João Goulão | As drogas têm uma linguagem?

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Nesta edição falamos das drogas que dão prazer, que anestesiam angústias ou que destroem vidas e famílias.

As vozes sobre as drogas e o seu uso vão da exclusão proibicionista até à liberalização radical. E dessa contradição insanável entre o risco e a liberdade. Entre o prazer e a morte. Do consumidor recreativo ao traficante da rede de crime organizado.

Num Portugal onde 1% da população chegou a ser dependente de drogas como a heroína. A somar às clássicas dependências do álcool e tabaco.

As drogas são um dos temas a que dediquei uma parte da minha vida.

Como observador, como perguntador profissional e como narrador de uma realidade que chegou a atingir grande parte das famílias portuguesas.

A droga causa de mil sofrimentos.

E de mil prazeres.

Essa contradição cria uma tensão social, psicológica, humana.

E isso expressa-se na linguagem.

Nos rótulos. Nos preconceitos que cada um cola nas realidades para assim facilitar o processo de entendimento de realidades complexas.

O fenómeno da toxicodependência tem todos esses matizes.

Do slogan antigo “Droga, loucura e morte” do livro da minha adolescência “Os filhos da droga – Cristian F.” Até à proximidade com o fenómeno na escola secundária.

Do mais inocente cigarro atrás do pavilhão desportivo a dramáticas histórias de amigos que acabaram no caminho da toxicodependência pesada. Da heroína injetada, da cocaína e das mil drogas sintéticas.

E a sociedade reagiu como em tudo o mundo: ora a isolar os toxicodependentes como culpados de todos os males do mundo; ora a acolhê-los como doentes para os ajudar.

É que as famílias descobriram rapidamente que os toxicodependentes não eram uns alienígenas marginais, mas sim os seus próprios filhos.

É nessa linha que Portugal inventou uma fórmula de sucesso: redução de riscos, prevenção dos consumos e recuperação de pessoas.

Descriminalizar sem despenalizar.

Combater o tráfico, mas ver o toxicodependente como um doente crónico.

É esse olhar que trago hoje aqui pela voz de João Goulão, médico de família e face da equipa que tornou Portugal único a responder a um problema complexo.

Afinal, porque as drogas dão prazer e matam.

O tempo é de reconstrução da estratégia de resposta à toxicodependência.

Suspeito que com o agravar da crise económica o fenómeno do consumo das drogas terá um aumento significativo nos próximos anos.

As crises criam desamparo e a algumas drogas oferecem anestesia para as dores de alma.

É um caminho curto para se ficar dependente. Com um preço social e humano relevante.

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