Neste episódio do ‘podcast’ Perguntas Simples, é explorada a tradição do Cantar ao Desafio, uma prática de cantar de improviso típica das Romarias do Alto Minho, mas que também se encontra noutras regiões de Portugal, como o Alentejo ou os Açores. O mestre Augusto Canário é ouvido a exemplificar esta arte da música, que se destaca pelo jogo com as palavras em rimas e pelo uso do subentendido para misturar escárnio e maldizer com folclore.
Os não ditos, os subentendidos, a caricatura e a ironia são jogados de improviso e sem rede nem preparação prévia.
Capítulos:
00:00:17 Cantar ao Desafio.
00:07:05 Repentismo.
00:09:45 Brincadeiras na cantoria.
00:13:46 Temática e diversidade.
00:15:09 Ensino de música popular.
00:19:23 Tradição do cantar ao desafio.
00:22:28 Fado como património cultural.
00:26:19 Caricaturista com palavras.
00:29:05 Temas polémicos em cantarias.
00:32:39 Violência machista e doméstica.
00:37:16 Cantadores analfabetos e cultos.
00:41:33 Linguagem com segundo sentido.
00:43:28 Linguagem rural.
00:46:44 Interação com o público.
00:50:16 Improviso na música.
00:55:02 Desgarradas com três cantadores.
00:57:40 Peregrinação.
Nesta edição cantamos ao desafio.
De concertina na mão, no terreiro da romaria, de improviso, cantamos ao desafio.
É um regresso ao mais puro cantar do alto-minha.
Uma espécie de cantigas de escárnio e mal dizer, mas em forma folclórica.
Típica das romarias. Mas não exclusiva do Minho. O Alentejo, os Açores e outras regiões tem estas maneira de cantar ao desafio.
Nesta edição ouvimos o mestre Augusto Canário.
Mestre do dito e do não dito… e do quase dito.
Todos percebemos que ele ia a dizer… mas ele não disse.
Estamos por isso no terreno do subentendido.
Uma marca fundamental da linguagem humana.
Cantar ao desafio faz parte da alma do alto-Minho.
Frente a frente, com os pés na terra, na taberna ou junto a uma capela da romaria, dois homens, agora também mulheres, jogam com as palavras, em rimas, para gozar reciprocamente.
Há regras próprias deste cantar ao desafio.
Há um ritmo marcado pela concertina.
Há uma praxe. Primeiros as apresentações, depois o jogo de menorizar os oponentes através de finas rimas.
Há algumas regras neste jogo, regras não escritas.
As canções são de improviso.
O objetivo é mostrar-se maior, mais capaz, mais bonito, mais tudo.
Ora cantando os seus feitos e características, ora gozando com os fracassos ou defeitos dos outros cantadores.
No cantar ao desafio, os temas rodam muitas vezes pelo sexo.
Mas também aqui há uma arte. Os cantadores dão a entender, mas nunca são explícitos. Há um jogo de subentendidos. Uma espécie de código percebido entre cantadores e espetadores.
Usam-se analogias. usam-se os sorrisos marotos, usam-se as rimas que sugerem a palavra explicita que afinal não aparece.
A esta arte chama-se repentismo.
E Augusto Canário é, a par de Quim Barreiros, ícone maior desta maneira de cantar
00:00:00:13 – 00:00:05:28
Jorge
Augusto Canário, músico, cantador popular. Como é que se apresenta a Augusto Canário.
00:00:07:05 – 00:00:29:24
Canário
Normalmente apresentado como cantador e principalmente, principalmente artesão de cantigas do tempo como titular? Aliás, este é um cartão de visita que dizia tocador de concertina e cantador por paixão. Não deixou de ser isso, mas como era o nome, digamos, muito pomposo e muito grande artesão de cantigas, acumulou ser chamado.
00:00:30:06 – 00:00:36:02
Jorge
E como é que as pessoas que encontra nos nos concertos e por aí na rua? Como é que? Como é que o tratam?
00:00:36:22 – 00:00:47:13
Canário
E muitas vezes perguntam me se, Augusto, desculpe Canário, eu não sei se posso trocar por canário. Obviamente que pode, muito carinhosamente, muita gente já num canarinho ou mesmo.
00:00:47:13 – 00:00:53:14
Jorge
O canário e o homem que toca concertina, o homem que canta o desafio, o homem que usa um chapéu amarelo.
00:00:53:14 – 00:00:53:27
Canário
Amarelo.
00:00:54:05 – 00:00:55:10
Jorge
Foi um poema acidental.
00:00:55:10 – 00:01:20:09
Canário
Foi feito, foi. Foi um feliz, um feliz incidente, digamos assim, que é uma incidência, portanto, nada de mal. Portanto, como toda a gente sabe, os canários associa se imediatamente à cor amarelo, laranja, canários de várias cores que eu sei que é. Então, um dia, um amigo meu que tinha uma retrosaria, uma loja de danças, coisas que fazem falta as senhoras e não só.
00:01:20:23 – 00:01:32:00
Canário
Ali, em Viana do Castelo, telefonou me que tinha uma surpresa para mim e eu fui lá ter com ele e eu apresentou um chapéu amarelo. Fui eu satisfeito e.
00:01:32:00 – 00:01:32:27
Jorge
A reacção foi.
00:01:32:27 – 00:01:43:16
Canário
Foi muito agradável e eu disse Olha, fez aquilo. Eu disse olha aqui um chapéu com um amigo meu, fez um amigo meu, que é uma chapelaria, uma oficina, portanto, uma fábrica de chapéus. Já agora é real.
00:01:44:08 – 00:01:44:15
Jorge
Em.
00:01:46:00 – 00:02:09:28
Canário
Oliveira de Azeméis, e eu passei a usá lo. E, portanto, ele disse Olha, se quiseres mais falar comigo que eu faço, porque assim foi. Eu passei a usar o chapéu, só tinha aquilo. Um belo dia, portanto. No entanto, por é pior que as todas aquelas chegam, ficam quando surge. É uma das minhas cantoras tipo olho deste século. Lembro de chapéu para lavar e mandou o mandar ao circo.
00:02:09:28 – 00:02:13:09
Canário
E o chapéu ficou rigorosamente como o chapéu de um pobre.
00:02:13:14 – 00:02:14:03
Jorge
Ou a desgraça.
00:02:14:03 – 00:02:44:27
Canário
Todo desfeito. E entretanto, pronto. Falámos com o nosso amigo Luiz. É uma feira de salão que é o nome da freguesia e ele fez chapéus e depois aquilo passou a ser uma imagem de marca e passámos a ter chapéus, digamos assim, para para os nossos admiradores, pelos meus seguidores. E hoje mesmo que eu ando assim, normalmente na rua e que era viajar, que era passear, que era nova vida suas, quase que me foi, mas não sei.
00:02:44:27 – 00:02:50:07
Canário
Hoje não chapéu como surgiu no passado sábado. Isso até o amarelo, ainda por cima na rua.
00:02:50:07 – 00:02:53:29
Jorge
Não que tivesse que fazer sempre um boneco à volta do boneco que surge em palco.
00:02:53:29 – 00:03:21:28
Canário
Nós criamos o boneco. O boneco é aquele e é literalmente o boneco, porque inclusivamente numa gravação do DVD no último, foi em Braga, no São João, onde há uns anos fizemos uma coisa genuína e inédita que foi compor um boneco vestido tal qual como visto, mais ou menos desde os sapatos até ao chapéu, o colete a camisa, tudo com uma concertina amarela e em determinado momento, na parte da desgarrada.
00:03:21:28 – 00:03:42:09
Canário
Eu sei que o Miranda continua a cantar e aparece um amigo meu, um ator a manusear, a manipular. O boneco é o melhor, mas que vou tentar com o boneco, porque o boneco encantador da parte de fora do palco e depois apareceu, então já não era um boneco, não era o original e a réplica, literalmente um boneco.
00:03:42:10 – 00:03:45:22
Jorge
Não estamos aqui numa posso chamar a isto uma adega de sons.
00:03:46:20 – 00:03:50:12
Canário
Nunca ninguém me chamava isso. Mas eu gostei. Os grandes sons estamos.
00:03:50:12 – 00:03:51:01
Jorge
Aqui rodeados.
00:03:51:20 – 00:03:52:06
Canário
De sons.
00:03:52:06 – 00:03:57:04
Jorge
Guitarras atrás, as concertinas comunicam mais com as palavras ou com a música.
00:03:57:16 – 00:04:27:23
Canário
Esse não comunica muito com as palavras. A música só eu não faço música instrumental pouco fazemos de instrumentais. Houve uma altura que nos discos não temos um instrumental. Nós fazemos basicamente conversas com cantigas. As cantigas têm um cariz popular, algumas brejeiro, outras séries. Mas tenho a matriz, portanto, do domínio, digamos assim, da música popular de raiz tradicional. E aquilo que nós fazemos mais é que eu faço melhor, digamos assim.
00:04:27:28 – 00:04:35:03
Canário
Criarmos menos mal, cantar. O desafio é ser repentista. Isso faz se com as palavras repentista.
00:04:35:03 – 00:04:36:14
Jorge
Isso interessa me que é o repentismo.
00:04:36:24 – 00:04:55:29
Canário
No entanto, primeiro vou responder à chamada a concluir a ideia anterior que é que nós fazemos uma espécie de caricatura com as palavras nós brincarmos com as pessoas, nós e soltamos os cantadores uns aos outros. Estou a falar da forma de cantar brejeira do Alto Minho e domingo em geral. Eu, Entre Douro e Minho.
00:04:56:01 – 00:05:05:23
Jorge
Quis ver como é que as pessoas que não conhecem, que nunca viram o galo cantar a desgarrada, que nunca tiveram a sorte de ir a São João Arga por exemplo, ver essa desgarrada. O que acontece? Podemos pintar o.
00:05:05:23 – 00:05:17:23
Canário
Quadro de pintar o quadro de nós, cada cantador ou cantadeira. Isto num palco ali, palco é o mais natural possível, é o terreiro. Não há uma ação sem regras, sem som, sem nada.
00:05:17:23 – 00:05:19:21
Jorge
Portanto, não há microfones achando ainda.
00:05:19:22 – 00:05:40:15
Canário
No fundo, José Mayer é a terra e a tasca é o andar grande. Vamos assim é o lugar mais natural das cantigas. O desafio não é único neste momento, então a gente, como é que faz a apresentação? Normalmente as pessoas conhecem nos. Então já nos segue aos mais velhos, aos mais novos, que estão agora a surgir e já firmados com os cantadores.
00:05:40:15 – 00:05:41:03
Canário
E hoje cantava.
00:05:41:11 – 00:05:42:02
Jorge
A uma assinatura.
00:05:42:12 – 00:06:09:18
Canário
É uma assinatura a forma que a pessoa vai criando ao longo do mosteiro, que vai deixar no conforme vai cantando. Então a gente nós queremos ser sempre os melhores e, portanto, então para isso nós tentámos rebaixar o outro. Ou então não é preciso rebaixar. Basta mostrar aquilo que a gente sabe em termos de um tema que é puxado, que pode ser um tema da vida do santo, ou então exaltar as nossas qualidades em detrimento das do outro.
00:06:09:18 – 00:06:15:23
Canário
E isso é claro quando se trata de um homem, de uma mulher. Normalmente vai parar aquilo que é o que toda a gente gosta.
00:06:15:23 – 00:06:17:09
Jorge
Mas o que é que eles são?
00:06:17:16 – 00:06:33:23
Canário
Somos combates de natureza sexual e mesmo assim não há outro. E pessoas adoram isso. Obviamente que sabemos que estamos a brincar e mesmo a brincar. Tempos houve em que por dia, andar numa grande luta de paus e numa pancadaria tremenda.
00:06:33:23 – 00:06:36:11
Jorge
A malta fez se o escaravelho, mas o capítulo.
00:06:36:12 – 00:07:12:10
Canário
Também tem de ser feito. Mas neste momento não. Neste momento não, não, não vamos por aí. O que eu faço bem, eu acho que faço bem e com outros amigos. Realmente, puxar um tema e desenvolvê lo e brincar também com aquilo que nos rodeia, muitas vezes com as pessoas, com situações. Depois de o cantar ou o desafio substituiu o assunto e gosto muito de desenvolver esta temática e espero que um dia este cantar domingo nas ilhas, porque são outros nomes diferentes, mas o ambiente e isso e já vamos responder o que é que as pessoas gostam de ouvir?
00:07:12:13 – 00:07:25:13
Canário
Brincadeiras, chalaça, brejeirice picante ou chegámos a perguntar a frustração? Mas também gostam de ouvir, discutir, cantando um tema sério e pronto.
00:07:25:26 – 00:07:26:26
Jorge
E não é só para.
00:07:27:01 – 00:07:27:13
Canário
A nossa.
00:07:27:14 – 00:07:28:00
Jorge
Trabalhar.
00:07:28:18 – 00:07:52:04
Canário
Nos próximos tempos, isto é, no dia 6 de abril, aqui na minha terra vamos cantar eu e mais um contador e duas cantadeiras sem microfone. Há um chavão, digamos assim vamos fazer um percurso de seis ou sete capelas. Temos aqui na nossa vila e vamos cantar um bocado a paixão de Cristo, isto é, sobre os 14 ou 15 ou 16 estações que o João Paulo segunda acrescentou.
00:07:52:04 – 00:08:18:20
Canário
Duas e aqui está a outra coisa que é muito importante aos conhecimentos que porque quer ser repentista, repentista à moda do Minho, à moda das Beiras, à moda do Alentejo, ao domínio despique à moda da Madeira, do Bailinho dos Picos ou à moda dos Açores, desde a desgarrada, a cantoria ou as velhas improviso das cantigas nos formatos poéticos que nós temos.
00:08:18:20 – 00:08:39:00
Canário
Pronto, assistimos à quadra da quadra ou à quadra, com rima cruzado ou ou rima com dois brancos e pousado ou emparelhado consoante a estrutura. Cada região tem que fazer cantigas com isso em cima das melodias próprias de cada região e com os instrumentos próprios de cada região.
00:08:39:05 – 00:08:47:08
Jorge
Quer dizer que não é um fenómeno exclusivo do Alto Minho, onde eu também sou um auto minhoto. Portanto, lembro me sempre de isto. Desde desde pequeno que.
00:08:47:08 – 00:09:10:29
Canário
Obviamente a nossa tradição é essa. Desde o mês de Outubro eu tenho 63 anos. De um jeito é exatamente no dia 7 de abril farei 63 anos. Lazer e canto. Desde os meus 16, 17, quando comecei, havia muito pouco cantadores. E para cantarmos com os mais famosos não era fácil, porque viemos tirar romarias onde eles cantaram e eles cantavam.
00:09:10:29 – 00:09:16:26
Canário
Ontem, nas tascas longe da vista dos padres. Era o descanso e vamos assim.
00:09:17:28 – 00:09:19:14
Jorge
Repescar práticas que a censura.
00:09:19:14 – 00:09:20:00
Canário
Nesse assunto.
00:09:20:04 – 00:09:20:16
Jorge
Está mais à.
00:09:20:16 – 00:09:33:26
Canário
Vontade que porque normalmente o cantador era associado à pessoa que um dia vino o verão, como sabemos, e criava certas perturbações que não seriam as mais adequadas a uma festa que era religioso.
00:09:33:28 – 00:09:34:21
Jorge
Era um pouco santo.
00:09:34:21 – 00:09:42:22
Canário
E um pouco santos, e, portanto, havia um ou outro. Cantava realmente as temáticas sagradas. O canto é sagrado e, portanto, não eram bem vistos.
00:09:43:04 – 00:09:44:17
Jorge
E.
00:09:44:18 – 00:09:47:09
Canário
Até o tal habitat natural da atenção mantém se.
00:09:47:11 – 00:09:48:24
Jorge
Ia lá. Como é que.
00:09:49:07 – 00:10:15:28
Canário
Eu não podia ir porque eu não tinha latinidade nem meios, nem sabia de muitas dessas romarias? Só mais tarde, já com os meus 20 e poucos anos, integravam um grupo fugido por minha conta, porque passámos a ter o grupo cantar domingo. Foi um dos pioneiros a trazer os cantares. Um desafio para o palco conferir categoria de palco nos nossos espetáculos e depois nós e um outro cantador.
00:10:16:13 – 00:10:47:27
Canário
A partir daí estamos a falar de 84 passarmos a ter registos de discos. Digamos que já havia alguns em vinil, depois a cassete. O cartucho já é anterior a um outro, muito poucos. E depois, claro, quando se aproximou. Quando chegou o tempo do CD já foi assim, uma coisa do outro mundo. Mas quando chegaram as máquinas automáticas como instantâneas, como sejam os os mini discos e os OS e mais tarde os telemóveis.
00:10:47:27 – 00:10:48:14
Jorge
Explodiu.
00:10:48:14 – 00:11:03:07
Canário
Explodiu. E hoje, já na hora, o que se passa aqui, sabe se, ouve se em todo o mundo e tem os nós. Estamos aqui a misturar um conjunto de ideias, mas também estamos a conversar. O cantar o desafio hoje não tem nada a ver com há 25 anos atrás.
00:11:03:18 – 00:11:04:20
Jorge
Mas o que é que mudou?
00:11:04:27 – 00:11:05:07
Canário
Mudou.
00:11:05:13 – 00:11:06:25
Jorge
Mudou. São a tecnologia ou não.
00:11:07:04 – 00:11:21:20
Canário
A tecnologia mudou. A temática em termos de diversidade, passou a ser basicamente uma uma temática, porque hoje pouco mais se canta do que aquilo, especialmente quando são cantadores e cantadeiras.
00:11:21:21 – 00:11:26:01
Jorge
Apenas o picante apenas se arriscam. Mas isso não o faz perder um bocadinho da riqueza.
00:11:26:27 – 00:11:35:15
Canário
Talvez isso, talvez. Mas agora assiste se também nos últimos tempos a uma consciência disso e, por exemplo, chegarmos aos canais de televisão.
00:11:36:03 – 00:11:36:20
Jorge
E isso.
00:11:37:06 – 00:11:37:20
Canário
Foi só.
00:11:37:20 – 00:11:40:23
Jorge
Uma fronteira mais mais complicada ao música em geral, menos habituados que.
00:11:41:08 – 00:11:53:21
Canário
Não, mas foram. Também foi uma forma de atuar concretamente a RTP, a Praça da Alegria que criou há uns anos, dois ou três anos, o concurso de cantores ao desafio.
00:11:53:21 – 00:11:57:00
Jorge
E lembro me de o ver como júri e de trazer pessoas a cantar.
00:11:57:14 – 00:12:08:28
Canário
Pessoas de todo o país quando havia uma ideia do que isto era, só que no meio nome, aqui no Norte, e não nós temos gente a cantar de improviso de várias formas e muito antes disso, em todo o país, como.
00:12:08:29 – 00:12:11:07
Jorge
Que sabe como é que se aprende, é possível ensinar a cantar o desafio.
00:12:12:24 – 00:12:16:19
Canário
Mas voltando ainda o papel que a comunicação social tem.
00:12:16:23 – 00:12:18:17
Jorge
E estão conversando multidisciplinares é possível.
00:12:18:25 – 00:12:21:21
Canário
Mas eu sou muito firmemente sincero com o que.
00:12:22:07 – 00:12:23:00
Jorge
É dar professor.
00:12:23:00 – 00:13:09:05
Canário
Se calhar não sou professor propriamente dito, mas desempenhei ou estamos a trabalhar com crianças sobre o assunto então em cenas. Mas antes disso, na televisão, qual foi o papel que a comunicação social, especialmente a televisão e a RTP, neste caso foi? Ao criar um concurso, pôs se em confronto. Primeiro, basicamente miúdos. Pôs se em confronto também alguns cantadores que vieram da diáspora, que vieram do estrangeiro porque passou a desgarrada e o cantor, o desafio e o folclore, a música popular e as concertinas que tiveram tinham um papel crucial há 30 anos para cá, desde mais ou -96, 97 e 95 por aí, começaram a fazer os primeiros encontros de tocadores de concertina e, por arrasto,
00:13:09:15 – 00:13:41:25
Canário
de cantadores ao desafio. E, portanto, isto tem uma importância nas comunidades, em todo o mundo. Não é só na Europa, em todo o mundo, na América, no Brasil, na Austrália, o que eu conheço e onde já estive, porque sei que as pessoas dão um valor incrível, mas em todo o país não é só os minutos, é também valorizam consoante os incidentes, quando, quando vão as pessoas tomar aos açorianos que têm muita gente, especialmente na América e no Canadá e nas Bermudas, e por ali é.
00:13:41:25 – 00:13:48:00
Canário
Levam muitos cantadores da sua região cantar e têm nos lá das comunidades, que é uma marca cultural.
00:13:48:00 – 00:13:49:03
Jorge
É uma lembrança local.
00:13:49:11 – 00:14:05:05
Canário
É uma lembrança de Portugal. É uma coisa que se calhar é mais importante que muitas pessoas que pensam ou valorizam, que é jovem. E comprovou isso. O fim de semana passado em França, jovens que são lusodescendentes nos países onde os pais emigraram.
00:14:05:14 – 00:14:06:19
Jorge
Já de segunda geração, portugueses.
00:14:06:23 – 00:14:36:14
Canário
De série de quarto, de segunda, de série de quarta geração e que cantam em português. Habitualmente falam em francês na língua dos países onde residem, mas aprendem e compreendem e gostam, embora com um sotaque de cantar em português ou desafio isso parece que não há também forma de preservar e desenvolver e transmitir, manter, digamos assim, a utilização da nossa língua nesses jovens que muito provavelmente já não vão viver para Portugal.
00:14:37:01 – 00:14:42:05
Jorge
Nós estamos a fazer tudo o que podemos para preservar essa imensa matriz cultural.
00:14:42:18 – 00:14:52:06
Canário
Não, eu acho que não. Primeiro que neste momento é uma das minhas preocupações e eu descobri que sou, neste momento missionário dos cantares ao desafio.
00:14:52:21 – 00:14:54:28
Jorge
O que é que um sinal? Qual é a missão de ensinar.
00:14:55:00 – 00:15:21:29
Canário
O missionário, ter uma missão e para isso, neste momento, a minha missão é fazer tudo o que me for possível em várias linhas. Orientação de atividade sobre os cantares, odesafio. Entregar esta entrevista e falar sobre o assunto. Porque o canário é basicamente um cantador, podendo estar a falar aqui do tipo de concertos que tem. O fui eu, criei este tipo de grupos que temos com as com apenas duas, mais bateria, mas mais, mais piano, mais violino, etc.
00:15:22:13 – 00:15:51:11
Canário
Mas não estamos a falar do campo de desafio, do improviso e do repentismo, porque é por aí que eu sou identificado. E como as pessoas me reconhecem? Graças a Deus, duas coisas importantes a minha capacidade de improvisar, de ser repentista e ser capaz de cantar umas velhas na terceira, como cantar uma desgarrada Domino. Custa me muito ainda cantar um despique especial entre Ubaldo e o Alentejo, mas a qualquer deles eu me adapto e consigo desenrascar.
00:15:51:16 – 00:16:03:18
Canário
Ou então interagir com brasileiros do Ceará que têm outras formas de fazer na nossa língua ou com os galegos. Eu consigo muito interagir com eles e não me sair nada mal.
00:16:03:22 – 00:16:12:07
Jorge
E consegue perceber que todo este caminho, toda esta água, vem da mesma fonte ou são fontes diferentes que se encontram numa altura.
00:16:12:09 – 00:16:53:28
Canário
Podem ser caminhos diferentes de nascentes diferentes, mas digamos que a matéria é a mesma a água é a mesma seiva. Se quisermos, porque trata se da língua. Trata se de utilizá la de improviso. Trata se de utilizar melodias tradicionais de cada região, mas que, no fundo, acabam por ser do mesmo povo, de uma mesma origem. E então eu que vou conhecendo também esta capacidade de dar valor a esta tradição e então eu neste momento procuro tudo o que esteja alcançou e já trabalhar com projetos apoiados por comunidades intermunicipais nas escolas.
00:16:54:06 – 00:17:35:10
Canário
Já o fizemos na academia e infelizmente o projeto monumental que se chamou e chama de repente cantar, em que foi às escolas ensinar os jovens de nove, 10 e 11 anos a improvisar qual era a estrutura mental e os usamos de cinema. E fez um trabalho fantástico, não para conseguir obter muitos cantadores ou cantadeiras, mas para que percebam que, para além da música dos nossos dias, há aquela outra anterior, da nossa matriz, da nossa origem, dos nossos pais, o nosso país, mas também com dois efes que num projeto do artista, vai à escola e lugar mais uma vez essa possibilidade de os miúdos fazerem na sua quadrilha aprenderem como é que nós, qual é a
00:17:35:10 – 00:17:58:27
Canário
nossa estrutura para responder a tudo isso? E mais do que isso, mais do que isso. Depois, nos programas de televisão, nos discos, nos espetáculos, em tudo o que nos é possível, nos encontros com vários cantadores e cantadeiras das várias regiões do país e do mundo que neste momento já podemos chamar assim, tentar, mais tarde ou mais cedo, criar um corpo científico.
00:17:58:29 – 00:18:01:15
Canário
Podemos chamar assim um corpo estruturado.
00:18:01:20 – 00:18:02:10
Jorge
No corpo teórico.
00:18:02:10 – 00:18:50:25
Canário
Teórico, chamemos lhe o verbo escrever, mas correto para que o cantar. O desafio seja também reconhecido primeiro como Património Imaterial Cultural registado no nosso Registo Nacional. Não está nem está. Estão a ser dados passos, mas são subsídios, não são. Ainda diríamos uma uma linha formal. Vamos por aqui, não estamos a preparar o caminho, estamos a desmatar e depois, mais tarde, que isso é que seja reconhecido pela UNESCO como Património Imaterial Cultural, já com projetos de salvaguarda criados no Alentejo, na Madeira, nos Açores, no Minho e que foi logo se calhar o pontapé de saída mais sério, com com palestras, com homens como o Dr. Arnaldo Saraiva, que o Dr. Alberto Sobrinho.
00:18:50:28 – 00:18:54:03
Jorge
Para seguir um bocadinho daquilo que foi a matriz, por exemplo, do cante alentejano.
00:18:54:09 – 00:18:55:20
Canário
Exatamente exatamente.
00:18:55:23 – 00:18:57:00
Jorge
Da mesma forma de proteção.
00:18:58:02 – 00:19:28:00
Canário
E de proteção. E desenvolver porque, tanto quanto sei, o cante alentejano é uma forma de cantar que se praticava, mas não tenho dúvida nenhuma é que hoje pratica se muito mais por jovens e o fado igual o fado. O fado tinha também um conjunto de intérpretes especialmente radicados na na cidade, em Lisboa, e também muito mais no Porto do que o que já era noutros sítios notou nas nossas telas.
00:19:28:00 – 00:19:45:03
Canário
Temos aqui hoje, hoje já uma prática de ouvir fado aqui na minha terra, aqui enviara aqui em nova, da nas nossas terras, nas coletividades, a Junta de Freguesia, promovem noites de fado com muito mais incidência e mais frequência. Desde que o fado foi considerado Património Imaterial da Humanidade.
00:19:45:06 – 00:19:49:15
Jorge
E aqui ao lado, em Barcelos, a Gisela João, que é uma das famílias mais extraordinárias, a.
00:19:49:15 – 00:20:16:04
Canário
Região se calhar já era. Nós estamos a falar de dizer que não é famosa. Gente que não é, que não canta o piano, a atenção e guitarristas. O ensino da guitarra saiu de Lisboa e passou por via do facto de ser considerada património. E hoje nós temos uma riqueza imensa no fado. No canto vai ser agora o canto, vozes de corpos de mulheres que está a ser muito bem trabalhado e muito bem encaminhado para ser.
00:20:16:04 – 00:20:32:27
Canário
Pelo menos não sei até se já foi feito o seu registo, o sinal do património imaterial cultural e nós cantadores, pelo menos alguns que temos mais consciência, achámos que esta forma de cantar que merece também pelo menos ser preservado.
00:20:33:01 – 00:20:38:06
Jorge
Como é que se ensina a cantar? Como é que se ensina estes a cantar? O típico desse repentismo? Quem não sabe é.
00:20:38:13 – 00:21:02:19
Canário
Aquilo que o que eu tenho. Os cantadores não ensinam nada a ninguém. Nenhum cantador ensina o outro. Porquê? Porque o canto do terceiro melhor é então eu vou dar o exemplo. Quando eu comecei a cantar o desafio com o meu amigo Miranda e já lá vão 41 anos, chegando ao dia 1 de maio, já celebrámos os 40. O ano passado nós cada um cantava porque porque não sabia o caminho do pai.
00:21:02:20 – 00:21:13:21
Canário
Sabíamos quadrilhas, ensinava ele. E eu sempre gostei de desenvolver as minhas sem que ninguém me ensinasse escrevendo. Não, não, não. Não me lembro de escrever para cantar.
00:21:13:21 – 00:21:17:11
Jorge
Só qual é a parte do improviso e a parte da preparação?
00:21:17:21 – 00:21:41:11
Canário
Já lhe explico. Eu sempre tentei aprender e responder. Ainda hoje é assim. Há coisas feitas por responder a coisas feitas. Consigo desarmar quem só sabe aquelas. Então a gente desenvolve uma capacidade, pois temos duas coisas fundamentais a perspicácia. Estar atento. E o conhecimento das coisas. Eu não sou especialista em novas, sendo que tudo, como costumo dizer às vezes.
00:21:42:02 – 00:22:13:17
Canário
Então isso dá nos um traquejo para responder mos sem termos que nos fixar. Obviamente que há muitos cantadores e eu também ouvimos dos mais velhos e vamos aprendendo coisas. Mas depois, claro, vamos ensinar neste momento aos nossos miúdos. O meu nome é Augusto. Canário canário é uma palavra que vem com muitas palavras. Augusto Lima, pelo menos Vila Nova vai indicando James André, que para mim é uma outra palavra que nos autos que é muito difícil, tem que ter gente.
00:22:13:18 – 00:22:38:18
Canário
Porque o que nós ensinamos aos miúdos ao ver se já o escrever, é só tentar primeiro antes de cantar no seu treino, que muitas vezes fazem quando pensam por palavras de aprender, palavras tremem com aquelas que nós queremos rimar. Tudo silencia. Um indivíduo que se chama Gaudencio. Um indivíduo que se chama Porfírio. Estamos a falar de coisas concretas e objetivas.
00:22:38:18 – 00:22:41:17
Jorge
E essas palavras difíceis evitam se, colocando outras à frente do cabo.
00:22:41:25 – 00:23:03:23
Canário
Colocando ou o diminutivo ou o aumento pelo ou colocando os fora do sítio formalmente. Outra coisa importante quer dizer que a última frase seja devemos a palavra chave, ou seja, a chave que abre toda a ideia que vem de trás, que é um bom cantador. Normalmente canta, canta, mas quando a gente sai a cantar não sabe o que vai dizer.
00:23:04:00 – 00:23:11:15
Canário
Quando a gente chega a terceira ou quarta frase, já toda a gente adivinha o que vai sair. Já é uma coisa que já não tem aquela força.
00:23:11:28 – 00:23:22:00
Jorge
Portanto, faz com que, como os humoristas, vai preparando o campo. Por um lado, vai deixando ali umas umas migalhas ali, ao longo da cantoria e subitamente, um dos seus.
00:23:22:00 – 00:23:22:18
Canário
Fãs que nos.
00:23:22:18 – 00:23:23:14
Jorge
Surpreende se.
00:23:23:23 – 00:23:33:25
Canário
Se lembrar, ele sabe que nós somos muitos. Nós somos caricaturistas com palavras, caricaturistas, exagera. Mostrar o rosto ou uma figura.
00:23:33:25 – 00:23:35:15
Jorge
Não é o que o torna um observador.
00:23:36:01 – 00:24:02:10
Canário
Muito atento. Sempre, muito mesmo. E não é por acaso, já agora, porque os cantares, o perfil, eu também falámos nisso, mas não concluímos. Hoje o cantor, ao desafio e ao som do que se consagrou. Por isso, juntamente com o meu amigo Miranda, tem uma utilização de alcoolizado para animar festas de todo o tipo que posso imaginar. Enquanto há uns anos atrás era uma romaria na praça para trazer paz, que era depois uns copos e menos, mas.
00:24:02:17 – 00:24:03:25
Jorge
Com uma actividade subversiva.
00:24:03:25 – 00:24:26:23
Canário
Sobressaindo exactamente o. E era porque vamos ver. Há quem defenda que o cantor tem a sua uma das suas origens, suas cantigas de escárnio e maldizer. Há uma coisa que não está muito estudada e que requer a criação do corpo teórico. E, portanto, estou a fazer estudo esse trabalho antes do doutoramento que interrompi por motivo de uma saúde, como um problema de saúde.
00:24:26:23 – 00:24:52:06
Canário
Há um ano atrás levou um susto, um susto grande, mas já está ultrapassado. E eu continua na universidade, mas a fazer o meu trabalho e vou ajudar nos criando o Sophia, o seu livro no qual estamos a trabalhar. Mas o cantador é também muitas vezes crítico social e, portanto, muitas vezes não é por acaso que o mapa este gajo é o gajo de copos para dizer o que?
00:24:52:07 – 00:25:20:02
Canário
Para dizer que o camponês não tem valor, não tem muito. E o problema é que muitas vezes quem põe o dedo na ferida é destratado ou desconsiderado porque põe o dedo na ferida e então por quem tem mais consciência ou medo, fica mais agradável a coisa e não cria problemas. Mas, basicamente, o cantor brejeira e divertido que hoje é utilizado tudo o que possa imaginar nós fizemos eu e os meus amigos.
00:25:20:02 – 00:25:46:11
Canário
Não é só melhor terminar. Fizemos animação em casamentos, baptizados, fizemos as bodas de prata dos noivos que fizemos o casamento e o casamento do filho. Cantamos batizados, associações inteiras. Nós cantamos. Eu costumo dizer que os genéricos, os medicamentos que nos vieram estragar o negócio, porque nós cantávamos muito e cantávamos em todo o país para laboratórios, na apresentação de novos medicamentos.
00:25:46:23 – 00:25:49:22
Canário
Então dou nos umas dicas e a gente depois brinca Seja sobre.
00:25:49:22 – 00:25:53:17
Jorge
Aquilo, porque na realidade, tudo aquilo que for um tema e a data que.
00:25:53:22 – 00:26:16:21
Canário
Cantava é o, digamos assim. Mas nós também cantamos em festas de empresas em observar que mesmo tudo o que se possa imaginar é até voltando ao cantar do sagrado com todo o fundamento. Desenvolver um fundamento era o que era discutir a desgarrada, que foi isso que nós fizemos na RTP. Foi por sorteio dos temas O Bem e o Mal.
00:26:17:09 – 00:26:32:22
Canário
O Homem e a Mulher, agora com temas mais atuais. Mas porque, por exemplo, no cantar o desafio tradicional, a linguagem utilizada é a, digamos, o chamar outro cantador gay, para não dizer uma palavra mais agreste.
00:26:34:23 – 00:26:41:25
Canário
Hoje em dia, quem entra num tema desses pode ser muito facilmente catalogado de homofóbico.
00:26:41:25 – 00:26:45:17
Jorge
E pode ser cancelado no fundo e dizer que esta pessoa está a que está a ser discriminado ou está.
00:26:45:17 – 00:27:10:29
Canário
Discriminado? Não, porque a maior parte do povo continua a achar graça. Aquilo é muita e muita e sabe muito bem que duas coisas primeiro não é, não era uma geração, um ou dois ou três que se mudou mentalidades, nem é certo e sabido que a gente está a falar a sério, que estamos a brincar. Vamos brincar. Mas mas se pudermos evitar esse tipo de brincadeiras que vai oferecer suscetibilidades, outras pessoas.
00:27:10:29 – 00:27:11:09
Jorge
Melhor.
00:27:11:15 – 00:27:13:19
Canário
Eu não vou fazer uma cabra. Teria de ser um casamento gay.
00:27:14:19 – 00:27:20:06
Jorge
Porque isso pode. No fundo, por que as pessoas possam não receber o beijo, bem.
00:27:21:02 – 00:27:36:26
Canário
Como já agora, porque não tem nada a ver, mas também não se percebe bem, como, por exemplo, sendo eu duplo e o meu amigo Miranda do outro é exatamente o oposto que nós antes podíamos brincar com o facto de um ser do Porto ou de ser do Benfica e hoje nós temos de ter algum cuidado.
00:27:36:26 – 00:27:44:26
Jorge
Portanto, há um conjunto de temas que geram, no fundo, algumas do mal, alguma polémica que são. Isso não é, não tem graça.
00:27:45:03 – 00:28:05:03
Canário
Voltando já agora por trás das redes sociais. Depois, porque também isto nem tanto. Há coisas, tenho coisas boas, há o ataque, o tratamento, a má criação, a cobardia, a maldição. Ensinavam se. Então então nós temos que ter inteligência de não saber nos adaptar aos nossos tempos.
00:28:05:10 – 00:28:08:17
Jorge
Agora os tempos são de que tipo de temos.
00:28:08:25 – 00:28:26:22
Canário
De continuar a brincar com os homens, com as mulheres, de continuar a brincar com os problemas da sociedade, brincar entre aspas e cantar aquilo. Nós temos que ter uma sensibilidade bastante grande para ver o público que temos na frente. Só que antigamente nós tínhamos um público na nossa frente.
00:28:26:25 – 00:28:27:22
Jorge
Restrito, que estavam.
00:28:27:22 – 00:28:39:24
Canário
Ali ali. Quem estava ali estava eu e resolvi ir e tal, pois não. Hoje temos um público que está em todo o mundo e temos os telemóveis e temos tudo o que está a ser filmado na hora e transmite.
00:28:39:24 – 00:28:46:16
Jorge
Com sensibilidades próprias. E podem também ouvir e interpretar de uma maneira completamente diferente, até fora do contexto.
00:28:47:15 – 00:28:51:09
Canário
E considerarem se ofendidos um ou outro, considerar se ofender se.
00:28:51:09 – 00:28:52:05
Jorge
Como é que lida com isso?
00:28:52:10 – 00:29:14:00
Canário
Lidamos com a realidade. Temos ser inteligentes. Por exemplo, há um grupo de uma escola, o Grupo de Amigos Meus, na Galiza, em Santiago de Compostela, que estão a utilizar a rede. Foi a forma que eles chama. Eu não dou sermão. Este canto de improviso normalmente são instrumentos na Galiza, então são utilizados nas escolas com miúdos como miúdos para combater.
00:29:14:08 – 00:29:49:15
Canário
Eles chamam tanto à violência machista. Nós chamamos aqui violência doméstica. Então estou a utilizar isso no Brasil. O cordel que radica um bocado também não só no improviso, mas no verso popular tradicional. Há muitos, muitos amigos, repentistas, improvisadores, que se chamam poetas, que escrevem literatura de cordel e utilizam o cordel para nas escolas com milhares ou dezenas de milhares de edições, utilizando uma escrita popular tradicional que foi daqui para lá, para o combate à violência machista, também contra a violência doméstica.
00:29:50:23 – 00:30:09:10
Canário
Um assassinato permanente que fez com testas os dedos aqui em Portugal de homens e mulheres mais mulheres que homens e portanto acabamos por estar ligados à vida social desta forma divertida, brejeira, brincalhona, como dizia um amigo meu, é burlesca também.
00:30:10:01 – 00:30:11:03
Jorge
E.
00:30:11:04 – 00:30:18:13
Canário
Portanto, nós temos que saber adaptar os nossos dias, vinculou. Cartomantes levava à televisão imagina se no programa em direto, improvisar na.
00:30:18:13 – 00:30:19:02
Jorge
Hora de manhã.
00:30:19:10 – 00:30:35:28
Canário
De manhã e celular. E é pai de uma cantadeira que sabe cantar bem. Tem piada que tem graça. O problema problema para nós, homens mais velhos. Uma rapariga bonita é uma mulher bonita, que canta em voz, que se apresenta bem quando bem anda e em todo o sentido.
00:30:35:28 – 00:30:36:28
Jorge
Começam logo a perder.
00:30:37:11 – 00:30:42:16
Canário
Uns. Começou a perder por 95% a favor dela.
00:30:42:16 – 00:30:47:16
Jorge
Mas também diria que enfrentaram Augusto Canário e se calhar também não deve ser fácil.
00:30:47:25 – 00:30:57:09
Canário
Qual é a graça que tem de saber defender se sem ser grosseiro, sem trazer para casa com doçura, dizer, portanto.
00:30:57:09 – 00:30:59:22
Jorge
Aproveita a atenção que há, naquele momento.
00:30:59:22 – 00:31:03:15
Canário
O termo palavra chave. Atenção o cantor desafiou um cantar de tensão.
00:31:03:15 – 00:31:07:10
Jorge
Tem que haver, no entanto, o que a Grécia deve pensar mesmo.
00:31:07:18 – 00:31:23:11
Canário
É um dos cantores que repetem cantam duas, três, quatro, cinco, seis estrofes. E isso não tem graça nenhuma, porque quando o homem responder já se perdeu, já nem nos lembramos. Então a tensão é mesmo com uma ou duas estrofes cada um sempre tenta criar a tal tensão.
00:31:23:11 – 00:31:24:22
Jorge
Toma lá, toma lá, dá.
00:31:24:22 – 00:31:36:28
Canário
Cá e essa tensão é captada. E é que mantém as pessoas ali focadas, aglomeradas. Antigamente não havia microfones naquela Robin e dentro daquela Vladimir ao centro do mundo.
00:31:37:01 – 00:31:38:04
Jorge
Deixa nos ver o que é que acontece.
00:31:38:17 – 00:31:55:28
Canário
Pois não? Hoje temos os palcos, temos juntos sons, temos bons microfones e, por exemplo, em Miranda criamos uma coisa muito engraçada. Há muitos anos foi. Ficaram no palco e outro que já fora do nada, parece que fugiu e aparece de repente a. Isso criou uma forma nova. Hoje liga muita gente.
00:31:55:28 – 00:31:56:27
Jorge
Fazendo uma dinâmica e uma.
00:31:56:27 – 00:32:20:26
Canário
Dinâmica diferente que ninguém é engraçada. E temos aqui noutro ponto muito importante, para além da linguagem adaptada aos tempos que vivemos, as formas de interpretar, o cantar, o desafio eu quantas vezes eu estou a tocar com o Miranda, com o meu grupo e o faço com ou dois, dois sinais, um dos músicos ou dois. Eles passam a tocar já.
00:32:21:29 – 00:32:24:07
Jorge
Durante o concerto, durante durante a apresentação ou.
00:32:24:07 – 00:32:46:26
Canário
Quando brota desgarrada ou luz, o ritmo, uma cadência que não tem nada a ver com o eu cá na beira do que é o outro, o ritmo vazio, o Malhão, um símbolo da nossa desgarrada. Mas aquilo que nós conseguimos interpretar em cima daquela malha, daquele ritmo que no futuro é muito diferente, obviamente não descoordenada, digamos assim. A métrica das estrofes.
00:32:47:05 – 00:33:07:09
Canário
Cantamos vários e nas duas é uma coisa especial cantar naquela malha e depois voltarmos ao tradicional ponto surge em dia, permite, permitindo. Permite nos nos permitir toda essa dinâmica, essa diversidade. Porque? Porque as coisas não são estáticas.
00:33:07:23 – 00:33:08:08
Jorge
E a reação do.
00:33:08:08 – 00:33:13:17
Canário
Público é fantástica. Há um ou outro que não gosta, que gosta mais do Rio, o que é o.
00:33:13:17 – 00:33:16:00
Jorge
Arrepio, estranha se depois, entre risos.
00:33:16:00 – 00:33:19:04
Canário
Mas depois há aquela malta mais nova que adora, que sabe músicos.
00:33:19:15 – 00:33:20:07
Jorge
E começa a perceber.
00:33:20:08 – 00:33:32:06
Canário
Que são treinados e tal, para não dizer outra coisa, porque são formados com aquilo que funciona muito bem. E para mim nunca houve tantos nem tão bons em simultâneo cantadores e cantadeiras como temos.
00:33:32:20 – 00:33:39:14
Jorge
Até esta malta nova e a malta de descola que esta gente sabe, já aprendeu, não há dúvida, aprendeu o mesmo música.
00:33:40:01 – 00:34:06:15
Canário
Para além disso. Mas para além do mais, os meus cantadores e os meus cantadores jovens, parte deles são pessoas formadas e são pessoas muito atentos a tudo o que eu estou a dizer. Já se calhar já comunicámos da mesma maneira noutros meios e essa gente ouve e aprende. É a inteligência que tem, porque o cantador, aquilo, a maior parte das vezes era analfabeto ou cantor analfabeto.
00:34:07:10 – 00:34:08:13
Jorge
Era um energia, um energia.
00:34:08:19 – 00:34:17:04
Canário
Não fico mais do que analfabetos, eram iletrados, isto é, não sabiam ler nem escrever, mas eram muito inteligentes, muito perspicazes e muito atentos.
00:34:17:04 – 00:34:20:05
Jorge
Portanto, eram cultos. Apesar de não saber ler nem escrever.
00:34:20:05 – 00:34:48:01
Canário
Também terá que ter o culto do saber, viver a vida, do estar atento à vida e aquilo que ela mostrou azia. Então quando iam cantar ou pelo ruinoso por serem civis brejeiros, por serem maldosos, maliciosos ou porque cantava fundamento, eram pessoas informadas. Eu ainda cheguei a ouvir alguns cantadores a cantar salinização da cidade Sara, mas não sei que tanto vou abrir testamento.
00:34:48:01 – 00:34:54:01
Canário
Coisas no Antigo Testamento de forma muito engraçada, muito, muito, mas com conhecimento. Não era só.
00:34:54:11 – 00:34:55:28
Jorge
Uma tradição oral no fundo da.
00:34:55:28 – 00:35:16:18
Canário
Tradição oral, transmissão oral, pois de soslaio o Macedo é que era, tal como como dizem hoje, se calhar do canário, como dizem doutos cantadores que a gente nota quando é uma romaria, que a malta se desloca imediatamente como a gente está, porque é que sabem que tem garantido um divertimento ou ouvir uma coisa que não é no seu qualquer cantador a cantar?
00:35:17:01 – 00:35:41:01
Canário
É, modéstia à parte, isso acontece muitas vezes e eu fico muito feliz porque ainda tive a oportunidade de cantar com alguns velhos cantadores que eram velhos, quando eu era muito jovem e hoje são falados, mas também me fico muito agradado quando os mais os estudiosos fazem as suas obsessões e nos nos colocam em patamares iguais ou mais elevados.
00:35:41:03 – 00:36:04:05
Canário
Quanto estudarmos também uma surpresa e uma responsabilidade de sermos exemplo para os outros e é o que eu me sinto neste momento. É um exemplo para muitos jovens e sempre tendo a oportunidade eu digo aos jovens para tentar ir um pouquinho mais além para cantarem, mas para não descurar duas coisas importantes a tradição, mas também o que é o mundo de hoje.
00:36:04:22 – 00:36:18:12
Jorge
Portanto, no fundo, juntar a tradição com com a modernidade, tentar mostrar coisas para tentar perceber o que está a encontrar aqui, uma visão, um novo caminho. Falamos aqui já várias vezes da questão do Brejeiro, do quase dizer tudo.
00:36:20:14 – 00:36:38:10
Jorge
Onde é que está essa pequena fronteira que usa habitualmente? Quim Barreiros também que é de dizer ou dizer o subentendido, mas não dizer tudo e deixar que haja a participação de quem está a ouvir. Para completar a ideia de que estamos a desenvolver bem.
00:36:39:08 – 00:36:46:24
Canário
Falamos de coisas diferentes. O que é o Quim Barreiros, de quem sou bastante amigo e grande admirador? Já o era e hoje em dia há muito mais.
00:36:47:03 – 00:36:55:01
Jorge
Somos amigos e há muito ele diz que que o Augusto é o maior repentista e que outra categoria, a do listed building, muito menos.
00:36:55:12 – 00:37:33:05
Canário
Obviamente, juiz é um criador e um bocadinho de exagero, mas eu agradeço também para mim. Como ele é único e tem mais graça, as versões que ele faz de alguns originais do que alguns originais temas maliciosos. E aí é que está a malícia a utilizar palavras com segundo sentido uma arte que não é para qualquer um. A forma como Cavaco interpreta as frases em si das folias que muitas pessoas utilizam, pois outros vão tentar utilizar e não tem graça para mim porque são, são forçadas, são.
00:37:33:06 – 00:37:33:26
Jorge
Estragam tudo.
00:37:34:02 – 00:38:03:14
Canário
E não tem graça por cada coisa que tem de ser feita na sua vida. O cantor o desafia com segundo sentido. Em termos gerais, uma dica, por exemplo, numa vivência de uma ruralidade que a maior parte dos jovens não viveu. E a ruralidade tem várias nuances, vários apontamentos da vida, desde a feitura dos vinhos. Para eles, primeiro jogo é apertar o p, meter a torneira, tirar o botox.
00:38:03:14 – 00:38:30:11
Canário
Não sei até a mecânica, até o milho, o Limpopo, tudo isso. Espirrar, meter espírito, tirar a espiga por uns pinheiro e desfolhar a espiga são coisas com segundos sentidos. Mas podemos chegar até aos barcos ou pescar ou não pescar. A cana reduz o risco. É o anzol. Há coisas que se podem utilizar com o segundo sentido.
00:38:30:11 – 00:38:31:17
Jorge
Trabalha por analogia.
00:38:31:28 – 00:38:55:26
Canário
Também, mas se dissermos certas coisas que são na realidade que acontecem quando desenvolvemos determinadas atividades, especialmente rurais, nós conseguimos ver grandes laços com grandes segundos sentidos. Mas se subirmos para uma linguagem muito mais moderna, os computadores, a bicicleta no BES, kuduro na rua é um aborrecimento?
00:38:56:00 – 00:38:58:11
Jorge
Não é? Não, não, não consegue ser.
00:38:58:19 – 00:39:02:12
Canário
Se consegue se adaptar à nossa modernidade, portanto, aos nossos tempos.
00:39:03:11 – 00:39:03:15
Jorge
É.
00:39:04:08 – 00:39:17:08
Canário
O segundo sentido. E podemos até falar anteriormente. O avião no avião é grande, movido a terra, na tua pista demora muito cara, porque não sei que mais nós vamos lá atrás sempre que aponta para cima.
00:39:17:16 – 00:39:18:17
Jorge
E já estamos todos a construir.
00:39:18:17 – 00:39:49:02
Canário
Nós estamos todos a construir. Aliás, é aí que está a graça. Está o, digamos. O cerne da questão está o segredo. Quando nós começamos com palavrões, com linguagem rasgada ou usar o palavrão ou calão, qualquer pessoa sabe utiliza la, sabe o que quer dizer e aquilo ali, quando se rasga o filme, é uma frase popular. A coisa deixa o total de atenção espalhar a gente que gosta.
00:39:49:13 – 00:39:50:02
Jorge
Do lugar no.
00:39:50:15 – 00:39:54:02
Canário
Lugar é grosseiro. Há muita gente que gosta disso mesmo.
00:39:54:10 – 00:40:06:05
Jorge
Mas o facto é assim que eu ouço cantar, usando analogias e dizendo me metade de tudo que eu sou entender. E para mim é mais divertido porque sei que eu consigo participar deste processo.
00:40:06:05 – 00:40:13:12
Canário
Mas metáforas são um som. Estamos a utilizar uma linguagem com o segundo sentido, que toda a gente sabe que quer dizer. Mas eu não disse o.
00:40:13:12 – 00:40:17:06
Jorge
Piscar de olho. Exatamente eu. Eu sei que estás a dizer isto, não.
00:40:17:08 – 00:40:38:03
Canário
Cada um que entenda como quiser. Agora, depois de ter essa capacidade, nem os conhecimentos que a gente sabe o que é então cidade, por exemplo, sabe lá o quê a meter a torneira no pipo, apertar os arcos ou um para um paralelo ou um para o jogo e outros aqueles que nunca viu que não cabiam, eu que não cabiam fazer vinho.
00:40:38:04 – 00:40:38:22
Jorge
E terminado.
00:40:39:20 – 00:41:02:28
Canário
Ou pegar nos caixas nos bairros. Mateus, verdade dizer que não sabe quem vive no céu e no mundo rural. Isso é uma coisa que é trivial. Ou pelo menos foi. Tem outro sentido. E é, portanto, essa capacidade de brincar com as palavras. Mas posso utilizar outras coisas. Um dia, uma das tais como Palmeiras, num programa de televisão, disse me que eu disse que estou em cansado que estiver a fazer a limpeza.
00:41:03:20 – 00:41:27:06
Canário
É obviamente que ela diz mal que eu tenho uma vassoura partido. Sobre a partida, eu não sou de estar encolhida, mas determinadas limpezas têm de ser com vassouras extensíveis que é para chegar mais alto e aceite que nem todas serão. Então a gente aqui voltou ao assunto. Estamos a falar de coisas marota, brejeira, mas com coisas do dia a dia de esfregona.
00:41:28:11 – 00:41:33:03
Jorge
Com uma elevação. No fundo, é uma graça e mantendo essa tensão com quem está do outro lado.
00:41:33:04 – 00:41:53:24
Canário
É horrível e não somos grosseiros, não somos. E se eu disser a uma mulher eu vou ter a minha vassoura no teu Valdemar no centenário, eu vou meter a minha esfregona e vou para o tal. Além disso, para uma esfregona. E este segundo sentido, esta esta e a sua utilização, são coisas concretas que a gente sabe que é.
00:41:54:09 – 00:41:55:25
Canário
Não, não. Com este segundo sentido.
00:41:55:28 – 00:41:56:13
Jorge
Deixamos os.
00:41:56:13 – 00:42:18:20
Canário
Reis, somos um sorriso. Deixa nos bem dispostos a apreciar, obviamente. E não que não faz de nós uns dos pais. Não estou a dizer que sou melhor nem pior, mas pelo menos procuremos ter cuidado os tais utilizadores. Uma linguagem, um vernáculo, um. E quando há pessoas que gostam muito do padrão, eu também sei utilizar, obviamente.
00:42:19:02 – 00:42:20:06
Jorge
Mas não tenho graça.
00:42:20:06 – 00:42:35:23
Canário
É uma coisa. E presumimos, não estamos aqui nesta mesma dúzia de amigos, ou podemos homens ou mulheres. Não estou aqui discriminar, obviamente ninguém, mas sabemos que estamos à vontade, podemos e até certo ponto. Mas quando se juntam outras pessoas que não conhecemos ou quando estamos em cima de um palco.
00:42:36:01 – 00:42:37:00
Jorge
Numa relação com o público.
00:42:37:00 – 00:42:58:09
Canário
E hoje é hoje e antigamente era no terreiro para os seus avós. O nosso povo gerou nos pontos, pois quando subimos ao palco, muitas vezes com muitos milhares de pessoas, ou quando fazemos uma coisa no meio de comunicação social, o que quer que seja, nós temos que ter bastante cuidado na por aquilo que que num momento possamos dizer nós possamos ofender alguém.
00:42:58:20 – 00:43:10:29
Jorge
E o impacto dele é que em relação com o público, o facto de estar a tocar ou cantar para um público que é responsivo e que que dá bons sinais, muda alguma coisa nesse mundo.
00:43:11:00 – 00:43:36:18
Canário
Muda, muda se. Estamos a fazer um espetáculo, seja de que tipo for, e temos um palco. Temos três tipos de público. Temos um público distraído, amorfo, que não tem graça nenhuma. Acha? Não. Felizmente não é. Encontramos, podemos ter um público. Está a consumir literalmente todos os movimentos, todos os frases, todas as frases musicais e é um público interessante para nós, para o nosso tipo de música.
00:43:36:18 – 00:44:03:08
Canário
Não é o melhor público, é aquele que reage e interage connosco. Então eu digo muitas vezes nós procuramos, nós estamos em casinos, tocámos em espaços e auditórios, em coisas e espaços importantes e quando à parte da desgarrada, com toda a luminotécnico, os pontos plateias escurecidas, quando chegarmos lá perto desgarradas, senão termos essa situação, eu penso, por favor, e sendo um parte da plateia que eu quero ver as.
00:44:03:08 – 00:44:04:03
Jorge
Pessoas, quero vê los.
00:44:04:18 – 00:44:12:13
Canário
O olho, o olhar das pessoas despertamos, as sensações que despertamos e as emoções das pessoas é fundamental.
00:44:12:21 – 00:44:14:02
Jorge
E ajusta o ritmo àquilo.
00:44:14:02 – 00:44:26:22
Canário
Que ajustamos o ritmo, porque muitas vezes o palavreado é muitas vezes a forma, as palavras que dizemos, porque muitas vezes estamos com uma plateia. Quando experimenta dizemos uma palavrinha mais forte.
00:44:26:22 – 00:44:27:14
Jorge
Vira até um teclado.
00:44:28:03 – 00:44:48:18
Canário
E nós vemos pela avaliação e sem ações, sem passar o risco vermelho. Nós podemos criar alguma empatia com as pessoas, mas também se cantarmos uma coisa mais séria, mais, digamos que pessoas a refletir também. Isso também é importante. E então eu gosto de ver as pessoas.
00:44:48:28 – 00:44:50:03
Jorge
E é quase um muro.
00:44:50:17 – 00:45:05:12
Canário
O caso do muro. Uma eu não direi bem namoro, mas uma ou falta do termo interação. Tem que haver um chamado amor puro barato.
00:45:05:14 – 00:45:10:19
Jorge
E esse é um momento em que em que, Augusto Canale se sente o povo no meio do seu povo.
00:45:11:03 – 00:45:36:04
Canário
Eu digo muitas vezes é a minha própria, a minha forma de estar é uma forma de estar na toral, tanto quanto são as outras pessoas. Eu não sou nem mais nem menos qualquer pessoa de qualquer plateia, como qualquer comissão de festas, não se de qualquer show, se tiver de comer com o pessoal. Eu, como todo o pessoal, se tiver um tópico na altura, eu como autor, vou ao estrangeiro no mês que ando.
00:45:36:04 – 00:45:59:18
Canário
Gosto estar com as pessoas, porque eu não sou nada diferente de não ter aquela áurea de muitos artistas que se escondem e muita gente diz claramente isso. Percebe se bem que é uma pessoa do ser, uma pessoa, por isso eu não faço isso com três para para angariar para mim proventos prudentes no sentido de não simpatias. Eu faço isso porque eu sou assim, ponto.
00:46:00:00 – 00:46:17:23
Canário
E portanto, quando vou cantar é igual. Nós muitas vezes cantamos. Vamos imaginar uma festa académica ou num evento que tem milhares de pessoas que fazemos, são os festivais. Então, quando a gente salta para o meio do público, que está reservada para o momento e quem não conhece tem seguranças? Não. Os seguranças.
00:46:17:23 – 00:46:19:00
Jorge
Estão cheios de membros seus fãs.
00:46:19:28 – 00:46:24:06
Canário
E agradecem porque é uma referência. Mas quando não.
00:46:24:06 – 00:46:24:21
Jorge
Faz falta.
00:46:25:17 – 00:46:45:06
Canário
Não faz falta porque nós sabemos fazer respeitar. E nós, se alguém anda e tenta tocar a mistura, pretende tirar fotografias ou canta logo ali uma cantiga que entre as fotografias, não seguem simplesmente para lá. Mais um bocadinho. E vamos tirar o feio, por exemplo. E os homens na.
00:46:45:06 – 00:46:46:18
Jorge
Hora mudam logo na.
00:46:47:05 – 00:46:57:17
Canário
Minha nova dinâmica. E, portanto, isso é prova a evidência que está o que estamos a fazer. O improviso faz parte do divertimento, a interação e os resultados fantásticos.
00:46:57:22 – 00:47:00:06
Jorge
Tem alguma palavra preferida?
00:47:01:03 – 00:47:33:09
Canário
Não, e não posso dizer que tenham quadra preferida. Mas há. Mas há momentos que eu me lembro que são inesquecíveis pela importância que tiveram por exemplo, um dia o meu amigo Miranda trouxe uma quadra, se encantou assim e estamos a falar de 1985, 85. E cantou assim tem escala, logo dolor. Mas tens os ouvidos duros a vir a minha horta.
00:47:33:09 – 00:48:01:22
Canário
Esse eu tenho os tomates maduros. É um som de sentido. E eu respondo Ele mostra lá os teus tomates na minha zona. Mas não é nada que juntas o meu pipi me faz uma salada. Isso é uma resposta de mestre na desgarrada. A seguir, o matreiro meu amigo Miranda utilizou o quadro de on line. E outra coisa que eu nunca faço normalmente é muito difícil, muito, muito, muito difícil.
00:48:01:22 – 00:48:10:03
Canário
Tenho que estar muito cansado ou não ter mais nenhum recurso que ela disse eu. Utilizar uma quadra feita por outra pessoa é muito raro.
00:48:10:14 – 00:48:11:23
Jorge
E posso entrar aqui um bocadinho.
00:48:12:03 – 00:48:40:13
Canário
É muito bom responder abrindo falta. Falta o cereja no topo do bolo. Paulo Miranda respondeu A quadra foi qual era a primeira tinha sido para quem ensinou e utilizou as nas duas quadras. Quer fazer uma salada? O meu amigo companheiro não vai faltar nada que eu tenho aqui um letreiro perto, ele bem apertadinho e vais ver como é que se abre de um lado, sai para o outro, sai pro vinagre.
00:48:41:00 – 00:48:55:21
Canário
Eu esqueci porque é uma resposta. Foram duas respostas do mestre e qualquer cantador teria orgulho em ter respondido, saber responder desta maneira. É mais sem asneira, sem um palavrão puro, seguindo se.
00:48:56:01 – 00:48:58:16
Jorge
Quem chega e chega, quem não chega, não chegou e vamos.
00:48:58:16 – 00:48:59:06
Canário
Andar no tempo.
00:48:59:09 – 00:49:16:01
Jorge
Posso entrar dentro do cérebro do canário. Há uma parte do cérebro que está a cuidar da música no momento em que está a cantar. E outra parte que tem uma espécie de, enfim, grande dicionário de palavras onde elas estão a ajustar se para fazer esse improviso. Como é que funciona esse processo mentalmente?
00:49:16:11 – 00:49:47:21
Canário
Porque é que eu tenho dificuldade em improvisar, por exemplo, à moda do Alentejo? Porque a estrutura do Brasil, o Brasil no Ceará, só no Ceará é muito caro. Na zona dos gaúchos, eles têm mais de umas dezenas muito largas de fórmulas de improviso com décimas. O nosso é muito simples assim, mas com versos únicos como eles com duas sílabas, a própria rima, a estrutura da rima tentando é complicada.
00:49:47:21 – 00:50:19:24
Canário
As velhas dos Açores, por exemplo, uma terceira são décimas. Já é uma complicação para dizer uma coisa com jeito congresso e canto de improviso, porque escrever não custa nada. Mas a música para nós é uma coisa natural, digamos assim. Tanto nós só podemos cantar sobre a base musical. Pensemos daí esta riqueza em Portugal conforme a regência e os instrumentos de diversão onde é que está depois a nossa capacidade e é o valor?
00:50:20:00 – 00:50:45:25
Canário
Está em sabermos naquela ilha e no contexto da forma como se canta em cada região, chegarmos lá. Nós aqui cantamos sextilhas, sextilhas. A gente pode dizer mais o que se diz numa quadra ou não, ou não numa sextilhas. Nós podemos. Temos seis frases numa quadra, temos duas numa quadra cantada à moda dos Açores. A rima tem de ser obrigatoriamente cruzada.
00:50:46:15 – 00:50:51:18
Canário
Primeiro, o terceiro, quarto, o segundo quarto, porque se o não fizer, o público percebe.
00:50:52:14 – 00:50:54:18
Jorge
Porque não é isso que está à espera.
00:50:54:18 – 00:51:16:21
Canário
O público está exigente, sabe o que os meus cantadores cantam, se todos cantam se. O preço é um domingo contra todos os açorianos, mas não faz abrir os olhos quem não sabe cantar, ok. A forma depois de o conteúdo é utilizar uma quadra, dizer, desenvolver uma ideia, seja de resposta, seja de ataque a outro cantador ou cantadeira é uma confusão.
00:51:16:21 – 00:51:33:02
Canário
E nos Açores há uma forma de cantar que não me agrada muito, no sentido de não haver muita atenção, que é o que dois, quatro, seis cantadores quando são só dois com resposta imediata, quando são quatro. Já é uma quadra que responde ao segundo.
00:51:33:02 – 00:51:36:18
Jorge
Primeiro perde se essa, essa vai terminando. Ao longo do tempo, a.
00:51:36:19 – 00:52:03:21
Canário
Tensão perde sua atenção e quando podemos deixar para responder a um, deixava construir outro. Coisas bonitas e um bar onde havia algo engraçado. É por isso que eu defendo que o dos dois é o ideal, embora haja os nosso trabalho, temos 03h04. E o que é que eu, como e como é que nós valorizamos a coisa? Pronto, é que sou o canário, é o próprio tomo essa prerrogativa.
00:52:03:24 – 00:52:25:22
Canário
É um bocado a possibilidade de fazer isso. Mas em era verdade, não é muito correto, digamos assim. Temos que é desde o cantar, pois o outro é o outro e por outro não somos um de cada vez. Chegámos a ser um trio respondendo à advertência Isto é, eu canto três vezes, mas.
00:52:26:19 – 00:52:29:07
Jorge
Bom, mas isso é prerrogativa do mestre, não é um.
00:52:29:08 – 00:52:40:06
Canário
Prerrogativa do mestre, do artista, entre aspas, do canário, mas na verdade, acaba por ser mais dinâmico e mais dinâmico. Mantém se a atenção com ao mesmo tempo. Estamos a cantar três desgarradas.
00:52:40:18 – 00:52:44:29
Jorge
Não é ver. Vamos lá ver. Sabe que o canário se aguenta? Será que o conselho, segundo ele, tem essa graça.
00:52:45:10 – 00:53:18:03
Canário
E essa graça? E essa, digamos assim, esse espaço? Mas mas não é muito, não é uma forma muito usual, digamos assim. É uma forma muito boa. Não que cantoras de cabo Verde não tenham essa capacidade, mas principalmente, como é muito usual, é um cantar contra o outro e eventualmente, no início de uma cantoria, faz se a saudação no fim, na despedida e depois o tema ou o ideal são dois cantadores, duas pessoas, ou seja, um homem com um homem ou mulher, um homem, uma mulher com elementos ou não.
00:53:18:03 – 00:53:26:07
Canário
Tenho conhecimentos na nossa zona e nos outros de uma mulher a cantar com outra mulher. Já se fez uma outra experiência, mas não, não colhe muito.
00:53:26:09 – 00:53:26:23
Jorge
Não há essa.
00:53:26:23 – 00:53:28:07
Canário
Tensão, não é só ofensa, não colhe.
00:53:29:12 – 00:53:30:26
Jorge
Ainda bem essa vontade ainda.
00:53:30:26 – 00:53:32:25
Canário
Vocês vão dar o impulso que.
00:53:32:25 – 00:53:32:29
Jorge
Se.
00:53:33:10 – 00:54:01:27
Canário
Chamaram chamaria Feiras Novas, abarcaria. E aos Arcos é mais difícil, porque fica um bocadinho no mês de agosto que a gente tem que trabalhar com muitos. Graças a Deus agora, ou seja, o d’Arga, mesmo que seja uma ou 02h00 para aquilo lá é sempre por dois motivos muito importantes primeiro, sobre boxe, jogar mesmo é uma. É uma produção de coisas que eu já tenho.
00:54:01:27 – 00:54:24:29
Canário
Não sou propriamente o maior. O exemplo acabado do que estão por aqui. Não sou, mas sou o show, tenho a sua crença e a sua fé. E, por outro lado, porque também sou devoto, isso sim, na romaria. Então é vir o dia 28 para 29 de agosto e não dar um salto no ar. Parece que não é bem a mesma que se sente.
00:54:25:22 – 00:54:49:20
Canário
O senhor disse uma coisa incrível que é como é que no meio de um monte, uma pequena capela, um pequeno santuário fechado com os céus corporation que foi construído por homens, como é hoje? Temos estradas razoáveis, razoáveis pelos ordenamentos de trânsito, que obrigam a anda abobado entre aparecer para o outro pela defesa, uma série de coisas, nomeadamente a segurança.
00:54:50:04 – 00:55:22:11
Canário
Como é que uma comunidade ou de determinado lugar, construiu ali aquele edifício de homenagem a um santo popular, que é o de, ou seja, um lugar e neste caso anda porque é da Serra São João. E como é que vai ali tanta gente? Não é porque agora vai, porque a gente já. Mas no tempo em que tinham que ir até às sete serras e que com os jornais às costas, com as concertinas às costas para os menopause e tudo.
00:55:22:11 – 00:55:22:17
Jorge
Aquilo.
00:55:23:14 – 00:55:41:06
Canário
Porque como é que eu sou chegam lá. É uma força tremenda no campo do avanço, tendo, pois, um caminho para o fazer. De regresso a casa. Hoje não custa nada, porque as pessoas têm, podem ir a pé para além do carro e chegam lá. Tem coisas para se deitarem. Hoje umas tendas montam umas tendas de dia para o outro.
00:55:41:16 – 00:56:03:22
Canário
Antigamente não ter ornamento e era eu acho o Santos um cavalo, uma energia. Não sei explicar com algo que ali, noutros sítios como aquele, não é só São João da área, mas neste caso é o nosso. Estamos aqui perto, na Peneda, por exemplo, igual e noutros lugares de peregrinação, digamos assim.
00:56:04:04 – 00:56:06:12
Jorge
Que o Canário muito obrigado.
00:56:06:12 – 00:56:07:01
Canário
Eu é que agradeço.