Hoje é dia de falar da loucura.
No sentido mais amplo do mundo.
Da saúde mental, da boa saúde, dos médicos psiquiatras, das dores de alma dos doentes, das famílias e dos seus vínculos.
É uma sopa rica de temas.
E por falar em comida, foi precisamente num jantar que conheci a Inês Homem de Melo.
Num jantar muito especial com pessoas de uma organização chamada Manicómio.
Que se dedica a integrar pessoas com doença mental através da arte.
E nesse jantar-debate foi-nos entregue a tarefa de moderar os comensais. Não na comida, mas na partilha de ideias.
E foi sem surpresa que se percebeu que isto da saúde mental, ou da falta dela, toca a todos, independentemente da sua condição social ou económica.
Nesta edição passeamos por esses labirintos das forças e fraquezas da nossa mente.
Inês Homem de Melo é médica psiquiatra. E também música.
Pensa rápido e ainda fala mais rápido.
Nesta conversa torrencial faço o papel do jogador que tenta acalmar o ritmo do jogo enquanto ela corre para marcar mais um par de golos na minha baliza.
A Inês pensou várias vezes em desistir do curso de medicina até que se encontrou com a psiquiatria. E isso mudou tudo.
Vamos por partes. Sendo isto um podcast sobre comunicação, Inês Homem de Melo faz questão de ter tempo para ouvir os seus doentes. Sim, ouvir. E falar com eles. E explicar tudo. E voltar ao início outra vez. É uma espécie de raro cuidado num mundo em aceleração desmiolada.
De que se fala no consultório da Inês?
De sofrimento. Principalmente de sofrimento. Afinal vamos ao psiquiatra quando algo nos dói muito cá dentro.
E não dá para encontrar respostas fazendo análises, radiografias ou TACs.
Só se chega lá pela palavra dita. Pela palavra escutada. Pela fala interpretada. Pela reinvenção dos significados.
É neste momento em que juntar a ciência e a criatividade dá um grande jeito.
Em momentos em que é importante entender a fronteira entre o normal e o patológico.
No fundo, o assumir da absoluta diversidade que somos apagando o conceito do que é normal. O normal é um conceito, talvez, demasiado valorizado.
Posto isto, apertem os cintos. Vem aí uma conversa sobre famílias, adolescentes, drogas, vínculos emocionais, conflitos existenciais, pessoas com défice de atenção, depressões e ansiedades.
Tópicos:
[00:00:00] Abertura
[00:00:13] Loucura, Saúde, Arte Na Psiquiatria
[00:07:22] Diagnóstico E Fronteira Da Normalidade
[00:12:39] Síndrome do Impostor e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperactividade TDAH
[00:17:33] Psicodrama
[00:29:30] Emoções Intensas E Doença Mental
[00:39:40] Intervenção Precoce Na Saúde Mental
[00:48:43] Relações De Vinculação E os seus Impactos
[00:59:40] O Tempo É Relativo.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIOTRANSCRIÇÃO AUTOMÁTICA
0:00:13 – JORGE CORREIA
Olá vivão.
0:00:14 –
Bem-vindos ao Pregunta Simples, o vosso podcast sobre comunicação.
Hoje é dia de falar da loucura no sentido mais amplo e lato do mundo da saúde mental, da boa saúde dos médicos, psiquiatras, das dores de alma dos doentes, das famílias e dos seus vínculos. Desde a mais tem realidade. É uma sopa rica de temas. E por falar em comida, foi precisamente num jantar que conheci Inês Homem de Mélod, um jantar na ordem dos médicos, um jantar muito especial com pessoas de uma organização chamada Manicómeo, que se dedica a integrar pessoas com doença mental através da arte. E nesse jantar de bate foi-nos entregue a tarefa de moderar os comensais não na comida mas na partilha de ideias. E foi sem surpresa que se percebeu que isto da saúde mental, ou da falta dela, toca a todos, independentemente de sua condição social ou econômica. Nesta edição vamos passear por esses labirintos das forças e das suas coisas da nossa mente. Inês Homem de Mélod é médica, psiquiatra e também música. Pensa rápido e fala ainda mais rápido. Nesta conversa torrencial eu faço o papel do jogador que tenta acalmar o ritmo do jogo enquanto ela corre para marcar mais um par de golos na minha baliza. Em Inês, penso que às vezes em desistir do curso de medicina até que se encontrou com a psiquiatria E isso mudou tudo. Vamos saber como Vamos por parte.
Sendo isto um podcast sobre comunicação, inês Homem de Mélod faz questão de ter tempo para ouvir os seus doentes. Sim, ouvir e falar com eles e explicar tudo e voltar ao início outra vez, é uma espécie de raro cuidado num mundo em aceleração desmiolada. Então, e do que se fala no consultório de Inês? De sofrimento, principalmente de sofrimento. Afinal, vamos ao psiquiatra quando nos dói algo muito cá dentro, e não dá para encontrar respostas fazendo análises, radiografias ou taques.
Só se chega lá pela palavra dita, pela palavra escutada, pela fala interpretada, pela reivensão dos significados. Claro, depois há bioquímica, mas a palavra é fundamental. É nesse momento em que juntar a ciência e a realidade dá um grande jeito, em momentos em que é importante entender a fronteira entre o normal e o patológico. No fundo, o assumir dá a absoluta diversidade de que somos todos feitos, apagando o conceito do que é normal. O normal é um conceito talvez demasiado valorizado, posto visto, apertem os cientes, venham a uma conversa sobre famílias adolescentes, drogas, vínculos emocionais, conflitos existenciais e pessoas com déficits de atenção, mas que funcionam lindamente real. Falamos também de depressões e ansiedades, e também de doenças mentais graves de que quase ninguém fala. Como é que esta mulher ainda duvidou que há algum dia ia ser médica psiquiatra? Como Inês, como?
0:03:23 – INÊS HOMEM DE MELO
Eu fiz o curso de medicina a prenar o tempo todo, todas as épocas, dizemos anunciava a família que ia ser médica. Porque dizemos que? Então, por que? Porque eu achava aquele muito teórico e pouco incentivo à criatividade criasse uma coisa mais solta, até que na cadeira de psiquiatria percebi que não chegava atrasada às aulas e foi uma luz É um clique.
0:03:52 – JORGE CORREIA
a motivação era Eu estava muito motivada.
0:03:56 – INÊS HOMEM DE MELO
Adorava os professores, os temas que eles traziam para cima da mesa, a sua forma de comunicar com os alunos e encontrei o lugar onde ia ser feliz. A partir daí já fiz o curso com conforto. Já sabia que chegava ao fim e que tinha um caminho. Porque o curso é difícil? não é, o curso é desumano.
0:04:16 – JORGE CORREIA
É desumano em quê? Como é que é estudar medicina? Conta-me porque tenho essa curiosidade.
0:04:22 – INÊS HOMEM DE MELO
É uma quantidade de matéria aborrente. Há estudos sobre isso que equivale a aprender não sei quantas línguas em número de palavras que a gente aprende. Os médicos falam medicais, não é. Não dizem Dorme no peito. Dizem pré-cordialgia, não dizem. Ou exemplos mais simples as pessoas Há uma linguagem muito própria, totalmente. É possível ouvir uma conversa entre dois médicos e não perceber nada. Então se forem oftalmologistas, é que nem os alunos, não é siglas, nem os outros médicos percebem o que eles dizem. Portanto, era uma explosão de coisas a reter, mas num sentido pouco criativo que era o que mais maliciava, era aprender coisas que me fizessem sentir, é isso criativa E eu encontrei isso na psiquiatria.
0:05:14 – JORGE CORREIA
Até. Mas qual é a diferença entre oftalmologia, entre cirurgia, entre cardiologia e a especialidade de psiquiatria? Porque eu olho para os médicos psiquiatras e é fácil notar que eles são diferentes. Não é, São outra coisa.
0:05:27 – INÊS HOMEM DE MELO
Até os nossos colegas médicos dizem isso. Os psiquiatras são todos malucos E eu adoro. Sabe que eu adoro esse rótulo. Eu adoro esse rótulo Porque, se é assim, então que seja. Ande no hospital e faça qualquer desesperado.
0:05:42 – JORGE CORREIA
Vamos aproveitar. Já que nós só dizem que nós somos assim, a gente vai e aproveita.
0:05:46 – INÊS HOMEM DE MELO
Jorte, eu acho que a psiquiatria atrae pessoas tendência realmente fora da caixa por ser uma especialidade com esse rótulo e por ser tão tolerante. Nós trabalhamos com a diferença do comportamento humano, de maneira que nós também nos damos ao luxo de nos dedicarmos a outras áreas fora da medicina.
0:06:04 – JORGE CORREIA
E de poder ser diferente, de poder achar que essa diferença é normal, no fundo de isto.
0:06:10 – INÊS HOMEM DE MELO
A diferença é que dá o brilho ao mundo. O único tipo de pessoas pelos quais eu não me sinto atraída são as pessoas normais. Dá um garoto, faz qualquer coisa.
0:06:24 – JORGE CORREIA
Meste E se tem a ver com o, que Tem a ver com a curiosidade sobre o ser humano, sobre a maneira como, porque no teu trabalho tu recebes pessoas lá está muito diversas, em sofrimento. Imagino O que é que elas te dizem, o que é que dizem as pessoas que entram no teu consultório.
0:06:41 – INÊS HOMEM DE MELO
As pessoas normalmente vêm ao psiquiatra com mais notícias ou com dor. Nunca vêm se celebrar um acontecimento, um ritual de passagem feliz, a não ser que sejam nossos doentes. há tanto tempo que até se não esse luxo Uau, consegui.
0:07:01 – JORGE CORREIA
Olha, recuprei No fundo, ao contrário dos obstetras que lá vão para em busca de uma boa notícia vamos ter um bebê já vinha. Um bebê já está. uma coisa boa, em princípio, quando te entram no consultório. Como é que tu observas logo esse primeiro momento em que entram no consultório?
0:07:19 – INÊS HOMEM DE MELO
Já está a contar. Já está a contar. Há suspeitas diagnósticas que se fazem da sala de espera para o consultório, nomeadamente na área em que eu mais me digo, que é o neurodesenvolvimento e que afeta também a parte motora. Portanto, como é que a pessoa anda com harmoniosos aos seus movimentos, como é que nos comprimenta Se nos olha nos olhos, se nos estenda a mão de uma forma harmoniosa ou rígida, quais são as primeiras palavras que escolha? Se é assim trópico ou se é fluido, espontâneo, nos dois sentidos, porque também se for muito falador, logo, muito próximo, também nos diz qualquer coisa. Portanto, a partir do primeiro contacto, às vezes até a pessoa que está na sala de espera não é a senhora da secretaria, até ela já entui coisas da forma, como a pessoa se movimenta na sala de espera, o que faz, como é, que é, como conseguem não esperar.
0:08:20 – JORGE CORREIA
Pode ser lá em paciente para ter o pé, ou andar para um lado e ir para outro beber três cafés e ir lá fora buscar um mano cigarro.
0:08:26 – INÊS HOMEM DE MELO
Exatamente, deixe sobe, deixe sobe, se fala com ela ou não, se as sentas já lhe contou a vida toda. lá dentro, tudo isso já o comportamento humano tem braços longos. não é só ali perante o psiquiatra, tudo é informativo E no limite, se quisermos a pessoa, quando está connosco, está a nos adar uma versão de si que ela naquele momento escolhe, escolhe contar e escolhe comportar-se de uma determinada forma. E eu faço questão que alguns do seguimento me tragam, os meus doentes, me tragam um outro significativo, ou marido ou mulher, um pai, uma mãe, um irmão, porque vem de toda uma outra versão de aquela pessoa vista pelos olhos.
0:09:11 – JORGE CORREIA
Porque nós somos pessoas diferentes. Somos múltiplas caras da mesma pessoa.
0:09:15 – INÊS HOMEM DE MELO
Contas caras sim.
0:09:17 – JORGE CORREIA
Isso não é estranho, quer dizer porque eu estou a pensar assim. Mas eu sou eu, com ou não, ou nós escolhermos. Lembro-me de sempre do Zé Gameiro, teu colega psiquiatra, que eu me tademiro De ter falado uma coisa que era que o casamento era mais ou menos como levar-os um cabaixo destes do Natal, e então lá em cima tem o caviar, tem um bacalhau, tem um vinho extraordinário, mas depois lá por baixo tem uma reláter da turma e tem É linda.
0:09:46 – INÊS HOMEM DE MELO
É linda essa metáfora. Sim, nós em cada papel que desempenhamos na vida temos uma cara. E o papel de doente é um papel também que desempenhamos junto do médico. E depois vem alguém da família e conta-nos como é que a pessoa é lá em casa. Às vezes conta-nos dificuldades que a própria pessoa, como viveu uma vida com nelas, nem identifica como estranho. Nós ficamos tipo ah, acontece-me sempre. Sempre que vem alguém da família para o consultório eu fico a pensar tenho que chamar mais vezes família.
0:10:18 – JORGE CORREIA
Porque quando outra versão olha que ele não é nada assim, olha que ele não é nada assim. Mas isso não pode ser uma grande desatice para ti depois para gerer.
0:10:26 – INÊS HOMEM DE MELO
Estamos a pensar em coisas confleitosas.
0:10:29 – JORGE CORREIA
Por exemplo, fazes terapia familiar, também terapia de casal ou não? ou é uma área que não estáis tão?
0:10:35 – INÊS HOMEM DE MELO
Não lhes chamaria assim com esse nome, tão Estou pomposo. Então com essa instituição toda, mas atendo casais ou por outra. Eu chamo muitas vezes o casal à consulta, mas o paciente identificado Continua a ser aquilo mesmo, Continua a ser aquilo mesmo, sim, e quando nós?
0:10:56 – JORGE CORREIA
Muitas vezes tu estás a falar de As pessoas muito irrequietas.
0:11:02 – INÊS HOMEM DE MELO
Iperativas As.
0:11:03 – JORGE CORREIA
Iperativas, e essa é uma coisa de arte que eu tenho, que é assim dizer ah, mas esta criança tem um transtorno de aparatividade e fins E eu fico sempre a pensar. mas normalmente as crianças são irrequietas, são vivas, são. Onde é que está aí essa fronteira entre uma coisa e outra.
0:11:20 – INÊS HOMEM DE MELO
A fronteira entre o normal e o patelógico é um hot topic gigante na minha especialidade.
0:11:27 – JORGE CORREIA
Onde é que nos sentimos normais? Lá está. Se tu dizes que trabalhas com a diversidade, a diversidade em princípio vai incluir tudo. Onde é que está. Como é que eu me sinto. São ou como é que eu me sinto. Ah ok, eu não estou bem da cabeça.
0:11:42 – INÊS HOMEM DE MELO
Numa palavra a fronteira é o sofrimento, que tanto pode ser o sofrimento do próprio como do terceiros. Se uma pessoa é diferente e está ok com a sua forma de ser diferente, se isso não prejudica nas relações que estabelece com os outros, na performance laboral, acadêmica e é feliz na sua diferença, se ninguém se é elizado, nem ele próprio, nem os outros, ótimo, ótimo. Quem somos nós para diagnosticar a diferença? Nem pensar. Isso são tempos passados da psiquiatria, agora somos muito mais cautelosos. A orientação sexual já foi em tempos manualizado nos manuais diagnósticos.
0:12:24 – JORGE CORREIA
É homossexualidade como uma doença Estava lá A sociedade foi considerada.
0:12:29 – INÊS HOMEM DE MELO
Agora, nem pensar, nós estamos no outro extremo. Nós só queremos ajudar Quem sofre.
0:12:36 – JORGE CORREIA
Quem sofre E que tipo de sintomas é que te trazem?
0:12:39 – INÊS HOMEM DE MELO
Todos os tipos. Como eu me dedico, como eu me dediquei a essa área do neurodevolvimento, um dos sintomas que me trazem é algo como eu sempre me senti muito diferente durante esta ideia da diferença e a seguir o sofrimento, eu gostava de me integrar. Eu não consigo. Eu olho para o mundo, no autismo, por exemplo, e para o mundo como se fosse sentindo-me um alien. Essas pessoas devem ter vindo com o manual de instruções que eu não recebi. Eu não percebo como é que esse poste eu dizer porque é que as duas pessoas se sentem interessadas por estas coisas, ou a mata mais hiperativa com o déficit da tensão.
Não percebo como é que elas conseguem estudar, como é que se conseguem concentrar e o, por mais que tente, não consigo E isso é verdade eles não conseguem, mesmo não é mesmo há uma certa aleaturiadade do momento em que o cérebro vai ser capaz de sintonizar para fazer uma tarefa, e normalmente esse momento é quando há uma grande pressão tanto em cima das deadlines, quando o tema é uma grande paixão para eles, porque paixão tem um correlato neurobiológico no cérebro. Os neurotransmissores da paixão são os mesmos, tão em falta nas pessoas com um defício de atenção. Portanto essa é uma compensação Se a pessoa tiver apaixonadíssima aí E agora que isso vai tudo na frente E faz e faz mesmo e podem ser os melhores nas suas áreas. Mas depois coisas simples como ir ao supermercado, decorar uma lista de compras, pagar as contas da água, da luz.
0:14:09 – JORGE CORREIA
Uma desgraça.
0:14:10 – INÊS HOMEM DE MELO
A multa que se recebeu há 15 dias já passou o prazo. perder aviões, perder comboios, deixar os fins esquecidos na escola e depois as pessoas à volta dizem Caraca, Então esse tipo Trabalha na Google. Como é que é possível? Não é capaz de pagar uma conta. por favor, Tu não queres.
0:14:29 – JORGE CORREIA
Tu tá distraído, tu não ligas nada a isto e afinal há ali uma condição com o aqueço do jacente, que representa um sofrimento para o próprio e para os outros que estão à volta.
0:14:37 – INÊS HOMEM DE MELO
Não, é Exatamente.
0:14:38 – JORGE CORREIA
Então não faz buscar a criança ao colégio? Ah pois, é verdade, olha, passou-me, e mas o que tu diz é que não é uma negligência, é uma condição.
0:14:48 – INÊS HOMEM DE MELO
É uma condição que tá hiper bem estudada. Tomarmos nós conhecer a neurobiologia de outras doenças mentais, como conhecemos a da PHDA. Portrabação de peratividade é fista, de atenção, lá está uma sigla. Em desta semana tive com uma paciente, minha médica a explicar-lhe a neurobiologia da PHDA. Porque ela, que melhorou a sua vida imensas vezes com o tratamento, continua a considerar do impostor? Porque as pessoas dizem que isto não é nada. Mas olha imens, isto é alguma coisa, isto no cérebro é algo E eu mau. Isto é um trabalho que eu faço com as minhas doenças, que se chama Advocacy, que é empoderar as pessoas.
0:15:25 – JORGE CORREIA
E tens que fazer com que os colegas médicos também é. Isto é muito engraçado.
0:15:28 – INÊS HOMEM DE MELO
E Neas, eu posso exercer medicina com isto Também. Já ouvi.
0:15:33 – JORGE CORREIA
E a resposta é.
0:15:34 – INÊS HOMEM DE MELO
Claro que sim. Claro que sim.
0:15:35 – JORGE CORREIA
Claro que sim. Fala-me do síndrome do impostor, eu dar o nome O que é que é o síndrome do impostor.
0:15:41 – INÊS HOMEM DE MELO
Oh, isso é. Tem vários descritivos possíveis, mas eu diria que é a pessoa sentir-se que é petida pelos outros, como algo que na verdade não é.
0:15:56 – JORGE CORREIA
Alguém que diz e tu é extraordinário a fazer isto, tu é mesmo bom, e nós inteiramente pensar.
0:16:01 – INÊS HOMEM DE MELO
E a pessoa desfarçam-se em justificações. Ah, desta vez foi bem, mas verbalizadas ou internas?
0:16:08 – JORGE CORREIA
É uma espécie de humildade ou é uma noção de que não estamos ao nível dessa expectativa dos outros?
0:16:14 – INÊS HOMEM DE MELO
Acho que é uma humildade patológica. Patológica É um sugestrato Se descobrem, se estas pessoas descobrem.
0:16:25 – JORGE CORREIA
Que eu não sou assim.
0:16:26 – INÊS HOMEM DE MELO
Que eu, na verdade, não sei nada. Eu sofri muito disso porque, como dedicava à música e à medicina, achava que, nas respectivas áreas, que as pessoas, se elas soubessem as horas que eu dedicava à outra área, que então nunca mais olhariam para mim que os meus olhos.
0:16:44 – JORGE CORREIA
Isso é uma espécie de deslegamento interno ou dos outros, interno E o que é que alguém com esse síndrome do impostor muito marcado pode sentir e pode ter impacto na sua vida.
0:17:02 – INÊS HOMEM DE MELO
Que não é digno de receber o sucesso que com o seu próprio esforço alcançou. uma noção de si mesmo de tropada diminuída É um apocamento, Um apocamento agostei, um apocamento, um auto-sabotagem. não é O empoderamento, é o contrário. síndrome do impostor. Tu vais conseguir e nós empoderemos a pessoa também na sua diferença. Tu és assim e eu sou autista, É isto que eu sou.
Dizer assim, com as letras todas Tu cheio de fazer de conta que não sou, pois estas pessoas fazem muito masking. Que é tentar fazer de conta que, se é algo que não se é, quase seria um síndrome do impostor, voluntário ou contrário, nem sei bem. Que é fazer tudo conforme a média das pessoas é para não ser tido como diferente E depois, quando eles percebem o que realmente são, começam a tirar as suas máscaras. Não, eu sou assim.
0:18:00 – JORGE CORREIA
E tem consciência disso.
0:18:01 – INÊS HOMEM DE MELO
O nosso trabalho é também consciencializá-los. Depois eles conhecem outras pessoas com as mesmas características.
0:18:06 – JORGE CORREIA
Mas isso deve ser muito alichado. Tu estás com alguém e a dizer assim olha, tire lá a sua máscara, que está melhor sem a máscara do que com a máscara. Isso deve ser muito difícil de arrancar essa pele, ou não?
0:18:16 – INÊS HOMEM DE MELO
Isto é válido para qualquer pessoa. Na verdade Eu falo do neurodesenvolvimento porque é muito que ocupa muitos meus dias, mas no fundo todo o ser humano que gostaria era tirar as suas máscaras. No psicódrama, que é uma psicoterapia que eu estudo, há muito esta filosofia de vamos fazer aqui uma ensinação. É uma psicoterapia que tem um palco mesmo onde as pessoas possam ser quem elas quiserem. No fundo é um teatro. Não é Supostamente no teatro a pessoa põe a máscara, mas aqui é um exercício contrário. É tirar a máscara e cerquem-se realmente.
0:18:52 – JORGE CORREIA
Com outras pessoas.
0:18:53 – INÊS HOMEM DE MELO
Com outras pessoas é uma psicoterapia em grupo.
0:18:56 – JORGE CORREIA
Maravilhosa, é O que é que acontece. Tu já experimentaste fazer ou estar, ou como é que não sei, como é que é o, como é que os precisos fazem estas coisas?
0:19:04 – INÊS HOMEM DE MELO
É uma psicoterapia que para administrar-se a outros digamos assim é obrigada a andar como doente. Digamos Deixe-me passar por elas. É chamada a fase vivencial. Passar por elas exatamente. Eu estou já na fase vivencial, estou a fazer formação e já posso ter os meus grupos, digamos assim. E pronto, estou apaixonada. Encontrei, já fiz formação em várias psicoterapias, mas esta foi aquela quase como quando tive a cadeira de psiquiatria. Quando chegou ao psicódrama senti não É isto.
0:19:38 – JORGE CORREIA
Tivesse uma epifania, disse-te é mesmo isto que acontece. O que é que tu vejo nesse teatro, nessa representação, o que é que tu vejo nos outros, Em vez de estarmos ali com o doente a falar sobre seus problemas.
0:19:53 – INÊS HOMEM DE MELO
O falar recruta muito as áreas do cérebro do racional. Tenta pessoa ficar ali, às vezes no racional. Eu acho que é melhor, porque assim?
0:20:03 – JORGE CORREIA
assim Está a pensar, no fundo não é Isso? E também a dizer se calhar não lhe digo isto ou que está até. Não tenho consciência, portanto não falo sobre o tema.
0:20:13 – INÊS HOMEM DE MELO
A palavra de ordem é pensar, pensa, muito, pensa, pensa. O psicódrama é fazer. Mostre-me Faça Ai, porque a minha vida eu estou mal, eu gostava era de Que isso Ai gostava Faça.
0:20:29 – JORGE CORREIA
Então vamos fazer aqui, vamos representar, vamos representar.
0:20:34 – INÊS HOMEM DE MELO
Faz-te conta que durante a noite houve um apocalipse no mundo e acorda exatamente como gostaria de estar. O que é que faz? O que é que faz Então aqui, estas pessoas do grupo? quem é que vai fazer de sua mulher? Quem é que vai fazer de seu filho? E a pessoa E pega nas pessoas que são os outros participantes, mostre-me aí uma estátua de como seria a sua família nessa altura. E a pessoa põe pois metem assim, os gestos dependem. E isto agora, depois que estás a ver onde é que isto vai buscar, vai buscar as horas do cérebro, da criação, da criatividade.
E da emoção também não é Da emoção, muito menos razão, muito menos pensado, mais.
0:21:14 – JORGE CORREIA
Isto é um triatrinho de brincar. No fundo é isto que as pessoas vão fazer e portanto, lá se vão os filtros, lá vão cair-ne dos filtros pouco a pouco.
0:21:22 – INÊS HOMEM DE MELO
A inspiração do psicódrama foram as brincadeiras de infância, onde o ser humano é o mais espontâneo, o menos filtrado, o mais solto.
0:21:33 – JORGE CORREIA
E depois o que é que faz com isso, o que é que se faz com isso?
0:21:37 – INÊS HOMEM DE MELO
A ideia é que a pessoa que tem fome de atos, que é o transparção do psicódrama, se consiga libertar e consiga encontrar o seu eu mais espontâneo E, ainda que a espontaneidade, uma capacidade de se adaptar aos diferentes problemas, de ser criativo, de tentar outras alternativas, porque a doença mental é muito isso, é repetição de padrões que não funcionam. Tô há cinco anos que eu consegui sair de casa. Não consigo, tenho sempre os dispensamentos maus, repitos, repetos. O que é que eu tenho que fazer É um circulo vicioso no fundo.
A doença mental, na minha perspectiva, é muito. Isso é perda de espontaneidade, de capacidade criativa de esgotar as soluções aos problemas e a pessoa fica presa, presa. É isso, é perder liberdade.
0:22:32 – JORGE CORREIA
Estão a gostar do Pregunta Simples, estão a gostar deste episódio. Sabia que um gesto seu me pode ajudar a encontrar e convencer novos e bons comunicadores para gravar um programa Que gesta isso. Subscrever Na página PreguntaSimplescom. Tem lá toda a informação de como pode subscrever. Pode ser por email, mas pode ser ainda mais fácil subscrevendo no seu telemóvel através de aplicações gratuitas como o Spotify, o Apple ou o Google Podcasts, assim cada vez que houver um novo episódio ele aparece de forma mágica no seu telefone. É a melhor forma de escutar o Pregunta Simples. Olha, se alguém que vive uma determinada situação há vários anos entra no teu consultório, não te conhece, não faz a mínima ideia, em princípio tem algumas referências, mas confia em ti de uma forma abstrata, como é que se ganha uma zona de conforto em termos de comunicação, para poder ir descascando essa cebola e poder falar só do síntoma, não sei, mas do resto daquilo que está inerente àquilo que faz sofrer?
0:23:44 – INÊS HOMEM DE MELO
Olha, isso é um tema lindo. É aí que eu acho que os psiquiatras se estinguem bastante o resto da medicina, que é pelo facto da comunicação ser para nós não só o que é para os estudantes médicos não é que toda a gente comunica mas ser justamente o nosso principal bisturí. É com a comunicação que nós também fazemos uma intervenção terapêutica, o bisturí e antes disso também nos tetoscópio, é através da comunicação que nós vemos o que se passa e que nós a seguir, fazemos uma intervenção terapêutica.
0:24:17 – JORGE CORREIA
Porque tu não tens que fazer. Em princípio, uma bateria de testes ou exames ou afins também podes ter, mas na verdade o teu instrumento principal é o teu próprio cérebro e a maneira que o que tu sabes, a maneira como consegue se intuir o outro.
0:24:29 – INÊS HOMEM DE MELO
Nós podemos pedir exames para provar o que não é para excluir. Ah, esta pessoa não tem nenhum problema hormonal, não tem nenhum tomor do cérebro.
0:24:39 – JORGE CORREIA
Algo biológico.
0:24:40 – INÊS HOMEM DE MELO
Se não é nada visto, então será do âmbito da minha especialidade E a partir daí conseguimos dessecar os sintomas através da palavra.
0:24:51 – JORGE CORREIA
Apenas da palavra.
0:24:52 – INÊS HOMEM DE MELO
Há algumas coisas que, como eu já disse no início, pela motricidade, pela expressão facial, pela prosódia, aí não é bem a palavra, ou seja, a pessoa pode nem estar a dizer palavras e não é a intuação, o ritmo. O ritmo Se fala mais devagar, se tem um tempo de latência de resposta maior, não é a pessoa que faz a pergunta e o doente fica ah, só depois é que responde. O cérebro está lento no seu processamento, pronto, e nós, da mesma forma que os rígios nos dizem a informeira instrumentista querem obestuir o 8 milímetros e se esse não der, pede-me de novo. Na psiquiatria também há um arte na comunicação. E quando faço uma determinada pergunta de uma determinada forma, se essa pergunta não funcionar eu tenho que buscar outra.
0:25:38 – JORGE CORREIA
E pode ser o quê. Pode provocar, pode desaborrecer, pode especaçar, pode fazer isso tudo não.
0:25:46 – INÊS HOMEM DE MELO
O especaçar e o aborrecer já será com doentes, com quem tengamos Confiança, como é que se cria essa confiança.
É isso. Aí é que está a verdadeira arte da medicina. É por isso que eu acho que escolhi a psiquiatria, porque é uma especialidade onde a parte artística não é Diz-se muito. A medicina é uma ciência ou é uma arte. É uma ciência, sem dúvida, mas a arte da medicina é isto, é Duas pessoas com depressão não vão ser tratadas da mesma forma porque elas têm vidas completamente diferentes. São seres humanos, como todas as, com uma multitude de factores psicóciais que diferem, e o médico vai ter que se adaptar. E esse adaptar de uma guideline, de uma receita.
0:26:28 – JORGE CORREIA
Diz muito pouco sobre a pessoa.
0:26:30 – INÊS HOMEM DE MELO
Diz muito pouco, e o médico tem que ser criativo, tem que adaptar a receita padronizada para a depressão àquele ser humano que tenha à sua frente. Como é que eu vou conseguir que esta pessoa fale comigo? Como é que eu vou conseguir que esta pessoa se sinta segura para desvendar e que eu soumosar estas pressões? Toda a gente se rei muito de mim E o que eu vou fazer com que esta pessoa me mostre as suas imorroidas emocionais.
Isso é um bom tópico São imorroidas à pessoas que me dizem Isto é algo que eu ouço, sei lá, todas as semanas não, mas uma vez por mês. E cada vez que eu ouço esta frase, eu sinto mesmo assim, quase uma energia divina na sala, que é ouvir isto? Nunca tinha contado isto a ninguém, saber o que é isto. Tu estás a ter acesso a uma informação íntima vulnerável do outro ser humano.
0:27:22 – JORGE CORREIA
Porque não sabiam Ou porque omitiram.
0:27:25 – INÊS HOMEM DE MELO
Porque nunca tiveram coragem, nunca sentiram seguros o suficiente para contar uma determinada informação a alguém. A maior parte, às vezes, é por meio de ser rejeitado, por meio de ser sentido como mau, como repugnante, como defeituoso. Todo tipo de coisas sensíveis, sei lá, ouvei ser mãe. Ouvei, nunca havia até feito isto. Ou meu pai batia-me, assistia à violação da minha mãe pelo meu pai. Sei lá, coisas super dianças. Ou esta que eu te disse no início Eu sinto-me como se fosse um extraterrestre. Não me identifico a nenhum outro ser humano. São coisas que as pessoas não dizem todos os dias. E qual é o nosso trabalho? Isto é uma parte importantíssima da relação terapêutica É tu ouvir esta informação super sensível que a pessoa te disse e devolver-se à pessoa que tu aguentaste aquilo que aceitas na mesma como ela é. E esta é a primeira vez que a pessoa vai sentir que aquilo que ela tinha como um perfeito horror foi aceite.
0:28:37 – JORGE CORREIA
É uma relação de empatia.
0:28:39 – INÊS HOMEM DE MELO
Empatia. Acho que é pouco Quando é feito. Já estou aqui entrar muito no domínio da relação terapêutica perfeita, de tempo de tensão. Isto não é concebido em consultas rápidas, é algo maior. Às vezes até Eu, até entuo o que a pessoa Tu sabes quanto te diz assim Está aqui, está quase a acontecer, mas e ainda não aconteceu.
0:29:08 – JORGE CORREIA
Exato quase. E tu consegue ficar a espera desse momento ou vais encaminhando. Como é que isso funciona nesses?
0:29:18 – INÊS HOMEM DE MELO
Olha. Quando eu sinto que a relação terapêutica existe assim forte e segura, é quase uma magia. Eu adoro. Já foi proposta como património material da humanidade.
0:29:30 – JORGE CORREIA
Você se lique neste, nesta conversa. Tu estás lá mesmo, isto é. Tu não representas um alguém que está ali como observador. Tu estás mesmo implicada naquela conversa.
0:29:41 – INÊS HOMEM DE MELO
É por isso que este trabalho cansa emocionalmente. Tu o podes ou ser um observador e ver um check numa lista de sintomas, ou então podes estar mesmo, e estar mesmo é mágico, mas também pode ser muito intenso Às vezes, ou-se coisas que fique tipo Ai meu Deus, quando eu vou ler esta comoção, tipo esta pessoa acabou de me dizer uma coisa absolutamente poética, íntima, maravilhosa, sei lá. Agora me estou a lembrar de um exemplo concreto. Mas Ah, esta A este, eu vi a semana passada. Não consigo viver no presente, estou preso entre o passado e o futuro a cada instante. Eu, que perfume Não há.
Alguém, como me diz no fim de uma consulta, alguém que tem uma relação muito difícil com as figuras parentais E como diz, casualmente no fim de uma consulta, que é a sua música preferida. Olha, o doutor, no próximo concierto podia tocar a Father in Sand, o que é de Stevens, e eu tipo Ah, e foi do dente, vai embora. E eu ponho a música dar e choro. Eu não tenho uma psiquiatra, assim que Que vivo? Talvez um dia, se isto for de mais para mim, for emocionalmente avassalador.
0:31:10 – JORGE CORREIA
Como é que tu lidas com as pedras? Porque agora destes exemplos de coisas maravilhosas, no fundo, em que a tua emoção é uma emoção muito positiva, é uma irmandade, alguma coisa que diz wow a, esta pessoa teve uma poesia naquele discurso, mas eu imagino que caja muitas pedras aí na calçada de outras coisas, de outras dores, que são mais difíceis de suportar.
0:31:31 – INÊS HOMEM DE MELO
A irmandade. Essa palavra é boa. A irmandade é sentida tanto nos momentos bons como nos momentos maus.
0:31:37 – JORGE CORREIA
Portanto tu tens uma ressaca muitas vezes para lidar com estas covejas, ou não.
0:31:40 – INÊS HOMEM DE MELO
Às vezes tenho Como é que tu fazes? Fazes uma psiquiatra. Agora tenho um lá em casa.
0:31:47 – JORGE CORREIA
E se é bom ou é mau, tenho sorte. Desculpa que este é muito, doutor, da tua vida é intima, mas Acho que é bom.
0:31:52 – INÊS HOMEM DE MELO
Acho que é bom. Eu não acho que não poderia estar com um médico que não fosse psiquiago Como um rendu. Se calhar a Luna de Medicina que foi só alguém que pudesse ter a mesma paixão pela matéria de meu trabalho é que poderia.
0:32:11 – JORGE CORREIA
Sendo certo que depois nas nossas casas na realidade não fazemos os papéis sociais que temos. Não é Em casa, somos outra coisa. Somos o marido e a mulher, Às vezes não.
0:32:23 – INÊS HOMEM DE MELO
O que estava também era o psicodrama. Então, quando nós temos assim uma zanga e ele faz uma técnica a técnica de inversão de papéis, por exemplo implica que nós façamos mesmo aquilo que o outro fez Um espelho Ou o espelho, ou ele imita-me aquilo que eu disse da maneira que eu disse eu fico assim olhar e realmente se foi mesmo chucar.
0:32:47 – JORGE CORREIA
O caso às vezes as crianças fazem, não é que os pais quando nos imitam.
0:32:52 – INÊS HOMEM DE MELO
E exatamente essa foi a origem do Ia Dissau-Bucado, que foi a fonte das técnicas do psicodrama, foi as brincadeiras de infância E esta técnica nasce do faz de conta das crianças, que imitam os pais, os professores e como a pessoa olha para eles e tipo eipa, realmente é só eu.
0:33:10 – JORGE CORREIA
Não, pois é porque nós vemos-nos mesmo ali, não é É que aquele trezento da verdade. Esse é que é o problema.
0:33:16 – INÊS HOMEM DE MELO
Exatamente exatamente.
0:33:18 – JORGE CORREIA
Que é? nós vemos-nos nos olhos dos outros, que é sempre. Olha, esta questão da neurodiversidade é curiosa que ela está. Onde é que está o diferente, onde é que está o igual? E eu tenho sempre uma curiosidade que tenho a ver com a fronteira de, que às vezes me parece muito tênuo de eu ainda ser normal ou eu já ter passado por outro lado, no fundo. E ele lembra-me sempre de um amigo que tinha adolescente, que um de nós, como nós, portanto as mesmas coisas, as mesmas piadas, as mesmas brincadeiras e que um dia vai fazer uma viagem e quando volta, algo aconteceu nessa viagem e ele volta e quando ia com nós eu tenho posteriormente, mais tarde de juízo que fiz a forneia e eu pensei uou, mas isto aconteceu e ele pode ter acontecido a qualquer um de nós. Fiquei com essa. Onde é que está? onde é que está aqui, esta Quando nós somos mais vulneráveis? é algo biológico, é algo familiar, o que é isto?
0:34:18 – INÊS HOMEM DE MELO
A doença mental tem duas frentes de causalidade. A primeira é a genética nós serão mais biológico e depois temos os fatores ambientais. Há quadros em psiquiatria que têm uma componente genética mais importante, maior. É o caso das patologias do neurodesenvolvimento, justamente autismo e pegada e há, mas também da doença bipolar e da esquizofrenia. Ou seja, as pessoas que herdem um património genético de risco não estão condenadas a ter a doença, estão em mais vulneráveis.
0:34:49 – JORGE CORREIA
E eu tenho que qual é o clique. Nós conseguimos perceber o que é que faz com que estas pessoas com maior vulnerabilidade possam desenvolver a doença.
0:34:58 – INÊS HOMEM DE MELO
O clique são os fatores ambientais que a pessoa se vai expondo ao longo da vida, um dos mais expressivos é o consumo de substâncias, nomeadamente num dos períodos mais importantes do desenvolvimento do cérebro, que é a adolescência. A pessoa que consome drogas na adolescência e tenha um património genético de risco está a brincar com o fogo.
0:35:22 – JORGE CORREIA
Mas porque perde o que O controle? Porque?
0:35:25 – INÊS HOMEM DE MELO
O cérebro na adolescência sofre um processo chamado poda cinática. Adoro uma poda, é linda, não é? É linda Uma poda? Então, assim as cinápsis neuronais são um grande arbusto E, ao contrário do que seria intuitivo que o cérebro fosse crescendo, crescendo, crescendo, crescendo sempre. Não há um ponto em que há demasiadas ligações para aquilo que é útil para a vida adulta. Então naturalmente há um corte das cinápsis que são superfluas. Esta poda é prejudicada pela presença de drogas no cérebro do adolescente, porque este processo está a ser na adolescência. A pior delas todas é a Canabis.
0:36:05 – JORGE CORREIA
Que é a droga que genericamente os mitos em idade adolescente estão a fumar? Aí, basta olhar-nos, não é preciso É que nós ficamos arrepiados A Canabis é pior.
0:36:16 – INÊS HOMEM DE MELO
A Canabis para este intuito, para este efeito da poda cinática, interfere aonde Impede o corte. Portanto, ficam para todos os efeitos ligações no arbusto superfluas, e é nessas ligações que estão ali a mais, que estão fraquitas mal-amanhadas Como é a asaara literalmente Que há um erro, que há um bug no sistema, aumenta a probabilidade de haver um bug no sistema E bug por bug, entenda-se.
Ouvi uma voz que não está aqui, tive uma ideia que não é real, convencime de que estou a ser perseguida, convencime de que estou a ser envenenada, que são sintomas de estar psicótico. Quero pensar em linha reta e o meu pensamento está a todos organizar uma pessoa em pleno surto psicótico. Às vezes é difícil de compreender.
0:37:03 – JORGE CORREIA
Há uma espécie de uma poluição de uma nuvem cerebral, de um nevoeiro é, isso pode acontecer.
0:37:09 – INÊS HOMEM DE MELO
E eu no voer acho pouco Nessa fase é mais um tempestade com um tofuão, porque as ligações são muito anárquicas e o tratamento ajuda a regularizar isto e um surto psicótico não é sinónimo de esquizofrenia.
0:37:32 – JORGE CORREIA
Tem que haver uma sequência, tem que acontecer mais do que um.
0:37:37 – INÊS HOMEM DE MELO
Um surto psicótico pode ser, por exemplo, induzido por substâncias. Em um determinado momento a pessoa vai a um festival com só uma droga, não estava habituado. Tem um episódio de alucinações, de ideias fora da realidade, pensamento desorganizado. Tem internado ali uma semana, dez dias e aquilo desaparece. Mas atenção, isto foi um aviso. É uma conversa difícil, temos tecos doentes. Que é ouça. Isto foi um aviso do seu cérebro. Você ficou bem até nem tem ninguém na sua família com doce mental grave.
0:38:07 – JORGE CORREIA
Mas pode acontecer.
0:38:08 – INÊS HOMEM DE MELO
Mas vamos toda cuidada e pouco agora.
0:38:10 – JORGE CORREIA
Portanto, repetir este abrincadeiro no fundo é probabilidade do desenvolvimento de uma doença psiquiátrica como o surto psicótico, essa esquizofrenia é uma possibilidade real.
0:38:21 – INÊS HOMEM DE MELO
É uma possibilidade real. Aumenta muito o facto da pessoa já ter tido uma demonstração da vulnerabilidade do seu sistema nervoso. Aumenta a probabilidade de ter outra manifestação. E depois, entretanto, nós dizemos que a doença se autonomiza A certa altura. Já não é das drogas, já é Já lá está, já lá está. É uma conversa que eu faço questão de ter com os filhos dos meus doentes com as tipos de patologias mais graves, quando eles estão em fases de começar a experimentar.
É uma conversa, no fundo, é de literacia em saúde mental. Ora então, isto claro, quando há boa relação e uma doente faz questão, e muitas vezes fazem questão, muitas vezes É algo do género Ora, bem, a doença do teu pai é esta, funciona assim e assim, o que também dá grande tranquilidade aos filhos, porque tinham um nó na cabeça, não sabiam afinal de que é que aquilo era. Por isso ficam com mais clareza Tu realmente tens um risco aumentável, mas estas são as coisas que tu podes fazer para diminuir o teu risco Não consumir drogas, se tiveses sinais de alarme, vir o mais rapidamente possível. Ter com o profissional de saúde mental, porque em psiquiatria tempo é saúde.
0:39:33 – JORGE CORREIA
As intervenções rápidas ganhas saúde.
0:39:38 – INÊS HOMEM DE MELO
Ganhas infinitas vezes. Quanto mais tempo a pessoa está doente, mais aquilo evolui e mais difícil é recuar.
0:39:47 – JORGE CORREIA
Portanto, no fundo é como qualquer doença biológica aqui, quanto mais cedo tu conseguis atacar, mais você consegue controlar o sintoma e a evolução daquela condição.
0:39:56 – INÊS HOMEM DE MELO
É muito em tudo semelhante Se tiveses uma pneumonia a evoluir e evoluir sem antibiótico às tantas ali partes do pulmão que já não recuperas Que já não recuperas Que já não fica fior usadas, já não há milagres.
0:40:07 – JORGE CORREIA
E então tens essa conversa e essa conversa depois são sensíveis. Quer dizer uma conversa com um adolescente sobre esse tema. Imagino que seja uma conversa, É um tema, é um tema, é um hot topic, o que é que é isso aqui, o que é que está para aqui a dizer que eu não posso fazer isto ou aquilo ou outro?
0:40:26 – INÊS HOMEM DE MELO
A adolescência agora também tem, assim estendeu-se um pouco A conversa. Eu digo adolescente, mas já tivesse a conversa com o adolescente de 25 anos. Mas que configuram em tudo? porque continuam a morar a casa de pais continuam com os mesmos jogos de poder, ainda estão na descoberta. Nestas descobertas não é Das pequenas Atos de rebelde e autonomização. Portanto acabam a ser adolescentes em tudo. Já aconteceu de esta conversa ser assim como estás a dizer Ah sim, sim, sempre tudo bem e tal. Um ano depois, knock knock, estou aqui. Quero a tua ajuda.
0:41:06 – JORGE CORREIA
Alguma coisa ficou lá, alguma coisa ficou. E por isso que eles perceberam a realidade e nesse momento, no fundo, acessimento da literacia, lá estava eles.
0:41:13 – INÊS HOMEM DE MELO
E sabem onde é porta, aonde tem que bater para fazer isto, de encurtar o tempo até o tratamento ao máximo. Quando isto acontece eu fico mesmo contente porque fiz alguma coisa, mesmo grande, pela saúde mental de uma pessoa que está na faixa etária mais crítica que é o adulto jovem, que é onde tudo está em cima da mesa. É a diferença entre a pessoa concretizar todo o seu potencial, correr-lhe bem a faculdade, o início das relações afetivas mais significativas, os primeiros namorques. Quer dizer, se tudo corre mal ao início, a pessoa já começa a construir uma imagem de si mesmo, desfeito, de não ser capaz para perceber as primeiras experiências do que é virar a volta. temos que fazer todas as possíveis para que corram o melhor possível, Embora nada luxência.
0:42:03 – JORGE CORREIA
Quando a gente faz algumas experiências, aquilo que corre sempre mais ou menos A ideia de ter a primeira namorada ou a primeira namorada. Aquilo não é nada linear, não é. O número de fracasso é bastante significativo.
0:42:16 – INÊS HOMEM DE MELO
Uma coisa é fracassar desse ponto de vista mais normativo, a outra coisa é estar na faculata e um surto psicótico é se internar de três meses. Toda a gente se sauve.
0:42:25 – JORGE CORREIA
Pois isso é uma catástrofe.
0:42:26 – INÊS HOMEM DE MELO
É e depois é reconstruir esta pessoa. É trabalhoso. A pessoa fica com uma imagem de si É este nível de correr mal É uma disrupção gigantesca.
0:42:36 – JORGE CORREIA
Não é, a minha namorada já não gosta de mim, já não olha para mim. ok, é da vida, dói muito, mas depois passa. É uma disrupção real, na vida real. É é Com muito peso.
0:42:46 – INÊS HOMEM DE MELO
A minha namorada descobriu que eu sou viciada no jogo. A minha namorada descobriu que eu desbastei 10 mil euros que roubei da minha avó. E isto aqui é uma falha enorme na biografia. É o trabalho que nós temos que fazer, é reconstruir a biografia da malta depois desta pedra no caminho.
0:43:06 – JORGE CORREIA
Uma grande pedra. Sim, olha, há uma expressão que eu confesso que me diverte Eu gosto da palavra que é a palavra vinculação. E que fique sempre a pensar. Bom, que os psiquiatras tentam explicar aqui tudo que nos está a acontecer por aquilo que nos aconteceu na terrenfância Ali, logo primeiro ano, segundo, terceiro ano, e eu fiquei sempre a pensar, mas eu não me lembro de nada do que aconteceu nessa altura, como raio é aquele que pode ter acontecido de significativo e de vinculação. Isto é o que é isto Da ideia de vincular. Em princípio, nós gostamos dos nossos pais, os pais gostam de nós em princípio E é assim que funcionam, nem sempre Nem sempre, nem sempre.
0:43:45 – INÊS HOMEM DE MELO
Esse foi um dos maiores lutos que eu fiz na minha profissão foi constatar que as famílias não são todas boas E que as pessoas passam por grandes adversidades na infância e de que forma isso se condiciona a sua vida adulta. Nunca tinha ouvido, antes de ir para Tive sorte na vida, posso dizer, nunca tinha ouvido relatos de filhas que dizem que as suas mães as destruem. Tu é isto, tu é aquilo, assim de crô.
Assim de crô, assim de crô. Isto foi algo que eu descobri quando comecei a ouvir, com muito tempo, com muito tempo, algumas pessoas que, até não tendo um quadro psiquiátrico mágico ou seja, não têm critérios de depressão mágico ou não têm critérios de perturbação de pérnico, mas que têm um malestar com elas, uma mágoa Parece que nunca sentem o suficiente apesar de serem super bem sucedidas. Um malestar sem nome, sem critérios diagnósticos, e depois vamos explorar a infância de adolescência e há algo que falhou na relação às figuras mais significativas que para as crianças, que são os pais ou outros cuidadores que os sustituam, enfim. Mas a vinculação é outra descoberta fantástica que a minha profissão me trouxe. Quando assisti aos textos da vinculação nos bebés, na peda ao psiquiatria de ser mesmo mind-blowing.
0:45:18 – JORGE CORREIA
Como é que se testa esse vínculo?
0:45:20 – INÊS HOMEM DE MELO
A vinculação é a relação primordial que se estabelece entre o bebê e o outro mais significativo, o cuidador, normalmente a mãe, a mãe também, e que vai modular a ideia que este pequeno ser humano vai ter durante toda a sua vida do que é o mundo, do que esperar do mundo.
Mãe, a chamar a mãe suficientemente boa, que é assim que os psicanos Isso deve ser uma carga de tran, quer dizer, essa é uma responsabilidade gigantesca que está em cima de Por isso é que a este termo do calma mães só tem que ser suficientemente boas, porque as mães vão ficar muito afluitas quando vêm isto e, meu Deus, eu vou falhar em tudo. Uma mãe suficientemente boa é uma mãe que oferece ao seu bebê uma base segura. em inglês é Safe Haven, secure Base. Como é que se faz Uma base segura? um porte de abrigo, que é para a criança poder ir ver o que há no mundo a mínima aflição, sabe onde vai voltar e onde vai ser acolhida no seu malestar.
0:46:24 – JORGE CORREIA
Ao colo da mãe.
0:46:25 – INÊS HOMEM DE MELO
Ao colo da mãe, por exemplo, o mãe estivesse nos meninos a brincar, que eles dão assim 3, 4 passinhos e olham assim para trás, e a mãe, sim, vai, vai. E depois de que forma? a mãe é capaz então de acomodar o sofrimento do bebê? Há mães que estão demasiado afluitas com o seu próprio sofrimento, que estão elas, com muito malestar. Por exemplo, uma mãe com depressão não tratada por ser que nós existimos tendo no tratamento da depressão pós-parto. É uma mãe que hora da atenção, hora não dá. A criança sente que para ter atenção tem que se fazer ouvir. O bebê está muito churado, é alto Churar muito porque nunca sabe se a mãe vem ou não. Então, esta é a vinculação insegura, ansiosa. Depois há a mãe que não consegue mesmo, que não consegue estar lá para o seu bebê. Então o bebê aprende que tem que se valer a si mesmo. Portanto, em vez de gritar muito alto, não grita, regula-se como pode.
Que cheio torna-se um adulto demasiado cedo É a vinculação evitante é aquele adulto que nunca peda ajuda de ninguém, que as namoradas se calhar. imagina de um homem que as namoradas se queixam, que está sempre no seu mundo, que é o evitante, que não recorre ajuda E depois há o seguro, que é o ideal, que é tal mãe que encuraja o filho ir ver o mundo e qualquer coisa. estou aqui e consegue conter o malestar de uma forma em que a criança realmente se sente melhor.
0:48:04 – JORGE CORREIA
E como é que se testa isto? Como é que se consegue com a criança de dois anos?
0:48:07 – INÊS HOMEM DE MELO
Seca é a parte mais incrível, que realmente. isto é testável, é replicável e as crianças sempre enquadram-se numa das três categorias. E as duas endados organizadas, que é em crianças que sofreram mesmo de malestratos terríveis, em que nem sabem segredo tão se fogem. têm assim comportamentos erráticos, mas isso é muito raro, é em mesmo estações limite 60% são seguros, 20% das outras inseguras. das duas evitantes, é o ideal. Então isto testa, assim Chama-se situação estranha, foi desenvolvida por Mary Ainsworth, uma senhora gênia mesmo.
Então a criança está com a mãe. isto é entre os 12 meses e os 26 meses. que dá para testar? A criança está ali a brincar com a mãe e com uma pessoa de fora, por exemplo uma médica de pedopsychiatria, vamos imaginar. Está ali três minutos e isto está tudo a ser filmado, que é para depois ser acercutado. Entretanto a mãe retira-se e a criança fica sozinha com a pessoa que ela não conhecia. até o dia A criança vai ter várias reações, por testar, chorar, procurar a mãe ou não, e depois passar três minutos a mãe torna a entrar E é no momento em que a mãe torna a entrar.
Que se viu o que é que acontece, que se viu, o que é que acontece Quando ela sai é importante, mas o que é mesmo importante é quando ela volta a entrar Segura. Lá esperei um bocadinho.
0:49:32 – JORGE CORREIA
Resmunga, diz o que é isto, o que é que tu foste.
0:49:34 – INÊS HOMEM DE MELO
Fove resmungar ou não, mas sobretudo vai ter que com a mãe tranquiliza-se, torna a ir brincar alegramente, Vai à vida dela. Torna-se a ter segurança para explorar o mundo. A evitante Amém sai, é como se não tivesse acontecido nada. A mãe volta como se não tivesse acontecido nada E liga-se de igual forma a mãe e à pessoa que ela não conhecia.
0:49:59 – JORGE CORREIA
Decolorou a sua independência no fundo antes do tempo.
0:50:02 – INÊS HOMEM DE MELO
Exatamente A ansiosa grita, grita, grita, grita, grita, grita, grita, grita, grita, grita, grita, grita. e mesmo depois da mãe voltar não há quem há calmo porque ela não sabe.
0:50:12 – JORGE CORREIA
Quando é que a mãe se vai embora outra vez? Exatamente exatamente Isto repara-se no futuro Como.
0:50:21 – INÊS HOMEM DE MELO
Isto são os problemas das relações nos casais, porque a próxima relação, mais ou menos parecida, é insignificado, emocional e em segurança. A relação que temos com os cuidados em criança não é A relação em bebê, é a relação que temos com o nosso parceiro na vida adulta. É aquela pessoa que idealmente nos vai acalmar quando nós estamos mal, que nos vai dar apoio, que nos vai incentivar a sermos mais e melhor, a irmos conhecer o mundo ou não, e então isto retém a uma repercussão. Na vida adulta, o casal assim mais problemático o José Gámeir se calhar poderia falar melhor sobre isto será uma ansiosa a que grita, grita, grita, grita, com um evitante que não ouve, nem quer ouvir. Portanto isto está aqui um.
0:51:11 – JORGE CORREIA
Isto estoura. Não é, isto estoura estoura.
0:51:13 – INÊS HOMEM DE MELO
Se for um seguro com um dos outros tipos. Esta relação pode ser a que nós chamamos uma experiência emocional corretiva, em que a pessoa aprende a ser como o que é seguro.
0:51:25 – JORGE CORREIA
Em neutralizão se o âmbulso há uma relação de compensação.
0:51:29 – INÊS HOMEM DE MELO
E aprende a pessoa que era muito ansiosa, que tinha que gritar, e depois fazem os chamados comportamentos de push and pull, que é quero, mas empurro aquelas pessoas que amuam. Eu não vou responder às minusagens porque ele não me ligou. E depois então, mas o que é que tu queres, queres que te ligam ou não? Estás a ver? isso é um compreendimento muito habitual na vida adulta.
0:51:52 – JORGE CORREIA
Então. Mas isso destrói completamente aquela ideia de que nós vamos aí pela rua e nos apaixonamos pelo cabelerandante ou pela donzela só porque é gira, porque a gente gosta como fala, a gente gosta da maneira como tem o seu corpo, como, e tu estás a dizer que afinal não, que afinal há aí umas subcaves que nos levam a ligar-nos ou a desligando.
0:52:16 – INÊS HOMEM DE MELO
Na paixão, na fase da paixão, estas coisas não vêm ao de cima.
0:52:20 – JORGE CORREIA
Lá está, as lá tens da tungo que estão lá por baixo.
0:52:23 – INÊS HOMEM DE MELO
É porque na paixão toda a gente só quer Mostrar-a melhor.
Mostrar o melhor e estar junto. Isto são coisas que começam a ser salientes, começam a evidenciar-se com o tempo, às vezes não demora-se tanto, mas é incrível. É incrível que haja Isto. É toda uma ciência emergente, que é o estudo da vinculação do adulto, que eu acho completamente mind-blowing E qualquer pessoa que leia há um livro muito interessante que foi escrito por um pé da psiquiatra sobre isto, pois ele também começou a estudar o adulto e que todos os meus doentes que leram aquele livro ficaram. Mudou a vida deles E depois de ver, once you see it, you cannot unsee it, e comeces a identificar nas pessoas da tua família ou de estilos e aprender a comunicar. Também, se tu tiveses a biãoção de ter a vinculação segura, tu consegue ajudar muito alguém com o outro modelo, tranquilizá-lo, a mostrar-lhe como é tranquilizável, como é que a outra pessoa não vai desaparecer ou tem capacidade para te ajudar. Pronto, isto agora tem infinitas nuances, mas eu uma sóia, foi uma das descobertas mais incríveis que a minha profissão me trouxe.
0:53:38 – JORGE CORREIA
Mas em princípio, se, como tu dizes, há essas relações, quase quer dizer que choca uma com outra. elas nem sequer deviam sobreviver na fase do número antes das pessoas Darem um passo mais sério. Não estou a dizer casar, mas fundamentalmente estar mais junto, e principalmente no momento em que vão ter filhos. não é, e nós vemos alguns casais que aquilo é o fim do mundo, não sempre para porrer à massa e que já dizem ok, o que é que está a acontecer aqui Por um lado, não é O que é, não damos nada por aquilo, ou o contrário davam-se tão bem e aquilo explodiu e ninguém sabe porquê.
0:54:14 – INÊS HOMEM DE MELO
Pode ter a ver com isto ou com outros factores, atenção, mas isto é mesmo o alicerçalo nas relações, as relações muito opostas ou evitantes. Com o ansioso aquilo dá barraco, quase sempre no início.
0:54:29 – JORGE CORREIA
É água e azeito.
0:54:30 – INÊS HOMEM DE MELO
É, é, pois há muitos confundidores o fator filhos, o ter um filho traz muito ó de cima angústias que estavam ali no fio da navalha.
0:54:43 – JORGE CORREIA
Eu costumo dizer que ter um filho mudar nossa vida. ter o segundo acaba com ela. Porém, não estou a brincar porque Não me assustes. Não de todo, de todo, de todo, mas de facto que requeria completamente uma dinâmica. Quando nasce uma criança, a dinâmica é a primeira. Aquela anúncia de tu já não é a pessoa mais importante do mundo, já é a segunda pessoa mais importante do mundo, ou a terceira pessoa, e a dinâmica é mesmo completamente diferente.
0:55:10 – INÊS HOMEM DE MELO
E para estas pessoas, que tiveram experiências muito traumáticas com as suas figuras parentais, é um momento agridoce, porque elas muitas vezes querem fazer diferente, mas são assaltadas por memórias muito tristes do que foi para elas em infância.
0:55:29 – JORGE CORREIA
E têm menos capacidade a amar.
0:55:31 – INÊS HOMEM DE MELO
Não podem até ter um desejo enorme de fazer uma reparação quase do destino que elas tiveram. E é um momento em que muitas pessoas procuram. É curioso que procuram ajuda. Querem ser melhores pessoas antes de nascer o filho. Ai, eu morro. Com isto Fico mesmo emocionada, tanto eles como elas que querem, querem restaurar-se, querem, querem restaurar-se antes de trazer ao mundo um novo ser, de forma a interromper o chamado trauma intergeracional. Portanto, já elas muitas vezes dizem a minha mãe tratou-me assim, mas já a minha avó tinha tratado assim.
0:56:10 – JORGE CORREIA
Mas eu não quero, mas o não te perdou em relação à geração anterior e agora vamos fazer de novo com estes pequenos seres que acabam de nascer.
0:56:18 – INÊS HOMEM DE MELO
O não te perdou às vezes é um perdão. É, É, é. O rancor, é muito patológico, é neurotóxico, a riscar-me a dizer que causam inflamação no cérebro. A pessoa tem que perdoar ou reescrever a sua narrativa. Às vezes é isto o que ajuda as pessoas a reescrever, que é. A minha mãe também passou pelo mesmo.
0:56:43 – JORGE CORREIA
Compreendo-a no fundo.
0:56:44 – INÊS HOMEM DE MELO
Compreendo-a, foi o melhor que ela conseguiu. E é verdade, e é que muitas vezes é mesmo isto. Não tinham estes modelos, estes tais modelos internos que são criados nos primeiros anos da vida. O modelo estava Estava A variável, a variável.
Eu queria usar uma palavra tão feia como a do Tropado, mas não era o melhor modelo, fez o melhor que conseguia, isso E depois, a partir daí, perdoando, é o rancor, é mesmo muito mal. Então até há muitos estudos sobre isso, sobre o perdão, sobre a compaixão, sobre termos compaixão de quem nos fez mal. Não é tentar reparar a relação, porque isto é uma coisa que o que eu vejo cá às vezes a Mata tenta fazer. Isso, isso não é bom, ou seja. Ah, mãe, é mãe, então Fez-te mal, mas é tua mãe. Vamos lá tentar se vão ser amigas para a vida. Não é isso.
É reprocessar Não é reprocessar. Muitas vezes o reprocessar envolve limitar a relação por os limites. Não vou atender mais o telefone nestas alturas em que ela me liga a xinca-lhar-me Pronto. Isto é toda uma ciência, Porque?
0:57:53 – JORGE CORREIA
tu já sabes que vai acontecer e que há determinadas coisas, que há momentos em que te vai recriminar ou que te vai, e então tu podes limitar esse momento.
0:58:01 – INÊS HOMEM DE MELO
Limitar. É um luto E isto também é um termo que os psicanalistas usam, que adoro que é o luto dos imágoos parentais. É o luto da imagem idealizada que todos temos nos nossos pais. Quando nós somos crianças, os nossos pais são os heróis. Queremos ser como o nosso pai, os meninos querem ser como o pai, as meninas querem ser como a mãe, e depois há adolescência e inclui um trabalho. Que é este luto dos imágoos parentais? Não, não, afinal os meus pais não são tão incríveis. Eu até quero ser diferente deles, eu até gosto deste estilo de música, mas isso parece muito precessual, não é?
Até o saudável. Só que há pessoas que não fazem isto. Há pessoas que vivem uma vida Seguir o que os pais dizem, que controlam toda a sua vida. Fazem tudo, ligam para pedir autorização para tudo, continuem idealizá-los, mesmo por anti-ivídeo, às claras de que eles não só não são perfeitos, como até eles fizeram muito mal.
0:58:56 – JORGE CORREIA
Então essas pessoas não crescem, não cresceram.
0:59:00 – INÊS HOMEM DE MELO
Estão ali um bocadinho pouco autonomizadas. não se valorizam as conquistas se tiverem uma imagem parental muito crestadora e crítica, estas imagens vivem dentro de nós. Por mais que o maior que seja o nosso sucesso, nunca nada é suficiente.
0:59:19 – JORGE CORREIA
Isto é E vão sempre tentar e tentar e tentar e tentar.
0:59:24 – INÊS HOMEM DE MELO
E tentar e tentar agradar essa figura que vive dentro de nós. Porque que é o modelo, lá está, que é gerado no início da vida. Mas como eles são sempre super críticos, nunca nada vai ser suficiente. E este perdão e libertar-se. Ok, eu nunca vou agradar à minha mãe, porque eu nunca vou mesmo.
0:59:43 – JORGE CORREIA
Aprendi com os psiquiatas e com os psicanalistas que a hora tem 50 minutos. Nós já vamos com praticamente uma hora que era agradecer-te. Obrigado por esta magnífica conversa. Agora só me resta ir pro divã e tentar lá desfilar as minhas mágoas e tentar reparar tudo.
1:00:02 – INÊS HOMEM DE MELO
Tem que aprender a dizer isto dos 50 minutos que eu falho muito, eu, quando estou assim, indo à zone com as minhas doentes, e estou super into, senhores mágoas, o que eles me estão a dizer. eu confesso tenho uma tendência para esticar um bocadinhos horários e depois sou essa médica atrasada.
1:00:20 – JORGE CORREIA
Quem mudera que todas as horas de 50 minutos fossem afinal mais largas, mais nervosas, com mais tempo. E é bom saber que há uma boa razão para que tenha acontecido um atraso. afinal não foi um atraso, foi um prolongamento, foi um cuidado, foi o esticar do tempo para ficar mais um pouco. Nunca vos aconteceu. tenta esticar o tempo No fundo, comprovar dia a dia que o tempo é relativo. já nos dizia Weinstein Como tudo na vida, até pras meninas.