Hoje falamos de um dos mais especiais e extraordinários fins da comunicação: educar.
Desde o útero até ao fim.
Da mãe até aos bisnetos, todos temos a sorte e a necessidade de aprender com todos.
Mas o ser humano, na sua infinita criatividade, e a chamada revolução industrial, quis que todos aprendêssemos, formalmente, na escola, da maneira mais massificada e impessoal que se conseguiu.
O resultado está à vista.
Estamos a formar mais peças de fábricas do que cidadãos.
Mas este programa não é sobre o que correu mal.
É mais sobre a esperança de mudança.
Com quem já fez e continua a fazer pequenas revoluções na educação.
Sim, há maneiras diferentes de fazer.
Hoje não há aula.
A professora não veio. Ou ainda não veio. Ou não aberto o concurso. Ou esgotou-se.
Hoje há aula, mas o tema parece profundamente desinteressante.
Os conteúdos são despejados nos ouvidos dos alunos.
O objetivo e passar no teste. Sobreviver à média.
Como numa fábrica, fazer o que há para fazer. De forma mecânica. Não criativa. Não curiosa. Quase não humana.
Depois vem o teste que procura o Santo Graal do conhecimento empinado, mas raramente apreendido.
Decora Jorge, decora. Não penses muito. É só para fazer.
Mais uma vez sem nenhuma emoção que não o medo de chumbar.
Quem chumba é colocado simbólica ou realmente nas últimas filas.
Como quem já não interessa para a média. Para a forma criada.
As mais das vezes acusado de não querer aprender.
O professor de filosofia que queria ser chamado de Sócrates porque sabia ser a sua alcunha nos corredores. E que nas aulas usava os filósofos para nos divertir ou estimular a curiosidade.
O Professor Sócrates fazer uns testes intercalares notáveis. O último deles tinha uma única pergunta: “O que não sabes de filosofia e queres aprender?”
Não chumbou ninguém. Todos aprendemos muito.
E tudo fazia sentido. A dúvida, a curiosidade, a comunicação humana em movimento.
A juntar aos poemas em francês da professora que gostava de Brel. Ou a Professora de português que trazia pedaço de Pessoa ou Sophia de Mello Breyner, que nem estavam no programa, para nos guiar para o melhor Camões.
Foram exceções. Mágicas e únicas que ficaram escritas há 35 anos.
Quase tão fortes como aquela ciência oculta chamada matemática onde 70% dos alunos tirava notas miseráveis e toda a gente achava normal.
Tal como hoje. Metade de uma turma do secundário tira negativa e ninguém parece achar isto inaceitável. O que se passa? São os currículos? São as aulas? É o quê?
“A educação precisa de uma mudança radical”. Esta frase não é minha.
Ele fundou a escola da Ponte em 1976.
E abriu a possibilidade se experimentar uma nova forma de escola. Um novo modelo educativo.
Não centrado nos currículos formais e rígidos. Tão-pouco centrado nos professores.
Talvez nem mesmo centrado nos alunos.
É uma escola centrada nas relações afetivas entre toda uma comunidade.
O Professor José Pacheco, quer uma mudança radical.
E diz, nesta conversa, que o modelo de escola, em particular a escola pública, falhou.
Atribuindo a responsabilidade a toda a sociedade. Todos somos culpadas pela estagnação da educação.
Um modelo que não mudou desde a sua invenção nos séculos XVIII e XIX, e por isso tornou-se irrelevante no mundo atual.
O foco na aprendizagem mecânica, nos testes estandardizados e num currículo rígido não dá resposta às necessidades holísticas dos alunos.
Ele defende a necessidade de uma educação integral que englobe não só as disciplinas académicas, mas também os domínios sócio-afetivos e sócio-emocionais.
Acredita na humanização da educação, em que os alunos são vistos como indivíduos com necessidades e interesses únicos. Esta abordagem requer uma mudança do atual modelo de tamanho único para um sistema mais personalizado e inclusivo.
O sucesso da Escola da Ponte e de outros modelos de educação alternativa na América do Sul, no Brasil, na Argentina e no Chile, mostra a eficácia desta nova abordagem.
Ao dar prioridade à relação entre professor e aluno e ao criar um ambiente educativo que promove a aprendizagem holística, estas escolas produzem indivíduos completos que são não só academicamente proficientes, mas também social e emocionalmente competentes.
Para conseguir isso, defende, é necessária uma mudança radical.
A educação deve centrar-se nas necessidades e interesses individuais dos alunos, em vez de tentar encaixá-los num molde padronizado.
Os currículos devem ser flexíveis e relevantes, permitindo aos alunos explorar as suas paixões e desenvolver competências aplicáveis ao mundo real.
As avaliações devem ser autênticas e variadas, medindo não só os conhecimentos académicos, mas também a criatividade, o pensamento crítico, a resolução de problemas e a colaboração.
Em Abril volta do Brasil, onde trabalha, para estimular uma comunidade de diretores de escolas públicas para recriar o modelo educativo português.
Para quem o quiser encontrar e ouvir.
Também pode ser encontrado, por mensagem do WhatsApp usando este número de telefone: +5561999295905
TRANSCRIÇÃO AUTOMÁTICA (COM TODAS AS VANTAGENS E MAZELAS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICAL)
JORGE CORREIA (00:00:12) – Vivam! Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre Comunicação. Hoje falamos de um dos mais especiais e extraordinários fins da comunicação educar e educar, desde o útero até ao fim da mãe até aos bisnetos. Todos temos a sorte e a necessidade de aprender com todos, mas o ser humano, na sua infinita criatividade e a chamada revolução industrial, quis que todos aprendêssemos formalmente na escola, da maneira mais massificada, aborrecida e impessoal que conseguiu. O resultado está à vista Estamos a formar mais peças de fábricas do que cidadãos. Mas este programa não é sobre o que correu mal. É mais sobre a esperança de mudança, o aprender sempre, o aprender bem, o aprender com curiosidade para aprender com quem já fez e continua a fazer pequenas revoluções na educação. Sim, há maneiras diferentes de fazer e há maneiras de educar melhor. Vamos ao programa. Vamos a isso. Hoje não há aula, a professora não veio, ou ainda não veio, ou ainda não abriu o concurso ou esgotou se hoje a aula. Mas o tema parece profundamente desinteressante.
JORGE CORREIA (00:01:36) – Os conteúdos são despejados nos ouvidos dos alunos. O objectivo é passar no teste e sobreviver à média, como numa fábrica. Fazer o que há para fazer de forma mecânica, não criativa, não curiosa, quase não humana. Depois vem o teste que procura o santo Graal do conhecimento empinado, mas quase nunca apreendido. Decoramos e esquecemos. Decora, Jorge, Decora. Não penses muito. É só para fazer mais uma vez, sem nenhuma emoção que não seja o medo de chumbar. Quem chumba é colocado simbólica ou realmente nas últimas filas da sala de aula, como quem já não interessa para a média, para a forma criada, as mais das vezes acusado de pura e simplesmente não querer aprender. Mas quase ninguém se pergunta porquê. E por isso recordo com magia o contrário de tudo isto. O professor de filosofia, no último ano de carreira, que queria ser chamado de Sócrates porque sabia ser a sua alcunha nos corredores e que nas aulas usava os filósofos para nos divertir ou estimular a curiosidade. E aprendíamos muito. O professor Sócrates fazia uns testes intercalares notáveis.
JORGE CORREIA (00:02:45) – O último deles tinha uma única pergunta O que não sabes de filosofia e ainda queres aprender? Não chumbou ninguém e todos aprendemos muito. E tudo aquilo fazia sentido. A dúvida, a curiosidade, a comunicação humana em movimento. A juntar, claro, aos poemas em francês da professora que gostava de Abreu, o da professora de português que trazia pedaços de Pessoa de Sophia Mello Breyner, que nem sequer estava no programa para nos guiar para o melhor Camões. Foram exceções mágicas e únicas, mas que me ficaram escritas e guardadas há 35 anos, quase tão fortes como aquela ciência oculta chamada matemática, onde 70% dos alunos tirava notas miseráveis e toda a gente achava normal. Tal como hoje, metade de uma turma do secundário tira negativa a matemática e ninguém parece achar isto inaceitável. O que se passa são os currículos, são as aulas e o quê? Os resultados do índice Pisa que mede o sucesso escolar estão a cair em comparação com outros países? Algo não está a funcionar definitivamente bem. A educação precisa de uma mudança radical.
JORGE CORREIA (00:03:55) – Esta frase não é minha. Esta frase resume aquilo que o professor José Pacheco defende. Há 50 anos ele fundou a Escola da Ponte em 1976 e abriu a possibilidade de se experimentar uma nova forma de escola, um novo modelo educativo, não centrado nos currículos formais e rígidos, tão pouco centrado nos professores, talvez nem mesmo centrado nos alunos. É uma escola centrada nas relações afectivas entre toda uma comunidade. O professor José Pacheco quer uma mudança radical e diz nesta conversa que o modelo de escola, em particular a escola pública, falhou, atribuindo a responsabilidade a toda a sociedade. Somos todos culpados pela estagnação da educação. O modelo que não mudou desde a sua invenção nos séculos 18h19 e que por isso se tornou irrelevante no mundo actual. O foco na aprendizagem mecânica, nos testes estandardizados e num currículo rígido não dá resposta às necessidades holísticas dos alunos. E como se muda isso? Ele defende a necessidade de uma educação integral que englobe não só as disciplinas académicas, mas também os domínios sócio afectivos e sócio emocionais. Acredita na humanização da educação, em que os alunos são vistos como indivíduos com necessidades e interesses únicos.
JORGE CORREIA (00:05:09) – Esta abordagem requer uma mudança do actual modelo de tamanho único para um sistema mais personalizado e inclusivo. O sucesso da Escola da Ponte e de outros modelos de educação alternativa na América do Sul, do Brasil, na Argentina e no Chile mostra a eficácia desta abordagem ao dar prioridade à relação entre professores e alunos e ao criar um ambiente educativo que promove a aprendizagem holística. Estas escolas estão, assim, a produzir indivíduos completos e não só academicamente proficientes, mas também social e emocionalmente competentes. Para conseguir isso, defendem a necessária mudança radical. Mais uma vez, uma mudança radical. A educação tem de centrar se nas necessidades e interesses individuais dos alunos, em vez de tentar encaixá los num modelo e num molde padronizado. Os currículos devem ser flexíveis e relevantes, permitindo aos alunos explorar as suas paixões e desenvolver competências aplicáveis ao mundo real. As avaliações devem ser autênticas e variadas, medindo não só os conhecimentos académicos, mas também a criatividade, o pensamento crítico, a resolução de problemas e a colaboração. Em abril, volta do Brasil, onde está a trabalhar para estimular uma comunidade de diretores de escolas públicas para recriar o modelo educativo português para quem o quiser encontrar ou ouvir.
JORGE CORREIA (00:06:29) – Uma nota final antes de ouvirmos a conversa, ela foi gravada a distância entre dois continentes e por isso a qualidade de som não é tão boa como numa sessão ao vivo, mas vale cada minuto pelo seu conteúdo. Viva Professor José Pacheco, professor fundador da Escola da Ponte, escritor de livros sobre a educação. Chamem lhe dicionários. Teve a generosidade de partilhar comigo um desses livros que é um dicionário sobre valores. E também dois outros dicionários um e um. É sobre os absurdos da educação e um outro sobre as utopias, as utopias da educação. Acho que são bons temas de conversa para esta, para este nosso episódio de podcasts. Professor, pergunto lhe o que é que está a acontecer à nossa escola? O que é que está a acontecer, em particular a escola pública portuguesa?
JOSÉ PACHECO (00:07:27) – Eu acho que não está acontecer, está a deixar de acontecer. Não é aquilo que o Almada Negreiros dizia já em 1920 e todos tratados que visavam salvar o mundo estavam escritos. Só faltava salvar o mundo. Na educação é a mesma história.
JOSÉ PACHECO (00:07:50) – Desde meados da década de 60, todos os tratados que visam salvar a educação já estavam escritos. Faltava salvar a educação. E eu que estou com 72 anos e 55 anos de educador, eu não consegui também salvar a educação. Portanto, o que aconteceu com a educação? Nada. Infelizmente, nada. Mas está a acontecer algo se considerarmos uma outra educação, porque aquela que nós temos, sobretudo a educação escolar, é uma educação que nasce no século XVIII, 19 e que não faz sentido. Portanto, eu, que vivi como professor de escola pública os últimos 50 e tal anos, eu considero que foram anos perdidos. Convidaram me para fazer um programa, uma programação de comemoração dos 50 anos da Revolução de Abril no campo da educação. Eu respondi que nada aconteceu e, portanto, não há nada que comemorar. Eu sei que há pessoas que dizem que agora há muito mais gente nas escolas, que as escolas têm melhores condições materiais, que o índice de pisos baixou. Tudo isso eu considero, enfim, desculpa de mau pagador.
JOSÉ PACHECO (00:09:19) – E agora que temos. Porque quando eu digo isto é porque o que está na Constituição da República é que a educação é um direito de todos e um direito subjetivo. Mas que eu saiba. Ainda há muita reprovação a muitos centros de explicações. Há muita falta de aprendizagem e, portanto, a Constituição não está a ser cumprida.
JORGE CORREIA (00:09:46) – Quer dizer, professor, quando me está a dizer que quando nós olhamos para a existência de centros de explicação ou de níveis de reprovação tão elevados, estou a pensar na matemática, por exemplo. Significa que isso em si mesmo, é para si um falhanço do processo educativo também.
JOSÉ PACHECO (00:10:05) – Mas aquilo que eu costumo falar é de uma educação integral, que passa pela aprendizagem matemática e tem um filho que é professor de matemática, portanto, passa por um currículo que não é esse que está no currículo. Se quiseres conversarmos tridimensional, passa por consideração do domínio socioafetivo socioemocional. Tudo isso junto, numa educação integral, humanizadora, que é disso que se trata. Isso eu não vejo. Mesmo a Escola da Ponte.
JOSÉ PACHECO (00:10:42) – Ela tem 47 anos, não é uma jovem, tem 47 anos, é uma das escolas mais conhecidas no mundo. Eu tenho mais de uma centena de livros publicados e nenhum está publicado em Portugal. Estão publicados em várias línguas, em vários países. Só no Brasil tem perto de 100 publicados. E o que eu escrevo é que a Ponte provou a possibilidade de mudança. A partir daí, promoveu alguma inovação. Mas imediatamente cristalizou. Então, quando eu escuto algumas vozes que ocultam essa realidade da falência da escola pública, quando um aluno é excluído, quando um aluno não aprende a reprovado, quando um aluno vai para um centro de explicações, é falência do sistema. Então, aquilo que eu procuro ajudar a fazer é em vários países. É exatamente uma escola com outras características que não essas que aí estão agora. Tem aparecido aí os projectos megalómanos, caríssimos já no particular e que são um engodo, porque não é mais do que aquilo que se faz noutros lugares. Mas tem piscina, tem internet, tem, etc.
JOSÉ PACHECO (00:12:07) – Então, resumindo, não sou pessimista, mas também não sou optimista. Sou esperançoso. Espero ainda ver. Por isso é que eu mando cartas para os meus netos. Espero ainda ver no meu tempo essa tal educação familiar, social, escolar que as crianças e os jovens adultos merecem e que não acontece.
JORGE CORREIA (00:12:30) – Falou me da Escola da Ponte. Criou essa escola em 1976. Que escola é essa? Que princípios tinha a Escola da Ponte e tem a Escola da Ponte desse vislumbre da nova educação?
JOSÉ PACHECO (00:12:43) – Nós tivemos muitos visitantes, muitas teses de doutoramento, mestrados lá foram feitos, enfim. E o que as pessoas diziam quando faziam uma visita a não têm sala de aula, a não tem turma, A não tem aula, a não tem teste, A não tem direito. Eu ficava a olhar para elas e perguntava porque é que dizem o que não tem? Porque não dizem o que tem? Olha, hoje a Escola da Ponte está na história da educação. Por quê? Porque foi a primeira escola no mundo. Portugal deveria orgulhar se disso e não o faz.
JOSÉ PACHECO (00:13:24) – Foi a primeira escola no mundo a passar do centro de produção para o centro no aluno do paradigma da instrução para o paradigma da aprendizagem. A primeira, embora no jardim de infância Reggio Emilia tivesse feito isso dez anos antes, mas era no jardim de infância. Nós foi no ensino básico. Foi a primeira vez. E o que é que a escola tem? Não digam que não tem. O que é que ela tem? Tem o direito à educação com todos. É essa a diferença. Quando Jorge Sampaio visitou a escola, no final da década de 90, ele se emocionou muito, ele e a esposa, e ficou dentro da escola, dispensando a presença da televisão, rádios, jornais, conversando com os jovens. E eu nem vou dizer o que eu disse. Vou só finalizar esta esta referência ao Jorge Sampaio com a participação dele na assembléia de escola. Ele chorava como uma madalena de emoção e dizia Quem dera que os nossos deputados viessem ver esta assembleia. E ergueu o braço e disse E mantém durante a vossa vida toda o braço levantado.
JOSÉ PACHECO (00:14:34) – Eles pedem a palavra. Eles escutam. Eles são cidadãos. Não há uma aula de educação para a cidadania. Há uma escola onde se aprende cidadania no exercício de cidadania e uma outra forma. Mas repara, a ponte está atrasada porque passou para o centro no aluno. Mas hoje, no Brasil, na Argentina, no Chile e noutros lugares, sobretudo na América Latina, eu trabalho com o centro. Sem centro, o centro não é o professor nem o aluno. O centro em relação é a relação que não é apenas cognitiva, afetiva, emocional, estética, ética, espiritual até. E aí nós temos que criar um ambiente educacional de aprendizagem, a que eu chamo novas construções sociais de aprendizagem, em que a educação efetivamente acontece integralmente. Isso para acontecer aqui na América do Sul. Mortinho da Silva esteve aqui há 25 anos e um dia foi visitar a Cátedra Agostinho da Silva. Encontrei uns manuscritos e num deles ele dizia o seguinte Portugal desembarcou na África do século XVI, na Ásia, desembarcou na América. Só falta Portugal desembarcar em Portugal.
JOSÉ PACHECO (00:15:57) – Eu acrescento isso vai acontecer com a nova educação que está a nascer. Começou em Abril. Aí existe em Portugal um movimento chamado Arca, que é a Assembleia das Redes Comunidades de Aprendizagem. Onde não há centro a relação e a aprendizagem centrada em que? No sentido, No significado. Então. O que vai acontecer em abril e o Abril da Educação? São centenas de educadores, professores, pais, etc. Olha, o João Costa e o António Leite, que eu conheço bem, também poderiam participar se não fossem. Bora lá Então nós vamos fazer um movimento de integração, de religar tudo, tudo, tudo separado, cartesianamente separado. É aquilo que eu te digo e que não faz sentido nenhum ouvir falar de sala de aula no século XX, muito menos século XXI, Enquanto continuamos a falar de sala de aula, nada acontece.
JORGE CORREIA (00:17:06) – Estão a gostar do Pergunta simples. Estão a gostar deste episódio? Sabia que um gesto seu me pode ajudar a encontrar e convencer novos e bons comunicadores para gravar um programa? Que gesto é esse? Subscrever na página? Pergunta sempre pronto, Como tem lá toda a informação de como pode subscrever, Pode ser por email, mas pode ser ainda mais fácil, subscrevendo no seu telemóvel através de aplicações gratuitas como o Spotify, o Aplle ou o Google Podcasts.
JORGE CORREIA (00:17:35) – Assim, cada vez que houver um novo episódio, ele aparece de forma mágica no seu telefone. E a melhor forma de escutar a pergunta simples. Então, se nós temos aquilo que é o ensino clássico, os nossos alunos, as nossas crianças na Europa, em Portugal, vão a uma sala de aulas onde escutam professores de forma sucessiva. Ao longo das horas. Têm currículos que muitas vezes não entendem sequer para que é que aquilo serve. No fim têm testes, passam ou chumbam e a minha sensação é que nem professores, nem alunos, nem famílias, nem comunidade estamos muito satisfeitos com aquilo que acontece nessas aulas, nessas turmas, nessa escola.
JOSÉ PACHECO (00:18:20) – Olha, eu gosto muito de utilizar algumas frases feitas à frente, normalmente provocatórias. E já que falaste de teste e de sala de aula, eu vou fazer várias afirmações primeiro. Um professor não ensina aquilo que diz, transmite aquilo que é aprendizagem antropofágica. Eu não aprendo o que o outro diz, aprendo o outro. Toda a aprendizagem é através do exemplo e da imitação.
JOSÉ PACHECO (00:18:49) – Portanto, na sala de aula pouco ou nada se aprende. Ou então aprende se que não se deve aprender o conformismo, a obediência formal e tudo mais. Um teste nada, avalia. Eu convido os meus colegas das ciências da Educação para discutir isso. Basta ter uma ideia do que é a doce homologia, a ciência dos testes, para se perceber que não vale a pena. E mais há uma grande confusão entre avaliação e classificação. Então estamos no tempo que eu vou definir do seguinte modo. Eu estava para ser engenheiro electrotécnico, isto na década de 60. Até que me decidi para professor. Não importa porquê. E eu fui. Eu sabia muito de electrotecnia, mas eu não sabia ser professor. Eu sabia dar aula, que é outra coisa, que é o que se fazem hoje, 50 e tal anos depois. Eu tive que aprender a ser professor. Foi doloroso porque aquilo que ainda hoje se faz na formação de professores, eu trabalho na universidade, aqui em mais de uma dúzia de universidades do Brasil e colaborei em algumas portuguesas.
JOSÉ PACHECO (00:20:00) – O que se faz é a reprodução do modelo do século XVIII 19, da Polícia Militar e da primeira Revolução industrial. Agora o discurso está enfeitado, não é? Mas a prática é miserável. O António Nóvoa o diz, sofisticou o seu discurso e é contradito com a prática que temos a miséria das práticas. Volto a dizer que não sou cético, não sou pessimista e não sou otimista. Eu acredito nos professores. Fui dirigente sindical, acredito nos professores e fui dirigente sindical. Mas não compactuo com certas coisas. O corporativismo não é comigo, não. Não conheço muito bem o Mário e tudo mais. Eu não vou por aí. Então, se quisermos em abril acompanhar algo que vai realmente valer a pena fazer, que é uma nova construção social de aprendizagem e educação em Portugal, de novo, 47 anos depois da Escola da Ponte, vai mostrar ao mundo, como diria o nosso Agostinho da Silva vai desembarcar em Portugal essa nova educação. Eu vou aprender essa nova educação das comunidades indígenas, os Xavantes, Tupinambá, os pataxós, aprendia os quilombolas que os portugueses criaram com a escravatura.
JOSÉ PACHECO (00:21:20) – Aprendi nas favelas brasileiras, onde não há possibilidade de disfarçar a miséria. Aprendi num país onde convergem todas as culturas. Portugueses e italianos, alemães, japoneses. Está aí tudo. É o único país onde um muçulmano casa com um israelita, por exemplo. Um judeu. É fantástico o que está a acontecer aqui. A Europa está atrasadíssima, essa coisa da Finlândia. Temos muitas finlandês no Brasil, muito melhor que a Finlândia. Em 2018 eu fui convidado para ir à Índia apresentar um projeto que estava a desenvolver no Brasil. Quem foi que eu encontrei mais seis países selecionados? Finlândia. Singapura Primeiro lugar no Pisa, Estados Unidos, Israel, Japão e por aí vai. Qual foi o melhor dos projetos? O brasileiro Projeto Âncora foi melhor considerado ao fim de 15 dias de debate. Foi melhor. Falava português e as pessoas perguntavam em inglês, claro, muito em inglês. E não, no Brasil não. Diziam que não era possível um país do terceiro mundo lá como Luciano. Não é aqui que está a melhor educação.
JOSÉ PACHECO (00:22:33) – E em Portugal também. Mas em Portugal ela está oculta, infelizmente. Porque com o ministro que nós tivemos começa. Enfim, nem vou dizer o nome porque eu só o nome já me irrita que estragou muita coisa. Aí estamos parados. Agora ficaram espantados como é que no PISA os resultados foram piores? Claro, isto vai e volta não muda nada. Como é que é um horário melhor ou pior, ou melhor ou pior? Porque a escola é esta que temos e não aquela que devemos ter.
JORGE CORREIA (00:23:05) – Então o que é que. O que é que acha que está a acontecer Para que, tendo esse olhar sobre aquilo que se passa na escola, não estejamos a mudar ou a corrigir a maneira como estamos a fazer. Sendo que o professor me anuncia que a partir de Abril traz ar novo para a forma de educação e para ver se conseguimos fazer algumas coisas em Portugal. Fazer o quê exactamente?
JOSÉ PACHECO (00:23:31) – Eu não vou levar um ano novo, até porque eu gosto mais deste ar tropical. Mas vou, vou. Aí, tem aí filhos e netos que estão ligados à educação, têm muitos amigos.
JOSÉ PACHECO (00:23:44) – São eles que vão fazer. Eu já tinha desistido praticamente, mas há dois anos atrás, quando eu fiz os meus 70, eu resolvi parar e chamaram. E eu achava estranho. Quando eu chegava a um agrupamento de escolas, vinha um jovem professor, jovem de 50 anos. Vinha ter comigo e dizia O senhor lembra se de mim? Então o diretor do agrupamento não foi seu aluno na faculdade, pois vinha uma presidente de câmara. O professor lembra se de mim? Não foi sua aluna na Escola Superior do Porto. Encontrei 22 ex-alunos com 50 e tal anos de idade, alunos da universidade que querem fazer aquilo que é preciso porque não nos deixaram fazer antes. Eles agora têm estabilidade, estão em posições de chefia, de gestão. Então eles me levaram de novo a convidar aqueles que quase tinham desistido para fazer parte. Devagar que não a não quero fazer dos alunos cobaias de professores. Devagar, a partir daquilo que o professor é, a partir do chão da sala de aula. Porque quando um professor me diz mas como é que eu vou fazer comunidades de aprendizagem com subjetividade, dando aula e aquilo que a pessoa sabe fazer, Eu tenho de valorizar o que a pessoa sabe fazer, respeitá la.
JOSÉ PACHECO (00:25:05) – Então eu vou para o chão da escola e para a sala de aula. Eu estou a adorar esta experiência porque estou fazendo aqui. Antes de ir para Portugal, estou aqui desde há um tempo, já fazendo alguma experimentação. É o que vai acontecer em Portugal, se é que isso importa. Se quiser aproveitar este ano, não posso chamar movimento. Isto vai acontecer. Se quiser aproveitar. Se o ministro for esperto, o que vier, então vai. Portugal vai ficar em primeiro lugar no Pisa em muito pouco tempo, se é que isso importa. Para mim não importa nada, mas pronto. Mas vai sobretudo mostrar ao mundo aquilo que Agostinho da Silva falou. É uma educação humanizadora, uma educação verdadeiramente transformadora. E é isso que vai acontecer. Eu já não vou ver, porque já estou mais para lá, para cá, mas outros virão.
JORGE CORREIA (00:25:55) – Um professor pode para quem? Para quem não tenha experiência destes modelos educativos, destes novos modelos educativos. O que é que acontece nesta escola nova em contraponto com a Escola Velha? Podemos transportar nos para lá? Leva nos connosco até essa, até essas experiências que defende e explique nos como é que isso, como é que funciona, como é que funciona essa relação na escola, como é que funciona a relação dos alunos com os professores, com as famílias? O que é que tem de verdadeiramente diferente e de forma concreta.
JOSÉ PACHECO (00:26:24) – Aquilo que está a acontecer atualmente, desde há uns 30, 40 anos, sobretudo com o advento da inteligência artificial das tecnologias digitais, é uma tentativa de melhorar o sistema através da introdução dessas desses dispositivos. Não adianta nada. É a instrução. O paradigma da instrução mantém se. Depois é aquela chamadas escolas alternativas que eu detesto, que o centro é criancinha, faz o que quer, a criança não faz quer, quem quer, aquilo que faz é completamente diferente. Ok, então eu também não entro nessa. Não gosto. Detesto chamar rios que estão para ir, mas há coisas muito bem feitinhas nessas alternativas. Cuidado, Eu não vou entrar em pormenores, Então o que nós vamos tentar fazer não é tentar melhorar esse sistema. Ele não funciona. Ele é hierárquico, é feito de castas, desde o Doutor e PhD até ao vizinho. É imoral porque os professores dão aulas, sabem que não ensinam. Continue a dar aula, ok? É anti-ético porque as pessoas escrevem sobre o paradigma da comunicação e fazem trabalho em sala de aula no paradigma da instrução.
JOSÉ PACHECO (00:27:36) – Ok? E é corrupto, intelectualmente, corrupto. Então, este modelo acabou há muitos anos, mas nós temos que partir dele. O que vai acontecer é que para uma nova educação, uma nova construção social, ela parte de um pressuposto imediato. Escolas são pessoas que sabem isto. Porque quando eu falo escola, qual é a representação mental que as pessoas fazem? Um prédio? Salas de aula não é nada disso. Escolas são pessoas. E o que é que são as pessoas? Os seus valores? As pessoas agem em função de valores. Quando esses valores são transformados em princípios de ação, conduzem a projetos, projetos, escola, projetos de comunidade. Os projetos são coletivos. Ninguém faz nada sozinho. Portanto, professor sozinho em sala de aula, nunca mais. Então nós partimos de uma ideia de projeto a partir de valores e princípios de uma sociedade do século XXI que aderem a princípios que Edgar Morin e outros propõem. A partir daí, são muitas as formas de desenvolvimento. O que posso dizer? Trabalhamos com as crianças e jovens adultos, sem ciclo, sem ano, sem livro didático, sem turmas, sem ano letivo, sem porcaria nenhuma, que isso não faz sentido nenhum.
JOSÉ PACHECO (00:29:05) – Eu convido os cientistas da educação a conversar sobre isso, se quiserem, ok? Porque que disseste uma coisa que eu gosto de observar a minha opinião? Eu não tenho direito a dar opinião. Eu não tenho direito a dar opinião porque eu sou formado em Ciências da Educação. Eu tenho que fazer afirmações, afirmações e fundamentadas na lei e na ciência. Uma ciência prudente. Peço desculpa desta pseudo arrogância. Então nós vamos partir da iniciativa local fazendo aquilo que se chama uma. Não tenho medo de começar a dar designações, mas é um círculo de aprendizagem que reúne gente de todas as idades, porque não há uma idade para aprender a ler nem idade para ir para a escola. Nós começamos a aprender no sexto mês de gravidez dentro do útero materno e acabámos de aprender quando morremos. É só isso e, portanto, aprendemos em qualquer lugar. Não. Dentro de um prédio de escola aprendemos muito pouco. Aprendemos quando queremos aprender. Quando o objeto é significativo, aprendemos com os outros e não sozinhos. Aprendemos onde quer que seja, num centro cultural, numa igreja, na internet, numa praça, na floresta, em casa e dentro do edifício da escola.
JOSÉ PACHECO (00:30:28) – Com certeza não vou implodi los, embora eu penso que isso que vai acontecer a partir de abril vai levar uns 20 anos para se afirmar, consolidar e vai ser algo que eu não consigo vislumbrar. Eu apenas sei o início e o início. E escolas são pessoas. A partir deste axioma tudo muda, tudo muda. Agora posso falar do currículo, posso falar, mas isso acho que não tem interesse nenhum. Talvez num outro dia. Mas para falar de currículo, estaremos aqui pelo menos umas cinco ou 06h00. Vou falar do currículo. A subjetividade da comunidade, de implantar essas coisas todas que as ciências da educação se entretêm a discutir.
JORGE CORREIA (00:31:11) – E esse modelo não pode ser demasiado anárquico para ser organizado nesta fábrica de ensinamento que é a escola atual.
JOSÉ PACHECO (00:31:20) – Disseram isso da Escola da Ponte e posso dizer que a Escola da Ponte, a escola mais organizada que eu conheço. Já agora. Anarquia no dicionário, é sinônimo de caos. Mas anarquia vem do grego arcos significa a suprema noção de ordem. Eu não preciso de quem me ordena.
JOSÉ PACHECO (00:31:38) – Eu sei ter autodisciplina. Essa é a noção que eu tenho de anarquia. Não é deturpada, mas é só anarquia. Graças a Deus. Já agora, e orgulho me disso porque respeito todas as ideologias, exceto as extremistas como essa do chega desses desgraçados que estão aí. Então já cá faltava, não é? Então a organização tem uma lógica diferente da que ela tem hoje. Ela parte exatamente de acordos de convivência. Ela parte da definição de um território. Ela parte da do levantamento de uma matriz axiológica de valores que estão presentes. Ela parte um compromisso ético com a educação. Ela parte de tudo aquilo que é. Este modelo que está aí não serve porque acho que as pessoas estão muito cegas. Ou então é normose. Não sei se isso é uma coisa que inventaram aqui no Brasil, mas não me deixa falar sozinha. Diz lá se tem mais alguma coisinha para perguntar.
JORGE CORREIA (00:32:45) – Quero, Claro que quero perguntar. Quero saber que professores é que o marcaram e porquê. Fundamentalmente, mais do que a pessoa, o que é que foram esses mestres que no fundo, despoletaram dentro de si essa curiosidade, essa fome e essa vontade de aprendizagem, numa aprendizagem que me parece muito mais comunitária do que propriamente formal.
JOSÉ PACHECO (00:33:08) – É comunitária, é pessoal e social, é universal. Ela é tudo. Mas eu tive e tive várias. Tem várias referências. A primeira é o professor da instrução primária, uma besta chamada Vasconcelos. Paz. A sua alma, que nos tratava como cachorros, dava nos pontapés na cabeça, contar o quadro, etc. E assim eu aprendi uma coisa como ele foi odiado e portanto, tentei esquecer. E tive muita sorte quando em 1960 eu fui apanhado como melhor aluno da quarta classe para um projeto da OCDE e tive acesso àquilo que eu nunca teria os meus colegas. Era uma turma de 67 alunos, só um saiu. O resto foi tudo para serralheiro, para trolha, para tudo mais. E eu fui para electrotecnia passando pela formação profissional de eletricista. Tenho carteira profissional para ganhar a vida e puder pagar estudos. Então quando eu chego aos dez aninhos não para dez. A Escola Gomes Teixeira no Porto, eu encontro esse projeto e a primeira aula foi de um padre. Religião Moral Católica Padre Lima É extraordinário o homem.
JOSÉ PACHECO (00:34:19) – Ele entra, olha para nós crianças a tremer de frio, descalças, cheias de piolhos. Eu era da Ilha dos Tigres, com a ilha de São Vítor, com a ilha de Miragaia e tudo mais. Éramos os pobrezinhos do lugar e ele olha para nós e diz O que é que tu queres saber? Perguntou me. Eu disse Eu quero saber o que era a Rua da Vitória antes, a Rua da Vitória. Aí vem cá escrever uma coisa num papel e diz Vai a biblioteca. Voltas daqui por meia hora. Vais me dizer a resposta? Eu fui. Eu recebi todos os prémios de leitor dos anos em que trabalhei e estudei, porque ele me ensinou que tudo parte de uma pergunta O que é que tu queres saber? O que é que tu queres ser? Não, eu pensei Quando for grande, isso é um insulto, criança e não vai ser. Mas o que é que tu queres ser? O que é que tu queres fazer? O que é que tu? Quer saber? Depois, quando eu passei para a Industrial, encontrei um homem chamado Pedro Homem de Melo, meu professor durante três anos, Língua Portuguesa e História Universal.
JOSÉ PACHECO (00:35:20) – Ele não queria falar da Revolução Francesa, claro, mas pronto. Ele me ensinou a amar Camões, Pessoa, etc. Ensinou a amar. Depois encontrei uma professora de francês porque me apaixonei. Eu posso contar uma historinha para acabar ou não? Claro que sim. Eu estava na indústria. Nunca tinha tido uma professora. Era tudo homens. Não havia engenheiros na altura. Eu estou falando da década de 60 e eu tive de fazer uma disciplina na área das Humanísticas, uma língua. Escolhi o francês. Na altura era francês e vem aquela jovem de 18 anos. Eu tinha 17. Paixão à primeira vista, pensando eu ser platónica. Aí eu ia para a primeira fila. Como sou estrábico, eu pensei que ela não percebesse que eu estava olhar para ela, mas eu estava a antropofagicamente absorver tudo o que ela dizia. Eu era o melhor. Não escrevia uma linha, escrevia depois tudo que ela escrevia no quadro. Ok, até que chegou o último dia. Eu estava, como tu imaginas. Naquela altura, quando acabava a aula, as pessoas iam levantar, levantavam, alguns mandavam fazer a que eu não fazia, Podem sair.
JOSÉ PACHECO (00:36:25) – Se eles dissessem fulano fica é porque ia ser punido ou advertido. Aí chegou ao fim da última aula e ela disse Podem sair o José Pacheco fica, Valha me Deus, uma mulher que eu amo em segredo, pensava eu Ela vai me punir e eu nunca mais a vou ver. Bom, ela fecha a porta, sobe as escadinhas, chega a secretária, abre a bolsa, tira um vinil e um livro. Eu não estava a entender nada. Vem ter comigo. Fica ali pertinho, sente arfar e diz Isto foi a Paris nas férias da Páscoa e trouxe te um disco de Jacques Brel e um livro de poemas para que tu nunca te esqueças de mim. Ela me amava. Só que havia ali um vazio constitutivo entre mim e ela. Eu era aluno, ela era professora. Eu não tive. Eu não mexi. Fui um bruto, mas pronto. Não fiz nada, mas ficou comigo. Hoje eu tenho o livro. O disco desapareceu do partido. O livro é um dos meus altares. Mas o que é que eles me ensinaram? A fazer aquilo que a partir de Abril vai acontecer e que na ponte foi ensaiada.
JOSÉ PACHECO (00:37:33) – Quando um jovem com 3000 a 21 chegou à ponte Síndrome de Down na década de 90. Eu. Pedi o relatório e vi que estava escrito que aquele jovem tinha nove anos. Não sabia ler, nem escrever, nem o nome dele. Identificava e não queria aprender a ler. Estava escrito. Eu peguei naquilo, joguei fora, criei forma. Profecia auto realizada. Nunca vai aprender a ler. Então dizia ensinar lhe a apertar os botões da camisa e tal. E eu perguntei a aquele jovem O que é que tu queres ser? Ele perguntou me Eu posso dizer. Sempre que eu pergunto a uma criança o que é que tu queres saber? Eu posso dizer para bem, ele já ouviram tanta resposta a perguntas que não fizeram? Já passaram por tantas aulas onde não puderam falar que eles desistiram de perguntar, Perderam a curiosidade. É um crime. Então ele disse Eu quero ser guarda redes. Olha, fizemos um projeto de vida para aquele jovem. Em três meses, ele aprendeu a ler, fez um técnico profissional.
JOSÉ PACHECO (00:38:37) – Quando Portugal ganhou o Campeonato Europeu de Futebol de Salão, o guarda redes da seleção nacional portuguesa era o André Mesquita. Tem a medalha de ouro do município de Santo Tirso. Dá para entender esta minha agitação. É a partir do ser humano que nós estamos à nossa frente e de todos os outros, para que eles aprendam a partir daquilo que são, daquilo que sabem com os outros. Escolas são pessoas.
JORGE CORREIA (00:39:07) – Este podcast chama se Perguntas Simples e eu gostava muito de aprender. Nesta conversa em que já aprendi tanto como se ensina a curiosidade? Como se ensina a perguntar?
JOSÉ PACHECO (00:39:18) – Não, não se ensina. Ajuda se a descobrir essa competência. Sim, também tenho coisas sobre isso, mas vou citar algo novo. O que nós fazemos é desenvolver senso crítico, porque quando me dizem eu ponho os meus alunos a pesquisar. Como assim? Ensinam nos a escolher informação pertinente ou eles perdem se na internet, ensinam a selecionar informação, ensinam a comparar informações, ensinam a avaliar informação, ensinam a sintetizar informação. Ensinam processos complexos como comunicar a informação, transformar a informação em conhecimento e partilhar o conhecimento.
JOSÉ PACHECO (00:39:58) – E aí existe avaliação, evidência de aprendizagem. Isso é forma de desenvolver criatividade, curiosidade e pontaria. Quando uma criança entra numa escola e um professor papagaio começa a falar daquilo que é passado, um tempo de exercício não acompanha o ritmo da aula. O que é, O que é este ritmo da aula? Ensina todos a mesma maneira como cada um aprende a seu modo. E eu não estou a dizer mal dos professores, estou a questionar o sistema. Os professores são vítimas porque também querem ser. E o burnout está aí. Então. O que é que eu hei de mais dizer sobre isso que te convida e vos convido para quem estiver a escutar para em Abril ver o que vai acontecer. Vai acontecer coisa muito boa e a surpresa já não é. Quem quiser poderá contactar me. Se eu puder dar o meu telefone para fazer um whats app. Eu deixo aqui. E é brasileiro, claro. Não tenho telemóvel desde há 22 anos, mas me orgulho de ser português. Aliás, quando eu vim para cá fiquei mais patriota do que nunca.
JOSÉ PACHECO (00:41:10) – Mas lá vai o meu telemóvel no celular é O0055 que é o Brasil e depois tem 61 que é o indicativo do Brasil 61 29992959050055 61 999 295 905. Estou sempre disponível para quem queira juntar se à causa das crianças. É para isso que a gente serve para servir. E eu espero que haja portugueses que disso se apercebam e que não acreditem no que eu digo, Que façam alguma coisa com essas pessoas que aí estão e que vão fazer coisas muito boas, garanto.
JORGE CORREIA (00:41:56) – O contacto fica aqui também. Escrevo igualmente na página do Pergunta Simples para quem quiser deixar uma mensagem ao professor José Pereira. Sentiram se inspirados? Tiveram um vislumbre da utopia da nova educação? Digam me coisas e até para a semana.