Hoje vamos mesmo falar em exclusivo sobre comunicação.
Sobre os dilemas de comunicação que se levantam nas instituições, empresas, organizações ou grupos sociais quando toca a vez de falarem aos cidadãos.
Vamos até ao Brasil, até São Paulo com a Aline Castro, uma comunicadora e autora de um interessante ‘podcast’ sobre comunicação pública. Chama-se precisamente “Comunicação Pública – Guia de Sobrevivência” e mostra muitas das dores de alma e pequenas vitórias dos comunicadores nas organizações que servem.
Comunicar para o público em geral é das coisas mais nobres e úteis que um a organização pode levar a cabo.
Significa abrir-se à sociedade, garantir que os cidadãos estão informados e criar condições para acolher o ponto de vista do público na organização.
No fundo, a comunicação quer criar elos de ligação entre pessoas.
E por isso deve ser sempre orientada por dois princípios fundamenta: as utilidade e o entendimento.
Dou um exemplo: se a comunicação for apenas um veículo de propaganda e de massagem do ego da organização e a sua liderança, ela não funciona. O público é inteligente e rapidamente esse tipo de comunicação torna-se irrelevante ou mesmo contraproducente.
Por isso a primeira pergunta que um comunicador colocar é: para que serve isto aos olhos do público que aspiramos atingir.
E depois há a segunda parte: a linguagem.
Como tornar a informação facilmente percebida. Fugindo do jargão, da linguagem técnica ou de todas as palavras ou frases que são vazias ou, pura e simplesmente, impossíveis de entender por todos.
Finalmente há que criar boas condições para que se crie uma ligação, que haja canais para ouvir a reação do público.
É que mesmo uma reação menos simpática ou irada é melhor que o silêncio absoluto.
A Aline Castro tem essa experiência. Nos últimos 14 anos esteve a liderar a comunicação de um tribunal em S. Paulo no Brasil.
Mas os seus dilemas e arte para os resolver não se esgotam apenas no universo judiciário.
Se pensarem bem, a linguagem da boa comunicação estende-se por todos os organismos que fazem serviço público ou prestam serviços ao público.
TRANSCRIÇÃO AUTOMÁTICA
00:00:00:01 – 00:00:21:08
JORGE CORREIA
Aline Castro, comunicadora pública, jornalista e também podcaster, tenha um podcasts que é o Comunicação Pública e Guia de Sobrevivência. Aline, precisamos nós, os comunicadores de uma Bahia Dilma, de um guia para sobrevivermos esta nossa tarefa de comunicar com o mundo.
00:00:22:13 – 00:01:00:12
ALINE CASTRO
Pois Jorge, como vai, tudo vem. Bom, acredito que uma boia pode ajudar um pouquinho. De vez em quando, um guia, como eu costumo dizer. Fazer comunicação não é fácil. Fazer comunicação pública no serviço público é ainda mais difícil. Os comunicadores públicos enfrentam muitos desafios, que vão desde uma incompreensão do papel, que é realmente que eles devem desenvolver dentro das organizações, até a multiplicidade de tarefas, a overdose de informação que eles têm que gerenciar, o fluxo de informação.
00:01:00:18 – 00:01:13:03
ALINE CASTRO
Completamente maluco muitas vezes. Então, o guia nasceu justamente para tentar orientá los nesse mundo absurdo e cheio de coisas que é a comunicação.
00:01:13:17 – 00:01:34:14
JORGE CORREIA
Olha, vamos já falar das dificuldades, mas eu antes prefiro começar pelo aquilo que é muito bom, que o que tu definiria como sendo grande comunicação, o que que algo que dissesse sim, olha aquilo que nós estamos a fazer aqui hoje. O que fizemos hoje aqui é grande comunicação e nós conseguimos sucesso. Podemos definir esse sucesso?
00:01:35:18 – 00:01:53:18
ALINE CASTRO
Eu acho que é aquilo que toca as pessoas e eu usaria. Gosto de usar muito uma palavra que é interesse público. Quando a gente fala de comunicação pública, a gente está naturalmente falando de interesse público. É aquilo que realmente vai fazer diferença na vida das pessoas. Eu começaria por aí.
00:01:54:15 – 00:02:12:10
JORGE CORREIA
O que é o interesse público, que não é fácil de definir o que é que é o interesse público. O meu interesse particular ou teu interesse particular? É fácil para nós definir, mas o público é assim, uma entidade abstrata, grande, de um conjunto de muitas pessoas que têm muitos interesses muito diferentes.
00:02:13:14 – 00:02:56:11
ALINE CASTRO
A verdade não é fácil. Eu acho que a gente tem que pensar o que atinge mesmo o coletivo e o que pode fazer com que nós, enquanto grupo, enquanto sociedade, enquanto uma cidade ou até mesmo dentro de uma organização menor, o que pode facilitar a nossa convivência e a nossa realidade de uma forma. Então, acho que o grande papel da comunicação pública é saber realmente diferenciar o que as informações que vão facilitar, que vão fazer com que as pessoas realmente possam conviver melhor e exercitar os seus papel, os seus papéis dentro de uma organização, no caso de uma, de uma maneira melhor.
00:02:57:21 – 00:02:58:11
JORGE CORREIA
Quer dizer, por.
00:02:58:11 – 00:02:59:16
ALINE CASTRO
Exemplo, a facilitação.
00:03:00:06 – 00:03:19:22
JORGE CORREIA
Em sentar, sendo que o público sinta que aquela comunicação está a ser útil. Se for de um hospital saber como é que pode recorrer ao hospital, se for no tribunal, tu tens essa experiência. No caso de um tribunal, como é que ele funciona? Para quê que ele serve na experiência portuguesa? Normalmente, os tribunais não explicam quase nada, não explicam as decisões.
00:03:19:22 – 00:03:36:21
JORGE CORREIA
Nós conhecemos apenas aquilo que o tribunal decidiu na sentença ou no acórdão final, mas não há essa interação com o público. Como é que é? Como é que no Brasil também? E também é a mesma fórmula? Ou, pelo contrário, o sistema judiciário está mais aberto e admite falar com o público em geral sobre aquilo que está a fazer.
00:03:37:17 – 00:04:13:06
ALINE CASTRO
Não é tão diferente. Jorge Existe um movimento grande para que isso se altere e seja para que a justiça seja mais acessível mesmo, seja mais próxima das pessoas. Eu, inclusive, sou isso tudo, muito o movimento da linguagem simples em linguagem que tem muito esse papel de traduzir o juridiquês. E para que as pessoas, qualquer pessoa, independente do nível educacional, do local da origem, consiga entender pelo -1 pouco mais ali do do sistema de justiça, das decisões judiciais e tudo mais.
00:04:13:18 – 00:04:43:20
ALINE CASTRO
A gente ainda está engatinhando nisso. Essa é uma das minhas causas, uma das minhas lutas. Eu acho que a gente não precisa. Não é questão de deixar as decisões judiciais rasas e muito simplórias, não é isso. É simplesmente a gente ter noção de que a sociedade, para que ela possa realmente avançar como sociedade, as pessoas precisam e têm direito de ter mais clareza do que de como a Justiça opera seus direitos e das suas responsabilidades.
00:04:45:00 – 00:05:10:17
JORGE CORREIA
E quando eu imagino que nesse trabalho diário e nessa experiência que tu tiveste em todos, temos que lidar de quem faz comunicação com os poderosos, que tem sempre essa dificuldade que é porque é que eu explicar alguma coisa que eu sei que é assim e que está bem feita mesmo se a linguagem for muito cheia de jargão, técnicos, seja num tribunal, seja numa qualquer outra organização.
00:05:11:00 – 00:05:25:19
JORGE CORREIA
Quanto mais complexa é a função social de que nós estamos a tratar, mais resistência existe. É simplificar. No fundo, aproximar os outros, dessa, dessa cúmplice, dessa simplificação que permite que a eles que eles estão a falar.
00:05:26:16 – 00:05:51:15
ALINE CASTRO
E já você tocou num ponto interessante, porque muitas vezes a linguagem ela é usada como uma questão de status, como uma barreira proposital até para se manter um status, para se manter uma posição superior na sociedade. É o que eu já ouvi muito no meu dia a dia, no ambiente jurídico. É que é papel do advogado fazer essa tradução, que o juiz não precisa se preocupar tanto com isso.
00:05:52:04 – 00:06:15:16
ALINE CASTRO
Mas isso é isso se contradiz muito com o que a gente vê nos planos estratégicos, por exemplo, eu não sei como é em Portugal, mas aqui as as instituições de justiça, os tribunais têm planejamentos estratégicos, como grandes empresas, e a gente sempre vê la que existe uma intenção de ser reconhecida pela sociedade, de ser referência, de se aproximar da sociedade.
00:06:15:16 – 00:06:48:03
ALINE CASTRO
E como é que a gente faz isso? Mantendo uma linguagem totalmente hermética e inacessível? É impossível. Então eu acredito, claro. O advogado tem um papel preponderante nisso. Ele tem os seus clientes. Ele tem, de fato que fazer e ser uma ponte de fato. Porém, se a gente quer atingir esse ideal, essa visão de futuro que a maioria dos tribunais que eu acompanho tem, a gente precisa descer um pouco do salto e precisa de alguma forma se aproximar das pessoas e não tem outro jeito.
00:06:48:03 – 00:06:52:04
ALINE CASTRO
A gente jamais vai compreender algo que a gente não entende.
00:06:53:19 – 00:07:20:16
JORGE CORREIA
Olha, é muito interessante saber isto, que que é um plano estratégico, que a organização pensa que se quer aproximar, quer ser mais respeitada, quer estar mais aberta à sociedade. No fundo, para quem trabalha para para os cidadãos, é a comunicadora. A comunicadora pedem, pedem o que pedem, que execute esse trabalho ou, pelo contrário, o que tu lida com essa incompreensão de que falava já no início e com essa fase é cego?
00:07:20:16 – 00:07:30:18
JORGE CORREIA
Esse umbigo que é já conta a minha história porque eu quero ficar bem na fotografia e se calhar quero sair daqui e concorrer à prefeitura ou a outra coisa qualquer.
00:07:31:09 – 00:07:52:14
ALINE CASTRO
Você tocou num outro ponto fundamental. Infelizmente, ainda há muito essa confusão. Quando a gente fala de comunicação pública, como eu disse no início, a gente está falando da comunicação, que é do interesse público, que é da sociedade, que coloca as pessoas no centro. No entanto, se confunde comunicação pública como sinônimo da comunicação, que é feita por um órgão público.
00:07:53:00 – 00:08:21:09
ALINE CASTRO
E normalmente a gente ainda tem uma visão muito antiga de que um assessor de imprensa, o profissional que atua ali dentro dessas organizações, ele está lá para promover as autoridades que integram aquele órgão para mostrar o que essas autoridades estão fazendo para tirar as fotos das reuniões. Então, assim é uma visão muito estreita, muito pequena e muito antiga do que é e do que a comunicação realmente é.
00:08:21:09 – 00:08:32:22
ALINE CASTRO
E isso não é comunicação pública, isso é comunicação privada, porque está a serviço do interesse privado, que não é o interesse público, como falamos aqui no início. Lidar com isso é difícil.
00:08:33:12 – 00:08:49:09
JORGE CORREIA
Como é que? Como é que as conversas? Como é que? Como é que no fundo lhes dá a volta para conseguir que a comunicação de interesse público esteja acima daquilo que é o interesse particular de cada um dos. Enfim, dos jogadores que estão no tabuleiro público.
00:08:50:17 – 00:09:09:06
ALINE CASTRO
Bom, a gente está falando de uma questão de cultura e como qualquer mudança de cultura não é fácil, você tem que ter muita estratégia para mudar isso. Se você bater de frente, se você disser isso, eu não faço. Não e pode ser pior. Então, a gente tem que ter muita sabedoria. Como é.
00:09:09:06 – 00:09:10:15
JORGE CORREIA
Que fazes? Como é que tu fazes.
00:09:12:08 – 00:09:42:12
ALINE CASTRO
Tentando mostrar que na verdade, quando a gente fala para a sociedade, quando a gente fala na linguagem do cidadão, quando a gente ajuda as pessoas a entenderem e a facilitar a vida delas, a gente naturalmente está ganhando imagem e a gente também está ganhando reputação nesse mundo tão doido que a gente vive hoje, que a gente é submetido a muita informação todos os dias, o celular que não pára de apitar, as notificações múltiplas, você presta atenção no que você presta, atenção naquilo que importa para a sua vida.
00:09:42:22 – 00:10:09:21
ALINE CASTRO
Você concorda? Você não presta atenção naquilo. Aquilo que não, que não interfere no seu dia a dia, não conecta. Você pode até ler no segundo seguinte. Você já esqueceu? E o pior muitas vezes você até depõe contra a própria imagem da instituição. Então, um assunto irrelevante no site, quando o cidadão está buscando a informação do seu processo ou uma informação de utilidade pública.
00:10:10:09 – 00:10:46:05
ALINE CASTRO
Saúde Como você citou, o trânsito quando ele entra no site de uma instituição e ele vê tudo, menos aquilo que ele procura, ele vê uma reunião que o dirigente participou, uma medalha que fulano recebeu, que ele vai dizer que ele vai pensar. Só que não é para mim. Isso aqui não é esse serviço público realmente não funciona. Então, quando a gente dá a informação pública, quando faz a comunicação verdadeiramente pública, a gente também está contribuindo para que a imagem do próprio eu, da própria autoridade e das carreiras também seja bem vista.
00:10:46:09 – 00:10:51:08
ALINE CASTRO
Eu tento mostrar, eu tentei ir por esse caminho. Não é fácil, mas a gente tenta.
00:10:51:22 – 00:11:14:02
JORGE CORREIA
Até porque se for um caminho de confrontação ou de ruído, porque, no fundo o que se está a dizer é se nós estamos a promover comunicação. É irrelevante se por factos que não têm interesse nenhum, exceto para o próprio, que está a promover sua quase uma propaganda, existem esses dois caminhos que é a indiferença. Para um lado há tanta coisa aí nas redes, no outro fora não de fora.
00:11:15:01 – 00:11:25:08
JORGE CORREIA
E, por outro lado, se isto não me diz nada, se isto não resolve o meu problema, o não me apaixona e eu não quero saber aquilo que fazemos e vamos embora.
00:11:26:02 – 00:11:50:18
ALINE CASTRO
Perfeito. É exatamente isso. Então, na melhor das hipóteses, você é a pessoa simplesmente dar de ombros. E não, não se importa com aquilo. Só que, na pior das hipóteses, a imagem, a reputação da instituição e da própria carreira pública. Ela é arranhada porque as pessoas percebem. Não se pode subestimar os públicos, as pessoas percebem o que é interesse público, o que é interesse privado.
00:11:51:09 – 00:12:16:03
JORGE CORREIA
E reagem quando, quando promove alguma coisa, que enfim, que tu não está convencida que seja de interesse público ou enfim, em que pode até fazer alguma cedência por alguém que é mais importante e que levou a sua avante. Os públicos percebem isso e reagem ou pura e simplesmente abandonam a sua comunicação. E esse vou usar a palavra em gay de manter se e se agarrar a tua comunicação.
00:12:16:03 – 00:12:19:06
JORGE CORREIA
No fundo esse namoro perde.
00:12:20:03 – 00:12:45:00
ALINE CASTRO
Olha, já vivi as duas experiências. Normalmente o mais comum é a gente ser ignorado a ser ignorado. Não, as pessoas não comentam, não não interagem, não se engajam. Mas a gente já teve, sim, reações do tipo olha, meu processo está aí parado e vocês estão fazendo um evento X Y. Então a gente já viveu. Isso sim, é uma das grandes tarefas do comunicador público.
00:12:45:13 – 00:13:09:05
ALINE CASTRO
É uma das grandes coisas que eu acho que a gente tem que fazer mesmo é incentivar que as pessoas se manifestem, porque as pessoas precisam olhar para as redes sociais, para os sites das organizações públicas como algo delas. E um espaço delas é do povo e do público. Então elas precisam olhar e elas precisam realmente se indignar e se manifestar contra esse tipo de mau uso da comunicação.
00:13:09:15 – 00:13:36:05
JORGE CORREIA
Mas quando há essa indignação, quando há essa raiva, quando há essa zanga, depois não te cobram a ti quer da comunicação do gênero. Tu tens que evitar. No fundo, tu tens calar o planeta e calar o mundo com as amordaçar. Essa ideia que tu tens, que é uma ideia democrática de abertura, de diálogo e em que as pessoas podem dizer Olha, este serviço não me está a ser útil, não está a funcionar.
00:13:37:01 – 00:13:46:10
ALINE CASTRO
Sim, já aconteceu. Eu noto uma imaturidade muito grande. Ainda é bom saber que talvez não seja uma exclusividade do Brasil.
00:13:46:14 – 00:13:48:13
JORGE CORREIA
Pelo menos não é geral. No geral.
00:13:49:08 – 00:14:04:22
ALINE CASTRO
É uma imaturidade muito grande para lidar com a interação. Então, ao invés de se perceber que puxa, que bom, temos um cidadão consciente que se importa o suficiente com com o nosso serviço para se indignar com isso.
00:14:05:05 – 00:14:07:18
JORGE CORREIA
E é visto como um inimigo comum, como alguém aborrecido.
00:14:08:16 – 00:14:28:22
ALINE CASTRO
E sim, eu já sofri coisas do tipo, mas quem mandou publicar? Ou então Olha esse assunto coloca só no site. Ou pior ainda, Jorge, já me pediram até para desabilitar os comentários. Olha, mas não deixa ninguém comentar. Não vamos só publicar. E aí a gente tem que ter uma consciência de que isso não é comunicação.
00:14:29:03 – 00:14:42:00
JORGE CORREIA
Como isso acontece que qualquer um depois pode pegar nesse post, não comentando na tua rede, na tua instituição, pode comunicar em qualquer lugar, pode escrever qualquer coisa e o efeito. Na realidade não se consegue parar o vento com as mãos.
00:14:42:11 – 00:14:59:22
ALINE CASTRO
Sim, a gente tá falando de comunicação em rede. A gente está falando de um paradigma de comunicação que é naturalmente transversal e a gente não tem mais como calar isso não existe a comunicação vertical e unilateral. Ela não existe. Ela nem é comunicação impossível.
00:15:00:07 – 00:15:31:15
JORGE CORREIA
Olha, é o que nós podemos fazer. Nós, os comunicador eres para tentar. Não sei se educar, se sensibilizar, se ajudar. Quem está nestas zonas de liderança, quem está em frente, as várias organizações, sejam empresas, sejam organizações públicas, o que que nós podemos fazer para nos ajudar a comunicar melhor e a compreenderem que o mundo mudou e mudou mesmo?
00:15:31:21 – 00:15:55:15
ALINE CASTRO
Olha, é uma luta, é uma mudança de cultura. Como eu falei, não é fácil. Eu acredito muito num trabalho de formiguinha, como a gente costuma dizer aqui, que é um passinho de cada vez. A gente tem que ter sabedoria para aproveitar as pequenas oportunidades que o dia a dia profissional vai nos dando para disseminar mais esse conceito de comunicação pública.
00:15:55:22 – 00:16:26:08
ALINE CASTRO
Oportunidades como você está me dando aqui é um caminho falando com uma pessoa a outra falando até no grupo da família ali do WhatsApp, falando, aproveitando as pequenas oportunidades para que as pessoas entendam que não é normal você fazer um mau uso, um uso privado de uma comunicação que deveria ser pública, aquilo, esse espaço das pessoas. Então, a gente precisa naturalizar um pouco isso e disseminar mais essa ideia mesmo para as pessoas.
00:16:26:23 – 00:16:52:00
JORGE CORREIA
Nós, quando precisamos se comunicar, precisamos obviamente de assuntos, de pretextos, de pautas, como dizem no Brasil. No fundo, algo para contar a achar as pessoas. E precisamos de alguém que corporiza isto. O porta voz, aquele que vai contar aos outros da tua cabeça, a ideia de um porta voz perfeito que tu consiga contar a história e chegar ao público.
00:16:53:04 – 00:17:18:23
ALINE CASTRO
Acho que o porta voz perfeito é aquele que conecta, é aquele que sabe. Claro, existe toda uma técnica de oratória que sabe endossar bem as palavras da vida, dar voz, ter uma certa música na sua fala. Mas vai muito além disso. É aquela pessoa que tem realmente um conteúdo a oferecer e que se importa verdadeiramente com o receptor daquela informação.
00:17:19:09 – 00:17:38:13
ALINE CASTRO
É a pessoa. O verdadeiro porta voz é aquele que não está falando para o seu próprio ego, como você até mencionou mais cedo, é aquele que está realmente preocupado em fazer a diferença em quem está, para quem está ouvindo, lendo, para quem vai consumir essa informação, essa é a melhor. O melhor porta voz é esse que vai se conectar de fato com a audiência.
00:17:38:18 – 00:17:52:11
ALINE CASTRO
Se ele puder fazer uso claro de um bom storytelling, de uma boa técnica vocal, muito melhor. Mas, acima de tudo, é a pessoa que sabe transmitir uma humanidade, mesmo com com seu olhar e com a sua fala.
00:17:53:00 – 00:18:16:19
JORGE CORREIA
No fundo, tudo o que preconiza e que é porta voz ideal, seja um ser humano, não um robô que debita apenas mensagens, que sinta aquilo que sua audiência está a sentir e que responda no fundo, às perguntas que a audiência pode estar a fazer. Isso coloca desde já o prisma da comunicação, não em si, mas completamente no outro.
00:18:17:14 – 00:18:56:19
ALINE CASTRO
Exatamente. A única razão de uma comunicação existir e o outro, a comunicação, o processo. Sim, o básico da comunicação é emissor, mensagem receptor sem receptor não tem porque se falar sozinho com as paredes. Então o único? A única razão de uma comunicação existir o receptor. Isso em qualquer esfera, está na organizacional, na pessoal, administrativamente, tudo. Então, o bom orador ou o bom emissor é aquele que busca minimizar os ruídos, os possíveis efeitos de ruídos que pode e pode haver nessa mensagem para facilitar a compreensão da informação.
00:18:57:02 – 00:19:07:11
ALINE CASTRO
A comunicação acontece quando o receptor entende quando ele absorve um conceito, quando ele toma uma ação que a gente quer que ele tome. Aí a comunicação teve seu efeito.
00:19:07:22 – 00:19:28:02
JORGE CORREIA
Portanto, a comunicação tem que, no fundo, alguma coisa tem que acontecer para produzirmos um determinado resultado. Empatia, a ligação, explicar ao que se vem e esperar que o outro entenda o que estamos a dizer. Faça alguma coisa que pode melhorar a nossa vida todos. Porque se não faz, se o que cria, se um muro, cria se uma barreira.
00:19:28:09 – 00:19:49:19
JORGE CORREIA
Quando quando nós escolhemos o porta voz bem falante, todavia distante é que, no fundo, mais do que estar a falar para mim, parece estar a falar para para si próprio. O porta voz que diz vejam, vejam como é bonito e bom de palavras sou eu. Admiro. Ao invés de entendam.
00:19:50:23 – 00:20:15:00
ALINE CASTRO
Exatamente, ninguém gosta de quem só fala de si próprios. Já teve experiência de conversar com alguém que só sabe falar de si mesmo? É muito chato. Acontece a mesma coisa com a comunicação organizacional, que é a comunicação que a gente tem que fazer. A gente tem que colocar o outro sempre bem em primeiro lugar. E uma curiosidade de hoje eu tenho até uma colega da Associação Brasileira de Comunicação Pública, que é a associação aqui do Brasil, da qual eu faço parte.
00:20:15:21 – 00:20:39:17
ALINE CASTRO
E ela chamou a atenção para isso uma vez. E eu sempre gosto de trazer os meus exemplos. É muito comum. Não sei se isso aconteceu em Portugal também, mas aqui no Brasil acontece muito. Você entra no site das instituições públicas. O sujeito das notícias lá é sempre o próprio órgão. O tribunal fez isso e aquilo. O departamento bla bla bla fez isso, isso e aquilo e é sempre o próprio sujeito.
00:20:40:04 – 00:20:59:05
ALINE CASTRO
É meu Deus! A pessoa já está no site daquela instituição, ela já sabe que é quem é o sujeito. Vamos inverter um pouco a lógica, vamos colocar as pessoas, vamos mostrar como, como aquela, aquele serviço, aquele procedimento, aquele evento ou que a pauta em si, como é que ela mudou a vida realmente das pessoas e.
00:20:59:06 – 00:21:14:02
JORGE CORREIA
Como é que deveria ser? Como é que? Como é que tu preconiza isso? Como é que? Como é que tu mudaria esse paradigma do eu? Nós organização fizemos, queremos, fazemos para tornar a comunicação mais acolhedora.
00:21:15:02 – 00:21:46:07
ALINE CASTRO
Sim, mas acolhedor. E aí, mudando mesmo a lógica ali. Então, por exemplo, se você está desenvolvendo, sei lá, um procedimento novo num sistema, um sistema novo, um sistema eletrônico novo, ao invés de você dizer a organização lançar o novo sistema, você vai dizer o novo sistema vai agilizarem 20% em 30% a expedição das certidões. Um exemplo? Então a gente tem que mostrar o que aquilo vai mudar para o usuário, o que aquilo vai mudar para as pessoas.
00:21:46:07 – 00:21:57:00
ALINE CASTRO
Não é o que que o tribunal lançou, que o órgão x que o departamento y fez não importa, não importa. O que importa é o que aquilo altera na vida das pessoas.
00:21:57:08 – 00:22:28:14
JORGE CORREIA
E, portanto, um conceito de utilidade que é nós tomamos esta decisão, fizemos isto em beneficio para resolver uma tua dor e isso muda obviamente completamente o conteúdo. Falamos no início que estava sempre assoberbada, cheia de coisas de curioso. Há uma estratégia, portanto devia ser claro que se pode fazer o teu dia a dia. É cheio de pessoas que se batem à porta a dizer Aline, Aline faz meu filme, faz uma história e faz me sempre um amontoado de pedidos que tu tens que gerir no dia a dia.
00:22:29:10 – 00:22:54:20
ALINE CASTRO
Sim, Jorge, eu chamo carinhosamente de pastelaria por causa do rítimo, que parece que a gente está sempre fritando um pastel ali. Eu tem que fazer, eu quero isso, eu quero aquilo. É aí que vem a grande armadilha, que é muito fácil. Você se submeter ao ritmo da pastelaria e achar que seu trabalho é só isso. E aí eu costumo chamar a atenção para os comunicadores que a gente ok, tem que fritar um pastel ou outro no dia a dia.
00:22:54:20 – 00:23:24:05
ALINE CASTRO
Mas a gente tem que aprender a fazer um trabalho estratégico mesmo dentro das organizações, para mostrar que a nossa comunicação pode ser mais nutritiva, viva. E isso muitas vezes envolve você fazer menos, mas coisas com mais efeito, com mais qualidade, com mais tempo de planejamento, mas que vão resultar num resultado mesmo mais efetivo. E a gente não consegue fazer isso fritando o pastel o dia inteiro.
00:23:24:05 – 00:23:34:20
ALINE CASTRO
Nesse ritmo enlouquecido. Tem que tentar dar uma freada, tentar as pessoas verem também os efeitos práticos que um bom trabalho, um trabalho mais estratégico de comunicação pode dar.
00:23:34:20 – 00:23:52:06
JORGE CORREIA
Porque isso implica parar a máquina da pastelaria, que é para ter tempo para pensar se não fosse engolida por essa, por esse turbilhão de pedidos e de demandas, o que acontece é que deixa de ter capacidade de pensar. A qualidade do trabalho piora sim.
00:23:52:14 – 00:24:17:21
ALINE CASTRO
Com certeza você tem que tem que refletir sobre o que você está fazendo então. E isso mais uma vez é uma mudança de cultura. Mas vai também muito da postura do comunicador comunicador. Infelizmente ele tem que saber dizer não, ou então ele tem que saber direcionar a pessoa para um procedimento, para um fluxo de pedidos adequados, ou então ok, você quer uma campanha, mas nós temos um cronograma anual.
00:24:18:04 – 00:24:43:08
ALINE CASTRO
Então, por favor, vamos marcar uma reunião para você me dar um briefing para eu entender o teu problema e atua. A necessidade é a boa comunicação. Ela sempre vai nascer mesmo de um problema. Ela não é simplesmente a olha, eu quero um cartaz, eu quero um vídeo ou vídeo, o cartaz, a notícia é um meio. A gente tem que ver qual é o problema, qual para que essa comunicação, para que o cartaz, para que que o vídeo, o que ele quer resolver.
00:24:43:19 – 00:24:59:21
JORGE CORREIA
E quando é quando aparecem pessoas que não sabem qual é o problema, não sabem qual é o objetivo e não sabem o que resolver, mas aquilo que querem verdadeiramente. E isso é um filme e é uma campanha. Como é que é? E detestam que lhes diga que não imagino.
00:24:59:21 – 00:25:28:20
ALINE CASTRO
É difícil, não vou negar. Muitas vezes a gente acaba mesmo tendo que fazer, mas a gente sempre tenta mostrar para a pessoa olha o que você quer. É um vídeo, pode ser o melhor caminho, mas me conto um pouquinho mais do que motivou. Posso te sugerir uma outra ação, então você tem que ser muito assim, inteligente nesse contato e saber mostrar para a pessoa que a tua intenção, você como comunicador, tem a melhor intenção possível.
00:25:28:20 – 00:25:33:22
ALINE CASTRO
Você quer ajudá la a resolver esse problema? Você tem que você é um aliado dela aí.
00:25:34:17 – 00:25:59:15
JORGE CORREIA
Então é como nós estamos no tempo das mídias sociais, do Facebook, do Instagram, do Twitter também pedem Faz meio uma campanha viral com milhares de likes e afins. E Olha, eu tenho aqui apenas 5 R$ para conseguirmos fazer a campanha que vai conquistar o mundo e será partilhada até pelo pelo Papa e pelo presidente do Brasil.
00:25:59:15 – 00:26:28:00
ALINE CASTRO
Sim, a gente está na era dos likes e há muito essa ilusão de que um conteúdo ali vai viralizar e vai ser compartilhado. E todo mundo vai se engajar. E a expectativa é muito diferente da realidade. Normalmente isso não acontece e às vezes acontece pelos motivos que não são tão legais. Vezes os virais são de coisas que não são muito legais para instituição.
00:26:28:14 – 00:26:29:09
ALINE CASTRO
Um curioso.
00:26:30:10 – 00:26:46:20
JORGE CORREIA
Mas é importante explicar lhes que que conseguir fazer algo viral é muitas vezes um acidente e tantas vezes é um acidente. Mal porque somos virais, porque por razões erradas ou que no fundo criam um ruído e apontam para outra coisa que não era o que nós queríamos.
00:26:46:20 – 00:27:14:19
ALINE CASTRO
Pois é um ambiente digital. A gente vive a era dos cancelamentos, né? Então tá todo mundo esperando seu primeiro deslize. Você pode ser o mais cuidadoso possível em algum momento ali. Alguma coisa talvez não seja tão bem colocada quanto poderia. E as pessoas vão adorar se juntar para criticar. E aí você acaba tendo um viral negativo e infelizmente isso reverbera.
00:27:14:19 – 00:27:23:17
ALINE CASTRO
As crises reverberam mais rápido muitas vezes do que o conteúdo de utilidade pública, então essa é mais uma das dores de quem trabalha com comunicação.
00:27:24:17 – 00:27:40:09
JORGE CORREIA
Aline, vamos fechar o que que para ti uma comunicadora te dá mesmo gozo e faz chegar a noite antes de dormir e dizer Hoje foi um grande dia. Foi um dia gordo.
00:27:41:22 – 00:28:12:12
ALINE CASTRO
Que eu acho que saber saber que a gente atingiu pelo -1 pessoa. Às vezes a gente recebe feedbacks e até agradecimentos. Puxa, esse vídeo realmente me ajudou. Poxa, eu não sabia dessa informação. Ou então simples. Muito obrigado. É muito triste a gente ver quando, como as pessoas são carentes de informações que são delas direito as pessoas agradecerem algo que eu deveria ter se algo muito mais fácil de elas acessarem.
00:28:13:13 – 00:28:47:20
ALINE CASTRO
Mas elas se surpreendem positivamente quando elas encontram essa informação e ser a ponte disso, de facilitar e de realmente tornar as informações acessíveis para as pessoas, fazer com que elas conheçam seus direitos é muito gratificante. Então eu acho que eu vou dormir tranquila no dia em que eu recebo mesmo esses obrigados. As pessoas também sugerem muitos assuntos nos dão um presente quando a pessoa nos dá uma sugestão, você deve deve saber disso também.
00:28:47:21 – 00:29:01:16
ALINE CASTRO
Jorge, quando te dão uma sugestão de pauta, te trazem um assunto para você abordar no podcast. Eu acho um verdadeiro presente. Então, quando eu recebo isso, eu penso Poxa, estou no caminho certo. Estou realmente me comunicando com as pessoas.
00:29:02:03 – 00:29:13:20
JORGE CORREIA
Para que ainda não ouviu. Fica a sugestão ouvir o teu podcasts, comunicação pública, guia de sobrevivência é um podcasts sobre comunicação. Para quem se interessa por esse tema, vale a pena ouvir Aline Castro. Muito obrigado.
00:29:14:12 – 00:29:17:02
ALINE CASTRO
Eu que agradeço o Jorge, muito obrigado e um abração.