Hoje viajamos pela arte de comunicar ciรชncia.
Os cientistas passam os dias metidos em laboratรณrios ou algures a observar o mundo.
Pensam, inventam hipรณteses, fazem experiรชncias.
E no momento Eureka!, hรก que pensar em como se conta a descoberta ao povo.
ร esse o momento chave na comunicaรงรฃo cientifica.
E lato senso, tem uma grande ciรชncia por detrรกs.
O mundo infinitamente grande ou infinitamente pequeno merece sempre uma boa explicaรงรฃo.
Os cientistas vagueiam no limiar entre o conhecimento, sempre limitados, e a ignorรขncia infinita.
Movidos por uma curiosidade sem fim, dedicam-se a fazer perguntas sem parar.
Procuram respostas. Usam o mรฉtodo cientรญfico para tentar uma e outra vez confirmar ou infirmar a hipรณtese uma e outra vez reformulada.
ร um caminho onde os fracassos sรฃo permanentes e as grandes descobertas raras.
A ciรชncia avanรงa em pequenos passos.
E cada vez mais รฉ mais complexa, mais abstrata, mais profunda.
O que a torna mais inacessรญvel para quem nรฃo compreende o simples quanto mais o complexo.
Mas a ciรชncia precisa de ser explicada. Precisa de ser entendida.
Seja por analogia, seja por simplificaรงรฃo, hรก que encontrar um caminho, uma narrativa, um vislumbre.
ร o que faz diariamente Ana Sanchez, uma cientista apaixonada pela arte da comunicaรงรฃo.
Cabe-lhe hoje o papel de tradutora simultรขnea entre as minhas perguntas e os segredos dos cientistas.
Temas e Capรญtulos (timestamps)
O que motiva os cientistas a escolherem um problema para estudar? (00:04:31)
Ana Sanchez fala sobre a forรงa motriz que leva cada cientista a escolher um problema para estudar, mencionando a sua prรณpria motivaรงรฃo em imaginar o que estรก a acontecer dentro de uma planta.
A importรขncia da comunicaรงรฃo de ciรชncia para tornรก-la acessรญvel ao pรบblico (00:01:11)
O apresentador destaca a importรขncia da comunicaรงรฃo de ciรชncia para tornรก-la acessรญvel ao pรบblico, enquanto Ana Sanchez fala sobre a necessidade de encontrar uma narrativa para explicar a ciรชncia.
O trabalho de Ana Sanchez no Instituto de Tecnologia Quรญmica e Biolรณgica (ITQB) (00:02:38)
Ana Sanchez fala sobre o seu trabalho no ITQB, onde acompanha o trabalho dos cientistas e participa de encontros para saber o que estรฃo a fazer.
Ciรชncia fundamental e aplicada (00:05:35)
Discussรฃo sobre a distinรงรฃo entre ciรชncia fundamental e aplicada, e como muitas vezes essas fronteiras nรฃo sรฃo tรฃo diferentes.
Importรขncia da ciรชncia fundamental para a tecnologia (00:07:15)
Explicaรงรฃo sobre como o conhecimento dito fundamental รฉ importante para o desenvolvimento de tecnologias, como nas vacinas para a COVID-19.
Sorte na ciรชncia (00:10:00)
Discussรฃo sobre a importรขncia da sorte na ciรชncia e como ela pode ter influenciado o desenvolvimento das vacinas para a COVID-19.
Comunicaรงรฃo de ciรชncia (00:10:45)
Ana Sanchez fala sobre a importรขncia da comunicaรงรฃo de ciรชncia e como a incerteza รฉ um aspecto importante a ser considerado.
Contradiรงรตes na ciรชncia (00:12:24)
Ana Sanchez discute a ideia de que os cientistas se contradizem e explica que isso pode acontecer em รกreas de fronteira do conhecimento.
Equilรญbrio na comunicaรงรฃo cientรญfica (00:15:21)
O apresentador e Ana Sanchez discutem o equilรญbrio complicado entre dar respostas claras e imediatas e reconhecer a incerteza na comunicaรงรฃo de ciรชncia, especialmente durante a pandemia.
Importรขncia da incerteza (00:15:55)
Ana Sanchez discute a importรขncia de reconhecer a incerteza na comunicaรงรฃo de ciรชncia e como isso pode afetar a credibilidade da ciรชncia.
A ciรชncia como ferramenta (00:19:11)
Ana Sanchez explica que a ciรชncia รฉ uma ferramenta para entender o mundo e propor teorias, mas que outras consideraรงรตes podem ser necessรกrias para tomar decisรตes.
Comunicaรงรฃo cientรญfica (00:21:21)
O apresentador discute como os cientistas comunicam e menciona a importรขncia de reconhecer quando as informaรงรตes mudam.
Transiรงรฃo para a comunicaรงรฃo de ciรชncia (00:21:26)
Ana Sanchez fala sobre sua mudanรงa da pesquisa em biologia para a comunicaรงรฃo de ciรชncia e a importรขncia da comunicaรงรฃo cientรญfica.
Formas de comunicaรงรฃo cientรญfica (00:22:07)
Ana Sanchez discute as diferentes maneiras pelas quais os cientistas podem comunicar, incluindo escrever, falar, fazer experiรชncias com crianรงas e desenhar.
A importรขncia do diรกlogo na comunicaรงรฃo de ciรชncia (00:25:31)
Ana Sanchez enfatiza a importรขncia de tornar a comunicaรงรฃo cientรญfica um diรกlogo e nรฃo uma palestra, ouvindo as dรบvidas e perguntas do pรบblico.
Comunicaรงรฃo de ciรชncia (00:26:08)
Ana Sanchez fala sobre a importรขncia de ouvir e entender as dรบvidas das pessoas, mesmo que nรฃo sejam cientรญficas, para uma comunicaรงรฃo efetiva de ciรชncia.
Desafios da comunicaรงรฃo de ciรชncia (00:27:41)
Ana Sanchez discute os desafios de comunicar ciรชncia para diferentes pรบblicos, considerando suas percepรงรตes, emoรงรตes e base de conhecimento.
Curiosidade infantil (00:29:45)
Ana Sanchez e o apresentador discutem a curiosidade infantil e como os cientistas mantรชm essa curiosidade para fazer perguntas e explicar o seu trabalho para diferentes pรบblicos.
Importรขncia da comunicaรงรฃo de ciรชncia (00:31:09)
Ana Sanchez fala sobre a importรขncia da comunicaรงรฃo de ciรชncia para tornar a ciรชncia acessรญvel ao pรบblico em geral e como os cientistas podem aprender a ver os seus problemas de pesquisa de diferentes รขngulos.
A pandemia como laboratรณrio para a comunicaรงรฃo de ciรชncia (00:32:55)
Ana Sanchez discute como a pandemia foi um bom laboratรณrio para os cientistas perceberem que a comunicaรงรฃo de ciรชncia nรฃo รฉ apenas uma questรฃo de dar os fatos, mas tambรฉm de considerar o contexto social e as percepรงรตes das pessoas.
A relaรงรฃo entre cientistas e jornalistas (00:35:03)
Ana Sanchez fala sobre a tensรฃo entre cientistas e jornalistas na comunicaรงรฃo de ciรชncia, e como a diminuiรงรฃo do nรบmero de jornalistas especializados em ciรชncia pode afetar a qualidade da cobertura cientรญfica nos โmediaโ.
O desafio da comunicaรงรฃo entre cientistas e jornalistas (00:36:05)
Ana Sanchez fala sobre a tensรฃo entre cientistas e jornalistas, os diferentes ritmos de trabalho e a importรขncia da aprendizagem mรบtua.
A importรขncia de escolher a fonte certa (00:37:33)
Ana explica como escolhe a fonte certa para uma histรณria e como treina os cientistas para se comunicarem melhor com os jornalistas.
Conversando com jornalistas para desmistificar a interaรงรฃo (00:39:57)
Ana fala sobre a importรขncia de conversar com jornalistas antes de uma entrevista e como isso pode ajudar a desmistificar a interaรงรฃo entre cientistas e jornalistas.
Projeto de residรชncias de jornalistas em instituiรงรตes cientรญficas (00:40:37)
Ana Sanchez fala sobre um projeto europeu que envolve a criaรงรฃo de residรชncias de jornalistas em instituiรงรตes cientรญficas em toda a Europa.
Importรขncia da comunicaรงรฃo de ciรชncia (00:43:30)
Ana Sanchez discute a importรขncia da comunicaรงรฃo de ciรชncia para tornar a ciรชncia acessรญvel ao pรบblico em geral.
Inteligรชncia artificial (00:45:12)
O apresentador pergunta a Ana Sanchez sobre sua opiniรฃo em relaรงรฃo ร inteligรชncia artificial e se ela estรก animada ou preocupada com essa tecnologia.
Desafio das fake news (00:46:49)
Ana Sanchez discute a possibilidade de a desinformaรงรฃo e a mรก informaรงรฃo aumentarem, tornando-se um problema cada vez mais difรญcil de controlar.
Curadores da informaรงรฃo (00:47:45)
Ana Sanchez sugere que boas instituiรงรตes cientรญficas e รณrgรฃos de comunicaรงรฃo social podem ser os curadores da informaรงรฃo, selecionando e dando garantia de que a informaรงรฃo รฉ verdadeira.
A importรขncia da comunicaรงรฃo de ciรชncia (00:49:08)
O apresentador destaca a importรขncia da comunicaรงรฃo de ciรชncia para combater mitos e reforรงar a confianรงa no mรฉtodo cientรญfico.
LER A TRANSCRIรรO DO EPISรDIOTRANSCRIรรO AUTOMรTICA
Jorge (00:00:12) – Ora, vivรฃo! Bem-vindos ao Pergunta Simples, o vosso podcast sobre comunicaรงรฃo. Hoje viajamos pela arte de comunicar ciรชncia. Os cientistas passam os dias metidos em laboratรณrios ou algures a observar o mundo. Pensam, inventam hipรณteses, fazem experiรชncias e no momento eureca hรก que pensar em como se conta a descoberta ao povo, como se conta a histรณria.
Jorge (00:00:34) – E esse รฉ o momento chave da comunicaรงรฃo cientรญfica. E lรก do senso tem uma grande ciรชncia por detrรกs. Jรก voltamos a falar de ciรชncia, mas para jรก no universo das percepรงรตes. Tem gostado dos รบltimos episรณdios? Tem partilhado com os vossos amigos?
Jorge (00:00:48) – Era uma grande ideia. Eu agradeรงo. Se nรฃo subscreveram ainda o podcast, podem fazรช-lo nas aplicaรงรตes do costume no vosso telemรณvel Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts. O Pergunta Simples estรก em todas estas aplicaรงรตes e tambรฉm, claro, na RTP Play. Podem subscrever, รฉ uma maneira fรกcil de conseguir ir acompanhando os novos episรณdios semanais do Pergunta Simples.
Jorge (00:01:11) – E agora, vamos ao programa. Vamos falar de comunicaรงรฃo de ciรชncia. De ciรชncia. O mundo infinitamente grande ou infinitamente pequeno merece sempre uma Boa explicaรงรฃo. Os cientistas vagueiam no limiar entre o conhecimento, sempre limitado, e a ignorรขncia infinita, o que รฉ um grande motor.
Jorge (00:01:38) – Movidos por uma curiosidade infinita, dedicam-se a fazer perguntas sem parar. Procuram respostas. Usam um mรฉtodo cientรญfico para tentar, uma e outra vez, confirmar ou infirmar a hipรณtese, a hipรณtese que foi uma e outra vez reformulada. ร um caminho onde os fracassos sรฃo permanentes e as grandes descobertas raras. A ciรชncia avanรงa em pequenos passos e cada vez รฉ mais complexa, mais abstrata e mais profunda.
Jorge (00:02:05) – O que a torna mais inacessรญvel para quem nรฃo compreende o mais simples, quanto mais o mais complexo e abstrato. Mas a ciรชncia precisa de ser explicada, precisa de ser entendida. Seja por analogia, seja por simplificaรงรฃo, hรก que encontrar um caminho, uma narrativa, um vigilumbre. ร o que faz todos os dias a Ana Senches Zuma, cientista apaixonada pela arte da comunicaรงรฃo. Cabe-lhe hoje o papel de tradutora simultรขnea entre as minhas perguntas e os segredos dos cientistas.
Ana Sanchez (00:02:38) – Cientista d’alma neste momento, nรฃo faรงo jรก a investigaรงรฃo na รกrea da biologia, que foi a รกrea em que me formei.
Jorge (00:02:44) – E tens saudades?
Ana Sanchez (00:02:45) – Tenho saudades, mas eu gosto de pensar que a parte da passagem para a comunicaรงรฃo me permitiu aumentar muito o leque dos sistemas cientรญficos a que eu podia ter acesso e, portanto, de certa maneira, acho que ganhei. Eu tenho uma curiosidade muito grande e gosto muito de aprender coisas novas e isto de poder estar no lado da comunicaรงรฃo, a ter que aprender coisas para depois pensar como comunicรก-las รฉ tรฃo ou mais divertido do que fazer ciรชncia.
Jorge (00:03:06) – Estรกs aqui no Instituto, no ITQB, o que significa que vais estilhando por aqui, vais espreitando ali nos laboratรณrios, vais perguntando o que รฉ que estรฃo a fazer aqui.
Ana Sanchez (00:03:15) – Sim, e nรณs temos uma sรฉrie de encontros tambรฉm ao longo das semanas em que os investigadores da casa vรฃo contando o que รฉ que estรฃo a fazer, como รฉ que estรฃo a correr o seu trabalho e portanto, de alguma forma, vou acompanhando o que eles estรฃo a fazer. Eu neste momento jรก nรฃo estou a coordenar o gabinete de comunicaรงรฃo do ITKB, coisa que fiz durante muitos anos, mas continuo a acompanhar, de certa forma, o trabalho do dia a dia e a gostar de ver a alegria que as pessoas tรชm quando encontram coisas novas ou ร s vezes as frustraรงรตes do trabalho do cientista, que tambรฉm acontecem, รฉ um sentido muito bom para trabalhar.
Jorge (00:03:50) – O que รฉ que frustra o cientista?
Ana Sanchez (00:03:53) – รs vezes o tempo que as coisas demoram, ร s vezes os resultados que nรฃo sรฃo como os esperados, ร s vezes o chegar em abico sem saรญda, ร s vezes coisas mais prosaicas, como o financiamento que nรฃo se obteve ou o artigo que nรฃo foi aceito ร primeira, que tem muito a ver tambรฉm com o trabalho e com o destaque que depois รฉ dado ao trabalho dos cientistas. Mas, e depois ร s vezes tambรฉm frustra os cientistas ou frustra todas as outras pessoas, um dia que corre mal de manhรฃ, os filhos que fizeram birra antes de ir para a escola, portanto tudo isso tambรฉm faz parte da vida de um cientista.
Jorge (00:04:31) – Quando um cientista olha para um problema, tu รฉs cientista obviamente, tu olhas hรก mil problemas, o que รฉ que te leva a escolher o problema A e a nรฃo escolher o problema B? Qual รฉ essa forรงa motriz?
Ana Sanchez (00:04:49) – Olha, eu acho que se calhar cada cientista tem a sua forรงa motriz. Nรฃo quero aqui estar a falar em nome de todos os cientistas, porque apesar de tudo somos um grupo diverso. A mim, o que me motiva sรฃo Quando comeรงo a olhar para alguma รกrea e eu fiz investigaรงรฃo na รกrea de plantas, para mim fascinava-me olhar para uma planta e tentar imaginar uma coisa que parece ali parada no campo e que nรฃo estรก a fazer nada, tudo o que estรก a acontecer lรก dentro e que nรณs nรฃo vemos e que รฉ sinal de vida e de funcionamento, de energia, de tudo, a mim fascinava-me imaginar o que รฉ que estรก a acontecer para alรฉm daquilo do que รฉ visรญvel. E, portanto, essa era uma das coisas que me fazia questionar e perguntar e querer saber mais e descobrir mais como รฉ que funcionava. E
Jorge (00:05:35) – eu posso dividir os cientistas em dois tipos. O cientista que, interrogado perante a planta e saber o que รฉ que se passa lรก dentro, nos procura dar uma resposta que nos dava um jeito. Ah, se por exemplo, como รฉ que ela se reproduz mais de peรงa, como รฉ que nรณs alimentamos mais pessoas ou aquele cientista que diz, nรฃo senhor, eu quero saber a nanocoisa do mecanismo de base que vai ser absolutamente revolucionรกrio, mas que nenhum de nรณs, pobres leigos, percebe do que รฉ que ele estรก a falar.
Ana Sanchez (00:06:06) – รs vezes รฉ assim. ร engraรงado porque no fundo o que tu estรกs a falar รฉ a distinรงรฃo que nรณs costumamos fazer entre o que nรณs chamamos a ciรชncia mais fundamental, a ciรชncia bรกsica e aquilo que รฉ a ciรชncia mais aplicada. A verdade รฉ que a maioria das pessoas que estรก a fazer investigaรงรฃo acaba por defender que as fronteiras nรฃo sรฃo assim tรฃo diferentes e que mesmo alguรฉm que estรก a tentar pensar como รฉ que eu agora resolvo um problema muito prรกtico e como รฉ que eu consigo, e tem tambรฉm questรตes mais fundamentais que o mรณvel. Mas รฉ verdade que hรก temas que sรฃo depois mais complicados de explicar, na nano coisa, em que o cientista estรก interessado. E hรก alguรฉm que estรก interessado em descobrir mesmo como รฉ que funciona, quase como querer desmanchar um aparelho e tentar descobrir como รฉ que aquilo funciona e o que รฉ que aquilo pode querer dizer sobre o mundo vivo, neste caso que nรณs estamos a discutir.
Ana Sanchez (00:06:57) – O que eu tambรฉm gosto de pensar รฉ que Isso pode ser igualmente fascinante de explicar, porque provavelmente รฉ algo que hรก muito tempo alguรฉm estรก a tentar perceber ou hรก alguma pergunta que ainda nunca ninguรฉm pensou. E por outro lado, muitas vezes as aplicaรงรตes aparecem de coisas que ninguรฉm estava ร espera.
Jorge (00:07:15) – E aparecem depois?
Ana Sanchez (00:07:16) – E aparecem depois. Uma das coisas que nรณs ร s vezes nos esquecemos, e agora voltando aqui ร distinรงรฃo entre ciรชncia fundamental e ciรชncia aplicada, por exemplo, as vacinas que nรณs tivemos para o Covid. Claro que as vacinas que apareceram com o Covid apareceram porque muitos cientistas se dedicaram de uma forma, com um objetivo muito concreto de desenvolver uma vacina para um vรญrus que estava a acelar todo o planeta e, claro, que houve uma decisรฃo polรญtica fortรญssima e um grande investimento para que isso acontecesse e as vacinas surgiram. Mas isso nรฃo teria acontecido se nรฃo houvesse uma quantidade de conhecimento dito fundamental. Estas nanocoisas que se calhar ninguรฉm ligava e que teriam sido muito complicadas de explicar para que รฉ que serviam ou ร s vezes sequer de imaginar para que รฉ que serviam.
Ana Sanchez (00:07:57) – Mas esse trabalho desses cientistas e a curiosidade desses cientistas foi importante para que depois essas vacinas tivessem aparecido. Por isso eu nรฃo gosto muito quando nรณs comeรงamos com estas separaรงรตes do aplicado e do fundamental. Se calhar o que รฉ fundamental agora serรก aplicado mais tarde, se calhar o que agora nos parece aplicado vai nos revelar uma questรฃo fundamental sobre o mundo. E portanto, acho que todos os รขngulos sรฃo importantes para nรณs entrarmos e tentarmos perceber um bocadinho melhor como funciona o mundo, seja o mundo vivo, seja o mundo fรญsico, seja o mundo social, todos os รขngulos sรฃo legรญtimos.
Jorge (00:08:27) – O que me estรกs a dizer รฉ que para que a tecnologia, no caso das vacinas da Covid, tenha chegado mais rapidamente e nos tenha dado uma resposta em tempo รบtil, porque nรฃo tรญnhamos trรชs anos para esperar, senรฃo a pandemia ia fazer o seu caminho com o nรบmero de mortes seguramente muito maior. Como estรกs a dizer รฉ que houve um conjunto de peรงas desta arquitetura, destes alicetes, que na realidade eles jรก estavam investigados e que a seguir, se posses lรก estรก, o fermento da pressa por um lado e o fermento do dinheiro pรบblico que fez avanรงar o processo?
Ana Sanchez (00:09:00) – De certa forma, no fundo, รฉ isso mesmo. Jรก outras pessoas tinham pensado em que, por exemplo, as vacinas de RNA, que podiam ser uma boa estratรฉgia, mas ainda nรฃo tinha houve oportunidade de expor a funcionar. Mas mesmo antes de alguรฉm sequer pensar que poderiam ser vacinas, alguรฉm teve que estudar as molรฉculas da Renan, alguรฉm teve de ter ideia pera, mas se nรณs temos estas molรฉculas, se calhar que podemos usรก-las em nosso proveito. Portanto, alguรฉm teve que estudar muitas outras coisas antes de conseguir desenvolver uma vacina, e sim, nรฃo teria sido possรญvel. E outra coisa que tambรฉm รฉ importante nรณs pensarmos, poderia nรฃo ter sido possรญvel, poderia apesar de todo este conhecimento, a tecnologia nรฃo ter conseguido.
Ana Sanchez (00:09:36) – A tecnologia nรฃo nos dรก sempre respostas, esta รฉ uma das coisas que eu acho que รฉ importante nรณs tambรฉm percebermos. A ciรชncia ajuda-nos a perceber imensa coisa, a ciรชncia torna possรญvel uma sรฉrie de tecnologias, mas nรฃo รฉ uma bala mรกgica que tem sempre resposta para todos os problemas. Hรก alguns problemas, poderemos tentar compreendรช-los melhor e poderemos tentar encontrar soluรงรตes, mas nรฃo teremos sempre uma resposta. Tivemos sorte nesta panquia.
Jorge (00:10:00) – Tivemos sorte, nรฃo รฉ isso? Isso รฉ o ponto. Lรก estรก, Tivemos sorte porque a tecnologia estava lรก, porque foi possรญvel assemblรก-la toda.
Ana Sanchez (00:10:08) – Toda, porque as vacinas depois resultaram na prรกtica, os ensaios clรญnicos tiveram sucesso, tudo isto correu bem.
Jorge (00:10:14) – Uma cientista acredita em sorte?
Ana Sanchez (00:10:16) – Ah, um bocadinho. Um bocadinho de sorte. Aquele ano aonde chamamos assim.
Jorge (00:10:21) – ร o acaso no fundo, nรฃo รฉ? Lรก estรก a maรงรฃ que cai na cabeรงa do cientista. Comeรงamos por aรญ. Isto destrรณi Entรฃo esse argumentรกrio, normalmente das teses mais negacionistas que รฉ, isto รฉ demasiado inseguro porque isto apareceu agora. Eles investigaram ร pressa isto e agora estรฃo aqui no fundo a usar uma tecnologia que รฉ riscadรญssima e que daqui a uns tempos a gente vai descobrir que รฉ arriscada.
Ana Sanchez (00:10:45) – Muitas coisas jรก sabiam, muitas coisas sabiam que era segura, muitas coisas podรญamos ainda nรฃo ter a certeza absoluta, mas tรญnhamos muitas indicaรงรตes de que seriam provavelmente seguras. Os ensaios clรญnicos tambรฉm serviram precisamente para fazer estes testes. Agora, em relaรงรฃo a tudo o que nรณs fazemos e a todas as tecnologias que introduzimos, hรก sempre graus de incerteza associados, ninguรฉm em perfeita consciรชncia, nenhum cientista pode dizer isto รฉ 100% seguro para sempre e nunca vai haver nenhum problema. Nรฃo hรก evidรชncias nenhuma que nรฃo sejam seguras. Esta รฉ a nossa melhor aposta neste momento.
Jorge (00:11:23) – Como รฉ que tu lides com incerteza? Essa palavra interessa-me.
Ana Sanchez (00:11:28) – Confesso que gosto muito de pensar nesta ideia de incerteza na ciรชncia. Na minha vida pessoal, eu lido muito mal com incerteza, gosto das coisas direitinhas. E todos nรณs, de facto, nรฃo lidamos bem com incerteza. Nรณs preferimos saber o que vai acontecer do que nรฃo saber o que vai acontecer. E eu acho que esta ideia de quando nรณs comunicamos ciรชncia, nos lembrarmos de deixar claro que a incerteza associada รฉ importante.
Ana Sanchez (00:11:50) – Claro que nรณs temos que ter algum cuidado, porque nรณs nรฃo podemos cair no ponto dos tais negacionistas que tu falavas, que รฉ nรณs temos incerteza e portanto nรฃo sabemos nada e tudo pode acontecer. Isto nรฃo รฉ verdade. Hรก diferentes tipos de incerteza associada ao conhecimento cientรญfico. Hรก coisas que รฉ muito improvรกvel, que se venham a demonstrar que a ciรชncia errou. ร muito pouco provรกvel que a Terra, afinal, seja plana.
Ana Sanchez (00:12:12) – Portanto, hรก certezas que nรณs temos… ร muito pouco provรกvel que apareรงam evidรชncias que venham a contrapor uma determinada teoria, uma determinada ideia que nรณs temos sobre o mundo.
Jorge (00:12:24) – Apesar de tudo, parece que os cientistas fazem quase gรกudio em contrariarem-se sempre uns aos outros. Que รฉ, olha, afinal descobrimos isto que era ao contrรกrio do que sabia ontem de manhรฃ e amanhรฃ descobrimos outros. Nรฃo, nรฃo, isto afinal รฉ ao contrรกrio. ร quase um desporto predilecto dos cientistas contrariarem-se em pรบblico.
Ana Sanchez (00:12:45) – Olha, eu nรฃo sei se isso serรก verdade. Eu acho que isso em algumas รกreas parece acontecer mesmo assim, e eu acho que isso acontece por dois motivos. Acontece precisamente porque nรณs estamos a trabalhar, ou esses cientistas estรฃo a trabalhar em รกreas de fronteira do conhecimento, onde as certezas podem ainda nรฃo ser tรฃo grandes e, portanto, aรญ poderรก haver uma verdadeira diferenรงa. E eu acho que tambรฉm acontece muito porque nessas tais zonas em que ainda se estรก a recolher dados, a tentar encontrar explicaรงรตes, a tentar no fundo compreender o mundo. Depois o que aparece sรฃo as notรญcias de ciรชncia que aparecem, que aparecem com essa ideia de que os cientistas, olha, agora descobriram isto, hoje o cafรฉ faz bem, amanhรฃ faz mal, hoje o vinho tinto faz bem, amanhรฃ o vinho tinto faz mal.
Jorge (00:13:31) – Sรฃo dois bons exemplos.
Ana Sanchez (00:13:33) – Exatamente, cada um vai escolhendo
Jorge (00:13:34) – no fim do… Eles nรฃo se entendem. Nรฃo, posso garantir que o cafรฉ รฉ รณtimo. Muitos dizem-lhes, muito bem, credibilidade, extraordinรกria, vamos beber cafรฉ. Afinal nรฃo, nรฃo bebam cafรฉ.
Jorge (00:13:46) – Atรฉ nรฃo bebemos cafรฉ.
Ana Sanchez (00:13:49) – Isso tambรฉm tem muitas… Hรก aqui culpas de muitos lados, nรฃo รฉ? Por um lado, muitas vezes estas notรญcias tambรฉm querem aparecer com tรญtulos, e aqui se a responsabilidade รฉ do cientista, de quem fez, da instituiรงรฃo que lanรงou o comunicado, se รฉ do jornalista, podemos aqui discutir depois onde รฉ que ficam estas responsabilidades, mas รฉ porque muitas vezes os estudos nunca permitiriam dar essa resposta taxativa, faz bem ou faz mal, faz bem ou faz mal, nestas condiรงรตes, com esta amostra, usando este mรฉtodo, E isto รฉ muito mais complicado de traduzir e de tentar dar a conhecer.
Jorge (00:14:23) – Estamos, portanto, no fundo, a ser vรญtimas da tentativa binรกria de dar uma resposta clara e imediata ร s coisas. Nรฃo te quero deixar sair da incerteza ainda, porque em termos de comunicaรงรฃo pรบblica lรก estรก e podemos pensar, a pandemia รฉ um bom exemplo, porque os cientistas invadiram as televisรตes, tentamos ou pelo menos de alguma maneira tivemos menos achadores profissionais e passamos a ter pessoas com mais robustes naquilo que estavam a pensar, nรฃo รฉ complicado para nรณs cidadรฃos estarmos a ver dizer olha aqui estรก um super cientista, ele รฉ a pessoa que mais sabe do paรญs nisto e ele aparece no universo mediรกtico, aparece na televisรฃo, aparece na rรกdio e diz olha, nรฃo sei. E eu digo, entรฃo mas se este nรฃo o sabe estamos perdidos, porque ninguรฉm sabe como รฉ que รฉ. E pelo contrรกrio, jรก agora deixa-me introduzir aqui, parece o bevendor da bengada cobra.
Ana Sanchez (00:15:21) – Que sabe tudo. Que
Jorge (00:15:22) – sabe tudo. Tu
Ana Sanchez (00:15:23) – tens razรฃo, isso รฉ muito difรญcil e รฉ um equilรญbrio complicado. Porque lรก estรก, eu acho que quando um cientista diz nรฃo sabe, este nรฃo sabe pode ser vรกrias coisas. Eu nรฃo sei porque isso nรฃo รฉ a minha รกrea e falem com alguรฉm que seja da รกrea porque eu nรฃo sou capaz de responder. Isso nรฃo sei porque ainda nรฃo sabemos. E nรณs nรฃo sabemos porque ainda nรฃo temos dados suficientes, porque ainda passou pouco tempo, porque o que seja, porque este problema รฉ intrinsecamente complicado, porque a variabilidade do mundo รฉ muito grande, mas este porquรช e o que รฉ que รฉ isto de nรฃo saber?
Ana Sanchez (00:15:55) – Portanto, acho que isto รฉ importante e um bocadinho tambรฉm em relaรงรฃo ร incerteza. A incerteza tambรฉm tem um problema complicado que รฉ sรณ quem sabe muito de um assunto รฉ que consegue dizer qual รฉ o grau de certeza que nรณs podemos ter. Portanto, isto depois tambรฉm torna difรญcil esta comunicaรงรฃo. E depois temos o oposto que รฉ esta tensรฃo na comunicaรงรฃo de ciรชncia que รฉ, nรณs quando estamos a tentar explicar alguma coisa queremos tentar simplificar e traduzir o tema como certo e como digo hรก muitos temas que รฉ muito pouco provรกvel que sejam errados, mas muitas vezes retiramos esta ideia, desta incerteza da equaรงรฃo. E eu acho que isso nรฃo faz um bom serviรงo ร ciรชncia nem ร comunicaรงรฃo de ciรชncia, porque eu acho que pior do que um cientista dizer que, olha, isso nรฃo sai, pergunta outra pessoa, ou nรณs isso ainda nรฃo sabemos e enquanto sociedade temos que pensar, ou enquanto comunidade cientรญfica temos que pensar qual รฉ que รฉ a melhor maneira de nรณs ficarmos a saber, pior que isso รฉ dizer que sabemos e depois descobrir-se que afinal nรฃo sabรญamos.
Ana Sanchez (00:17:01) – Porque isso eu acho que รฉ perder completamente a credibilidade da ciรชncia. A ciรชncia nรฃo รฉ uma varinha mรกgica que nos dรก a resposta sobre o mundo. A ciรชncia รฉ um empreendimento humano que nos ajuda a compreender, explicar e tirar partido do conhecimento que temos para melhorar as nossas vidas, para termos muito melhor. E a ciรชncia jรก deu provas em todas as รกreas em como esta tentativa de conhecer melhor o mundo se pode traduzir depois em benefรญcios para a sociedade, para a lei, do maravilhoso que para mim รฉ compreender melhor como รฉ que o mundo funciona.
Jorge (00:17:35) – Sinto certo que com o enfraquecimento, enfim, das religiรตes, a ciรชncia parece ร s vezes quase como uma religiรฃo ela prรณpria, nรฃo รฉ?
Ana Sanchez (00:17:45) – ร verdade que eu acho que algumas vezes a ciรชncia รฉ apresentada e eu tento… Quase
Jorge (00:17:52) – salvifica, nรฃo รฉ? Quase salvifica
Ana Sanchez (00:17:54) – e quase como se pudessem ter todas as respostas ou como se as รบnicas respostas para todas as perguntas sรณ pudessem ser aproximadas do ponto de vista da ciรชncia. E isso, eu acho, mais uma vez, nรฃo faz um serviรงo ร ciรชncia. Por exemplo, quando comeรงamos a falar de decisรตes baseadas na ciรชncia. Claro que sim, a ciรชncia deve estar sempre, quando precisamos tomar decisรตes complicadas, as evidรชncias cientรญficas e a nossa capacidade de explicar o mundo com a ciรชncia e de prever eventualmente fenรณmenos com o conhecimento que temos deve estar em cima da mesa e deve estar, eu diria, nas primeiras linhas. Mas ร s vezes pode haver outras partes da equaรงรฃo que seja preciso ter em conta e a ciรชncia nรฃo vai ter resposta para essas preocupaรงรตes.
Ana Sanchez (00:18:38) – Se nรณs queremos dar particular atenรงรฃo a uma questรฃo social ou se precisamos naquela altura de tomar uma decisรฃo que atรฉ vai contra as evidรชncias cientรญficas, mas precisamos de uma resposta imediata que nos resolvam outro problema ou ainda outra coisa. Nรณs dizemos baseada na ciรชncia. Sim, mas por exemplo, voltando ao exemplo da pandemia, do ponto de vista da saรบde pรบblica, usar mรกscaras e descartรกveis era muito importante. Do ponto de vista das ciรชncias do ambiente, รฉ muito mal toda a gente andar a usar mรกscaras descartรกveis. A ciรชncia de alguma delas estรก errada, nenhuma estรก errada, mas depois alguรฉm tem que fazer o equilรญbrio entre estes conhecimentos.
Ana Sanchez (00:19:11) – Eu acho que รฉ importante percebermos que a ciรชncia รฉ uma ferramenta para perceber, รฉ o corpo de conhecimento que obtivemos, mas รฉ principalmente esta ferramenta que nos ajuda a propor teorias, contrapor essas teorias com as evidรชncias que recolhemos e tentar, a partir daรญ, extrair a melhor explicaรงรฃo possรญvel sobre o mundo, lรก estรก, vivo, o mundo fรญsico, o mundo social, onde estamos.
Jorge (00:19:33) – Quรฃo irritada ficas tu quando os decisores, nomeadamente os polรญticos, mas nรฃo sรณ, tomam decisรตes nรฃo apenas fazendo esse contraponto, mas dizem, nรฃo, nรฃo, mas a minha intuiรงรฃo diz exatamente o contrรกrio deste tubo de ensaio.
Ana Sanchez (00:19:52) – Quer dizer, รฉ irritante, obviamente, e eu acho que รฉ principalmente irritante para quem รฉ especialista de uma รกrea, perceber que aquela decisรฃo nรฃo รฉ mais… Mas, apesar de tudo, irrita-me menos isso do que alguรฉm me tentar convencer que estรก a tomar a decisรฃo baseada na ciรชncia, quando eu sei que a ciรชncia ainda nรฃo tem forรงa suficiente para aquela decisรฃo ser tomada. Portanto, tu
Jorge (00:20:14) – preferes uma decisรฃo que seja intuitiva e quase eu sinto que รฉ assim e portanto tenho que responder?
Ana Sanchez (00:20:21) – Nรฃo รฉ sรณ o que eu sinto, mas รฉ eu tomo esta decisรฃo, sei que a ciรชncia diz isto, mas por isto, preferia que nรฃo fosse sรณ porque eu sinto, mas porque para o benefรญcio da populaรงรฃo neste momento, por uma questรฃo monetรกria, por uma questรฃo que eu consiga perceber, sei lรก, se calhar o que eu sinto e irritar-me-ia. Mas o que eu quero dizer รฉ que eu compreendo que nรฃo se siga sempre a ciรชncia. Esta ideia de seguir sempre a ciรชncia pode nรฃo ser possรญvel porque pode haver outros
Jorge (00:20:48) – constrangimentos. O exemplo das mรกscaras era interessante porque, na altura em que sabรญamos que as mรกscaras eram importantes, nรฃo havia capacidade de as produzir.
Ana Sanchez (00:20:54) – Por exemplo.
Jorge (00:20:55) – E isso รฉ uma contingรชncia inultrapassรกvel ao
Ana Sanchez (00:20:58) – fundo. Exatamente. E รฉ uma coisa com que os cientistas que sabiam de vรญrus respiratรณrios e de doenรงas sabiam perfeitamente que, claro, que mรกscaras รฉ รณtimo. Mas nรฃo hรก. Nรฃo hรก.
Jorge (00:21:08) – E esse รฉ um ponto que รฉ extraordinรกrio. Olha, vamos ร maneira como os cientistas comunicam. Olha, o telefone estรก a tocar. Estรก-se ligado. Um cientista que estรก ligado para nรณs a dizer que afinal nรฃo era isto.
Jorge (00:21:21) – Olha, como รฉ que os cientistas comunicam? Como รฉ que eles estรฃo a comunicar?
Ana Sanchez (00:21:26) – Olha, eu acho que os cientistas estรฃo a comunicar cada vez mais e cada vez melhor. Eu jรก comecei a trabalhar na รกrea da comunicaรงรฃo, aliรกs eu passei da รกrea de investigaรงรฃo para a comunicaรงรฃo, ainda havia muito pouca gente envolvida na comunicaรงรฃo de ciรชncias, jรก se faziam algumas coisas, mas eu acho que hรก cada vez mais uma consciรชncia, quer dos cientistas, quer das instituiรงรตes cientรญficas, que nรฃo podem ficar calados. Como รฉ que os cientistas podem comunicar? Eu acho que รฉ quase… Eu gosto de dizer que os cientistas ร s vezes dizem ah mas eu nรฃo tenho jeito.
Ana Sanchez (00:21:53) – Calma, como nรฃo tem jeito? Hรก tantas maneiras diferentes de comunicar que pelo menos experimente. Pode comunicar escrevendo, pode comunicar falando, pode comunicar fazendo experiรชncias com as crianรงas, pode ir ร s escolas e contar a sua histรณria, pode… Hรก tantas manadas
Jorge (00:22:07) – diferentes… Queres me explicar o que รฉ isso? Eu nรฃo tenho jeito. Como รฉ que รฉ isso?
Ana Sanchez (00:22:11) – Olha, eu nรฃo sei. ร o que alguns cientistas nos dizem. Ah, eu para comunicar nรฃo tenho muito jeito. Tenho muito jeito para investigar, mas para comunicar nรฃo tenho. Eu atรฉ aceito, eu acho que nรณs nรฃo devemos obrigar os cientistas que nรฃo querem comunicar a comunicarem, mas eu ร s vezes digo, pronto, pode nรฃo ter jeito para ir ร televisรฃo falar ou pode nรฃo ter jeito para fazer uma palestra, pode nรฃo se sentir confortรกvel nesse…
Ana Sanchez (00:22:30) – Mas hรก outras formas de comunicar e por que nรฃo fazer desenhos, fazer esquemas, ajudar o designer a transformar aquelas ideias que tem numa ilustraรงรฃo? Quer dizer, hรก tantas maneiras diferentes de comunicar. Nรณs agora, esta semana, vamos ter aqui o dia aberto de ITKB, que รฉ um dia em que nรณs procuramos mostrar os projetos de investigaรงรฃo que fazemos. E mesmo hรก tantas maneiras, hรก cientistas que vรฃo estar a mostrar ร s crianรงas, a desmistificar um bocadinho algumas ideias, a mostrar como as reaรงรตes quรญmicas tambรฉm estรฃo presentes nas brincadeiras que elas podem fazer. Vamos ter visitas aos laboratรณrios, vamos ter um cientista que, claro que รฉ capaz e tem jeito para mostrar o seu laboratรณrio e falar dos seus projetos de investigaรงรฃo.
Ana Sanchez (00:23:15) – A mais ninguรฉm brilha os olhos com um projeto de investigaรงรฃo do que o cientista que estรก diretamente envolvido
Jorge (00:23:20) – nele. E isso ajuda? Eu acho que ajuda. O corpo que se move.
Ana Sanchez (00:23:25) – Eu acho que sim. Eu acho que ter estas pessoas que se entusiasmam lรก estรก com o que รฉ que se passa dentro de uma planta, ou dentro de um micro-organismo, ou dentro de o que for, e que transmitem isso, eu acho que sim, eu acho que isso ajuda.
Jorge (00:23:36) – E agora aquela parte que รฉ, eu agora tenho que explicar a nanopratรญcula, a descoberta mais intrincada, a religiaria fina que eu e os meus pares conseguimos falar atravรฉs de complicados textos cientรญficos e agora tenho que explicar isto ร D. Maria, que estรก lรก em casa.
Ana Sanchez (00:23:55) – Exatamente, รฉ isso. E como digo, eu nรฃo estou a dizer que para todos os temas seja possรญvel ir ao detalhe do que o cientista estรก a tentar descobrir.
Jorge (00:24:04) – Como รฉ que se faz? Como รฉ que se pode fazer?
Ana Sanchez (00:24:05) – Eu acho que mesmo quando nรฃo รฉ possรญvel explicar o detalhe, eu consigo dizer, olha, eu estou a estudar, estou a tentar perceber uma coisa que os cientistas hรก 100 anos andam a tentar perceber e ainda nรฃo perceberam. E depois a Dona Maria disse, entรฃo mas conta-me um bocadinho mais sobre isto. Sabe Dona Maria, eu tenho aqui na nossa pele, vivem uns micrรณbios, sรฃo parecidos com os que nos causam doenรงas, mas estes fazem-nos bem. E dentro destes micrรณbios ninguรฉm sabe muito bem como รฉ que eles funcionam e eu estou a tentar ajudar isso. Mas como รฉ que estuda isso?
Ana Sanchez (00:24:34) – Ah, eu uso um microscรณpio ou tento partir este micro-organismo em bocadinhos e vou tentar ver de que partes รฉ que ele รฉ feito e como รฉ que ele รฉ feito lรก por dentro.
Jorge (00:24:43) – Vais aproximando-te.
Ana Sanchez (00:24:44) – Vou aproximando-te.
Jorge (00:24:45) – Mesmo quando nรณs chegamos a conceitos que para nรณs, alguns sรฃo apostados e nรณs vamos comeรงando a compreendรช-los, a cรฉlula, o รกtomo, mas depois isto parece sempre ter
Ana Sanchez (00:24:57) – mais uma
Jorge (00:24:58) – camada. E Nรณs olhamos e dizemos o universo รฉ infinitamente grande. E parece que os cientistas estรฃo exatamente apostados em ir para o infinitamente grande e, pelo contrรกrio, quando a gente acha que jรก chegou ao mais pequeno, pro menor, eles ainda inventam mais trรชs de grau na surcave.
Ana Sanchez (00:25:15) – Lรก estรก. Isso รฉ para a curiosidade de ver e agora o que รฉ que estarรก a seguir, e agora o que รฉ que estarรก a seguir. Mas eu acho que nรณs temos que tentar ir aproximando. Eu gosto muito de usar a analogia da cebola, nรฃo รฉ? Nรณs vamos comeรงando por fora, vamos tirando de cascas, mas tambรฉm temos que esperar.
Ana Sanchez (00:25:31) – Uma coisa que nรณs tambรฉm sabemos jรก na comunicaรงรฃo de ciรชncia รฉ que nรณs temos que tornar isto num diรกlogo. Isto nรฃo pode ser eu, de repente, palestrante, falar sobre que paรญs. Eu posso comeรงar por definir, olha, agora vou definir o que รฉ uma cรฉlula, depois defino o que รฉ um รกtomo, depois define o que รฉ… E agora ร sequer jรก percebeste o que รฉ tudo?
Jorge (00:25:49) – Isso รฉ uma aula.
Ana Sanchez (00:25:50) – Exatamente. E nรฃo รฉ isso que nรณs queremos. Nรณs queremos conversar com as pessoas. Queremos ouvir tambรฉm as… Do outro lado quais sรฃo as dรบvidas que tรชm.
Ana Sanchez (00:26:00) – E ร s vezes รฉ muito engraรงado. Agora, estรกvamos a fazer lembrar uma coisa, desculpa, se calhar se sai um bocadinho do tema. E este programa รฉ anarquico? Entรฃo pronto, รฉ tรฃo maravilhoso. Podemos ir por qualquer lugar.
Ana Sanchez (00:26:08) – Como o meu cรฉrebro. Estava-me a lembrar que ร s vezes as questรตes das pessoas nem sรฃo cientรญficas. Eu estava a lembrar de uma viagem de tรกxi que tive na altura da pandemia e o taxista me dizia, eu nรฃo vou levar a vacina. E eu, pronto, pensei que nรฃo posso, alguรฉm que trabalha em comunicaรงรฃo de ciรชncia nรฃo pode deixar passar isto. Eu nรฃo vou deixar.
Ana Sanchez (00:26:33) – Eu tenho que convencer esta pessoa. Mas comecei a conversar um bocadinho e depois de repente pensei, isto nรฃo estรก a resultar, isto nรฃo estou conseguindo minimamente fazer perguntas. Em vez de estar a tentar explicar que a vacina era segura e que nรฃo sei o que mais. Fiz apenas a pergunta, mas o que รฉ que eu faria mudar de opiniรฃo? E esta รฉ uma pergunta muito engraรงada de fazer ร s pessoas, porque รฉ a que obriga a pensar o que รฉ que eu tenho de facto contra isto.
Ana Sanchez (00:26:59) – E o que eu me faria mudar de opiniรฃo, naquele caso, era se me deixassem escolher a marca da vacina. Ora, isto nรฃo รฉ uma proposiรงรฃo contra a ciรชncia, isto nรฃo รฉ uma desconfianรงa da ciรชncia, isto รฉ uma desconfianรงa de quem estรก a tomar a decisรฃo de decidir que vocรช leva a AstraZeneca ou leva a da Pfizer ou
Jorge (00:27:16) – leva… Portanto, se eu estiver com a capacidade de poder fazer uma escolha, mesmo que nรฃo a compreenda completamente, isto reduz o meu grau de incerteza.
Ana Sanchez (00:27:25) – Pelo menos para aquela pessoa, e se era importante que alguรฉm tivesse, quer dizer, nรฃo sei se isso pudesse ter alguma soluรงรฃo, O que estou a dizer รฉ que nรณs, ร s vezes, quando comeรงamos a conversar com pessoas e as pessoas dizem que nรฃo percebem ou que desconfiam, ร s vezes precisamos dar espaรงo para ouvir entรฃo… E
Jorge (00:27:40) – perceber onde รฉ que estรก a
Ana Sanchez (00:27:41) – dรบvida. รs vezes as dรบvidas sรฃo cientรญficas e nรณs podemos esclarecer, ร s vezes as dรบvidas estรฃo noutro sรญtio. E
Jorge (00:27:46) – sรฃo de percepรงรฃo tambรฉm muitas vezes,
Ana Sanchez (00:27:48) – nรฃo รฉ? Ou sรฃo de vivรชncias que a pessoa teve, ou sรฃo muito mais complicadas. Hรก um filรณsofo de ciรชncia que eu gosto muito que se chama, nรฃo quero enganar o nome dele, Lee McIntyre, que escreveu um livro que o segundo pelo menos jรก estรก traduzido em portuguรชs, que se chama Como Falar com o Negacionista, e ele no fundo faz este exercรญcio, que รฉ como รฉ que eu faรงo para falar com quem jรก estรก completamente do outro lado. Ele chega um bocadinho ร conclusรฃo que falar com quem jรก estรก tรฃo afastado da realidade assim รฉ muito complicado, mas chega tambรฉm a esta conclusรฃo de que eu preciso perceber onde รฉ que estรก o problema, porque ร s vezes o problema nรฃo tem nada a ver com a ciรชncia, nรฃo tem a ver com a desconfianรงa da ciรชncia, tem a ver com… Eu sempre me enganaram na minha vida, sempre…
Jorge (00:28:33) – E portanto, em princรญpio, estรฃo a tentar me enganar outra
Ana Sanchez (00:28:36) – vez. Pronto, exato. E por outro lado, ele tambรฉm acaba por concluir, e รฉ um bocadinho a conclusรฃo que nรณs jรก acabamos de chegar quando comeรงamos a discutir estes temas da comunicaรงรฃo de ciรชncia e da incerteza e tudo o mais, a comunicaรงรฃo de ciรชncia quase que tem que ser uma comunicaรงรฃo unipessoal, quase uma comunicaรงรฃo, a comunicaรงรฃo para grandes quantidades de pessoas. Quando o objetivo รฉ mudar opiniรตes ou ir muito fundo numa questรฃo รฉ muito complicada, porque cada um de nรณs tem a sua base de conhecimento e mais do que isso, tem as suas emoรงรตes, as suas percepรงรตes, as suas dรบvidas e mesmo aqui todos os cientistas aqui do Itica e B, eu tenho a certeza que se forem honestos, reconhecerรฃo que algumas das suas decisรตes nรฃo sรฃo sempre seres completamente objetivos e racionais para tudo. Nรณs tambรฉm, lรก estรก, ร s vezes falamos na sorte, ร s vezes…
Ana Sanchez (00:29:25) – Portanto, tudo isto faz parte de quem nรณs somos.
Jorge (00:29:28) – Olha, tu falaste um bocadinho dos cientistas que comunicam, da maneira atรฉ como falam com as crianรงas, isso รฉ muito interessante, as crianรงas nascem claramente curiosas, a fazer perguntas, muitas perguntas, muitas perguntas. E nรณs envelhecemos e estupidificamos, รฉ a minha sensaรงรฃo.
Ana Sanchez (00:29:45) – ร um bocadinho, Eu acho que nรณs todos temos um bocadinho a sensaรงรฃo e muita gente acha que o sistema escolar mata a curiosidade. Eu jรก ouvi vรกrias…
Jorge (00:29:51) – Parece, nรฃo รฉ?
Ana Sanchez (00:29:52) – Nรฃo tenho estudos sobre… Nunca estudei o assunto.
Jorge (00:29:57) – Cala-te, nรฃo perguntes. Olha, isto รฉ assim e impina a matรฉria.
Ana Sanchez (00:30:00) – Exatamente. Se รฉ o sistema escolar, se nรณs depois nรฃo temos as crianรงas que nรฃo passaram pelo sistema escolar em que possamos dizer, olha, aqui estรก estas que nunca foram ร escola e continuam curiosรญssimas, se calhar รฉ faixa ou parte do nosso processo de crescer. Mas รฉ verdade, e eu de certa maneira acho que muitos cientistas sรฃo como sรฃo porque mantรชm, por alguma razรฃo, ou porque passaram pela escola mais em columes, ou porque tinha o gรฉnero da curiosidade mais desenvolvido, nรฃo sei, a continuar com essa curiosidade quase infantil de fazer perguntas. Eu acho tambรฉm que รฉ Por isso que os cientistas gostam tanto de explicar o que fazem as crianรงas, porque todas aquelas perguntas que vรชm do nada e que รฉ muito giro, porque eu, agora hรก muito tempo, como jรก nรฃo estou ativa no trabalho de bancada e nรฃo tenho projetos de investigaรงรฃo na รกrea da biologia, nรฃo tenho feito tanto isso. Mas ร s vezes as perguntas que as crianรงas me faziam punham mesmo.
Ana Sanchez (00:30:47) – ร pรก, nunca pensei disto desta maneira. Bem visto, bem visto. Vou ter que ir para o laboratรณrio, vou ter que ir para o laboratรณrio ver isto deste รขngulo que eu nunca tinha pensado. E quem diz crianรงas tambรฉm, obviamente quando se fala com adultos, ร s vezes porque tรชm outra experiรชncia, porque tรชm outra perspectiva, รฉ muito engraรงado conseguir ouvir de repente. Espera, este problema agora visto pelos teus olhos รฉ complicado.
Ana Sanchez (00:31:09) – E outra das coisas que eu tambรฉm gosto muito na comunicaรงรฃo de ciรชncia em particular, que รฉ uma oportunidade para os cientistas, num determinado momento, saltarem para os chapatis do outro lado e pensarem como รฉ que รฉ este problema ou como รฉ que รฉ este meu tema que me apaixona tanto, visto por quem nunca pensou nisto. Na vida real. Exatamente.
Jorge (00:31:29) – Por exemplo. E isso lรก estรก, mas esta ideia de os cientistas lidam bem com a ideia de serem questionados. Nรฃo pelos pares. Eu percebo que pelos pares, nรณs estamos a falar de dominam a mesma linguagem, o mesmo jargรฃo, no fundo o mesmo cรณdigo, mas o ignoto povo que diz mas olha que isso, olha que nรฃo, nรฃo รฉ? Lรก estรก.
Ana Sanchez (00:31:52) – Se calhar nem sempre lidam bem, se calhar atรฉ porque ร s vezes isso, olha que nรฃo, olha que nรฃo, nรฃo sabem que tรชm razรฃo. Atรฉ porque
Jorge (00:32:01) – estamos a falar de pessoas com um QI gigantesco, seguramente maior que a mรฉdia da populaรงรฃo e portanto… Se
Ana Sanchez (00:32:05) – calhar. E tem um ego. Ou pelo menos, tem um ego tambรฉm e verdadeiramente sรฃo pessoas que estudaram durante muitos anos um assunto, รฉ a mesma coisa que eu viro ao cardiologista e ele dizer, eu acho que vocรช precisa ser operado e eu dizer, ah, eu acho que nรฃo, Eu vou ali falar com aquele senhor, o Merceeiro. Olha que
Jorge (00:32:20) – eu nรฃo acredito.
Ana Sanchez (00:32:21) – O Merceeiro a mim disse que nรฃo era preciso e portanto nรฃo vou fazer. Quer dizer, a data da altura รฉ um bocadinho ridรญculo. Alguรฉm que estudou durante muito tempo um assunto, obviamente, acharรก que sabe muito sobre o tema e que dificilmente alguรฉm lhe poderรก fazer alguma apontar ou que um leigo poderรก apontar uma coisa que ele nรฃo tenha reparado. Ponto nรบmero um, isso pode nรฃo ser verdade porque ele pode nunca ter pensado de outro รขngulo. Uma das coisas que eu gostei de assistir durante a pandemia em conversa com cientistas รฉ que eu acho que pela primeira vez os cientistas tambรฉm se aperceberam que nรฃo รฉ sรณ falar sobre a ciรชncia, nรฃo รฉ sรณ explicar a ciรชncia.
Ana Sanchez (00:32:55) – As decisรตes, as perceรงรตes, tudo mais, depende de muitas outras coisas e, portanto, nรฃo รฉ sรณ uma questรฃo de nรณs. Hรก muito esta ideia e isto ainda estรก um bocadinho enraizado nos cientistas. Estavas-me a perguntar ร bocado se os cientistas comunicam muito. Eu acho que eles comunicam muito, comunicam cada vez melhor e comunicam cada vez mais. Mas hรก uma coisa que ainda demora, que se calhar demora mais tempo e a pandemia estarรก sendo um bom laboratรณrio para isso, que รฉ pensar que nรฃo รฉ sรณ dar os factos.
Ana Sanchez (00:33:20) – Os cientistas, como estรฃo habituados a trabalhar desta forma, pensam, se ele conseguir explicar tudo, ele vai pensar, e exatamente da mesma forma que eu. O
Jorge (00:33:27) – que รฉ mentira. O
Ana Sanchez (00:33:28) – que nรฃo รฉ verdade. E Lรก estรก aquele livro que falava do como falar com o negacionista tambรฉm. Nรฃo รฉ uma questรฃo de lhes dar os factos todos, porque ninguรฉm… Nรฃo รฉ uma questรฃo de saber mais. ร uma questรฃo…
Ana Sanchez (00:33:39) – รs vezes sรฃo outras questรตes, รฉ uma questรฃo do vida constante, รฉ uma questรฃo… รs vezes tambรฉm รฉ uma questรฃo de charlatanice e de estar a querer fazer dinheiro com pseudociรชncias. Mas, portanto, nรฃo รฉ sรณ… E eu acho que a pandemia foi boa para as pessoas perceberem, nรฃo รฉ sรณ uma questรฃo de dar a informaรงรฃo toda. As pessoas precisam de aprender, precisam de aprender no seu contexto, tambรฉm querem ver o que รฉ que os seus amigos fazem, o que รฉ que o seu grupo, o que รฉ que a sua tribo estรก a fazer.
Ana Sanchez (00:34:03) – Quase um
Jorge (00:34:03) – consenso social, nรฃo รฉ? O que รฉ que nรณs estamos todos
Ana Sanchez (00:34:05) – a fazer. E, portanto, lรก estรก a pandemia, a vacinaรงรฃo e tudo, รฉ uma histรณria de sucesso em Portugal, tambรฉm porque nรณs tivemos esta conjuntura que permitiu que as pessoas fossem todas aderindo e havia quase esta…
Jorge (00:34:20) – E depois olhamos para trรกs e รฉ quase รณbvio que fizemos determinadas coisas e que fizemos bem, sendo que na altura em que as coisas aconteceram, se calhar, alguns de nรณs, em determinados momentos, nรฃo sei, desconfiamos que isto se calhar nรฃo รฉ capaz de nรฃo ser a melhor das opรงรตes. Olha, do outro lado, daqueles que tem que selecionar, daqueles que sรฃo perguntadores profissionais, dos jornalistas, esta relaรงรฃo entre o jornalista que tem que simplificar a mensagem para que todos possamos compreender e o cientista que, ortodoxo, que acha que o rigor absoluto รฉ um ponto nรฃo negociรกvel. Como รฉ que รฉ esta tensรฃo?
Ana Sanchez (00:35:03) – Olha, mais uma vez, depende um bocadinho dos cientistas e รฉ outra coisa que eu acho que tambรฉm tem havido uma aproximaรงรฃo cada vez maior, embora os jornalistas perguntadores de ciรชncia tambรฉm sรฃo cada vez menos e, portanto, nรฃo hรก tantas oportunidades assim.
Jorge (00:35:17) – Estรฃo a desaparecer,
Ana Sanchez (00:35:18) – nรฃo รฉ? Hรก cada vez menos jornalistas de ciรชncia, sim. Tens alguma
Jorge (00:35:21) – ideia porquรช?
Ana Sanchez (00:35:23) – Eu nรฃo tenho ideia porquรช, quer dizer, tenho algumas ideias do que vou ouvindo. Nรฃo sou jornalista, nรฃo trabalhei em redaรงรตes, mas o que eu ouรงo รฉ que as redaรงรตes estรฃo a encolher e ao encolher diminuem o nรบmero de jornalistas especializados em determinados temas e apesar de tudo, fazer cobertura sobre ciรชncia, um perguntador profissional chegarรก, mas hรก algumas nuances que รฉ importante ao jornalista ser especializado.
Jorge (00:35:48) – Estamos a descolificarmos.
Ana Sanchez (00:35:50) – Eu acho que de alguma maneira a ideia que transparรชncia รฉ que o jornalista hoje estรก a cobrir ciรชncia e amanhรฃ estรก a cobrir futebol.
Jorge (00:35:58) – E assim รฉ mais barato?
Ana Sanchez (00:35:59) – Provavelmente assim รฉ mais barato, sim. Entรฃo
Jorge (00:36:01) – como รฉ que รฉ essa tensรฃo entre cientistas e jornalistas?
Ana Sanchez (00:36:05) – Esta tensรฃo acontece por muitos motivos e acontece desde logo porque os objetivos do trabalho de um e do outro sรฃo diferentes. Se tivesse
Jorge (00:36:14) – histรณrias estou ร espera delas, como รฉ evidente, รฉ um momento de tensรฃo.
Ana Sanchez (00:36:18) – Os ritmos de trabalho sรฃo diferentes, nรฃo รฉ? Um investigador que estรก uma vida inteira a trabalhar num assunto e, de repente, um jornalista quer que ele simplifique. ร jรก. ร agora para jรก e quer uma resposta para as seis. E, portanto, eu acho que hรก aqui tambรฉm uma aprendizagem mรบtua do que รฉ que รฉ possรญvel fazer e do que, de como รฉ que se pode trabalhar em conjunto.
Ana Sanchez (00:36:39) – E eu acho que mais uma vez tem a sensaรงรฃo aqui dentro, pelo menos, que hรก cada vez mais esta sensibilidade. Quando o jornalista quer um comentรกrio sobre um artigo que saiu e que รฉ preciso comentar atรฉ ร s seis, jรก comeรงamos a ter cientistas que diziam, que diziam, ok, eu atรฉ ร s seis consigo.
Jorge (00:36:53) – Porque se nรฃo fรดs a jogo, no fundo nรฃo
Ana Sanchez (00:36:55) – apareces. Se nรฃo fรดs a jogo nรฃo apareces e aรญ, entram tu, hรก um pouco, estรกvais a dizer, vem outra pessoa que nรฃo sabe nada do assunto e
Jorge (00:37:01) – parece saber sobre os temas. Se estรฃo a ouvir autoridade, venha a banha
Ana Sanchez (00:37:04) – da Fome. Venha a banha da cobra. E portanto, eu acho que isto os cientistas tambรฉm estรฃo cada vez mais conscientes. Uma coisa que os cientistas detestam รฉ que os obriguem a falar de temas que eles nรฃo dominam e eu isso acho que ainda bem. Mesmo durante a pandemia alguns cientistas apareceram de vez em quando a travazar um bocadinho as รกreas que dominavam.
Ana Sanchez (00:37:23) – Eu acho que รฉ preciso termos aqui algum cuidado. Uma das coisas que eu acho nas atividades de divulgaรงรฃo e de comunicaรงรฃo de uma instituiรงรฃo รฉ preciso nรณs temos que… Os cientistas nรฃo sรฃo sรกbios, nรฃo รฉ alguรฉm que sabe tudo.
Jorge (00:37:33) – Entรฃo agora como รฉ que tu, aqui nesta instituiรงรฃo ou em outro sรญtio, como รฉ que tu escolhes essas fontes, como รฉ que tu escolhes a fonte certa? E jรก agora, se me permites, a segunda pergunta. E quando a fonte certa รฉ de facto a pessoa que mais sabe, mas a sua capacidade de comunicar ou de ajustamento ao meio nรฃo funciona tรฃo bem. ร
Ana Sanchez (00:37:56) – assim, escolher a pessoa certa nรฃo รฉ tรฃo complicada assim, porque apesar de tudo nรณs depois quando estamos numa instituiรงรฃo sabemos os projetos de investigaรงรฃo que estรฃo a acontecer e portanto se vai um… De repente um artigo sobre resistรชncia a antibiรณticos, por exemplo, que รฉ um tema que se trabalha…
Jorge (00:38:10) – Tu sabes
Ana Sanchez (00:38:11) – quem investiga? Eu sei quem sรฃo os investigadores que estรฃo na รกrea e atรฉ posso falar… Porque hรก vรกrios investigadores a trabalhar na resistรชncia a antibiรณticos de diferentes perspectivas, eu atรฉ posso falar com vรกrios e dizer โ olha, o que tu achas? ร isto? โ
Jorge (00:38:20) – Quem รฉ que รฉ o melhor de nรณs? Quem รฉ
Ana Sanchez (00:38:21) – que รฉ a pessoa que faz sentido? Muitas vezes o cientista que acaba por ser aquele que รฉ para falar Estรก disponรญvel e tudo corre bem. รs vezes diz que nรฃo, que nรฃo quer, porque nรฃo tem jeito, ou porque nรฃo sabe fazer, ou porque… E aรญ hรก o tentar convencer e dizer, mas entรฃo treinamos aqui, conversamos nรณs um bocadinho.
Jorge (00:38:43) – O treino รฉ importante?
Ana Sanchez (00:38:45) – O treino, ou pelo menos esta conversa, nรฃo estou a dizer o treino no sentido de irem as frases feitas, atรฉ porque tu sabes que isso รฉ impossรญvel.
Jorge (00:38:50) – Isso soa falso, nรฃo รฉ?
Ana Sanchez (00:38:52) – Soa falso e eu acho que na prรกtica nunca resulta. Mas, portanto, esta ideia de conversar, que a pessoa que estรก a coordenar agora o nosso gabinete de comunicaรงรฃo, faz isso muitas vezes, nรฃo รฉ? Que senta-se com o investigador e diz entรฃo eu agora vou fazer de jornalista. Eu perguntei-lhe isto, porque รฉ que responderia? E portanto isso tambรฉm vai aliviando um pouco.
Jorge (00:39:08) – Diminuando a ansiedade. E
Ana Sanchez (00:39:10) – desmistificando esta ideia do que รฉ interaรงรฃo com o jornalista. E portanto ร s vezes รฉ mesmo impossรญvel quer dizer se uma pessoa se recusa porque se recusa porque se recusa, pronto. O que nรณs tentamos sempre รฉ que nรฃo deixar o perguntador sem um… Alguรฉm, sem
Jorge (00:39:26) – uma fonte.
Ana Sanchez (00:39:27) – Sem qualquer coisa. Se nรฃo รฉ este, entรฃo diga-me quem.
Jorge (00:39:30) – E a outra parte disto que รฉ ainda por cima com os jornalistas cada vez menos especializados, que รฉ ok, o tema รฉ importante, sim hรก a fonte certa, mas o jornalista nรฃo estรก preparado para aquilo, nรฃo fez a pergunta certa, nรฃo escolheu o รขngulo certo. Lidas depois com essa frustraรงรฃo, com essa… Sim,
Ana Sanchez (00:39:48) – mais uma vez, agora hoje em dia nรฃo รฉ esse o meu trabalho, mas fiz isso durante algum tempo e aqui hรก coisas que nรณs podemos fazer, que รฉ a conversa com o jornalista antes.
Jorge (00:39:57) – Um brifim, que
Ana Sanchez (00:39:57) – no fundo fala com ele. Uma espรฉcie de falar com ele e explicar-lhe o que รฉ que รฉ. Normalmente, eu pelo menos nas interaรงรตes que tive, eu sinto sempre uma grande, aliรกs eu acho que os jornalistas partilham isso com os cientistas, que รฉ esta vontade de saber. E portanto verdadeiramente o jornalista estรก ali a tentar saber a histรณria e saber quais sรฃo os รขngulos possรญveis e ร s vezes nรฃo acertamos no รขngulo que nรณs achamos o mais engraรงado, mas estรก ali verdadeiramente a tentar fazer a histรณria. Tu
Jorge (00:40:22) – tens uma histรณria de sucesso agora? Ganhaste uma bolsa para conseguir trazer os jornalistas para aqui por adentro. E quando vi isto, eu disse, mas o que? Jornalistas de cientistas? Nรฃo me parece.
Jorge (00:40:33) – Jornalistas comunicadores tambรฉm nรฃo. Como รฉ que รฉ?
Ana Sanchez (00:40:37) – Eu vou te contar assim, essa histรณria รฉ uma รณtima histรณria, uma histรณria com a qual ando do sorriso da orelha a orelha desde que sabemos o resultado. Isto รฉ um projeto europeu, รฉ um projeto com consรณrcio que em Portugal envolve o Antรณnio Granada e eu. O Antรณnio Granada รฉ jornalista, jornalista, foi jornalista de ciรชncia durante muitos anos, รฉ tambรฉm professor de jornalista na Universidade Nova e, portanto, nรณs jรก trabalhamos juntos hรก muitos anos, porque criรกmos o mestrado de comunicaรงรฃo de ciรชncia. E surgiu esta oportunidade, portanto รฉ uma apela a candidaturas do Conselho Europeu de Investigaรงรฃo, se calhar algumas pessoas saberรฃo o que รฉ o Conselho Europeu de Investigaรงรฃo, de vez em quando aparecem bolsas milionรกrias para os cientistas XY. A nossa bolsa รฉ boa, mas nรฃo รฉ tรฃo milionรกria como essas dos cientistas e รฉ para…
Ana Sanchez (00:41:26) – Essas bolsas normalmente sรฃo para um investigador desenvolver um projeto de investigaรงรฃo, aqui a ideia รฉ que um consรณrcio de instituiรงรตes crie um programa de residรชncias de jornalistas em instituiรงรตes cientรญficas em toda a Europa. A ideia รฉ esta.
Jorge (00:41:45) – Imagina uma carga de trabalhos para selecionar os jornalistas da Europa e como รฉ que se fazem essas residรชncias?
Ana Sanchez (00:41:51) – Isto tudo ainda estรก, vamos que estamos agora a comeรงar. Ganharam
Jorge (00:41:54) – e disseram.
Ana Sanchez (00:41:55) – Exatamente, e agora vamos ter mesmo por isto. Portanto, este consรณrcio envolve-nos a nรณs aqui da Nova em Portugal, envolve a Universidade de Pompeu Fabra em Barcelona, envolve um centro de รฉtica para o jornalismo em Itรกlia e uma consultora cientรญfica em Israel. E portanto, nรณs agora, de facto, vamos ter de comeรงar a pensar como รฉ que isto se faz, sendo que temos algumas ideias, pelo menos temos alguns sonhos do que como รฉ que estรกvamos, como nรณs imaginamos isto, รฉ no fundo como existem as residรชncias dos artistas e nรณs aqui no ITKB jรก tivemos dois ou trรชs artistas que fizeram residรชncias e no fundo vinham para cรก e faziam as obras de arte, inspiravam-se no que quisessem e faziam as suas obras de arte. Sรฃo uns projetos que houve hรก uns anos em parceria com a Direรงรฃo Geral das Artes. E no fundo a ideia รฉ um bocadinho esta.
Ana Sanchez (00:42:40) – O jornalista vai ter que propor uma ideia, da mesma maneira que estes artistas tinham propor uma ideia, portanto vai ter que propor alguma coisa e vai ter que dizer para que instituiรงรฃo รฉ que gostaria de ir. Ainda estamos aqui a ver se as instituiรงรตes se oferecem, como รฉ que tudo isto vai funcionar. E depois o jornalista passa trรชs a cinco meses nessa instituiรงรฃo, ou atรฉ pode ser que possa ser possรญvel em mais de uma instituiรงรฃo, perรญodo durante o qual recebe uma bolsa que รฉ suposto ser, quer dizer, permiti-lo viver durante esses meses sem precisar de fazer outros trabalhos, porque o que nรณs queremos รฉ que ele se possa dedicar em exclusivo a esta residรชncia. E depois, o que nรณs acreditamos รฉ que entendo os jornalistas dentro das instituiรงรตes, eles possam encontrar aquelas histรณrias da ciรชncia. E
Jorge (00:43:22) – vรฃo encontrar? Eu
Ana Sanchez (00:43:23) – acho que vรฃo.
Jorge (00:43:23) – Vรฃo, e lรก estรก. E vรฃo fazer formaรงรฃo na realidade
Ana Sanchez (00:43:26) – tambรฉm, na maneira de
Jorge (00:43:28) – pensar, na maneira de ver o mundo, na maneira de investigar.
Ana Sanchez (00:43:30) – De tudo. Eu gosto muitรญssimo desta ideia. Portanto, esta ideia do Conselho da Europa da Justificaรงรฃo de propor que se fizesse este tipo de residรชncias acho uma ideia muito boa porque eu acho que รฉ isso que falta. As notรญcias sobre ciรชncia vรฃo aparecendo porque hรก artigos publicados e depois hรก os comunicados de imprensa, mas no fundo a ciรชncia รฉ retratada como se fosse uma sequรชncia de momentos eureca e isso nรฃo รฉ nada do que a ciรชncia รฉ. A ciรชncia nรฃo รฉ isso.
Ana Sanchez (00:43:55) – E portanto, um jornalista que possa passar trรชs a cinco meses livre do seu emprego, Sรณ concentrado no dia a dia do que รฉ um instituto de investigaรงรฃo, acho que podem sair daqui coisas fantรกsticas e alรฉm das ideias, porque obviamente terรฃo que propor algum projeto jornalรญstico para fazer, mas eu estou convencida que para alรฉm do projeto que daรญ sair, surgirรฃo outras coisas. Uma das coisas importantรญssimas neste projeto e que nรณs queremos muito prezar รฉ que a proposta รฉ do jornalista e o jornalista รฉ independente. Se ele encontrar histรณrias que nรฃo sรฃo tรฃo bonitas sobre a ciรชncia, nรฃo serรฃo.
Jorge (00:44:27) – Hรก que enfrentar. ร
Ana Sanchez (00:44:28) – que enfrentar รฉ para contar as histรณrias que hรก. Se calhar ร s vezes contar como pode ser frustrante nรฃo obter um resultado, pode ser รบtil para que as pessoas percebam, รฉ verdade, e pode ser รบtil para que as pessoas percebam que a ciรชncia รฉ isto, รฉ uma tentativa de explicar o mundo, รฉ uma tentativa que ร s vezes corre bem e ร s vezes nem por isso. Olha,
Jorge (00:44:45) – Nรณs estamos praticamente a terminar, mas estรก tudo louco com a inteligรชncia artificial. Chamada inteligรชncia artificial, nรฃo sei se estรก inteligรชncia artificial, nรฃo sei. Aquilo parece, no fundo, aparentemente o fogo artifรญcio รฉ, francamente, apelativo. ร o que eu posso dizer. Estรกs do lado da tribo dos muito animados com a ideia de ter uma mรกquina mais esperta que nรณs ou no lado dos preocupados com esse caminho?
Jorge (00:45:12) – E o nรฃo-control desse caminho no fundo,
Ana Sanchez (00:45:14) – nรฃo รฉ? Sim, Eu confesso, sou uma pessoa cautelosa e fico um bocadinho preocupada. Acho entusiasmante ao mesmo tempo, nรฃo รฉ? Nรฃo posso deixar de deixar entusiasmante tudo isto que esta inteligรชncia artificial que jรก temos, que รฉ verdade, que hรก muitos que defendem que nem รฉ bem uma inteligรชncia, uma aprendizagem artificial. No fundo รฉ o reunir muita informaรงรฃo e tentar tirar sentido dessa informaรงรฃo.
Ana Sanchez (00:45:42) – Eu estou entusiasmada, como dizia, acho que tem aqui algum entusiasmo daquilo que pode fazer. E eu acho muita graรงa, por exemplo, ir ver o que รฉ que o chat GPT jรก consegue fazer e a quantidade de informaรงรฃo que consegue tratar e como รฉ que consegue converter informaรงรฃo complicada em informaรงรฃo mais simples, porque isto รฉ uma coisa… Fico um bocadinho preocupada se ficamos aqui todos sem emprego. Mas acho interessante, acho tambรฉm que… E nรฃo sou sรณ eu que acho, quer dizer, as prรณprias revistas cientรญficas estรฃo a revelar alguma preocupaรงรฃo com estes modelos de linguagem automรกtica, que, de repente, nรณs conseguimos ter…
Ana Sanchez (00:46:21) – Pedir aos Estados de GPT a escreve um artigo cientรญfico e, de repente, ele inventa… Vai buscar informaรงรฃo verdadeira e informaรงรฃo falsa e de repente escreve uma coisa que nรฃo รฉ verdade. Podemos
Jorge (00:46:30) – ter a recriaรงรฃo de uma falsidade nas narrativas que… Eu li um artigo do pai da Inteligencia Artificial, um dos pais da Inteligencia Artificial, de que, dentro de pouco tempo, perderemos a capacidade de descobrir a fronteira entre o que รฉ falso e o verdadeiro?
Ana Sanchez (00:46:49) – Eu quero acreditar que nรฃo, que nรณs saberemos encontrar essa fronteira e que estaremos preocupados em encontrar essa fronteira. Eu acho que nรณs ainda nรฃo estamos aรญ, Mas estamos certamente numa… E uma das coisas que jรก pode ser muito real, por exemplo, para a comunicaรงรฃo de ciรชncia, รฉ se, de repente, nรณs temos diferentes… Aumentar a desinformaรงรฃo ou aumentar a mรก informaรงรฃo รฉ muito fรกcil, รฉ sรณ por textos circulares. As fake news.
Ana Sanchez (00:47:15) – Exatamente, mas รฉ umas fake news a uma escala muito grande. Portanto, podemos de repente aqui um problema que jรก era um problema, que รฉ esta questรฃo das fake news, se tornar numa escala que seja cada vez mais difรญcil de controlar. Aqui eu acho que nรณs vamos ter que saber reganhar ou nรฃo perder completamente, porque nรณs, apesar de tudo, eu acho que a ciรชncia, as instituiรงรตes cientรญficas e os cientistas tรชm alguma confianรงa, mas nรณs vamos ter que reconhecer que vai ter que haver instituiรงรตes, nรฃo รฉ instituiรงรฃo da verdade, porque isso nรฃo
Jorge (00:47:44) – vai existir. Curadores?
Ana Sanchez (00:47:45) – Eu nรฃo sei se… Eu acho que os curadores terรฃo que ser, se calhar, bons รณrgรฃos de comunicaรงรฃo social, boas instituiรงรตes cientรญficas que vรฃo navegando e que vรฃo tentando… Eu assustamo um bocadinho pensar que hรก a entidade que diz que esta informaรงรฃo รฉ verdadeira, mas sim os curadores que vรฃo selecionando e dando tanto quanto possรญvel a garantia de que aquela informaรงรฃo รฉ verdadeira ou pelo menos assenta em informaรงรฃo fidedigna e que foi validada por alguรฉm. Sim, no fundo a ideia dos curadores acho que faz sentido.
Jorge (00:48:14) – Entre uma grande descoberta impossรญvel de comunicar Ou uma assim, assim, mas que facilmente รฉ comunicรกvel? Para que lado depende o teu coraรงรฃo?
Ana Sanchez (00:48:25) – Para a grande descoberta impossรญvel de comunicar. Adoro o desafio de pensar como รฉ que isso explicaria, Adoro pensar nisso. Nรฃo sรณ por ser uma grande descoberta, mas por esta ideia de que nรณs de repente podemos mudar a forma como olhamos para o mundo e de repente podemos pensar que o mundo afinal nรฃo era exatamente como nรณs pensรกvamos. Isso fascina-me imenso. Ser
Jorge (00:48:43) – cientista รฉ claramente um modo de vida, tal como ser jornalista, hรก sendo um propรณsito maior a perseguir. A curiosidade รฉ o motor. O vigilรบmero da descoberta, do novo, da explicaรงรฃo do inexplicรกvel รฉ um ponto comum entre estas duas missรตes de vida. Comunicar descobertas cientรญficas pode ser difรญcil. O infinitamente grande e o infinitamente pequeno sรฃo muitas vezes abstratos e isso torna espinhosa a traduรงรฃo dos avanรงos da ciรชncia para o pรบblico em geral, para o pรบblico leigo.
Jorge (00:49:08) – Mas esta boa comunicaรงรฃo รฉ crรญtica para combater mitos e reforรงar a confianรงa na melhor forma de obter e testar o conhecimento. E esse รฉ o mรฉtodo cientรญfico. Por isso รฉ importante falar de ciรชncia e contar o que รฉ que os cientistas andam a fazer. Nรณs voltamos para a semana. Voltem tambรฉm.
Ana Sanchez (00:49:45) – E aรญ E aรญ E aรญ E aรญ E aรญ