Estou entre a matemática das coisas e a frase “é a economia, estúpido”.
Estas coisas dos números sempre me fascinaram. Talvez um pouco menos do que as palavras.
É que é mais difícil encontrar poemas numa folha de cálculo.
Quero partilhar convosco a minha difícil relação com a matemática. Com aquela matemática das letras misturadas com números, de equações nublosas e resultados incompreensíveis.
Fascinam-me estes desenhos de contas. De representação de uma realidade que não compreendo.
Mas deixem-me por um momento contar a pequena história da minha relação com a matemática.
Junta escola, e saúde.
Eu era um bom aluno a matemática. Adorava aquilo. Fazia questão em resolver problemas em contra-relógio e tudo na matemática me fascinava.
No fundo, dominava o código. Sabia daquilo.
E de súbito o meu pequeno apêndice, uma espécie de pequena tripa aqui em baixo na barriga, do lado direito, decidiu inflamar.
A mais clássica, típica e popular apendicite.
O resto da história é o da viagem para o hospital de Viana do Castelo, uma bateria de análises e palpações, uma roda de médicos e um cirurgião a anunciar que eu ia direto e de imediato para a tábua cirúrgica onde as suas mãos munidas de um bisturi me iam salvar a pele.
E assim fui. Contrariado e assustado.
Talvez este momento tenha contribuído fortemente para a minha hipocondria. E, por isso, dediquei-me, mais tarde, ao estudo da política e da comunicação em saúde.
Mas isso interessa pouco.
Volto aos meus 12 anos, salvo pelo SNS e internado por uma semana no hospital. E depois mais uns dias sem escola, para recuperar, vestido com uma faixa tipo toureiro para me salvar de alguma hérnia.
Esses 15 dias e uma perda de capacidade de me concentrar durante um par de meses foram fatais para a minha relação com a disciplina da matemática.
Passei a ser, quase, o pior aluno do planeta.
E a matemática uma ciência oculta para mim.
Pelo menos a grande matemática. Das equações, modelos e engenharias financeiras várias.
Esta pequena história cruza educação com saúde.
Na educação, quando um aluno perde o pé, tem mais dificuldade ou simplesmente tira más notas, ganha uma etiqueta invisível de “não vale a pena investir nele”. Um bom aluno, pelo contrário, merece sempre mais apoio, estímulo e caminho.
E já repararam como estes dois sistemas se comportam de forma completamente inversa na sua relação com os utilizadores:
A educação investe mais nos bons alunos e menos nos piores.
Na saúde a regra é a contrária: quanto pior está o doente, mais o SNS investe para o salvar.
E quando custa esta solidariedade?
Esta filosofia de lutar por todos e cada um? De investir na vida, na saúde, na batalha contra o fim.
Uma balança emocional e técnica, de medicina e cuidados especializados, mas também de custos e benefícios.
Para o cidadão e para a sociedade.
É sobre isto este programa.
Com Eduardo Costa cumpro a minha missão de tentar descodificar o orçamento da saúde.
Quando gastamos, em que gastamos e para que gastamos.
Só há uma certeza: quem paga a conta somos nós.
Eduardo Costa é economista e professor na Nova SBE e um especialista em economia da saúde.
Portanto, domina a explosiva arte que junta saúde com dinheiro. Uma conversa sem preço, mas de valor.