e 10% no tempo. Na avaliação, os estudantes pensam 10% no processo e 90% na avaliação, para não dizer sempre tu, só a ser simpático. E, portanto, se não houver um alinhamento entre a forma como tu estás a fazer o teu um a tua avaliação sobre um determinado processo e o próprio processo não serve de nada. Terceiro, não há modelos melhores, uns melhores que os outros e, portanto, para algumas personalidades, o modelo que eu e tu tivemos na nossa formação é o melhor. E o que é que é perfeito? É cada um poder escolher o modelo que melhor lhe serve.
JORGE CORREIA (00:30:53) – E podemos.
NUNO SOUSA (00:30:56) – Em alguns, em alguns meios socioeconómicos, a resposta é sim. Infelizmente, na maior parte deles, no nosso território, não é? As famílias não têm capacidade socioeconômica para proporcionar aos seus as novas gerações a escolha de dizer experimenta os diferentes modelos, escolhe o melhor para ti.
JORGE CORREIA (00:31:17) – Há uma discriminação logo.
NUNO SOUSA (00:31:18) – De base, absolutamente pronto. O que nós fizemos foi tentar antecipar aquilo que vão ser as necessidades da prática dos cuidados de saúde daqui a 30 anos e dizer se nós antecipamos que isto vai ser assim e algumas previsões que evitem que como é que vais ao menos.
JORGE CORREIA (00:31:41) – Ouvir o que sentes? Como é que o que é que eu sinto.
NUNO SOUSA (00:31:44) – É que é que é, que é que vai haver muito mais uso da tecnologia que quer que a incorporação dos dados vai ser muito mais sofisticada e que que que que que, que vai ser necessário instrumentos de gestão muito mais apurados que as competências comunicacionais de de trabalho em equipa vão ser muitíssimo mais relevantes. As próprias competências de preservação do bem estar próprio e da equipa vão ser muito mais importantes. Porque? Porque. Porque de facto, há 1A1, escrutínio muito mais forte a mecanismos de detecção, de transparência e, portanto positivos, mas que são também altamente ansiosos, genéricos.
JORGE CORREIA (00:32:31) – Que criam uma pressão para que, Para que fique cada vez mais.
NUNO SOUSA (00:32:34) – Real, uma porção de postais permanentemente a ser escrutinado. E é, e, portanto, e todas estas competências têm que ser trabalhadas, todas estas competências têm que ser trabalhadas, a forma como são trabalhadas. Portanto, há propostas de metodologias mais passivas, aquelas que é que nós fomos, entre aspas.
JORGE CORREIA (00:32:56) – Convidados como está por.
NUNO SOUSA (00:32:59) – Fazer, com alguma força e sem grandes alternativas e metodologias muito mais ativas, em que o personagem principal do processo deixou de ser o docente e passou a ser o próprio e, portanto, o próprio faz uma caminhada e depois isto pode tornar se mais sofisticado. Como? Com, como, Com diferentes abordagens metodológicas. Mas o princípio, o princípio é este e é garantir também. E este é um aspeto que me parece muito relevante para para para os profissionais de saúde do futuro, que é a possibilidade de eles criarem o seu próprio percurso. Ou seja.
JORGE CORREIA (00:33:40) – Foi isto que foi feito em Braga de especial.
NUNO SOUSA (00:33:42) – E foi isto que foi feito na Universidade do Minho, na Escola de Medicina, que é uma definição daquilo que é um currículo obrigatório, que todos os médicos obviamente têm, que se têm, que têm que dominar, quer do ponto de vista do saber, do saber fazer e do saber estar. Mas depois há um espaço próprio, alguns que é que têm mais gosto pela investigação? Há uns que têm mais gosto pelo pelo e pela gestão.
NUNO SOUSA (00:34:13) – Há uns que têm mais gosto pelo voluntariado. Dentro das áreas médicas, há aqueles que pretendem áreas mais cirúrgicas, áreas mais médicas, áreas mais tecnológicas e, portanto, tudo isto tem que ser um. É um portfólio de escolhas brutal e que não pode ser normalizado de idêntica forma para todos e, portanto, é muito mais atractivo para personalidades como a minha dar me a possibilidade de eu escolher o meu percurso. Devo dizer que para algumas pessoas, o facto de terem a possibilidade de escolher lhes causa imensas dificuldades em grande ansiedade, porque não faz parte das suas características esta possibilidade de poderem escolher e portanto, encontram muito mais conforto se disserem o percurso é este a este livro estudo isto ou a isto e eles vão, e eles vão. E portanto, isto tudo para dizer que, como em tudo na vida, a pluralidade é que é que é bonita e dar a oportunidade que cada um possa escolher aquilo que que entende que é melhor para ele num determinado momento da sua vida, é aquilo que nos move enquanto educadores.
JORGE CORREIA (00:35:35) – Estão podcasts sobre comunicação, às vezes que são. Mas como é que são os médicos a comunicar? Como é que eles estão? Olha que as pessoas normais ou não, é entre eles.
NUNO SOUSA (00:35:43) – XXXXX Também é muito importante a comunicação entre profissionais de saúde. Devo dizer que uma parte significativa dos erros acontecem por problemas de comunicação entre entes profissionais de saúde. Aliás, isso é sabido pelo código.
JORGE CORREIA (00:35:57) – Tudo pelo ego.
NUNO SOUSA (00:35:59) – Por tudo, pela incapacidade de pedir ajuda, por um, por um, por um conjunto de coisas. Isso, enfim. Tipicamente, nós narramos isto para para os desastres de avião, que são muito estudados, muito escrutinados. Mas é verdade. Em todas as atividades humanas que decorrem, em que é mais que um interlocutor destas. Esta capacidade de comunicar é fundamental, mas comunicar com com os doentes, comunicar com quem? Com. Com os cuidadores, com a família do doente é absolutamente fundamental e, portanto, nós dedicamos uma uma uma parte significativa das nossas atividades pedagógicas do nosso currículo a essa área, criando oportunidades muito distintas para que isso aconteça, criando oportunidades para que o curso, os nossos estudantes exercitem a sua capacidade de refletir também em algo fundamental e.
JORGE CORREIA (00:37:01) – De ouvir.
NUNO SOUSA (00:37:02) – E de. E obviamente que para comunicar é preciso ouvir. E por isso sinto que estamos a fazer um uma caminhada num sentido muito positivo para que? Para que tal venha a acontecer. E já agora, encontrando outras formas de comunicar que se ajustem às formas de comunicação das populações que servimos o.
JORGE CORREIA (00:37:26) – Contexto.
NUNO SOUSA (00:37:27) – O contexto, comunicar. Para quem nasceu na década de 60 ou de 50 do século passado, é totalmente distinto de comunicar para quem nasceu já neste século com outras referências.
JORGE CORREIA (00:37:42) – Lembra me sempre que, no caso antigamente, quando alguém morria na aldeia, perguntava se de que é que morreu. Hoje, perguntas por que é que morreu? Que é uma pergunta.
NUNO SOUSA (00:37:55) – Absolutamente difícil e difícil, mas lá está a mostra, tal a tal dinâmica nos padrões mentais que nós usamos hoje em dia. Repara o pouco controlo do que se passou. Passou a estar muito mais centrado em nós do que do que nos outros de que morreu, como se a responsabilidade fosse totalmente externa e, eventualmente.
JORGE CORREIA (00:38:30) – Algum outro do deus ou do médico, ou do próprio.
NUNO SOUSA (00:38:33) – Doente. Alguém que exatamente ilude.
JORGE CORREIA (00:38:36) – E muito, não lava.
NUNO SOUSA (00:38:37) – Mas é isso aí. Já entraste na fase da responsabilização aqui? E a porque mecanismo eu quero entender porquê? Porque quero perceber o que aconteceu aqui. E isso é uma mudança cultural. E essa mudança cultural nós também temos que nos preparar para ela. Aliás, isto se me permites filosofar aqui um pouco. E isto é algo que atravessa, digo eu, de uma forma transversal a nossa sociedade. Nós é que, com todas as implicações filosóficas, políticas e sociais, nós passamos de uma dialética é eu e o outro. Por exemplo, no trabalho e eu como empregado, o patrão que que que determinava e, portanto, eu tinha com ele e todos os meus colegas tínhamos um alvo para e eu passar a ser o patrão de mim próprio. E isto foi uma viagem incrível, absolutamente incrível. Só que agora cria nos um problema mental. É que eu sou patrão de mim próprio. Já não me posso queixar do outro e portanto. Quem é que eu me queixo de mim próprio? Da minha condição e, portanto, de uma maneira geral, há uma responsabilização mais complexa dos processos e isto transforma se num problema social terrível.
NUNO SOUSA (00:40:11) – E que é que leva a grandes mudanças, que também tem impacto, curiosamente na saúde, que também têm impacto na saúde. E essa pergunta ilustra isso muito bem.
JORGE CORREIA (00:40:23) – Olha, nós estamos praticamente a fechar, mas posso quase anunciar que cada vez estamos mais inteligentes, não só individualmente como também a nossa inteligência coletiva está melhor.
NUNO SOUSA (00:40:35) – Para detectar isso, tens dúvidas? Tenho sérias dúvidas.
JORGE CORREIA (00:40:40) – Na nossa inteligência coletiva ou individual.
NUNO SOUSA (00:40:43) – Na individual nós temos muito mais acesso à informação e por essa via nós temos capacidade de agregar essa informação e fazer um conjunto de inferências que tipicamente nós traduzimos num ato de inteligência.
JORGE CORREIA (00:41:05) – Portanto, temos a possibilidade, temos mais possibilidade.
NUNO SOUSA (00:41:07) – Muito mais possibilidade.
JORGE CORREIA (00:41:09) – Todavia.
NUNO SOUSA (00:41:11) – Todavia, vamos ver a estrutura do nosso cérebro, porque estes processos, enfim, todos os processos naturais evolutivos, demoram. É uma escala temporal totalmente distinta e acho que não podemos. Acho convictamente. Acho que estou aqui a ser humilde, mas convictamente acho que a capacidade intrínseca do hardware não não se alterou e, portanto, só para disputar essa afirmação.
JORGE CORREIA (00:41:47) – Mas este uso e esta partilha entre todos, esta inteligência coletiva, está a conseguir fazer uma expansão de absolutamente tudo.
NUNO SOUSA (00:41:55) – Abre as possibilidades inimagináveis que há três ou quatro décadas atrás. Tens toda a razão, porque de repente, o conhecimento de um está ligado ao conhecimento de outro e por essa via, ligação, o conhecimento em rede é quase cria um cérebro colectivo e esse cérebro colectivo é composto por biliões de nós e IP e isso faz com que haja uma possibilidade nunca antes imaginada e que hoje em dia é absolutamente tangível. E, portanto, compreendo e concordo em absoluto com a tua afirmação.
JORGE CORREIA (00:42:36) – Todavia, ao mesmo tempo que existe essa rede neuronal extraordinária em todo o mundo e este é o mesmo mundo que nos recria. Fake news, notícias falsas, virais, algumas estupidamente óbvias, que não são assim, mas que nós, pobres seres humanos, partilhamos com grande alegria. E alguns de nós até dizemos Não estás a ver mesmo que há aqui uma conspiração que quer a cabo dar cabo de nós, seres humanos? Então onde é que estão? Onde é que está? Onde é que está o filtro?
NUNO SOUSA (00:43:10) – O cérebro? Nesse sentido, há um órgão muito, enfim, muito íssimo.
NUNO SOUSA (00:43:15) – Curioso porque o sentido de verdade para o cérebro é relativo. É relativo e, portanto, tu podes enganar o teu cérebro humano. Tu podes enganar o teu cérebro e o teu cérebro pode ser enganado. E há inúmeras experiências que o demonstram de forma factual. Esta questão de uma notícia que claramente partiu de uma base que não é verdadeira, mas que é replicada ainda para mais de uma forma consistente, como é feita hoje em dia, cria a ilusão no cérebro de alguns de que aquilo é de facto verdade. Uma propaganda é uma propaganda, porque é verdade que eles viram ou ouviram ou leram aquilo. Não é uma preocupação com a fonte, porque fonte pessoa está distante. E, portanto, é difícil controlarem a fonte e porque muitas vezes motivados por puro crenças, é que na vida de todos os tipos vão preferir optar pela via fácil que é. Se isto vem ao. Ao favor do vento, daquilo que eu acredito na minha crença e porque a verdade do bem e do leis for ao contrário. Isto é totalmente falso, mesmo que tu.
NUNO SOUSA (00:44:53) – Mas aconteceu. Veja, não interessa.
JORGE CORREIA (00:44:56) – É difícil convencer alguém de uma verdade em que ela não acredita exatamente.
NUNO SOUSA (00:45:02) – Só é verdade aquilo que tu acreditas que é verdade.
JORGE CORREIA (00:45:05) – Qual é a tua verdade?
NUNO SOUSA (00:45:08) – A minha verdade é que. E eu espero ter. Influenciado com as minhas ações, porque no final do dia nós somos um conjunto de ações e influenciado como um conjunto de valores, aqueles que me são mais próximos. E a proximidade vai desde de dos dentes, das enfim, das populações que em algum momento das pessoas que eu em algum momento servi e das pessoas que que eu ajudei, a que eu tenho a ilusão de ter ajudado em alguma medida a serem ou profissionais de saúde, ou investigadores, ou por aí fora, até aqueles que eu amo muito e que é que de facto eu são o que eu sou. E esta é a minha verdade. Eu sou o que aqueles que me conhecem e aqueles que amo vêem na minha representação. E that’s it.
JORGE CORREIA (00:46:21) – Tu és dos que lês o livro de instruções antes o que experimentas e depois de ler o livro.
NUNO SOUSA (00:46:27) – A Lei, depois de ter falhado todos os botões em que podia carregar.
JORGE CORREIA (00:46:31) – Cá está, afinal, uma descrição muito rigorosa e consciente do que faz um neurocientista e aquele que descobre um manual de instruções do cérebro depois de ter falhado em tantos botões do conhecimento quantos conseguiu carregar. E atire a primeira pedra quem, como eu, carregou no botão errado múltiplas vezes e nem assim teve um vislumbre de lucidez para tentar outra opção. E para pessoas como eu, que se escrevem nos livros de instruções. E esta conversa foi para mim um belo roteiro do pensamento para a vida e que pessoas como o Nuno Sousa não são só inteligentes, são simultaneamente generosas e pacientes, além de compreensivas para com os mortais menos inteligentes, ensinando nos uma e outra vez onde estão os botões certos e os botões errados. E depois cada um que decida o que fazer com essa informação. Quanto a nós, voltamos para a semana.