É tempo de falar de jornalismo.
Do bom jornalismo.
Do jornalismo em crise.
Das notícias que dão notícia de pagamentos em atraso, de publicações, jornais e rádios importantes, à beira do abismo.
E do sector dos média que perderam receitas, cujo conteúdo aparece nas redes como se fosse gratuito e os leitores aparentemente têm menos vontade de subscrever qualquer serviço pago de notícias.
Estaremos perante o fim do jornalismo, da verificação dos factos e das notícias feitas com curadoria humana?
Ou é apenas uma crise passageira que renovará os votos entre os cidadãos e a informação independente e fidedigna?
TÓPICOS DE CONVERSA
A crise no jornalismo (00:00:12) Discussão sobre a crise no jornalismo, a diminuição do interesse dos jovens pela profissão e a necessidade de adaptar o jornalismo às novas realidades tecnológicas.
A precariedade da profissão (00:01:39) Conversa sobre a precariedade da profissão jornalística, a diminuição do interesse dos jovens e a necessidade de adaptar o jornalismo às novas realidades tecnológicas.
A paixão pelo jornalismo (00:03:33) Exploração da paixão pelo jornalismo, a experiência pessoal e a importância de atrair bons profissionais para a área.
A crise enfrentada pelos média (00:09:25) Abordagem da greve geral dos jornalistas, a importância do jornalismo para a sociedade e a necessidade de investimento na comunicação social.
O modelo de negócio e a valorização da informação (00:13:56) Discussão sobre o modelo de negócio do jornalismo, a gratuitidade da informação e a necessidade de valorizar o trabalho jornalístico.
O perigo da desinformação (00:16:46) Discussão sobre a mistura de fontes de notícias, publicidade encapotada e fake news em plataformas ‘online’.
Validação do jornalismo (00:17:43) Importância da validação e verificação das informações jornalísticas, respeitando o código deontológico.
Fronteira entre jornalismo e publicidade (00:18:57) Abordagem sobre a demarcação clara entre jornalismo, publireportagem e publicidade, e a resistência em misturar conteúdos.
Financiamento do jornalismo (00:20:17) Consequências da perda de mercado e a necessidade de encontrar fundos para sustentar as publicações.
Papel do Estado na comunicação social (00:22:00) Discussão sobre a possibilidade de apoio estatal para salvar publicações e a importância de garantir transparência e equilíbrio.
Desafios do jornalismo na atualidade (00:24:46) Reflexão sobre a necessidade de contar histórias reais e a responsabilidade dos jornalistas na crise do jornalismo.
Impacto da proximidade na comunicação (00:27:25) Análise sobre a importância da proximidade na venda de jornais e na responsabilidade do jornalismo em informar todas as regiões.
Desafios do jornalismo desportivo (00:28:26) Reflexão sobre a retórica limitada dos comentadores desportivos e a falta de espaço para os jogadores contarem as suas histórias.
Futebol e comunicação dos clubes (00:31:24) Discussão sobre a falta de espaço para os jogadores contarem as suas histórias e a influência da comunicação dos clubes no jornalismo desportivo.
O impacto da pandemia no jornalismo desportivo (00:32:28) Discussão sobre as barreiras sanitárias e a comunicação dos clubes durante a pandemia.
Os desafios do jornalismo na era digital (00:34:22) Reflexão sobre o impacto dos algoritmos na disseminação seletiva de informações.
A dificuldade de distinguir realidade e ficção (00:36:28) Exploração das dificuldades causadas pela evolução tecnológica e a disseminação de desinformação.
O papel do jornalismo na desmontagem de notícias falsas (00:37:59) Abordagem sobre a importância do jornalismo na desconstrução de informações falsas e na preservação da verdade.
A importância do jornalismo na defesa da democracia (00:39:28) Discussão sobre a relevância do jornalismo na preservação da democracia e da liberdade de expressão.
O fascínio pessoal do jornalista pela África (00:43:28) Relato pessoal sobre a experiência do jornalista ao cobrir eventos desportivos em Angola e o fascínio pela cultura africana.
O compromisso do jornalismo com a verdade e a humanidade (00:46:11) Reflexão sobre a missão do jornalismo em compartilhar histórias verdadeiras, honestas e humanas.
O jornalismo português enfrente a maior crise de que há memória.
Rádios como a TSF, jornais como o JN ou o DN lutam pela sua sobrevivência.
Os jornais passaram para a ‘internet’.
Os motores de busca e as redes sociais multiplicam os acessos, colhem os lucros publicitários e remuneram os autores das notícias com valores insuficientes para manter o negócio das notícias a funcionar.
Contudo as notícias não são um mercado qualquer.
O jornalismo é um dos pilares da democracia e sem sustentação económica arriscam uma função fundamental da nossa vida: o escrutínio dos poderes. A validação da informação. O separar o trigo do joio.
Nesta edição converso com Luís Simões, presidente do Sindicato dos Jornalistas.
Sobre os desafios do Jornalismo.
Falamos da precariedade da profissão e a diminuição do interesse dos jovens, enfatizando a necessidade de adaptar o jornalismo às novas realidades e tecnologias.
Das redações cada vez mais juvenis e onde os melhores jornalistas já mudaram de ares.
Claro que falamos da Paixão pelo Jornalismo: sobre o que atrai indivíduos para esta carreira, apesar dos seus desafios.
E fomos fundo, aproveitando a discussão do recente congresso dos jornalistas, autopsiado a
Crise do Jornalismo: A crise enfrentada pelos média. Não só financeira mas também de credibilidade.
Sim, a culpa pode ser em parte das redes sociais e outras plataformas digitais que influenciaram o jornalismo, tanto positiva quanto negativamente.
Mas mesmo no jornalismo há conversas que se tem de ter.
Por exemplo, a confusão entre jornalismo e conteúdos publicitários pagos que discretamente se confundem com notícias.
E aquela chuva de títulos de notícias que apenas quer atrair os nossos cliques para nos desaguar em conteúdos manifestamente panfletários e vazios de conteúdo relevante.
Entre o financiamento e a credibilidade.
Entre o jornalismo e a fluidez informativa indefinida, inodora, insossa dos novos tempos.
Será a crise definitiva e mortal?
(Foto de João Miguel Rodrigues)
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIOTRANSRIÇÃO AUTOMÁTICA
JORGE CORREIA (00:00:12) – Ora viva um. Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre Comunicação. É tempo de falar de jornalismo, do bom jornalismo, Do jornalismo em crise por estes tempos. Das notícias que dão notícia de pagamentos em atraso, de publicações, jornais e rádios importantes à beira do abismo e do sector dos media que perderam receitas, mas cujo conteúdo aparece por aí fora nas redes como se fosse gratuito. E os leitores, aparentemente com cada vez menos vontade de subscrever qualquer serviço pago de notícias. Estaremos perante o fim do jornalismo, da verificação dos factos e das notícias feitas com curadoria humana? Ou é apenas uma crise passageira que renovará os votos entre cidadãos e a informação independente e fidedigna? O jornalismo português enfrenta a maior crise de que há memória. Rádios como a TCE, jornais como o JN ou DN. Lutam pela sobrevivência. Os jornais passaram para a internet, os motores de busca e as redes sociais multiplicam os acessos, colhem os lucros publicitários e remuneram os autores das notícias com valores insuficientes para manter o negócio das notícias a funcionar.
JORGE CORREIA (00:01:39) – Só que as notícias não são um mercado qualquer No jornalismo. É um dos pilares da democracia e, sem sustentação económica, riscam uma função fundamental da nossa vida o escrutínio dos poderes, a validação da informação, o separar o trigo do joio. Nesta edição converso com Luís Simões, o presidente do Sindicato dos Jornalistas, sobre os desafios do jornalismo. Falamos da precariedade da profissão, a diminuição do interesse dos jovens, enfatizando a necessidade de adaptar o jornalismo às novas realidades tecnológicas das redacções cada vez mais juvenis e onde os melhores analistas mais velhos já mudaram de ares. Claro que falamos da paixão pelo jornalismo sobre o que atrai indivíduos para esta carreira, apesar dos seus desafios. E fomos fundo. Aproveitando a discussão do recente Congresso dos Jornalistas. Autópsia a crise do jornalismo, a crise enfrentada pelos media, não só financeira, mas também de credibilidade. Sim, a culpa pode ser, em parte, das redes sociais e de outras plataformas digitais que influenciaram o jornalismo, tanto positiva como negativamente. Mas mesmo dentro da classe, mesmo dentro do jornalismo, há conversas que temos de ter.
JORGE CORREIA (00:02:51) – Por exemplo, a confusão entre jornalismo e conteúdos publicitários pagos que discretamente se confundem com as notícias e aquela chuva de títulos de notícias que apenas quer atrair os nossos cliques para depois desaguar em conteúdos manifestamente panfletários ou vazios de conteúdo relevante. Entre o financiamento e a credibilidade, entre o jornalismo e a fluidez informativa indefinida, inodora, insossa e digital destes novos tempos, será a crise definitiva e mortal ou a ressurreição? Vem já a seguir.
LUÍS SIMÕES (00:03:33) – O jornalismo está a atravessar um momento muito delicado. Este é mesmo um momento de emergência. E quando nós dizemos isto, não estamos a exagerar. O jornalismo passou a ser uma profissão de baixos salários, de precariedade, uma profissão que não há muito. Cativava as pessoas. As pessoas procuravam ser jornalistas. Nós tínhamos centenas de jovens a entrarem nas universidades a quererem ser jornalistas. Há uma frase durante o congresso de Jornalistas que me marcou muito, que foi de um jovem estudante de comunicação social que dizia que estava numa turma com 30 estudantes. Em comunicação social. Repito, e não havia um que quisesse ser jornalista.
JORGE CORREIA (00:04:24) – Portanto, deixou de ser atrativo ser jornalista.
LUÍS SIMÕES (00:04:28) – Eu temo que tenha deixado para algumas pessoas deixar de ser atrativo, apesar de eu sentir outra coisa. E nestes momentos é muito perigoso nós traçarmos cenários muito catastrofistas. Não há pessoas que continuam por paixão a querer ser jornalistas. Só que nós que estamos no meio, nós. Já agora, não é o meu caso. Mas quem investe na comunicação social é hora de querer atrair os bons, porque quanto melhores formos, mais gente boa vamos atrair. E esse investimento tem que ser feito. O que?
JORGE CORREIA (00:05:06) – O que é que te faz ser jornalista? Lembras te desse desse click, desse desse primeiro dia na redação?
LUÍS SIMÕES (00:05:13) – Lembro foi foi assustador. Eu entrei na bola. A bola era um jornal. Ainda estávamos muito longe destes tempos modernos, dos open space. Era uma redação muito compartimentada. Havia gabinetes, havia gabinetes, havia muitas secretárias em sítios diferentes. E eu entrei na redação e vi e vi o Cruz de Santos e vi o Aurélio Márcio. Vi o João Alves da Costa e assustei me.
LUÍS SIMÕES (00:05:49) – Senti me. Sabes quando te sentes muito, muito.
JORGE CORREIA (00:05:51) – Pequenino, pessoas que tu tu.
LUÍS SIMÕES (00:05:53) – Quelhas que eu lia porque eu tenho um irmão mais velho que já era jornalista. Sempre em minha casa. Sempre houve um grande fascínio pelo jornalismo e depois do meu irmão passar a ser jornalista, este fascínio em mim acho que despertou ainda mais essa, essa paixão. Eu entrei ali com os olhos a brilhar e depois eu não sei se passaram a brilhar mais, quase que uma lágrima, porque na verdade era o que eu dizia. Senti me pequenino, Tanta gente ali e aquela gente que tu lias, não é? Isso é incrível.
JORGE CORREIA (00:06:27) – E essa gente ensinava te ou tu aprendia lhes a ver o que é que eles estavam a fazer, como é que era o processo.
LUÍS SIMÕES (00:06:32) – Essa gente ensinava e é a grande diferença para o jornalismo de hoje. Eu conto sempre esta história porque acho que é deliciosa. Era eu muito jovem e o senhor Cruz dos Santos era o primeiro a chegar à redacção. Chegava de manhã e invariavelmente passava pela mercearia do Bairro Alto, à entrada, que ainda está perto da bola, e ia buscar um rolo de máquina e começava na página um e ia até à última página com o rolo a tomar notas do que se fez bem e do que se fez menos bem e do que se fez mal.
LUÍS SIMÕES (00:07:05) – Wow! E quando nós chegávamos, eu lembro me da primeira, porque foi esmagador o Cruz dos Santos a dizer Senhor Simões, chega aqui, por favor, ou vem chuva? E eu aí, o que é que eu fiz de mal? E o senhor Cruz, com aquele feitio, disse me Olha, isto está muito bem, Mas podia estar melhor e podia estar melhor. Porquê? Porque pum pum foi me dizendo o que é que podia estar melhor.
JORGE CORREIA (00:07:30) – E isso é que tinha o extraordinário da escola para perceber exactamente o que é que se pode, o que é que se pode melhorar.
LUÍS SIMÕES (00:07:35) – Era a escola da bola, Era isto. Era um jovenzinho com 18 anos, chegar muito assustado e passado algum tempo ter o crush dos Santos a dizer tu até tens algum jeito, mas tens que fazer isto, melhorar a isto, isto. Cresces ali de repente, em dois minutos estudado e lá estão.
JORGE CORREIA (00:07:53) – Os grandes mestres que que que vão dizendo no fundo estabelecendo a bitola e que depois vai passando. E subitamente hoje as redacções são redacções onde esses mais qualificados cada vez mais se vão embora.
JORGE CORREIA (00:08:06) – Portanto, está se a perder de alguma maneira essa escola ou eu estou a ser pessimista?
LUÍS SIMÕES (00:08:14) – É curioso porque eu já disse, já mostrei preocupado mais do que uma vez e talvez por isto estas lições. Depois ficamos para a vida preocupado com a juvenil isenção das das redacções. E temos um camarada nosso, que é o Tiago Passos, da Lusa, que me diz sempre eu acho que não formula esta da melhor forma. E ele acha Porquê? Porque parece que eu estou. A minha frase é contra os mais novos. Não, não é importação dos mais novos. Por isto eu acho que os cabelos brancos são determinantes porque nos ajudam aos mais novos a pensar é uma rede e a encontrar caminhos. E porque na verdade, quem é mais velho já percorreu caminhos que nós vamos percorrendo.
JORGE CORREIA (00:08:59) – Já deu pontapés nas pedras. De resto, todos, todos nalgum momento. Acontece, não é? Quer dizer, isto quando nós trabalhamos muito depressa atrás de uma coisa a probabilidade de que alguma coisa corra mal hoje, lá está, com os onlines é mais fácil no jornal quando está impresso está impresso e portanto fica o que é e portanto não há.
JORGE CORREIA (00:09:19) – Olha, tu vens do do Congresso dos Jornalistas pela primeira vez desde os anos 80.
LUÍS SIMÕES (00:09:25) – 82, 88.
JORGE CORREIA (00:09:26) – 82, que os jornalistas decidiram fazer uma greve geral. Já tens data?
LUÍS SIMÕES (00:09:31) – Não tenho data. Há um compromisso entre nós, jornalistas, que foi a única coisa que nos dividiu. Sublinho um facto que, sendo histórico, é importante. Esta profissão chegou a um estado em que não houve um voto contra a greve e nós sabemos como os jornalistas são quase sempre muito resistentes a estas formas de luta tão drástica. Nós usamos mais que todos os outros a ideia de que a greve é uma bomba atómica e este momento é tão delicado que nós, por nós, não houve um voto contra a greve, Não há data. Mas há uma coisa que tem que acontecer é que nós decidimos que não pode ser durante a campanha eleitoral, por uma razão nós passamos a vida a dizer que somos um dos pilares da democracia. Parte dos jornalistas, onde eu me incluo, pensaram que fazê lo durante a campanha podia ser mau para essa mesmo democracia, que no fundo é a nossa missão também defender.
LUÍS SIMÕES (00:10:37) – E era uma.
JORGE CORREIA (00:10:38) – Falta de comparência numa altura crítica em que é preciso que o debate público decorra e logo nos media. Portanto, essa tentação de poder fazer durante a campanha eleitoral podia. Podia ter tido isso. O que é que tu esperas que aconteça no dia seguinte? A paragem dos jornalistas, se ela tiver o enfim, o sucesso que que é indiciado nessa unanimidade.
LUÍS SIMÕES (00:11:00) – Vou por aqui dois patamares. Espero que no antes e no dia. A sociedade civil, toda ela, seja quem for, quem vier, que que venha por bem e perceba que o país não pode passar sem um jornalismo de qualidade, livre, independente e, já agora, saudável e se junte a nós. Eu acho que este protesto não é dos jornalistas, apesar da greve geral ser dos jornalistas. Este é um processo e é um protesto de uma sociedade que vê a degradação que eu falava há pouco no jornalismo e que eu espero que se junte a nós para dizer nós não podemos mesmo permitir que a degradação continue, que as expressões um jornalismo pouco saudável pode tornar se mais permeável, por muito que nós, jornalistas, digamos sempre que não somos.
LUÍS SIMÕES (00:11:57) – Eu acho que não somos pressionadas a pressões, porque as que vamos criando ao longo das nossas vidas, resistências e formas de resistir a essas pressões e se este.
JORGE CORREIA (00:12:07) – Não conta, conta aquele também exato.
LUÍS SIMÕES (00:12:11) – E esse é o nosso património. É que não, não vamos ser silenciados porque é a frase boa se este não conta contra aquele. E nós estamos cá para contar e estamos cá para vigiar e estamos cá para informar.
JORGE CORREIA (00:12:27) – Olha, tu falas me da sociedade e da importância que que eventualmente a sociedade pode reconhecer ou não. E é daqui que vem a minha pergunta, que é o que aconteceu nos últimos anos olhando para para as audiências, para as tiragens dos jornais? E é que houve uma baixa. Há sempre um, uma baixa. Tens ideia porquê, Porque e porque as pessoas não se sentem identificadas com o produto que os jornalistas estão a fazer e porque se habituaram à ideia de que as notícias são de borla e que eu consigo encontrá las em qualquer sítio, porque raio é que eu hei de ir comprar um jornal da banca?
LUÍS SIMÕES (00:13:08) – É isso mesmo? Eu não estou certo que hoje sejamos lidos, ouvidos e vistos por menos pessoas.
LUÍS SIMÕES (00:13:17) – Eu estou certo que em alguns momentos somos lidos, ouvidos e vistos por muito mais gente. Agora, a transferência para o digital foi dramática. Nesse mesmo sentido que tu falas de se dizer que a informação que é cada vez mais um bem escasso e precioso, porque ao mesmo tempo que o jornalismo passa por uma severa crise, a desinformação atravessa um momento de grandes investimentos para se minarem alguns desses pilares. Eu creio que é eu agora perdi me. O que é bom nestas conversas.
JORGE CORREIA (00:13:56) – O que pergunto é subitamente, se quisermos as pessoas, os consumidores de informação que de alguma maneira dedicavam um bocadinho do seu rendimento para comprar notícias, portanto, para as valorizar, a ideia de comprar o jornal diário até à ideia de vermos no café o jornal diário e subitamente o que nós vemos são pessoas agarradas ao telemóvel. Portanto, com acesso a essa informação que os órgãos de comunicação social passaram a disponibilizar, mas não cobrando, certo?
LUÍS SIMÕES (00:14:24) – É isso mesmo?
JORGE CORREIA (00:14:25) – É um modelo de negócio.
LUÍS SIMÕES (00:14:26) – Ou é, Era e é sobretudo um problema de modelo de negócio.
LUÍS SIMÕES (00:14:30) – Mas é sobretudo esta herança que nós tivemos, porque, a partir do momento, houve a ideia peregrina de achar que a informação podia ser gratuita, de borla, como tu dizes e muito bem. E não pode porque dá muito trabalho. E já agora, quem a procura, quem informa, tem salários e salários que não devem ser baixos porque têm que se informar e tudo mais. Mas sim, esse foi o momento decisivo e que é o início desta severa crise, que é dizer se que a informação poderia ser de graça, que não tinha valor. E é isso que não pode acontecer. A informação tem valor. É a informação nossa jornalista, feita por quem é treinado, verificada, na verdade, continua a ser partilhada. As grandes plataformas fazem um negócio que é incrivelmente rentável.
JORGE CORREIA (00:15:22) – Vendendo aquilo que não pagaram.
LUÍS SIMÕES (00:15:24) – Vendendo aquilo que é nosso, dos jornalistas e do jornalismo e vendendo não só vendendo, como atraindo aquilo que nos alimentou durante anos, que é publicidade, o que é fantástico. Tem algo de graça, de um valor incrível e de alto valor.
LUÍS SIMÕES (00:15:43) – Disseminam por milhões de pessoas, atraem todo o mercado publicitário. E não há forma de nós sermos compensados por essa coisa que estamos a oferecer às grandes plataformas. E esse é um esforço que tem que ser feito por cada um dos nossos países. Tem de ser feito pela Europa. Isso já está a ser feito. Em França, há uma grande preocupação. Em Espanha há uma grande preocupação. Portugal deve demonstrar essa preocupação? A Não é possível fazer cada um, cada país por si, tem que ser uma estratégia europeia. Não, não. Nós não temos três mercados França, Espanha e Portugal. E vejam a escala disto. Eu não acredito.
JORGE CORREIA (00:16:23) – E a tua ideia é fechar a torneira ou é taxar?
LUÍS SIMÕES (00:16:27) – A minha ideia é recebermos pelo pelo bem que estamos a transferir para essas plataformas. Taxar assim tem de ser taxado. Tem que se encontrar alguma forma de se pagar a este trabalho. Não há trabalhos de graça.
JORGE CORREIA (00:16:44) – Senão o produto és tu.
LUÍS SIMÕES (00:16:45) – Claro, claro, porque.
JORGE CORREIA (00:16:46) – Eu vejo no online e acontece nalgumas plataformas para quem sabe ir à procura ou vai às plataformas de notícias.
JORGE CORREIA (00:16:55) – Em Portugal, os canais de rádio e televisão lusa nós conseguimos encontrar notícias e conseguimos lê las. Mas depois temos agregadores de notícias que misturam aqui três coisas que são fontes de notícias feitas por órgãos de comunicação social que nós conhecemos e podemos verificar. Publicidade encapotada e fake news. Tudo, tudo na mesma, na mesma plataforma. Quem não sabe? Lê tudo.
LUÍS SIMÕES (00:17:24) – Como se fosse a.
JORGE CORREIA (00:17:25) – Mesma coisa.
LUÍS SIMÕES (00:17:26) – Esse é o perigo dos nossos dias hoje, disse. Vi na internet ou vi no Facebook. Como nós dizíamos não, não porque vi no jornal. E esse é o perigo.
JORGE CORREIA (00:17:39) – Não pode haver uma validação de uma de uma informação que não está validada.
LUÍS SIMÕES (00:17:43) – Por certo há, por certo, pelo que te dizer, ao lado de uma informação verificada, jornalística, quase com valor científico, não é? Não é assim.
JORGE CORREIA (00:17:53) – Pelo menos eu sei que foste tu. Eu sei que foi este jornal ou que foi aquele. Portanto, há um mecanismo de.
LUÍS SIMÕES (00:17:58) – Eu, Luís Simões, respondo perante a minha classe, perante o meu conselho deontológico e responde muito bem perante o meu código deontológico, que há fronteiras que eu não posso ultrapassar, que há exigências que eu tenho que cumprir.
LUÍS SIMÕES (00:18:12) – E essa é a validação do jornalismo. Essa é a importância do jornalismo. Aquilo é informação. O que está ao lado não é. Mas as pessoas vão achar que é tudo a mesma coisa. E não, não é.
JORGE CORREIA (00:18:25) – Como é que tu? Como é que tu lidas com a fronteira de de órgãos de comunicação social estabelecidos, poderem de alguma maneira colocar no mercado produtos que são editoriais ou aparentemente editoriais, mas que na realidade são produtos que foram, enfim, que mereceram uma publicidade direta ou indireta, que que lá aparece e que às vezes é difícil distinguir dois pontos.
LUÍS SIMÕES (00:18:54) – E começando por aí.
(00:18:57) – Nós.
LUÍS SIMÕES (00:18:58) – Jornalistas, temos um código, não é? E nós, Comunicação Social, temos que dividir e dizer às pessoas muito bem. Isto é jornalismo, Isto é publi reportagem, Isto é publicidade.
JORGE CORREIA (00:19:14) – A fronteira tem que estar, tem que estar claramente demarcado.
LUÍS SIMÕES (00:19:17) – Vincada, claramente demarcada. Tu perguntas mas contra as publi reportagens? Não, não sou. Desde que me informem que aquilo não é de todo um produto jornalístico.
LUÍS SIMÕES (00:19:28) – É um produto patrocinado que, vamos ver, até pode ajudar. A subsistência de um órgão de comunicação.
JORGE CORREIA (00:19:35) – Pode ter qualidade, pode ser bem feito. Como tal, tem muita qualidade.
LUÍS SIMÕES (00:19:38) – Há muitos casos em que. Alguns jornalistas vão em trabalho. Fazer isto é complicado de explicar em fazer um conteúdo que tem por trás um patrocínio. Eu acho que não deve acontecer atenção, mas temos visto que acontecem e o jornalista chega lá e faz aquilo que tem que fazer, que é uma peça jornalística. Tu perguntas, perguntas me podem os jornalistas devem os jornalistas fazer isto? Eu acho que não. Eu acho que tudo que tem é pago. Eu tenho alguma resistência em achar que um jornalista o pode fazer.
JORGE CORREIA (00:20:17) – É uma consequência da degradação também e da e da perda de mercado e de e de capacidade de encontrar fundos para pagar as publicações.
LUÍS SIMÕES (00:20:25) – É uma e uma consequência. Mas não, não pode ser. Lá está, não pode ser feita por jornalistas. Arranjem outra forma de a fazer. Eu percebo que um jornal entenda que pode ter uma página de um conteúdo patrocinado por uma câmara municipal, por uma pasta de dente, uma marca de pasta ou outra coisa qualquer, o que for.
LUÍS SIMÕES (00:20:49) – Tem é que ser.
JORGE CORREIA (00:20:49) – Claro para as pessoas que estão a que estão a ler esse conteúdo e não ponham.
LUÍS SIMÕES (00:20:52) – O jornalista a fazê lo.
JORGE CORREIA (00:20:57) – Estão a gostar do Pergunta simples. Estão a gostar deste episódio? Sabia que um gesto seu me pode ajudar a encontrar e convencer novos e bons comunicadores para gravar um programa? Que gesto E esse subscrever na página pergunta sempre Pronto, como tem lá toda a informação de como pode subscrever? Pode ser por email, mas pode ser ainda mais fácil subscrevendo no seu telemóvel através de aplicações gratuitas como o Spotify, o Aplle ou o Google Podcasts. Assim, cada vez que houver um novo episódio, ele aparece de forma mágica no seu telefone e é a melhor forma de escutar a pergunta simples. Uma das maneiras de salvar os media, lá está, pode ser essa ir buscar algum dinheiro às plataformas digitais. É uma outra ideia que eu ouvi. Era a possibilidade de fazer uma subsidiação por parte do Estado nesta altura de emergência para tentar salvar algumas publicações. Faz sentido?
LUÍS SIMÕES (00:22:00) – Faz me todo o sentido.
LUÍS SIMÕES (00:22:03) – Eu acho que não podemos mais alimentar a ideia de que há ingerência do Estado na comunicação social. Vai potenciar a maior interferência do poder político. Vamos cá ver. Nós sempre fomos os sustentados pelo poder económico. Não me parece que tenhamos sido. Salvo raras exceções. Tínhamos sido obrigados a beneficiar esta ou aquela empresa porque metia publicidade nos nossos jornais. Nós resistimos sempre a essas pressões, ao poder económico. Nunca eu vou passar a utilizar a palavra porque eu acho que as palavras têm valor e devem ser utilizadas com o valor que têm. Nunca nos vendemos porque uma empresa tinha publicidade no nosso jornal. Quando vamos para a rua fazer jornalismo é que o Estado é igual o Estado. E a RTP é hoje um bom exemplo disto. Apoiando a comunicação social, podemos criar regras de transparência que assegurem que não há essa interferência do poder político. Eu acredito que a RTP e a rádio pública funcionam hoje muito bem que há uma série de equilíbrios que garantem que a RTP seja hoje um canal televisivo que trata, por exemplo, o poder político.
LUÍS SIMÕES (00:23:28) – Quase todos por igual, de acordo com a sua representatividade.
JORGE CORREIA (00:23:32) – No fundo, canais de verificação e de distribuição de poderes e de tomada de decisão, seja editorial, seja estratégico, seja financeiro.
LUÍS SIMÕES (00:23:39) – E há uma boa experiência de que um apoio pode ser eficaz num momento de urgência. São os famosos 15 milhões que são os 15 milhões, os famosos 15 milhões. Foi aquela, aquele. Chamaram lhe apoio extraordinário que o que tem de extraordinário não ter sido um apoio, ter sido uma antecipação de verbas. E durante a pandemia recordamo nos.
JORGE CORREIA (00:24:07) – Que o Estado comprou mais publicidade.
LUÍS SIMÕES (00:24:09) – Não comprou mais, antecipou, antecipou a publicidade para ajudar o momento em que as empresas não tinham dinheiro em caixa.
JORGE CORREIA (00:24:19) – Olha o que é que o jornalismo pode fazer para atrair mais as pessoas? Se calhar é a minha sensação como como cidadão, ouvinte, telespectador e leitor, de que 80% das coisas que eu vejo publicadas parecem um circuito fechado em que os jornalistas falam para as fontes, as fontes para os jornalistas. E faltam me tantas as histórias, os momentos, os anos.
JORGE CORREIA (00:24:46) – A notícia pura e dura.
LUÍS SIMÕES (00:24:47) – É verdade. Eu fiquei muito orgulhoso do congresso que fizemos. Porque além dos diagnósticos, da procura de caminhos, nós pensámos o que é que estamos a fazer? Nós não podemos dizer que estamos a fazer tudo bem e que não temos nada a ver com esta crise. Nós somos responsáveis de alguma forma pela crise. Somos responsáveis porque muitas vezes desistimos. Disse que estávamos a dizer de sair à rua, de contar uma história.
JORGE CORREIA (00:25:16) – E que me falta isso.
LUÍS SIMÕES (00:25:17) – E é verdade. Eu vou dar um exemplo.
JORGE CORREIA (00:25:21) – O diz que diz que ai o senhor doutor diz E depois o senhor engenheiro quer dizer certo ou não?
LUÍS SIMÕES (00:25:26) – Circuito fechado, sempre as mesmas fontes. E eu digo.
JORGE CORREIA (00:25:30) – Traz me a Dona Maria, traz me, traz me à rua, traz me aquela, aquela coisa que que eu digo ao eu isto brilha me os olhos, Eu quero, eu quero, eu quero saber esta história, quero que me contem esta história.
LUÍS SIMÕES (00:25:40) – Eu vou dar um exemplo que é do Luís Simões.
LUÍS SIMÕES (00:25:42) – Pessoal, o Luís Simões deixou Lisboa porque estava um pouco cansado de viver e foi para uma aldeia, uma aldeia chamada Larga, mesas larga, mesas. Tem histórias fantásticas. Só que hoje os jornalistas distanciaram se das pessoas daquelas pessoas de lá. Gâmetas que têm histórias fantásticas para contar e contam nos todos os dias.
JORGE CORREIA (00:26:06) – Histórias. Continuam a ver.
LUÍS SIMÕES (00:26:07) – As histórias estão lá, as histórias estão sempre lá. E nós. De um momento para o outro achamos que é mais fácil ficarmos sentados na cadeira a copiar uma notícia que nos chega não sei de onde e a não procurar essas histórias, a não perguntar à Dona Maria porque é que você está aqui. E a dona Maria depois não compra o jornal? Porque se comprarem um jornal que é de nível nacional, que só fala de Lisboa e do Porto.
JORGE CORREIA (00:26:39) – E de coisas de que ela basicamente não tem rigorosamente interesse nenhum em ler.
LUÍS SIMÕES (00:26:43) – Não quer saber. Não quer saber e as histórias vendem como nós vemos.
JORGE CORREIA (00:26:50) – Sabes que é uma coisa curiosa? Que a minha terra é Viana do Castelo e o meu pai sempre comprou o Jornal de Notícias.
JORGE CORREIA (00:26:57) – Agora, sinal dos tempos. Leu na, Leu na internet, lá está sendo assinante. Mas. Mas era muito curioso conseguir ver. No caso do JN, o caso do Correio da Manhã também é muito interessante, que é nós ter ali em Viana do Castelo aconteceu isto e em Caminha aconteceu aquilo e eventual amanhã eu posso comprar este jornal porque muito provavelmente amanhã ou depois vai voltar outra vez a aparecer a história da minha terra.
LUÍS SIMÕES (00:27:25) – Vamos cá pensar. Correio da Manhã Sustentável? Porque é que será?
JORGE CORREIA (00:27:30) – Porque é mais próximo.
LUÍS SIMÕES (00:27:31) – Porque é mais próximo, porque é muito fácil nós dizer não e não. Correio da Manhã Vende porque tem sangue. Se calhar em parte. Mas não é só isso. O Correio da Manhã tem gente em todo o lado, tem gente na minha aldeia, tem gente nas outras aldeias todas. Tem gente em Alvaiázere, que é a terra do meu pai. Tem, acontece alguma coisa e eu acho que essa proximidade, nós algures no caminho, perdemos esta. O jornalismo é para as pessoas e as pessoas não estão.
LUÍS SIMÕES (00:28:04) – E ainda bem que não estão todas em Lisboa, no Porto e em Coimbra. E nós temos essa responsabilidade da coesão do território, de ter gente que precisa de ser informada. Essa, se calhar mais do que os que vivem em Lisboa, que estão em Alvaiázere, que estão no Minho, que estão em Trás os Montes, que estão nos Açores. E esse também é um dos nossos papéis. Olha, volto.
JORGE CORREIA (00:28:26) – A ti essa ideia fascinante de poder pegar num bloco de notas, no gravador, numa câmara e chegar pela primeira vez a um grande estádio para contar a história. Para para ver. Os teus inícios mais importantes a táctica, o jogador, o treinador ou o ambiente? E as pessoas. O que procuravas tu? Não, Sem.
LUÍS SIMÕES (00:28:50) – Dúvida. O ambiente, o ambiente, porque é o desporto também tem isto, não é a emoção, é o desporto e muitas vezes a emoção, emoção e paixão. E depois tem outros problemas.
JORGE CORREIA (00:29:02) – De vez em quando.
LUÍS SIMÕES (00:29:02) – Não. E descamba muitas vezes, descamba demasiadas vezes mais do que seria de esperar.
LUÍS SIMÕES (00:29:08) – Há muita.
JORGE CORREIA (00:29:08) – Violência verbal. Eu discuti isto num programa anterior, a propósito da violência verbal geral. Não tinha a ver exactamente com o futebol, mas estou sempre a pensar no. Tenho um filho com 14 anos que joga futebol, que joga com miúdos de 14 anos, claro. E o que eu ouço às vezes das bancadas é assustador. É o mínimo que eu posso dizer. Miúdos de 14 anos.
LUÍS SIMÕES (00:29:30) – Ah, isso não é da responsabilidade dos jornalistas, é de outra e de outra franja de pessoas que se chamam comentadores e que fizeram do desporto aquilo que o desporto não pode ser, que é um campo de ódios, de raivinhas.
JORGE CORREIA (00:29:47) – Eu contra ti.
LUÍS SIMÕES (00:29:48) – Eu contra ti e contra e mesmo eu contra.
JORGE CORREIA (00:29:52) – Porque ali não há. Não há uma explicação do jogo, não há um entendimento. O que é que está a acontecer? Há literalmente o seu penálti. E para ti eu sou contra. Se o penálti é para mim, eu sou contra.
LUÍS SIMÕES (00:30:02) – Os comentadores entraram numa retórica muito limitada do se eu não ganho é porque fui de alguma forma prejudicado e a culpa é do adversário.
LUÍS SIMÕES (00:30:14) – Isto é tão poucochinho. Poucochinho.
JORGE CORREIA (00:30:18) – Uma palavra que, por outros motivos, ganhou.
LUÍS SIMÕES (00:30:22) – Tanta importância, mas é tão pouco. E se calhar é isso. E aquele fascínio de que os jogadores de futebol que não é verdade, ganham todos os milhões, transformou a cabeça das pessoas que, num jogo de miúdos, insultam, insultam uma criança de 13 anos porque.
JORGE CORREIA (00:30:41) – A pensar que a criança vai ser o próximo Ronaldo.
LUÍS SIMÕES (00:30:44) – Assim é, Vão.
JORGE CORREIA (00:30:44) – Ter uma ideia absurda.
LUÍS SIMÕES (00:30:45) – Exato. E se o treinador nomear o próximo Ronaldo, ajudarei porque, porque e porque não percebe nada.
JORGE CORREIA (00:30:50) – Daquilo a discutir a táctica.
LUÍS SIMÕES (00:30:52) – Exato. E se o adversário ganhou é porque foi.
JORGE CORREIA (00:30:56) – Uma coisa curiosa e que me que me faz falta aqui. E eu vejo muito poucos jogadores, lá está a quem percebe daquilo e treinadores, mas agora dos jogadores a contar a sua história, a explicar o porque é que foi glorioso ou doloroso ganhar ou perder. Eu gosto sempre muito de ouvir. Os ingleses fazem isso bem. Bernardo Silva Claro, claro.
JORGE CORREIA (00:31:23) – Aquilo que era ouvir.
LUÍS SIMÕES (00:31:24) – A bola fez agora uma entrevista ao Luís Mateus na Bola, ao Bernardo Silva. Que delícia! O Bernardo é incrível, o que reforça uma estupefação que eu tenho. O que é que aconteceu em quem tem a comunicação dos clubes, Basicamente do futebol? Porque é que onde isso mais acontece que decidiram fechar a porta, que os artistas não podem contar a sua história, que nos que decidiram afastar os jornalistas desses mesmo das paixões que desenvolvem toda a nossa paixão. Qualquer dia as pessoas não querem saber porque o futebol ainda vão crescendo, porque é o campo dos ódios. Mas o futebol começa a deixar de ser o campo daquelas histórias que nós víamos. Grandes jogadores de futebol do Ronaldo Nazário e do Cristiano Ronaldo, que vieram de uma situação muito débil e com o futebol, conseguiram ir muito longe. Foram, tornaram se pessoas idolatradas em todo o mundo. E eles não podem contar a história porque nós não.
JORGE CORREIA (00:32:26) – É uma história do herói, não é, no.
LUÍS SIMÕES (00:32:28) – Fundo. Mas a história do herói já.
LUÍS SIMÕES (00:32:29) – Nós já não a conseguimos contar. Eu ainda sou do tempo que a casa dos jogadores é que conversávamos e que nos sentávamos a beber. Se calhar não água até beber uma cerveja não havia problema nenhum. Agora há.
JORGE CORREIA (00:32:40) – Uma barreira sanitária.
LUÍS SIMÕES (00:32:41) – À NOS. Pode Cada jogador que é visto como jornalista. Ai o que é que ele está a falar com o jornalista? Isto não é de todo.
JORGE CORREIA (00:32:47) – Achas que isso acontece?
LUÍS SIMÕES (00:32:49) – Se calhar a culpa também é nossa. Do jornalismo nós permitimos. Na verdade, nós permitimos que a comunicação dos clubes seja feita numa sala de imprensa, onde estão todos. Uma pessoa compra o jornal e comprava o jornal para ver coisas diferentes. Hoje, na página dois, a conferência de imprensa e a página dois e a conferência de imprensa em todos os jornais. Escrita da mesma forma, claro, porque não vamos inventar declarações e fica tudo igual e nós permitimos. E acho que isso foi um desastre. Acho que é incompreensível que.
JORGE CORREIA (00:33:22) – Depois perdemos, lá está a perdemos essa, essa finura daquilo que daquilo que aconteceu.
JORGE CORREIA (00:33:28) – Lembro me. Lembro me provavelmente de uma exceção de um jogador do Benfica que falhou um golo ou um penálti. Um que que veio, que veio dizer Olhe, desculpe. Quer dizer, é mesmo isso, desculpem lá. Exacto. Ok. O João Neves de quem estou a falar é que questionaram. E os bons exemplos, como recentemente? Agora a seleção de dia de bola, se calhar com menos pressão mediática e portanto onde isso é mais, onde isso foi mais, mais fácil. Olha, estamos. Estamos no mundo dos algoritmos e de uma coisa chamada clickbait, que é, no fundo, nada mais nada menos que um título para atrair que as pessoas cliquem, quantas vezes enganador os os.
LUÍS SIMÕES (00:34:13) – Quantas vezes a atropelar as regras do jornalismo.
JORGE CORREIA (00:34:16) – O algoritmo Como é o jornalismo?
LUÍS SIMÕES (00:34:22) – O algoritmo fez uma coisa mais perigosa do que isso o algoritmo. A. Impede que toda a informação se chegue a cada um de nós e só chegue a cada um de nós a informação que nós queremos que chegue.
JORGE CORREIA (00:34:39) – Só te dou o que tu gostas de ler.
LUÍS SIMÕES (00:34:40) – Exacto, isso é terrível. Isso é terrível. Eu acredito que daqui a algum tempo se vai estudar a sério os efeitos disso. Eu não posso estar só perante informação que eu gosto sobre o que eu gosto. E uma vez, em conversa com o Paulo Penna, o Paulo Penna escreveu um livro sobre desinformação. Muito bom. Aliás. Ele dizia me quando o Ferreira Fernandes me veio pedir um trabalho a sério sobre a desinformação e as notícias falsas e a forma como está a inundar as redes sociais. Dizia me o Paulo Pena. E eu disse lhe. Mas isso não acontece. Eu não. Eu acho que isso não seja assim. E depois estávamos os dois a conversar e chegámos a uma conclusão Não nos acontece a nós porque o algoritmo funciona bem. O algoritmo para nós vai nos buscar a informação de normalmente de órgãos de informação ou verificar que nós consumimos. Vai nos dar a informação do público, vai nos dar a informação de onde vai nos dar.
JORGE CORREIA (00:35:56) – No fundo, o que tu me estás a dizer é que, como nós temos um mecanismo mais fino de pesquisa e de procura de ir em busca da fonte certa, logo o algoritmo dar nos bife do lombo.
JORGE CORREIA (00:36:07) – No fundo é isto.
LUÍS SIMÕES (00:36:08) – Depois o algoritmo dá nos aquilo que nós vamos procurar. Só que depois as pessoas vão procurar outras coisas. E o algoritmo? O algoritmo. Como já vimos na eleição do Trump do Brexit, o algoritmo, como só te dá aquilo que tu queres ver, desvirtua.
JORGE CORREIA (00:36:28) – E agora com com uma coisa que se calhar ainda é mais perigosa, que é o algoritmo mais inteligência artificial, mais evolução tecnológica, consegue copiar e mimetizar algo que parece francamente verdadeiro e que não é. Torna mais difícil, porque até agora a gente dizia olha, está aqui uma patranha e a gente consegue perceber. E depois, entre elas está o mecanismo de auto confirmatório que é. Está bem, mas isto é o que eu acredito, portanto. Mas agora já estamos noutro nível, não é que é o nível de que a verificação é mais difícil entre o facto, entre realidade e fantasia?
LUÍS SIMÕES (00:37:07) – Estavas a falar? Eu estava me a lembrar do casaco do Papa, o casaco que é incrível e durante uns segundos achámos todos que o Papa tinha um casaco bestial a.
JORGE CORREIA (00:37:17) – Pensar assim Tu? Mas este homem está aqui a falar dos pobres e depois veste um casaco de cabedal.
LUÍS SIMÕES (00:37:22) – Exato.
JORGE CORREIA (00:37:24) – O que é que está a passar aqui? É curioso, não é? Estamos a perder a capacidade do cepticismo, da interrogação, do pensamento sobre aquilo.
LUÍS SIMÕES (00:37:35) – E de olharmos. É aquilo se é verdade, está ali.
JORGE CORREIA (00:37:40) – Mas está aqui na imagem. Porque é que. Como é que tu vais desmentir me?
LUÍS SIMÕES (00:37:44) – Ele não é outra pessoa. E claramente ele está aqui. Sim. É tão importante. Jornalismo cada vez mais, não é? É preciso um jornalista pegar na imagem e dizer e descontruir, desconstruir.
JORGE CORREIA (00:37:59) – E dizer olha que isto é uma mentira, isto é uma.
LUÍS SIMÕES (00:38:01) – Mentira. Isto aqui é uma mentira sem importância. Só que depois há as séries, as muito sérias e perigosas.
JORGE CORREIA (00:38:10) – Eu não sei o que é que tu pensas, mas eu quando mergulho nas caixas de comentários dos jornais ou das redes sociais a comentar ou essas notícias falsas de uma forma polarizada, ou as notícias verdadeiras como como se elas não fossem verdadeiras, pondo em causa princípios científicos.
JORGE CORREIA (00:38:33) – Quer dizer que de uma forma que eu acho que é, que é deliberada, não é, não é, não é um acidente.
LUÍS SIMÕES (00:38:43) – Essa é a parte assustadora. Nós passamos a viver ali, numa realidade alternativa que transformamos em mentira o que é verdade em verdade absoluta, o que está demonstrado que não é verdade.
JORGE CORREIA (00:38:56) – A minha verdade é a tua verdade. Não, não, não. O meu argumento é o teu argumento, não a minha opinião, a tua opinião. E passamos para outro nível.
LUÍS SIMÕES (00:39:02) – Eu gosto muito das discussões da pós verdade.
JORGE CORREIA (00:39:07) – Maravilhoso termo.
LUÍS SIMÕES (00:39:08) – E eu acho que é um termo incrível como como as fake news são um termo.
JORGE CORREIA (00:39:14) – E uma contradição. Falsa notícia.
LUÍS SIMÕES (00:39:16) – A mesma palavra.
JORGE CORREIA (00:39:17) – Ter.
LUÍS SIMÕES (00:39:18) – As duas coisas estão contraditórias, o que eu acho fantástico.
(00:39:25) – Mas de facto.
LUÍS SIMÕES (00:39:28) – É isto que nos obriga a sermos cada vez melhor. Eu acho que não vamos parar o vento com as mãos. Acho que a inteligência artificial aliada sim a esta procura de desinformar, porque vamos cá ver. Qualquer pessoa que queira destruir uma democracia muito fácil.
LUÍS SIMÕES (00:39:49) – Um dos pilares a este é transformar os jornalistas num bando de mentirosos contra o salvador da pátria que vem aí para nos resolver um descrédito.
JORGE CORREIA (00:39:59) – Logo à cabeça.
LUÍS SIMÕES (00:40:00) – Claro, porque estas pessoas estão a ver como mentem. E é por isso que eu todos os anos vou ao Parlamento em sede de Orçamento de Estado, ou antes, quando se está a dizer precisamente isto. É tão barato apoiar o jornalismo, Sai tão barato a nossa sociedade, ao nosso Estado, que eu não entendo porque é que não se apoia o jornalismo e se cria um cerco a quem quer destruir. Na verdade, um sistema onde o jornalismo é peça essencial. A liberdade de imprensa e a liberdade de expressão são a primeira, a mais importante conquista de Abril. E estamos nos 50 anos do 25 de Abril e são a e o mais importante numa democracia e portanto, vai sair muito barato a dar força ao jornalismo como forma de desmontar toda a desinformação. E eu não entendo como é que os políticos que são, em primeira análise, se fecharmos isto para uma coisa egoísta do eu estou em causa.
LUÍS SIMÕES (00:41:12) – Eu não percebo porque é que ainda não perceberam.
JORGE CORREIA (00:41:14) – E achas que não perceberam mesmo o que é que achas que está a limitar este esse entendimento?
LUÍS SIMÕES (00:41:23) – Acho que já perceberam. A Global serviu para isso, para todos dizerem abertamente que já perceberam, mas que têm medo de uma sociedade que hoje é extremamente agressiva. E as redes sociais também nos mostraram isso, com quem toma decisões que são quase sempre difíceis e que são sempre discutíveis. E, portanto, é.
JORGE CORREIA (00:41:50) – O ter que levar com um fenómeno de impopularidade, dizendo estão a alimentar.
LUÍS SIMÕES (00:41:55) – Os mentirosos.
JORGE CORREIA (00:41:56) – Os mentirosos.
LUÍS SIMÕES (00:41:57) – Exacto. Acho que é esse o único medo, porque da direita à esquerda eu sinto que nos últimos meses. Porque estive no Parlamento várias vezes por causa da crise da Global, estive em comissões na 12.ª comissão. Falei, obviamente, com muitos políticos, de todos os partidos, de um lado ao outro, do Parlamento e todos estão preocupados. Mas eu acho que todos temem essa, acredito. Todos temem a crítica. Mas eu, como sou jornalista e ainda por cima de desporto e acho que a minha primeira missão é suportar bem as críticas e lidar bem com elas.
LUÍS SIMÕES (00:42:42) – Um político que é alguém com muito mais responsabilidade do que eu deve, da mesma forma, entender que há valores que se sobrepõem à popularidade. E esses valores e essa defesa da democracia cair nos junto a todos não.
JORGE CORREIA (00:42:59) – É Bola para a.
LUÍS SIMÕES (00:42:59) – Frente e.
JORGE CORREIA (00:43:00) – Eu quero fechar com uma, com uma coisa boa e positiva. Qual é a reportagem que tu guardas como a tua reportagem? Aquela que te. Aquela que tu disseste é esta? Esta é que é. Sim, eu sei que a próxima. Mas esta é que foi aquela que naquelas circunstâncias, naquele momento, tu próprio te deixaste engolir pela notícia que tiveste que escrever.
LUÍS SIMÕES (00:43:28) – É curioso. Isto é tão e tão pessoal. Angola apurou se em 2010, pela primeira vez para um Campeonato do Mundo e eu fui a Angola fazer a reportagem do apuramento de Angola com um golo do Aqua no Ruanda. Depois voltámos a Angola e foi esmagador. África é a África, a África é a festa, todas estas paixões, toda esta festa. A celebração em África ainda é diferente e foi esmagador.
LUÍS SIMÕES (00:43:59) – Eu nasci em Angola.
JORGE CORREIA (00:44:00) – No regresso a casa parti, portanto.
LUÍS SIMÕES (00:44:02) – Um regresso a casa 30 anos e um dia depois de ter voltado. Foi mais esmagador ainda por isso chegar à celebração de Luanda. O meu pai era vivo ainda a contar ao meu pai como era esta Angola nova a. Quem veio da África? Há uma coisa que nunca perdeu o fascínio por África. E eu acho que eu cheguei muito miúdo. Não me lembro de nada da minha infância em África. Mas há uma coisa que nas nossas casas sempre foi este fascínio por África. E ele veio e cheguei lá e encontrei o fascínio, que foi fantástico e acho que transportei para o jornal muito desses fascínio e acho que foi incrível.
JORGE CORREIA (00:44:45) – Sei que a energia, a luz, o cheiro, o que é que? O que é que está em África? Para um, Para um Europeu? Do Alto Minho que nunca daqui saiu? O que é que tem de extraordinário?
LUÍS SIMÕES (00:44:56) – O cheiro da terra é incrível. Ah, mas eu diria que que a África tem uma coisa que para mim é marcante e que me arrepia, que são as pessoas.
LUÍS SIMÕES (00:45:09) – Tu perguntas me são as pessoas são diferentes? Talvez por causa do cheiro da luz, da vida. Como ela se vive, do sentir como ele se sente. Tu tens experiências incríveis, tens conversas incríveis a Angola. Há pessoas que sofrem, Há alguma pobreza? Há. Mas há pessoas que estão apaixonadas pela vida, por contar histórias. E o africano tem isso. O Pepetela, nós lemos, o Pepetela. O africano tem dentro de si uma capacidade de contar histórias de uma forma tão apaixonante. O africano, o Pepetela, reinventa a língua, não é? E é por isto, porque ali as pessoas são tão incríveis, há diálogos tão inesperados e tão fantásticos que eu acho que o que a África tem de melhor são as pessoas. Se calhar a Europa também. Mas eu, como nasci ali, sempre tive este fascínio. Acho que as pessoas são incríveis Aí em Luanda, no México. Acho que são incríveis, seja.
JORGE CORREIA (00:46:11) – Em África, seja na Europa. A paixão maior do jornalista é ir, vir para contar e trazer a história e querer partilhar a história maravilhosa, a arte de ser testemunha profissional do mundo e aplicar sobre isso o mundo um ponto de vista, uma maneira de olhar única e subjetiva, seja no fim do mundo, seja no fim da rua.
JORGE CORREIA (00:46:34) – É por isso que o jornalismo se vai reinventar, porque há sempre uma história nova para partilhar que alguém não conhece e que ela seja verdadeira, honesta e humana. Até para a semana.