Miguel Crespo | Informar ou desinformar?

Miguel Crespo | Informar ou desinformar?
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Tenho boas e más notícias.

Os portugueses estão a consumir notícias. Boa notícia.

Os portugueses sentem que estão a ser manipulados. E muitas vezes. Péssima notícia.

Os portugueses têm milhares de fontes de informação. O que quer dizer diversidade. O que quer dizer informação mais localizada ou mais nacional. Excelente notícia.

Mas quase 90% mesmo grupo de portugueses que respondeu a um inquérito do Observatório Ibérico IBERIFIER que estuda o fenómeno da desinformação e o seu impacto na sociedade, confessa que vê as notícias nas redes sociais.

Será uma boa ou má notícia?

São ambas: por um lado as redes sociais garantem acesso mais alargado, por outro as fontes nem sempre são fiáveis.

Estamos a falar do Facebook da RTP, Expresso ou Antena 1?

Ou contamos com as últimas publicações da tia Amélia, que adora cães, detesta a prima Ana e acredita em OVNI´s, milagres e nos produtos de televendas, embora faça um leite-creme divinal?

Por isso não é de admirar que 97% dos respondentes dizem ter visto desinformação no último mês. E os temas da política e do futebol são estrelas neste campo. Além da publicidade que se faz passar por notícia para atrair cliques e visitantes aos sítios ‘web’ de vendas.

A qualidade da informação tem muito a ver com a fonte. E 25% do território nacional não tem sequer uma publicação local a falar sobre as notícias da terra.

Logo as fontes são tudo menos fiáveis, factuais ou neutras.

Miguel Crespo é investigador do fenómeno da desinformação e no comportamento dos média e dos cidadãos. E o observatório de que faz parte tem agora uma fotografia da perceção dos cidadãos e um mapa.

As notícias são feitas por pessoas e para pessoas.

O que implica desde logo uma subjetividade.

Por exemplo, na maneira como se escolhem os temas para dar notícia.

E que ângulo, titulo ou forma damos ao contar uma história.

Finalmente, e mesmo que tudo seja feito de forma honesta e equilibrada, tudo depende da forma como os leitores, ouvintes ou telespectadores recebem a informação e a interpretam.

E essa passagem é todo um mundo novo. A mesma notícia é vista com lentes diferentes conforme o contexto dos recetores. As suas crenças, a sua condição social, as suas ideias, as ansiedades e desejos.

É tudo menos matemático.

Talvez isso explique o sucesso da informação que explora os temas mais populistas. O crime, o sexo, o poder.

São temas populares, mas parece que estamos todos sempre a vê-los pelo buraco da fechadura.

Também é uma maneira de olhar o mundo.

Fiquem com os principais dados do estudo e ouçam um outra conversa com Miguel Crespo aqui:

MIGUEL CRESPO | COMO COMBATER AS ‘FAKE NEWS’?

“O Impacto da Desinformação na Indústria de Media em Portugal e Espanha”
Estudo IBERIFIER

87% dos inquiridos contacta com notícias através das redes sociais.
37% depara-se com desinformação várias vezes por dia.
97% detetou desinformação no último mês.
77,6% identifica a fraca qualidade do jornalismo, nomeadamente erros factuais, cobertura simplista, como principal problema na desinformação.
72,1% sublinha o problema dos factos parcialmente manipulados.
48,5% destaca as peças que imitam notícias, mas que são, afinal, anúncios.
71,3% aponta a política como o tema mais visado na desinformação.
59,2% é a quantidade de respostas que sublinham o assunto guerra e conflito armado como o tema mais tratado sob efeito da desinformação.
84% elege a política como o tema em que a desinformação mais preocupa.
72% declara que deixou de confiar num meio de comunicação depois de ter detetado nele desinformação.
23% diz que não se pode confiar nas notícias a maior parte das vezes.
77,2% declara que não pode confiar na maior parte da informação das redes sociais.
78,7% escolhe os cientistas e 56,2% os jornalistas como as fontes em que
mais confiam.

IBERIFIER
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO

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